Para além da cena: humor gráfico, censura e repressão na peça Liberdade, liberdade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180314372022e0104

Palavras-chave:

ditadura militar, teatro, humor político, caricatura

Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar o espetáculo Liberdade, liberdade através das relações entre o teatro e humor gráfico durante o contexto ditatorial brasileiro. A peça estreou no Rio de Janeiro em 1965, com autoria de Flávio Rangel e Millôr Fernandes. Ela foi produzida pelo Grupo Opinião e em sua primeira temporada contou com a participação de importantes nomes do cenário artístico cultural brasileiro: Paulo Autran, Nara Leão, Oduvaldo Viana Filho e Tereza Raquel. Durante toda a sua trajetória enfrentou problemas com a censura, as forças paramilitares e o alto escalão do governo ditatorial. O objetivo deste artigo será compreender alguns aspectos do espetáculo através da relação da montagem com o campo do humor gráfico, na própria montagem e na imprensa. A partir da análise da caricatura contida no programa da montagem e de duas charges publicadas nos jornais Correio da Manhã e Última Hora, busca-se demonstrar como cartunistas se apropriaram da peça para tecer contundentes críticas ao regime militar. Através dessas fontes, pretende-se analisar pelo menos três eixos temáticos: i. a utilização do humor como estratégia visual e narrativa; ii. as dificuldades enfrentadas pelo Estado para estabelecer os critérios de censura; iii. a denúncia das ações paramilitares sofridas pela montagem. A hipótese aqui sustentada é que através deste tipo documental será possível investigar o impacto da montagem dentro do campo cultural de resistência ao regime e seus desdobramentos na imprensa e no governo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Natália Cristina Batista, Núcleo de Preservação da Memória Política

Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Estágio Pós-Doutoral no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Pesquisadora do Núcleo de Preservação da Memória Política.

Referências

ARAUJO, Maria P. A utopia fragmentada: as novas esquerdas no Brasil e no mundo na década de 1970. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 2000.

CONY, Carlos Heitor. O ato e o fato. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

FERNANDES, Hélio. Ur-gente. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, p. 2, 31 maio 1965.

FONSECA, Joaquim da. Caricatura: a imagem gráfica do humor. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1999.

FORTUNA. [Charge satirizando o atentado da LIDER]. Correio da Manhã, p. 6, 01 jun. 1965.

FREDERICO, Celso. A política cultural dos comunistas. In: MORAES, João Quartim de Morais (org.). História do marxismo no Brasil: vol. III. Campinas: Editora da Unicamp, 2007. p. 337-372.

GARCIA, Miliandre. Ou vocês mudam, ou acabam: teatro e política na ditadura militar. 2008. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008.

GARCIA, Miliandre. A censura de costumes no Brasil: da institucionalização da censura teatral no século XIX a extinção da censura da constituição de 1988. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2009. 77 p. Disponível em: http://www.bn.br/portal/arquivos/pdf/miliandreGarcia.pdf. Acesso em: 19 mar. 2022.

GARCIA, Miliandre. Quando a moral e a política se encontram: a centralização da censura de diversões públicas e a prática da censura política na transição dos anos 1960 para os 1970. Dimensões, Vitória, v. 32, p. 79-110, 2014.

GRUPO OPINIÃO. Liberdade, liberdade [programa do espetáculo]. Rio de Janeiro, 1965.

GRUPO OPINIÃO. Liberdade, liberdade [programa do espetáculo]. São Paulo, 1966.

GULLAR, Ferreira. [Entrevista cedida a] Natália Batista. Rio de Janeiro (RJ), 13 jul. 2012.

JAGUAR. Jaguar e a censura. Última Hora, Rio de Janeiro, p. 3, 22 abril 1965.

LIBERDADE chama RP para conter a Lider. Última Hora, Rio de Janeiro, p. 5, 29 maio 1965a.

LIBERDADE não cedeu a show de baderna. Última Hora, Rio de Janeiro, p. 2, 31 maio 1965b.

LIBERDADE sobrevive. Última Hora, Rio de Janeiro, p. 4, 31 maio 1965c

MORAES, D. Vianinha: cumplice da paixão. Rio de Janeiro: Record, 2000.

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Jango e o golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. A ditadura nas representações verbais e visuais da grande imprensa (1964-69). Topoi, Rio de Janeiro, v. 14, p. 62-85, 2013.

NAPOLITANO, Marcos. Coração civil: arte, resistência e lutas culturais durante o regime militar brasileiro (1964-1980). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2011.

NAPOLITANO, Marcos. Coração civil: a vida cultural brasileira sob o regime militar (1964-1985): ensaio histórico. São Paulo: Intermeios, 2017.

NEVES, João das. [Entrevista cedida a] Natália Batista. Lagoa Santa (MG), 09 maio. 2012.

NOTA da direção. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, p. 3, 24 abr. 1965.

PARETO: “Liberdade” é falsa e comunista. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, p. 6, 4 jun. 1965.

RANGEL, Flávio; FERNANDES, Millôr. Liberdade, liberdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.

SIQUEIRA, José Rubens. Viver de teatro: uma biografia de Flávio Rangel. São Paulo: Nova Alexandria, 1995. 383 p.

THOMPSOM, Edward Palmer. A miséria da teoria ou um planetário de erros. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

WOLFF, Fausto. Liberdade Liberdade. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, p. 3, 24 abr. 1965.

Downloads

Publicado

2022-12-20

Como Citar

BATISTA, Natália Cristina. Para além da cena: humor gráfico, censura e repressão na peça Liberdade, liberdade. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 14, n. 37, p. e0104, 2022. DOI: 10.5965/2175180314372022e0104. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180314372022e0104. Acesso em: 22 dez. 2024.