Rir juntas é o melhor remédio contra os tempos temerosos: crítica e humor nas tiras de Thaïs Gualberto e de Fabiane Langona (2016-2018)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180312312020e0108

Resumo

O objetivo deste texto é refletir sobre os mecanismos do humor gráfico produzido entre o impeachment de Dilma Rousseff, destituída do cargo de presidente em 2016, e o final do governo de Michel Temer, em dezembro de 2018. Durante um levantamento das tiras da sessão Folha Cartuns / Cartuns Diários da Folha de S. Paulo, feito de dezembro de 2015 ao final de 2018, foi possível observar posicionamentos contrários ao golpe, colocando em xeque a pretensa neutralidade do periódico. A mistura de elementos da charge e dos quadrinhos deu origem a um produto híbrido que procurava explicar, rir e criticar as situações inusitadas que se seguiram no temeroso panorama nacional. Para este artigo, foram consideradas apenas as tiras feitas por mulheres, especificamente os quadrinhos de Thaïs Gualberto e Fabiane Langona. O interesse é pensar sobre o modo como as personagens criadas por essas duas desenhistas dialogaram com as questões feministas e as pautas de luta das mulheres, em plena conjuntura de golpe. Foram analisadas as tiras com temáticas em torno das caracterizações do governo Temer, do olhar sobre o Brasil e a política marcada pela campanha eleitoral e pela eleição a presidente em 2018, levando em conta as escolhas de recursos e procedimentos técnicos que causavam o efeito humorístico. Na interpretação dos acontecimentos do impeachment e do governo de Temer, as quadrinistas buscaram inspiração nas notícias, no cotidiano das cidades e nas experiências pessoais, construindo outras narrativas, do ponto de vista das lutas e das práticas de resistência das mulheres.

Palavras-chave: Thaïs Gualberto. Fabiane Langona. Humor Gráfico. Quadrinhos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marilda Lopes Pinheiro Queluz, Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR

Graduada em História e Artes pela UFPR; Mestre em História pela UFPR; Doutora em Comunicaão e Semiótica pela PUC-SP; Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)

Referências

ACEVEDO, Mariela A. Humor como espacio de dialogismo sexogenérico: del canon y el contracanon a la constelación crítica. Revista Ártemis, [João Pessoa], v. 26, n. 1, p. 29-52, jul./dez. 2018.

ALVES, Giovanni. O golpe de 2016 no contexto da crise do capitalismo neoliberal. Blog da Boitempo, [São Paulo], 8 jun. 2016. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2016/06/08/o-golpe-de-2016-no-contexto-da-crise-do-capitalismo-neoliberal/. Acesso em: 15 set. 2019.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981.

CAGNIN, Antonio Luiz. Quadrinhos, São Paulo: Criativo, 2014.

CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento: contribuições do feminismo negro. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. p. 271-289.

CHARTIER, Roger. História cultural. Lisboa: Difel; Bertrand do Brasil, 1988.

COLLINS, Patrícia Hill. Se perdeu na tradução?: feminismo negro, interseccionalidade e política emancipatória. Parágrafo, [S.l.], v.5, n.1, jan./jun. 2017. p. 6-17.

CRESCÊNCIO, Cintia Lima. É para rir ou para chorar?: o riso feminista brasileiro em tempos de ditadura (1970-1980). História, histórias, Brasília, v. 4, n. 7, 2016.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017.

GUEDES, Linaldo. Ilustradora Paraibana substitui Angeli no jornal Folha de São Paulo. A União, [João Pessoa], 9 maio 2016. Disponível em: http://auniao.pb.gov.br/noticias/ caderno_cultura/ilustradora-paraibana-substitui-angeli-no-jornal-folha-de-sao-paulo. Acesso em: 22 jan. 2020.

JIMÉNEZ, CARLA et al. Mulheres quebram o jejum das ruas no Brasil com manifestações contra Bolsonaro. El país, [S.l.], 30 set. 2018. Eleições 2018. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/30/politica/1538270819_523141.html. Acesso em: 22 ago. 2019.

MARTIN, Maria. Não é uma banda de indie-rock, é a vanguarda anti-Dilma. El País, [S.l.], 12 dez. 2014. Manifestações anti-Dilma. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2014/12/12/politica/1418403638_389650.html. Acesso em: 15 jan. 2020.

MENDONÇA, Renata. Votação do impeachment revela 5 coisas que você não sabia sobre a Câmara. BBC Brasil, São Paulo, 19 abr. 2016. Disponível em:

https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/04/160419_impeachment_revela_congresso_rm. Acesso em: 22 jan. 2020.

MILLER, Daniel. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

PIRES, Maria da Conceição Francisca. Outras mulheres, outras condutas: feminismo e humor gráfico nos quadrinhos produzidos por mulheres. ArtCultura, Uberlândia, v.21, n.39, p.71-87, jul./dez. 2019.

POLLOCK, Griselda. Visión y diferencia: feminismo, feminidade e historias del arte. Buenos Aires: Fiordo, 2013.

PRANDI, Reginaldo; CARNEIRO, João Luiz. Em nome do Pai: justificativas do voto dos deputados federais evangélicos e não evangélicos na abertura do impeachment de Dilma Rousseff. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 33, n. 96, e 339603, 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69092018000100501&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 12 mar. 2020.

PRONER, Carol. Golpe branco no Brasil: Dilma alerta na ONU. In: PRONER, Carol; CITTADINO, Gisele; TENENBAUM, Marcio e RAMOS FILHO, Wilson (orgs.). A resistência ao golpe de 2016. Bauru: Canal 6, 2016.

RAMALHOSO, Wellington. Urbanistas dizem que Brasília foi feita para a paz e não para a guerra. Notícias Uol, [S.l.], 14 abr. 2016. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/04/14/urbanistas-dizem-que-brasilia-foi-feita-para-a-paz-e-nao-para-a-guerra.htm. Acesso em: 25 jan. 2020.

RAMOS, Beatriz Vargas; MOREIRA, Luiz. Ingredientes de um golpe parlamentar. In: PRONER, Carol; CITTADINO, Gisele; TENENBAUM, Marcio; RAMOS FILHO, Wilson (orgs.). A resistência ao golpe de 2016. Bauru: Canal 6, 2016.

RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009.

RIBEIRO, Amanda. Série 'Chiqsland', de Fabiane Langona, estreia como tira diária na Folha. Folha de S. Paulo, São Paulo, 3 out. 2017. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1923751-serie-chiqsland-de-fabiane-langona-estreia-como-tira-diaria-na-folha.shtml. Acesso em: 22 jan. 2020.

SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

SPACA, Rafael. Gosto de causar um desconforto. BRAVO!, [São Paulo], 17 ago. 2017. Disponível em: https://medium.com/revista-bravo/ gosto-de-causar-um-desconforto-abb82d6180c7.Acesso em: 22 jan. 2020.

SOARES, Nana. Em números: A violência contra a mulher brasileira. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 07 set. 2017. Disponível em: https://emais.estadao.com.br/blogs/ nana-soares/em-numeros-a-violencia-contra-a-mulher-brasileira/. Acesso em: 22 jan. 2020.

VIANA, Rodolfo. Thaïs Gualberto, criadora de 'Olga, a Sexóloga', assume espaço de Angeli. Folha de S. Paulo, São Paulo, 8 maio 2016. Ilustrada. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/05/1768707-thais-gualberto-criadora-de-olga-a-sexologa-assume-espaco-de-angeli.shtml. Acesso em: 22 jan. 2020.

WILLIAMS, Raymond. Cultura e materialismo. São Paulo: Editora Unesp, 2011.

Downloads

Publicado

2020-12-22

Como Citar

QUELUZ, Marilda Lopes Pinheiro. Rir juntas é o melhor remédio contra os tempos temerosos: crítica e humor nas tiras de Thaïs Gualberto e de Fabiane Langona (2016-2018). Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 12, n. 31, p. e0108, 2020. DOI: 10.5965/2175180312312020e0108. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180312312020e0108. Acesso em: 23 dez. 2024.