“O Oeste Catarinense não pode parar aqui”. Política, agroindústria e uma história do ideal de progresso em Chapecó (1950-1969)

Autores

  • Claiton Marcio da Silva MIT - UFFS
  • Monica Hass UFFS

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180309212017338

Resumo

Este artigo tem por objetivo discutir a importância da ideia de progresso na fundamentação de um projeto de hegemonia política e econômica em Chapecó, Santa Catarina, entre 1950 e 1969. Com a intensão de ocupar a região considerada como “vazio demográfico”, o governo do estado de Santa Catarina articulou o projeto de conquista da região através da atuação de companhias colonizadoras, responsáveis pela acomodação de migrantes eurodescendentes provindos do Rio Grande do Sul. Neste sentido, durante a primeira metade da década de 1950, as companhias colonizadoras simbolizaram o empreendimento de um processo “civilizatório” para a região, baseados em ideias de trabalho árduo, religiosidade católica e progresso. Com o linchamento de quatro forasteiros acusados de incendiar a igreja matriz em 1950, contemporâneo do declínio do poder político e econômico das companhias colonizadoras, as elites locais precisaram se articular na composição de um projeto político em torno da agroindústria como nova matriz produtiva, como forma de levar adiante o projeto colonizador. A ideia de progresso, neste sentido, mais do que um conceito abstrato, passou a traduzir e fundamentar a construção de um projeto político hegemônico, reunindo em torno de si diferentes grupos políticos e econômicos e que, nas décadas de 1950 e 1960, se materializou no aumento da infraestrutura regional e se difundiu por todos os demais grupos sociais do município. O artigo conclui com a abordagem do que consideramos ser o momento mais significativo desta construção: os festejos do cinquentenário de Chapecó, em 1967, durante a ditadura civil-militar, e a aproximação das elites locais em torno de um projeto que se consolidou na década de 1970.

 

Palavras-chave: Chapecó, SC – Política e Governo. Agroindústria. Chapecó, SC – História. Chapecó, SC – Colonização.

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Biografia do Autor

Claiton Marcio da Silva, MIT - UFFS

Doutor em História das Ciências pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Fronteira Sul. Professor visitante no Massachusets Institute of Technology, MIT.

Massachusetts – Estados Unidos

Monica Hass, UFFS

Doutora em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).  Professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Fronteira Sul.

Chapecó, Santa Catarina - BRASIL

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Publicado

2017-09-26

Como Citar

SILVA, Claiton Marcio da; HASS, Monica. “O Oeste Catarinense não pode parar aqui”. Política, agroindústria e uma história do ideal de progresso em Chapecó (1950-1969). Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 9, n. 21, p. 338–374, 2017. DOI: 10.5965/2175180309212017338. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180309212017338. Acesso em: 29 mar. 2024.