Necropolítica da memória escrava no Brasil pós-abolição

Autores

  • Murilo Duarte Costa Corrêa Universidade Estadual de Ponta Grossa. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Aplicadas e Departamento de Direito de Estado http://orcid.org/0000-0002-4420-2275
  • Cainã Domit Vieira Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Faculdades Integradas do Iguaçu (Unidade de Ensino Superior Vale do Iguaçu - UNIGUAÇU).

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180311262019368

Resumo

A partir dos usos necropolíticos da memória escrava no Brasil pós-abolição, este ensaio analisa a figura do escravo como um ponto de singularização e acúmulo de uma série de tecnologias de poder (soberanas, pré, proto e ultradisciplinares, bio e necropolíticas) que poderiam oferecer uma grade de inteligibilidade para compreender a governamentalidade colonial e suas relações paradoxais com a abolição e a liberdade. Convocando as relações entre memória, história e intempestivo, e por meio da articulação entre textos do pensamento político ocidental antigo, moderno e contemporâneo, propomos descrever de forma interdisciplinar as relações entre o escravo e o fundamento da autoridade política como lógica de necropoder subterrânea que atravessa as figuras aparentemente díspares do escravo, do imigrante europeu, do trabalhador livre e do empresário de si neoliberal. Conclui-se que o desaparecimento da forma-escravo antiga e colonial não determina o fim da lógica escravista, mas sua difusão generalizada na figura de um escravo informe a que os trabalhadores livres, empresários de si mesmos e imigrantes dão consistência hoje.

Palavras-chave: Memória. Tempo presente. Escravidão. Abolição. Necropolítica.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Murilo Duarte Costa Corrêa, Universidade Estadual de Ponta Grossa. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Aplicadas e Departamento de Direito de Estado

Professor Adjunto de Teoria Política da Faculdade de Direito e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Affiliated researcher da Faculty of Law and Criminology da Vrije Universiteit Brussel, instituição na qual realizou estágio de pós-doutorado (2016-2017), com pesquisa intitulada “The political uses of law: on Gilles Deleuze’s philosophy of the social field”.

Cainã Domit Vieira, Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Faculdades Integradas do Iguaçu (Unidade de Ensino Superior Vale do Iguaçu - UNIGUAÇU).

Doutorando e Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pelo Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Professor do curso de Direito das Faculdades Integradas do Iguaçu (Unidade de Ensino Superior Vale do Iguaçu - UNIGUAÇU).

Referências

AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Tradução de Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.

_____. Infância e história: destruição da experiência e origem da história. Tradução de Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

_____. O uso dos corpos (Homo sacer IV, 2). Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2017.

AREND, S. M. F.; MACEDO, F. Sobre a história do tempo presente: Entrevista com o historiador Henry Rousso. Tempo e Argumento. Revista do Programa de Pós-Graduação em HIstória (UDESC). Florianópolis, v. 1, n. 1, p. 201-216, jan./jun. 2009

ARENDT, Hannah. A condição humana. 11 ed. Tradução de Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.

ARISTOTE. Les politiques. Traduit par Pierre Pellegrin. Paris: Flammarion, 1993.

BALÁN, Jorge. Migrações e desenvolvimento capitalista no Brasil: ensaio de interpretação histórico-comparativa. In: Estudos Cebrap. n. 5, julho-agosto-setembro. São Paulo: Editora Brasileira de Ciências Ltda., 1973.

BÉDARIDA, François. Tempo presente e presença da história. In: FERREIRA, Marieta de M.; AMADO, Janaína. Usos e abusos da história oral. 5.ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2002.

CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil meridional. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1962.

COSTA, Emília Viotti da. A abolição. 9. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2010.

DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova ordem do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. Tradução de Mariana Echalar. São Paulo: Boitempo, 2016.

DELEUZE, Gilles. Conversações. Tradução de Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 2008.

DOMINGUES, Petrônio José. Negros de almas brancas? A ideologia do branqueamento no

interior da comunidade negra em São Paulo, 1915-1930. Estud. afro-asiát., Rio de Janeiro, v. 24, n. 3, p. 563-600, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-546X2002000300006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 28.abr. 2018.

FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. vol. 1. 5.ed. São Paulo: Globo, 2008.

_____. Circuito fechado: quatro ensaios sobre o “poder institucional”. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1979.

__________. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1972.

FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. 4. ed. São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 1997.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. 19 ed. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Graal, 2009.

_____. Segurança, território, população. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

HEGEL, Friedrich Wilhelm. Princípios da filosofia do direito. Tradução de Orlando Vittorino. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

HOBBES, Thomas. Do cidadão. Tradução de Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Martns Fontes, 2002.

_____. Leviathan, or the matter, forme and power of a common-wealth ecclesiastical and civil. London: Penguin Books, 2017.

HOBSBAWM, Eric J. Un historien et son temps présent. In: INSTITUT d’Histoire du Temps Présent. Ecrire l’histoire du temps présent. Paris: CNRS Ed., 1993.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 27. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

LAPOUJADE, David. Puissances du temps: versions de Bergson. Paris: Les Éditions de Minuit, 2010.

LAZZARATO, Maurizio. O governo do homem endividado. Tradução de Daniel P. P. Da Costa. São Paulo: n-1 edições, 2017.

LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. Tradução de Julio Fischer. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

MARX, Karl. O capital. Crítica da economia política (Livro I). 35 ed. Tradução de Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Tradução de Sebastião Nascimento. São Paulo: n-1 edições, 2018a.

_____. Necropolítica. Biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. Tradução de Renata Santini. São Paulo: n-1 edições, 2018b.

MONTESQUIEU, Charles de Secondat. O espírito das leis. 3. ed. Tradução de Cristina Murachco. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

NANCY, Jean-Luc. L’impératif catégorique. Paris: Flammarion, 1983.

NEGRI, Antonio; COCCO, Giuseppe. GlobAL: biopoder e lutas em uma América Latina globalizada. Rio de Janeiro: Record, 2005.

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. De l’utilité et des inconvénients de l’histoire pour la vie. In: Considérations inactuelles I et II. Traduit par Pierre Rusch. Paris: Gallimard, 1990, p. 91-169.

PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 41. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

RANCIÈRE, Jacques. O deentendimento: política e polícia. Tradução de Abgela Leite Lopes. São Paulo: Editora 34, 1996.

RICŒUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução de Alain François et al. Campinas: Editora UNICAMP, 2007.

VITÓRIA, Francisco. Os índios e o direito da guerra. Tradução de Ciro Mioranza. Ijuí: Editora Unijuí, 2006.

Downloads

Publicado

2019-04-15

Como Citar

CORRÊA, Murilo Duarte Costa; VIEIRA, Cainã Domit. Necropolítica da memória escrava no Brasil pós-abolição. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 11, n. 26, p. 368–401, 2019. DOI: 10.5965/2175180311262019368. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180311262019368. Acesso em: 23 nov. 2024.