“Alguns desenhos guardados aí...” A censura ao humor gráfico durante o regime militar brasileiro. Um estudo de caso

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180314372022e0103

Palavras-chave:

charge, censura, Nani, ditadura militar brasileira

Resumo

Este artigo propõe uma reflexão sobre as motivações híbridas e complexas da censura imposta à imprensa independente e ao humor gráfico sob o regime militar brasileiro, com base na análise de fontes visuais inéditas. Os documentos estudados são um conjunto de desenhos feitos pelo cartunista Nani (Ernani Diniz Lucas) enquanto trabalhava na redação do semanário satírico Pasquim nos anos 70. Enviadas para Brasília para serem censuradas previamente, as produções ficaram retidas por anos antes de serem devolvidas ao artista, marcadas com cruzes e outros traços das proibições. Os desenhos permitem assim entrar no mundo dos censores, tornando as categorias e a própria definição do político mais complexas: atestam uma preocupação global por parte das autoridades em relação a todos os temas suscetíveis de minar a imagem de uma sociedade harmoniosa e moderna, e assim contrariar a visão política do regime e de seu imaginário autoritário.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Mélanie Toulhoat, Universidade Nova de Lisboa

Doutora em História pela Universidade Sorbonne Nouvelle e pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora integrada no Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (IHC - NOVA FCSH / IN2PAST). Pesquisadora associada ao Centre de recherche et de documentation     des Amériques (CREDA).

Referências

A SAÍDA. Pasquim, Rio de Janeiro, n°74, p. 1, 18 nov. 1970.

ARAUJO, Maria Paula Nascimento. Experiências de resistência ao regime militar. Dimensões, Vitória, v.13, p.104-111, jul./dez. 2001.

BARATA, Rita de Cássia Barradas. Epidemia de doença meningocócica, 1970/1977: aparecimento e disseminação do processo epidêmico. Revista de Saúde Pública, São Paulo, n. 22, p.16-24, 1988.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Ato Institucional n°1, de 9 de abril de 1964. [Brasília: Presidência da República], 1964.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n°5.250, de 9 de fevereiro de 1967. [Brasília: Presidência da República], 1967.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto Lei nº 1.007, de 26 de janeiro de 1970. Vide Constituição de 1967. [Brasília: Presidência da República], 1970.

CARNEIRO, Ana Marília. Signos da política, representações da subversão: a Divisão de Censura às diversões públicas na ditadura militar brasileira. 2013. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013.

CAULOS. Só dói quando eu respiro. Porto Alegre: L&PM, 1976.

DINIZ LUCAS, Ernani (Nani). [Entrevista cedida a Mélanie Toulhoat]. Rio de Janeiro (RJ), 5 nov. 2013.

DINIZ LUCAS, Ernani (Nani). Desenhos censurados. Rio de Janeiro: [s.n.], 1974?. Acervo pessoal.

FICO, Carlos. Prezada Censura: cartas ao regime militar. Topoi, Rio de Janeiro, p. 251-286 dez. 2002.

FICO, Carlos. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Revista Brasileira de História, v. 24, n. 47, p. 29-60, 2004.

GOODWIN, Ricky. [Entrevista cedida a Mélanie Toulhoat]. Paquetá (RJ), 17 abr. 2011.

JAGUAR. Eu também quero mocotó. Pasquim, Rio de Janeiro, n°72, p. 1, 3 nov. 1970.

MONTEIRO, Paulo. Relatório para a Divisão das Operações da Secção de Buscas Especiais, Secretariado de Segurança Pública, Departamento de Ordem Política e Social. Rio de Janeiro: Secretária de Segurança Pública, 11 dez. 1974.

NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014.

OLIVEIRA, Rodrigo Santos de. Ensaio sobre ditadura, democracia, liberdade e criminalidade no Brasil Republicano. Historiae, Rio Grande, v. 3, n. 2, p. 246-257, 2012.

RIDENTI, Marcelo. Intelectuais e artistas brasileiros nos anos 1960/70: 'entre a pena e o fuzil'. ArtCultura, Uberlândia, v. 9, n. 4, p.185-195, jan./jun. 2007.

RIOS, Ana Maria; MATTOS, Hebe Maria. O pós-abolição como problema histórico: balanços e perspectivas. Topoi, Rio de Janeiro, v. 5, n. 8, p.170-198, jan./jun. 2004.

SCHNEIDER, Catarina Menezes; TAVARES, Michele; MUSSE, Christina. O retrato da epidemia de meningite em 1971 e 1974 nos jornais O Globo e Folha de São Paulo. RECIIS, Rio de Janeiro, n. 9, p.1-13, out./dez. 2015.

TOULHOAT, Mélanie. Rire sous la dictature, rire de la dictature : l’humour graphique dans la presse indépendante : une arme de résistance sous le régime militaire brésilien (1964-1982). 2019. Tese (Doutorado em História) – Universidade Sorbonne Nouvelle e Universidade de São Paulo, Paris – São Paulo, 2019.

ZIRALDO. Ziraldo n’O Pasquim: só dói quando eu rio. São Paulo: Globo, 2010.

Downloads

Publicado

2022-12-20

Como Citar

TOULHOAT, Mélanie. “Alguns desenhos guardados aí...” A censura ao humor gráfico durante o regime militar brasileiro. Um estudo de caso. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 14, n. 37, p. e0103, 2022. DOI: 10.5965/2175180314372022e0103. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180314372022e0103. Acesso em: 22 dez. 2024.