Odisseia dos sentidos
, um espetáculo de luz e fogo
Cristina Alves de Macedo; Fabio Dal Gallo
Florianópolis, v.1, n.43, p.1-20, abr. 2022
lado, essa proximidade corrobora uma postura que possibilita evidenciar
propostas metodológicas seguidas, problemas vivenciados e caminhos partilhados
a partir de uma relação de intimidade que desvela os acontecimentos, seja no
plano artístico-relacional que procedimental, que propiciaram a construção e a
consolidação do espetáculo em sua versão final.
À vista disto, é importante marcar que as considerações dos artistas aqui
apresentadas buscam se aproximar de maneira crítica, para tornar “legível e
revelar alguns dos sistemas responsáveis pela geração da obra. Essa crítica refaz,
com o material que possui, a gênese da obra e descreve os mecanismos que
sustentam essa produção” (Sales, 2004, p.12-13). Destarte, a análise não recai sobre
o produto final, mas sobre o processo que levou à sua constituição, dando luz aos
diferentes olhares que participaram dessa composição, que envolveu os artistas,
num processo de criação coletiva, e o público, numa construção colaborativa, e
culminou em um espetáculo de circo de grande estímulo sensorial.
O
Odisseia dos Sentidos
foi concebido, inicialmente, como um espetáculo
circense performático, para ser apresentado em festivais de música eletrônica,
que são contextos permeados não apenas por música, mas por diferentes tipos
manifestações e criações artísticas. Além da exibição de
disc jockey
(DJ), de vídeo
jockey
(VJ), de artistas plásticos que se ocupam das decorações, projeções e
instalações multimídia e interativas, esses espaços suportam diferentes tipos de
apresentações ao vivo que incluem a dança, o teatro, o circo, a performance, em
um ciclo de espetáculos e cenas que dialogam com os circuitos e manifestações
globais e contemporâneas, ao passo que revelam elementos interligados com o
imaginário, a criatividade, a ancestralidade, o ritual.
No evento ritual, os objetos, os símbolos e o espaço resguardam um tom
especial em relação aos objetos comuns [...]. Sua natureza diferenciada e
sua função territorial trabalham num recorte espaço-temporal que se
difere das marcações cotidianas. O corpo se adapta a estas novas
funções e temporalizações da espacialidade ritual, transportando-se e
entrando em ressonância (Néspoli, 2004, p.4).
Observa-se que, nesses contextos, a presença do circo é habitual e
constantemente mais recorrente em relação às outras linguagens das artes