Quando a Odebrecht construiu Salvador: a narrativa jornalística da história na coleção Terra Brasilis, de Eduardo Bueno (1998-2006)

Autores

  • Rodrigo Bragio Bonaldo UFSC

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180309202017130

Resumo

O que fabrica o jornalista quando escreve sobre história? Ao subverter a questão clássica de Michel de Certeau (2007), este artigo propõe contribuir para o debate sobre a relação da escrita da história com as amplas audiências. Ao focar em uma análise da principal obra de um dos mais célebres escritores não acadêmicos de livros de história no Brasil – Eduardo Bueno com sua coleção Terra Brasilis – propõe-se que, entre o trabalho do divulgador e a historiografia profissional, dispõe-se outro ponto de intersecção merecedor de atenção e que responde pelos critérios do “lugar social” do jornalista. É, portanto, a partir de um diálogo com tais referências que percebemos uma narrativa jornalística da história alheia aos mecanismos de mediação próprios da memória disciplinar da historiografia, o que carregaria em si implicações ideológicas (WHITE, 1992) derivadas de querelas do tempo presente.

 

Palavras-chave: Jornalismo. Historiografia. Corrupção. Implicação Ideológica.

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Biografia do Autor

Rodrigo Bragio Bonaldo, UFSC

Departamento de história. Professor de Teoria da História e História da Historiografia.

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Publicado

2017-05-31

Como Citar

BONALDO, Rodrigo Bragio. Quando a Odebrecht construiu Salvador: a narrativa jornalística da história na coleção Terra Brasilis, de Eduardo Bueno (1998-2006). Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 9, n. 20, p. 130–161, 2017. DOI: 10.5965/2175180309202017130. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180309202017130. Acesso em: 28 mar. 2024.