De estrada líquida à jazida energética: os sentidos do rio Tocantins na memória oral dos ribeirinhos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180311282019156

Resumo

Este trabalho busca compreender como as transformações sofridas pelo rio Tocantins, entre os séculos XX e XXI, modificaram a vida e a percepção das populações que lhe são tributárias. Abordamos esse rio como importante nexo articulador da economia do sertão sul-maranhense e do extremo norte goiano – hoje estado do Tocantins – com o Pará e o Nordeste, do século XIX até meados do século XX, até que a inauguração da Belém-Brasília, em 1960, e de empreendimentos hidrelétricos, a partir de 1970, operassem um deslocamento econômico do rio: passa de estrada líquida à jazida energética. As narrativas elaboradas pelos ribeirinhos atingidos pela Usina Hidrelétrica de Estreito, instalada nesse rio entre os estados do Tocantins e Maranhão, serviram-nos como fontes privilegiadas de análise. Para tanto, lançamos mão da História Oral como arcabouço teórico-metodológico, abordando as narrativas em suas relações com a memória, entendida como uma apreensão do passado enquanto experiência individual atravessada por categorias sociais e coletivas. O conceito de Dádiva é utilizado para abordar a relação construída entre os ribeirinhos e o rio, como uma experiência marcada por um esquema de reciprocidade norteado pelo movimento das águas, que ao mesmo tempo em que submerge o solo, fertiliza-o para a colheita vindoura.

Palavras-chave: Tocantins, Rio. Brasil, Nordeste. História oral. Antropologia. Saneamentos Políticos. Portugal.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Temis Gomes Parente, Universidade Federal do Tocantins - UFT

Doutora em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).  Professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT).

Cícero Pereira da Silva Júnior, Secretaria de Educação do Estado do Pará - SEDUC-PA

Doutorando em História pela Universidade Federal do Pará (UFPA).  Professor da Secretaria de Estado de Educação e Cultura do Pará.

Referências

ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial (1500-1800). Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1998.

ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. Nordestino: invenção do “falo”. Uma história do gênero masculino (1920-1940). 2. Ed. São Paulo: Intermeios, 2013

ARENZ, Karl. Além das doutrinas e rotinas: índios e missionários nos aldeamentos jesuíticos da Amazônia portuguesa (séculos XVII e XVIII). Revista História e Cultura, Franca, v. 3, n. 2, p. 63-88, 2014.

BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

CAILLÉ, Alain. Dádiva e Associação. In: MARTINS, Paulo Henrique (Org,). A Dádiva entre os modernos. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 191-205.

CABRAL, Maria do Socorro Coelho. Caminhos do gado: conquista e ocupação do sul do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1992.

CARVALHO, Carlota. O Sertão: Subsídios para a História e Geografia do Brasil. 3 ed. Imperatriz: Ética, 2006.

CARVALHO, Ruy. Estórias da história de Carolina. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, [s/d].

CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1965.

DELEUZE, Gilles. Os intelectuais e o poder: conversa entre Michel Foucault e Gilles Deleuze. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. p. 69-78.

DIAS, Antonio. O sertão maranhense: esboço geológico, physiográphico e social. Maranhão: Imprensa Oficial, 1922.

FERREIRA, Luiz Alberto. O movimento republicano e a gênese da reestruturação oligárquica no Maranhão (1888-1894). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2002.

FERREIRA, Dallyla Tais Assunção Milhomem et al. Perdas simbólicas e os atingidos por barragens: o caso da usina hidrelétrica de Estreito, Brasil. DMA – Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 30, p. 73-87, jul. 2014. Disponível em: . Acesso em: 12 jun. 2017.

FEBVRE, Lucien. O Reno: história, mitos e realidades. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

FLORES, Kátia Maia. Caminhos que andam: o rio Tocantins e a navegação fluvial nos sertões do Brasil. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.

FURTADO, Júnia Ferreira. Metamorfoses da colonização: o rio Tocantins e a expansão para o Oeste em mapas e relatos (Século XVIII). Tempo, Niterói, v. 22, n. 40, p. 367-399, maio-ago. 2016.

______. Carlota Carvalho: perfil biográfico. In: CARVALHO, Carlota. O sertão: subsídios para a História e Geografia do Brasil. 3. ed. Imperatriz: Ética, 2006. p. LXVII-LXXI.

______. Apontamentos e fontes para a história econômica de Imperatriz. Imperatriz: Ética, 2008.

GODBOUT, Jacques. Homo donator versus homo oeconomicus. In: MARTINS, Paulo Henrique (Org.). A Dádiva entre os modernos. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 63-98.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.

KHOURY, Yara Aun. Apresentação. In: PORTELLI, Alessandro. Ensaios de História Oral. São Paulo: Letra e Voz, 2010. p. 7-18.

LANNA, Marcos. Nota sobre Marcel Mauss e o Ensaio sobre a dádiva. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, n. 14, p. 173-194, jun. 2000.

MARQUES, Cezar Augusto. Dicionário histórico e geográfico da província do Maranhão. Maranhão: Typographia do Frias, 1870.

MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

PARENTE, Temis Gomes. Fundamentos históricos do estado do Tocantins. Goiânia: Editora UFG, 2007a.

______ . Gênero e memória de mulheres desterritorializadas. ArtCultura, Uberlândia, v. 9, n. 14, p. 99-111, jan.-jun. 2007b.

______ . Gênero e (in)sustentabilidade de mulheres nos reassentamentos rurais da Usina Hidrelétrica de Estreito – Tocantins. OPSIS, Catalão, v. 15, n. 2, p. 399-416, 2015.

PATERNOSTRO, Júlio. Viagem ao Tocantins. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1945

PORTELLI, Alessandro. Ensaios de História Oral. São Paulo: Letra e Voz, 2010.

RODRIGUES, Lysias A. O rio dos Tocantins. Rio de Janeiro: IBGE, 1945

SABOURIN, Eric. Marcel Mauss: da dádiva à questão da reciprocidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 23, n. 66, p. 132-208, fev. 2008.

SILVA JÚNIOR, Cícero Pereira da. Projetos hidrelétricos na Amazônia no limiar do século XXI: o caso da UHE no Estreito-MA/TO. Revista Alpha, Patos de Minas, v. 17, n. 2, p. 287-306, 2016.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Introdução à obra de Marcel Mauss. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: EPU, 1974. V. II, p. 1-36.

TIERRA, Pedro. O porto submerso. Brasília: s/e, 2005.

VELHO, Otávio Guilherme. Frente de expansão e estrutura agrária: estudo do processo de penetração numa área da Transamazônica. [on line]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2009. Disponível em: <http://books.scielo.org>

VIEIRA, Antônio. Cartas. Tomo I. Lisboa: Oficina da Congregação do Oratório, 1935.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O nativo relativo. Mana, v. 8, n. 1, p. 113-148, 2002.

Downloads

Publicado

2019-10-22

Como Citar

PARENTE, Temis Gomes; SILVA JÚNIOR, Cícero Pereira da. De estrada líquida à jazida energética: os sentidos do rio Tocantins na memória oral dos ribeirinhos. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 11, n. 28, p. 156–180, 2019. DOI: 10.5965/2175180311282019156. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180311282019156. Acesso em: 23 nov. 2024.