Vestir-se de palavra, noivar-se de Nelson - Teatro multimeios de Ione de Medeiros para texto rodriguiano
Fabrício Trindade Pereira
Florianópolis, v.4, n.49, p.1-21, dez. 2023
influenciado por autores modernistas do norte global5, tanto na Europa quanto nos
Estados Unidos, que desde o século XIX já experimentavam distintas formas de se
escrever e de se pensar teatro. No contexto brasileiro, aproximadamente no início
dos anos 1930, inicia-se um processo de “modernização” da dramaturgia do
espetáculo teatral,
com Renato Viana, Álvaro Moreyra, Flávio de Carvalho, Antônio de
Alcântara Macha e Oswald de Andrade, espíritos sintonizados com as
conquistas modernistas. Seus trabalhos, porém, não obtiveram muita
repercussão e nem tiveram continuidade. A crítica teatral de Antônio de
Alcântara Machado, publicada em alguns jornais e na revista modernista
Terra roxa e outras terras
, ecoou no vazio; Oswald não viu suas peças
encenadas; e as iniciativas no terreno do espetáculo teatral de Renato
Viana, Álvaro Moreyra e Flávio de Carvalho tiveram vida curta (Faria, 1998,
p. 144).
Nelson Rodrigues, principalmente por ter conseguido dar continuidade à
escrita de textos que foram e são, por diversas vezes, encenados, despontou como
o autor representante do teatro modernista, assim como o texto escrito por ele,
Vestido de noiva
, como obra marco da dramaturgia moderna brasileira.
Importantes montagens dessa peça foram realizadas em nosso país, bem como
diversas versões por distintos coletivos e grupos6, A primeira delas foi realizada
pelo grupo amador carioca Os Comediantes, dirigida por Ziembinski e estreada em
1943. O diretor da montagem era polonês e trazia consigo várias novidades
europeias, sendo “formado na escola expressionista e dominando como poucos
os segredos do palco, em que [era] um mestre na iluminação” (Magaldi, 1962, p.193).
Segundo o crítico Sábato Magaldi (Magaldi, 1962, p.193), Ziembinski apareceu na
cena brasileira preenchendo a lacuna de coordenador de espetáculo, como
responsável por organizar e inter-relacionar os vários elementos (atuação, cenário,
5 Segundo João Roberto Faria (1998, p. 164), “é impressionante como ajustam-se a Vestido de noiva certas
características do expressionismo, que Nelson Rodrigues colheu provavelmente na obra de Eugene O'Neill,
dramaturgo americano que elegeu Strindberg como seu modelo. O próprio dramaturgo brasileiro sugere
essa aproximação no texto
Teatro desagradável
(1949) quando conta que em 1943 ‘ninguém sabia, aqui, da
existência de Eugene O'Neill’ (Rodrigues, 1949, p. 17) e que muita gente julgou que a fonte dos procedimentos
dramáticos de sua peça estava em Pirandello”.
6 Diversas outras versões foram encenadas, como, entre outras, as de: Sérgio Cardoso, de 1958 e de 1965;
Haydée Bittencourt, de 1964; Edélcio Mostaço, de 1987; do Grupo Tapa, dirigida por Eduardo Tolentino de
Araújo e estreada em 1994; de Rodolfo García Vázquez e Os Satyros, de 2007; Gabriel Villela, de 2009; Caco
Coelho, de 2012; e a de Eric Lenate e do Núcleo Experimental, de 2013. Disponível em:
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento399276/vestido-de-noiva/eventos?classificacao=espetaculo.
Acesso em: 05 set. 2023.