A percepção de gestores bancários em um município
da Amazônia Paraense sobre o controle interno na
gestão do risco socioambiental
Josué de Lima Carvalho
Mestrando em Contabilidade pela UFSC.
Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA, Brasil.
josuecarvalho911@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/8214132585708396
https://orcid.org/0000-0003-0946-9078
Valdeci Ferreira da Silva Neto
Especialista em Auditoria Contábil e Controladoria pela
Uniasselvi (2022).
Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA, Brasil.
valdecif.neto@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/2253127363581404
https://orcid.org/0000-0001-6366-9009
Ticiane Lima dos Santos
Doutora em Administração pela UNAMA (2018).
Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA, Brasil.
ticiane.ufra@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/1579287644263493
https://orcid.org/0000-0001-9238-4651
Alexandre Gleyson Araújo da Silva
Mestre em Ciências Contábeis pela UFRJ (2018).
Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA, Brasil.
alexandre12.ufra@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/6161618845181444
https://orcid.org/0000-0002-5955-621X
Disponibilidade: https://doi.org/10.5965/2764747111212022001
Data de Submissão: 23 de julho de 2022.
Data de Aprovação: 25 de outubro de 2022.
Edição: v. 11, n. 21, p. 001-020, dez. 2022
2
A percepção de gestores bancários em um município da Amazônia Paraense sobre o
controle interno na gestão do risco socioambiental
Resumo
Objetivo(s): Este estudo objetiva analisar a percepção dos gestores das instituições financeiras
no município de Tomé-Açu, no Estado do Pará, sobre a interação existente entre o controle
interno e o risco socioambiental como uma variável no processo de análise de concessão de
crédito. Método: Trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa e
quantitativa. Foram aplicados aos gestores das agências bancárias localizadas no município de
Tomé-Açu questionários semiestruturados contendo perguntas fechadas e abertas. Os dados
coletados foram tabulados e analisados com a utilização dos softwares SPSS, Excel e
IRAMUTEQ. Resultados: Concluiu-se que o controle interno atua como ferramenta de auxílio
aos gestores das instituições quanto ao processo de análise de riscos, com destaque para o risco
socioambiental, induzindo a mudanças culturais na organização e na avaliação das políticas de
responsabilidade socioambiental. Destaca-se a positiva percepção dos gestores sobre os
benefícios de um bom controle interno na gestão de riscos socioambientais atuando como filtro
institucional, de modo que os riscos existentes podem ser minimizados e controlados com a
utilização consistente dos procedimentos de controle interno. Contribuições: Sugere-se que
pesquisas futuras sejam realizadas com quantitativo maior de respondentes, com possibilidade
de estenderem-se aos tomadores de crédito e a todos os colaboradores internos da instituição
financeira.
Palavras-chave: Controle Interno. Risco Socioambiental. Instituições Financeiras.
The Perception of Banking Managers from a Municipality in the State of Pará on the
Internal Control in the Management of Socio-Environmental Risk
Abstract
Objective(s): This study aims to analyze the perception of managers from financial institutions
in the municipality of Tomé-Açu, in the State of Pará, regarding the interaction between
internal control and social and environmental risk as a variable in the credit grant analysis
process via descriptive research, with qualitative and quantitative approach. Method: Semi-
structured questionnaires were applied to bank branch managers located in the municipality of
Tomé-Açu, with close- and open-ended questions to collect data that were then tabulated and
analyzed using the software SPSS, Excel, and IRAMUTEQ. Results: We concluded that
internal control acts as a tool to help the managers of the institutions with risk analysis process,
evidencing the social and environmental risk, influencing cultural changes in the organization
and evaluation of the social and environmental responsibility policies. The positive perception
of managers on the benefits of adopting good internal control in the management of social and
environmental risks, acting as an institutional filter, stands out, so that existing risks can be
minimized and controlled with the consistent use of internal control procedures.
Contributions: We suggest for future surveys to be conducted with a larger number of
respondents, with the possibility of extending to borrowers and all internal employees of the
financial institution.
Keywords: Internal Control. Social and Environmental Risk. Financial Institutions.
3
La percepción de los gerentes bancarios de un municipio del Estado de Pará sobre el
control interno en la gestión del riesgo socioambiental
Resumen
Objetivo(s): Este estudio tiene como objetivo analizar la percepción de los gestores de
instituciones financieras del municipio de Tomé-Açu, en el Estado de Pará, sobre la interacción
entre el control interno y el riesgo socioambiental como variable en el proceso de análisis de
concesión de crédito. Método: Se trata de una investigación descriptiva, con enfoque
cualitativo y cuantitativo. Se aplicaron cuestionarios semiestructurados que contenían
preguntas cerradas y abiertas a gerentes de sucursales bancarias ubicadas en el municipio de
Tomé-Açu. Los datos recolectados fueron tabulados y analizados con los programas SPSS,
Excel e IRAMUTEQ. Resultados: Se concluyó que el control interno actúa como una
herramienta para ayudar a los administradores de la institución en el proceso de análisis de
riesgos, con énfasis en el riesgo socioambiental, induciendo cambios culturales en la
organización y en la evaluación de políticas de responsabilidad socioambiental. Destacamos la
percepción positiva de los gestores sobre los beneficios de un buen control interno en la gestión
de riesgos socioambientales, actuando como filtro institucional, de modo que los riesgos
existentes puedan ser minimizados y controlados con el uso consistente de procedimientos de
control interno. Aportes: Se sugiere que futuras encuestas se realicen con un mayor número
de encuestados, con posibilidad de extenderse a prestatarios y todos los empleados internos de
la entidad financiera.
Palabras clave: Control Interno. Riesgo Social y Ambiental. Instituciones Financieras.
Introdução
O presente trabalho busca analisar a percepção dos gestores das instituições financeiras
no município de Tomé-Açu, no estado do Pará, sobre a interação existente entre controle
interno e risco socioambiental como variável no processo de análise de concessão de crédito,
na relação existente entre instituições financeiras e o controle interno como ferramentas de
supervisão das atividades econômico-administrativas e de análise de riscos durante os
procedimentos para conceder crédito bancário. A discussão sobre os riscos socioambientais
tem sido cada vez mais abordada em congressos, seminários e demais encontros que envolvem
a sociedade, o governo e as empresas.
Os resultados poderão ser utilizados como fonte de informações sobre o papel do
controle interno no âmbito administrativo das entidades, uma vez que este tem por finalidade
contribuir para a análise e o desenvolvimento das atividades promovidas em parceria com
demais setores, assim como outros tipos de ferramentas como auditoria interna e sistema de
gestão ambiental , possibilitando elevar os princípios e valores de sustentabilidade adotados
nas instituições financeiras.
Os procedimentos de controle interno auxiliam na análise de atividades financeiras e
contribuem para a obtenção de informações relevantes e de qualidade, permitindo que os
gestores tomem melhores decisões. Esta pesquisa busca verificar a percepção do controle
interno na análise de riscos socioambientais como um suporte para que as instituições
financeiras concedam crédito em relação às atividades financeiras e administrativas que
interferem na sociedade e no meio ambiente. Nesse contexto, surge a seguinte problemática:
qual a percepção dos gestores das instituições financeiras em Tomé-Açu sobre o controle
interno na gestão do risco socioambiental para concessão de crédito?
4
Este trabalho divide-se em cinco sessões principais: a introdução problematiza e
justifica a construção proposta, seguida pela fundamentação, baseada em estudos relacionados.
A posteriori, a metodologia explica minunciosamente os métodos adotados, os resultados
apresentam as principais descobertas e as considerações finais demonstram as reflexões
conclusivas.
Referencial teórico
Instituições Financeiras
O modelo bancário implementado no Brasil pelo Império foi o europeu. No primeiro
momento, as atividades básicas de um banco comercial, ou simplesmente banco, consistiam
nas operações de depósitos e empréstimos (descontos), que outros serviços praticamente
inexistiam. Desde então, os bancos sempre guardaram a característica nobre, em seu
compromisso, de resguardar fortunas alheias e demais atividades envolvendo aspectos
financeiros (Fortuna, 2017).
Em 1945, através do Decreto Lei 7.293, foi criada a Superintendência da Moeda e
do Crédito (Sumoc) em substituição a critérios inadequados de fiscalização que tiveram início
em 1920 com a Inspetoria Geral de Bancos. O objetivo imediato da Sumoc era exercer o
controle do mercado monetário. Inúmeros bancos encerraram suas atividades, outros tantos
desapareceram, através de fusões e incorporações, saneando e solidificando o Sistema
Financeiro Nacional (SFN).
O SFN é composto por instituições públicas e privadas e seu órgão normativo máximo
é o Conselho Monetário Nacional (CMN). O SFN busca viabilizar a relação entre agentes
carentes de recursos para investimentos e outros que são capazes de gerar poupança e, por
conseguinte, possuem condições de financiar o crescimento da economia (Assaf Neto, 2017).
Em 25 de abril de 2014, o CMN, por meio da Resolução 4.327/2014, determinou
diretrizes para o estabelecimento e a implementação da Política de Responsabilidade
Socioambiental (PRSA) pelas instituições financeiras e demais instituições autorizadas a
funcionar pelo Banco Central do Brasil (Bacen), devendo ser observados pelas instituições
financeiras reguladas pelo Bacen os seguintes princípios:
Art. 1 . . . I - relevância: o grau de exposição ao risco socioambiental das atividades
e das operações da instituição; e
II - proporcionalidade: a compatibilidade da PRSA com a natureza da instituição e
com a complexidade de suas atividades e de seus serviços e produtos financeiros.
(Brasil, 2014).
No ano de 1995, foi assinado o Protocolo Verde, que conforme o Ministério do Meio
Ambiente (MMA) é uma carta de princípios para o desenvolvimento sustentável firmada por
bancos oficiais como Banco do Brasil (BB), Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Banco da
Amazônia (Basa), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa
Econômica Federal (CEF) e Bacen na qual se propõem a empreender políticas e práticas que
estejam em harmonia com o objetivo de promover um desenvolvimento que não comprometa
as necessidades das gerações futuras (Brasil, 2009).
A adoção de critérios voltados à preocupação ambiental nos bancos brasileiros permite
um avanço significativo quanto à responsabilidade socioambiental, e pelo fato de esses bancos
financiarem atividades econômicas do sistema atual, Rabelo e Lima (2009, p. 8) acreditam que
“consequentemente as tornam corresponsáveis pelos impactos que essas atividades podem vir
a trazer ao meio ambiente através da exploração insustentável dos recursos naturais”.
Diante disso, em outubro de 2002 surgem os Princípios do Equador, promovidos pela
International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, e pelo banco
5
holandês ABN Amro, através de um encontro de executivos na cidade de Londres para discutir
experiências com investimentos em projetos, envolvendo questões sociais e ambientais em
mercados emergentes, nos quais nem sempre legislação rígida de proteção do ambiente
(Brasil, 2009).
Os princípios o uma série de orientações que norteiam as medidas de responsabilidade
socioambiental que devem ser tomadas pelas instituições financeiras e tomadores de crédito.
Esses últimos também devem adotar um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), fomentando
melhorias na relação entre sociedade e meio ambiente.
Controle Interno
O Comitê de Procedimentos de Auditoria do Instituto Americano de Contadores
Públicos Certificados (AICPA) apresentou uma definição para o tema:
O controle interno compreende o plano de organização e o conjunto coordenado dos
métodos e medidas, adotados pela empresa, para proteger o seu patrimônio, verificar
a exatidão e a fidedignidade de seus dados contábeis, promover a eficiência
operacional e encorajar a adesão à política traçada pela administração. (Attie, 2011,
p. 188)
A AICPA, em 1958, buscou subdividir o controle interno em controles administrativos
e controles contábeis; enquanto os primeiros buscam garantir que as ações atinjam seus
objetivos com o menor custo e da melhor forma, os controles contábeis visam dar certeza aos
números registrados e divulgados nas demonstrações contábeis (Castro, 2015).
A definição de controle interno em uma organização pode ser caracterizada, conforme
Almeida (2017, p. 53), como “o conjunto de procedimentos, métodos ou rotinas com os
objetivos de proteger os ativos, produzir dados contábeis confiáveis e ajudar a administração
na condução ordenada dos negócios da empresa”.
Attie (2011, p. 188) observa que em “países cuja educação é voltada a ambientes
capitalistas e de investimentos efetivos o sentido de controle encontra-se mais aflorado e vivo”,
de modo que esse assunto evidencia o ambiente relacionado a contabilidade e finanças.
Gestão de Riscos das Instituições Financeiras
A análise dos riscos de concessão de crédito possibilita o monitoramento das atividades
econômicas e seus efeitos na sociedade. Para Rabelo e Lima (2009, p. 8), “o uso do crédito
como ferramenta para viabilizar a sustentabilidade dos recursos é uma dessas adequações
necessárias e mínimas para se conviver com os riscos ambientais”.
Para Lima (2016, p. 3) a análise de riscos “é o processo através do qual as várias
exposições, nos mais diferentes tipos de riscos, são diagnosticadas, calculadas e analisadas,
gerando controles para decisões financeiras nas condições de riscos expostas”, e esse processo
têm passado por avanços tanto tecnológicos como na teoria das finanças, buscando-se
melhorias nas técnicas de análise de riscos.
Em 23 de fevereiro de 2017, por meio da Resolução nº 4.557/2017, o CMN determinou
diretrizes sobre a estrutura de gerenciamento de riscos e de capital que devem ser
implementadas pelas instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo
Bacen (Brasil, 2017). Conforme o art. 2º, § 1º, da resolução, as estruturas de gerenciamento de
que trata o caput devem ser:
I - compatíveis com o modelo de negócio, com a natureza das operações e com a
complexidade dos produtos, dos serviços, das atividades e dos processos da
instituição;
II - proporcionais à dimensão e à relevância da exposição aos riscos, segundo critérios
definidos pela instituição;
6
III - adequadas ao perfil de riscos e à importância sistêmica da instituição; e
IV - capazes de avaliar os riscos decorrentes das condições macroeconômicas e dos
mercados em que a instituição atua (Brasil, 2017).
Uma eficiente gestão de risco é essencial para a competitividade dos bancos e o
estabelecimento de suas estratégias de atuação, cumprindo também os objetivos, missão e
valores da empresa (Assaf Neto, 2017), a gestão de risco é importante para: identificar a
exposição da empresa ao risco e seus aspectos mais frágeis; minimizar perdas financeiras; e
imunizar o capital da empresa. Alguns riscos são verificados constantemente pelas instituições
financeiras (Assaf Neto, 2017; Lima, 2016; Rogante, 2009), como: risco de variação das taxas
de juros; risco de crédito; risco de mercado; risco operacional; risco de câmbio; risco soberano;
risco de liquidez; risco legal; risco de compliance; e risco socioambiental.
De acordo com a Associação Brasileira de Bancos (ABBC), os riscos socioambientais
podem ser definidos conforme a possibilidade de perdas para as instituições financeiras em
decorrência de danos socioambientais, que são classificados como: poluição, danos à saúde
humana, segurança, impactos em comunidades e ameaças à biodiversidade (Associação
Brasileira de Bancos, 2019).
Dzioubanov (2015) apresenta uma reflexão sobre responsabilidade social e gestão
ambiental das organizações, constatando que a questão socioambiental é preocupação presente
e concluindo que a concessão de crédito é dependente do risco socioambiental.
Nogueira, Conceição e Imbroisi (2015) estudam a importância do financiador em
influenciar o comportamento ambiental do financiado, os autores concluem em seus resultados
que evidências da lenta, mas crescente incorporação do comportamento ambiental do
tomador de empréstimo bancário na análise do agente financiador.
Sendo assim, percebe-se que uma série de fatores influencia a análise de riscos pelas
instituições financeiras, em específico a análise do risco socioambiental, que tem passado por
aperfeiçoamento em suas regulamentações no setor bancário. Desse modo, Castro (2015)
evidencia a importância da adoção de um controle interno pelas instituições financeiras que
tenha necessariamente foco preventivo.
Metodologia
A metodologia de um trabalho define, em resumo, como será realizada a pesquisa,
evidenciando as peças fundamentais para a construção de um conhecimento que consiga
responder à problemática da pesquisa. Portanto, é essencial discutir objetivos, abordagem,
procedimentos e quais métodos utilizar, como se descreve a seguir.
Esta pesquisa foi desenvolvida objetivando descrever os resultados obtidos, conforme
Silva e Menezes (2000, p. 21): “a pesquisa descritiva visa descrever as características de
determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis”. Busca-
se, com isso, elencar características e contribuições que surgem dos procedimentos de controle
interno em relação ao gerenciamento de riscos em evidência, o risco socioambiental ,
fixando como objeto de estudo a percepção dos gestores das instituições financeiras localizadas
no município de Tomé-Açu.
A pesquisa foi consolidada entre os meses de abril e outubro de 2019, sendo essencial
a aplicação de questionários semiestruturados com uso da Escala Likert em um estudo
descritivo do tipo survey e questionário autorrespondido, com perguntas abertas e fechadas. Os
questionamentos foram orientados conforme os referenciais teóricos previamente levantados e
embasados em pesquisas voltadas à mesma temática, envolvendo a discussão sobre riscos
socioambientais, pois é por intermédio dessas informações que se pretende alcançar os
resultados previstos. Como descreve Andrade (2010, p. 137): “A coleta de dados constitui uma
etapa importantíssima da pesquisa de campo, mas não deve ser confundida com a pesquisa
7
propriamente dita”.
A coleta se deu em seis instituições bancárias operantes no município de Tomé-Açu
(PA), especificamente junto aos gerentes de agência, não sendo assim contemplados gerentes
de negócios ou administrativos/financeiros. A primeira resposta foi devolvida no dia 5 de maio
de 2019, e a última no dia 14 de outubro de 2019.
O total de respondentes da pesquisa foi de seis gerentes de agência, um para cada
instituição entrevistada, sendo contatados de forma presencial por meio de um formulário de
apresentação que explicava os objetivos da pesquisa.
Para que os dados coletados em campo fossem analisados com a maior precisão
possível, de acordo com as respostas fornecidas por cada participante, de modo que
permitissem a comparação das informações, eles foram tabulados com a utilização dos
softwares Microsoft Excel e Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). Buscou-se
realizar a análise descritiva das frequências relativas percentuais, demonstradas graficamente,
verificando e validando as assertivas do questionário aplicado.
Quanto à abordagem qualitativa, optou-se pela utilização do IRAMUTEQ, software
gratuito e de código aberto, desenvolvido por Pierre Ratinaud e Pascal Marchand, que permite
analisar no corpus textual a nuvem de palavras, que é uma representação gráfica dos segmentos
de texto que são citados com frequência pelos respondentes e que se interligam (Silva, 2018).
Discussão dos resultados
Estatística Descritiva das Assertivas Propostas
As Figuras de 1 a 14 demonstram estatisticamente o nível de concordância dos gestores
quanto a cada assertiva proposta, apresentando informações referentes à percepção dos gestores
em relação às finalidades do controle interno na instituição, tal como a percepção sobre o risco
socioambiental e as políticas de responsabilidade socioambiental, buscando atender aos
objetivos desta pesquisa.
Figura 1
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.I Detém de conhecimento sobre os
objetivos e o papel do controle interno dentro das organizações
Nota. Elaborado pelos autores.
Os dados da Figura 1 demonstram que todos os respondentes têm entendimento sobre
a importância do controle interno como forma de adesão às políticas internas de suas
instituições financeiras através de rotinas operacionais, processos administrativos ou controles
contábeis.
Oliveira e Soares (2018, p. 12) demonstraram que os entrevistados em sua pesquisa
“foram unânimes em informar que os princípios de controle interno foram observados na
implantação do controle interno na instituição financeira”, além de destacarem o investimento
25.0%
75.0%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
1 Discordo
Totalmente 2 Discordo
Parcialmente 3 Indiferente 4 Concordo
Parcialmente 5 Concordo
Totalmente
8
em procedimentos que atendam a normas nacionais e internacionais, auxiliando na avaliação e
gerenciamento de riscos.
Figura 2
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1. II Os procedimentos de controle
interno facilitam a identificação dos riscos socioambientais
Nota. Elaborado pelos autores.
Os dados demonstram que 87,5% dos entrevistados concordam totalmente que o controle
interno facilita a identificação dos riscos socioambientais. Sobre os procedimentos de controle
interno, Oliveira e Soares (2018, p. 13) constataram que “são desenvolvidos em conjunto com
as diversas áreas gestoras de serviços, produtos e processos da Organização, cujos testes de
aderência são aplicados com a periodicidade requerida”.
Figura 3
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.III O controle interno contribuiu para
a redução dos riscos socioambientais
Nota. Elaborado pelos autores.
Tem-se que 87,5% dos respondentes concordam totalmente que o controle interno
contribuiu para a redução dos riscos socioambientais, porém 12,5% chamam atenção ao
concordar parcialmente com tal afirmativa.
A pesquisa de Oliveira e Soares (2018, p. 19) identificou que “Os principais riscos
apresentados estão amparados por procedimentos de controles que os reduzem a níveis
aceitáveis”, sendo assim, pode-se inferir conforme percepção dos gestores que o controle
interno contribui significativamente no gerenciamento de riscos, principalmente em relação
aos riscos socioambientais, possibilitando às instituições bancárias alcançar seus objetivos e
metas traçados na estratégia da organização.
Figura 4
12.5%
87.5%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
1 Discordo
Totalmente 2 Discordo
Parcialmente 3 Indiferente 4 Concordo
Parcialmente 5 Concordo
Totalmente
12.5%
87.5%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
1 Discordo
Totalmente 2 Discordo
Parcialmente 3 Indiferente 4 Concordo
Parcialmente 5 Concordo
Totalmente
9
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.IV O sistema de controle interno
facilita a análise de informações entre os setores da organização
Nota. Elaborado pelos autores.
Conforme mostra a Figura 4, 50% dos entrevistados concordam totalmente, enquanto
50% concordam parcialmente que o sistema de controle interno facilita a análise de
informações entre os setores da organização, ou seja, entende-se como um cenário positivo
para as organizações utilizarem o sistema de controle interno, possibilitando a troca de
informações entre os setores e que as decisões sejam tomadas com agilidade. Após realizar sua
pesquisa, Silva (2017, p. 114) evidencia que “para se ter conformidade é necessária uma
perfeita sintonia, entre os controles internos, visando uma compliance nos processos aliados a
um perfeito monitoramento interno pela auditoria interna no intuito a mitigar os riscos”.
Figura 5
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.V A adoção dos procedimentos de
controle interno provocou investimentos em políticas de responsabilidade socioambiental
pela instituição financeira
Nota. Elaborado pelos autores.
Obteve-se que 75% dos respondentes concordam totalmente, enquanto 12,5%
concordam parcialmente, que a adoção dos procedimentos de controle interno provocou
investimentos em políticas de responsabilidade socioambiental pela instituição financeira,
demonstrando que a adoção de tais procedimentos tem estimulado as instituições financeiras a
investirem em suas políticas de responsabilidade socioambiental, pois o controle interno tem
contribuído para a gestão de riscos e verificação das políticas adotadas.
Por outro lado, 12,5% declararam-se indiferentes quanto a essa afirmativa, o que
permite inferir que a adoção de procedimentos de controle interno pode ou o influenciar as
instituições financeiras a investirem em PRSA.
Carlos e Morais (2017, p. 9) constataram que, nas entidades do setor bancário, quanto
ao “aspecto ambiental verificam-se ações efetivas de controle quanto ao uso de recursos
renováveis, os aspectos de poluição, energias, água, consumo de papel, além da emissão de
resíduos e a preocupação com as mudanças climáticas”.
Figura 6
50.0% 50.0%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
1 Discordo
Totalmente 2 Discordo
Parcialmente 3 Indiferente 4 Concordo
Parcialmente 5 Concordo
Totalmente
0.0% 0.0% 12.5% 12.5%
75.0%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
1 Discordo
Totalmente 2 Discordo
Parcialmente 3 Indiferente 4 Concordo
Parcialmente 5 Concordo
Totalmente
10
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.VI a governança corporativa, gestão
de riscos e compliance no sistema de controle interno permitem segurança na transmissão
das informações para os órgãos fiscalizadores
Nota. Elaborado pelos autores.
Entre os respondentes, 87,5% concordam totalmente, enquanto 12,5% concordam
parcialmente que a governança corporativa, gestão de riscos e compliance no sistema de
controle interno asseguram que a transmissão de informações para os órgãos fiscalizadores
ocorra de maneira eficiente.
Oliveira e Soares (2018) identificaram que, ao ocorrer melhorias no controle interno,
além de interação da governança corporativa e atuação do comitê de riscos, em relação à adoção
de regras e procedimentos para estrutura de riscos, proporciona-se qualidade à gestão dos
eventos, possibilitando à instituição criar mecanismos para mitigar os riscos.
Figura 7
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.VII O controle interno, em alusão ao
risco socioambiental, provocou mudanças culturais na agência bancária a qual trabalho
Nota. Elaborado pelos autores.
Questionados sobre a capacidade do controle interno de mudar a cultura organizacional
da instituição em que trabalham quanto ao risco socioambiental, 37,5% dos entrevistados
concordam totalmente e 50% concordam parcialmente, enquanto 12,5% declaram-se
indiferentes.
Silveira (2018, p. 52) identificou que “todos os macros temas presentes no relatório de
sustentabilidade da instituição também estão presentes no cotidiano e nos valores dos
colaboradores quando pensam sobre sustentabilidade”, e com base nestes dados infere-se que
as práticas sustentáveis adotadas nos procedimentos de controle interno influenciam a cultura
organizacional, direta ou indiretamente.
Figura 8
12.5%
87.5%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
1 Discordo
Totalmente 2 Discordo
Parcialmente 3 Indiferente 4 Concordo
Parcialmente 5 Concordo
Totalmente
12.5%
50.0% 37.5%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
1 Discordo
Totalmente 2 Discordo
Parcialmente 3 Indiferente 4 Concordo
Parcialmente 5 Concordo
Totalmente
11
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.VIII A utilização de sistema de
controle interno influencia melhorias na qualidade das informações geradas nos indicadores
e relatórios de desempenho
Nota. Elaborado pelos autores.
Em relação à percepção dos gestores sobre a adoção do controle interno influenciar
positivamente na qualidade das informações disponibilizadas nos indicadores e relatórios de
desempenho, 62,5% concordam totalmente, 25% concordam parcialmente e 12,5% declaram-
se indiferentes.
Em sua pesquisa sobre a responsabilidade socioambiental exposta em relatórios de
sustentabilidade, Franklin (2014, p. 55) afirma que tais relatórios são a “Principal ferramenta
de disseminação das ações de responsabilidade socioambiental da instituição”, que permite o
acesso de usuários internos e externos sobre o desempenho econômico, social e ambiental
gerado através da instituição e ao se adotar um bom sistema de controle interno. O
gerenciamento das informações de desempenho se torna cada vez mais eficiente, melhorando
a qualidade das informações geradas nos relatórios e indicadores de desempenho e auxiliando
na tomada de decisão em tempo hábil por seus usuários.
Figura 9
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.IX Detém conhecimento sobre a
Política de Responsabilidade Socioambiental da instituição
Nota. Elaborado pelos autores.
Todos os gestores afirmaram ter conhecimento, mesmo que parcialmente, sobre a
política interna de responsabilidade socioambiental da instituição. Os resultados podem, no
entanto, se limitar levando em consideração a importância desse conhecimento para o
desenvolvimento das atividades de um gerente de agência.
No estudo de Siemionko (2010, p. 40), ao questionar os entrevistados se conheciam a
política de sustentabilidade do banco, “somente 62% afirmam conhecer, 36,5% afirmaram não
conhecer e 1,6% são indiferentes à questão”. Devido aos diversos ramos de atividade estar
12.5% 25.0%
62.5%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
1 Discordo
Totalmente 2 Discordo
Parcialmente 3 Indiferente 4 Concordo
Parcialmente 5 Concordo
Totalmente
25.0%
75.0%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
1 Discordo
Totalmente 2 Discordo
Parcialmente 3 Indiferente 4 Concordo
Parcialmente 5 Concordo
Totalmente
12
relacionados direta ou indiretamente a algum tipo de risco socioambiental, torna-se essencial
que os colaboradores detenham conhecimento sobre a PRSA adotada pela instituição.
Figura 10
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.X É importante que o banco crie ações
e programas voltados à questão socioambiental
Nota. Elaborado pelos autores.
Todos os gestores entrevistados concordam que é importante adotar medidas e
programas vinculados à questão socioambiental. Ao adotar tais medidas, as instituições
potencializam a discussão sobre a temática socioambiental nas organizações,
independentemente do seu porte ou o ramo de atuação.
Na pesquisa de Siemionko (2010, p. 40), em relação à criação de ações e programas
“voltadas à questão socioambiental, 98% dos respondentes declaram considerar importante”.
Sendo assim, pode-se inferir que, independentemente da instituição financeira, os gestores
destacam a importância da criação de ações voltadas à responsabilidade socioambiental.
Figura 11
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.XI – É relevante que o público interno
conheça o balanço socioambiental publicado anualmente pelo banco
Nota. Elaborado pelos autores.
Dos gestores respondentes, 75% concordam totalmente, enquanto 25% concordam
parcialmente. Desse modo, pode-se afirmar que os gestores concordam com a afirmativa, pois
quando a equipe acompanha as ações desenvolvidas pela organização, facilita a compreensão
das funções desempenhadas referente à análise do risco socioambiental.
Franklin (2014, p. 55) ressalta que o Relatório de Sustentabilidade em relação às
instituições financeiras “aproxima-a do seu público de relacionamento, fazendo com que,
12.5%
87.5%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
1 Discordo
Totalmente 2 Discordo
Parcialmente 3 Indiferente 4 Concordo
Parcialmente 5 Concordo
Totalmente
25.0%
75.0%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
1 Discordo
Totalmente 2 Discordo
Parcialmente 3 Indiferente 4 Concordo
Parcialmente 5 Concordo
Totalmente
13
internamente, muitos funcionários passem a conhecer uma diversidade de informações que não
teriam acesso se não tivessem a oportunidade de explorar o documento”.
Figura 12
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.XII Para que ocorra a liberação de
crédito para financiamentos (projetos de investimento), você concorda que o cliente deve
prestar contas das suas práticas de responsabilidade socioambiental e sustentabilidade
Nota. Elaborado pelos autores.
Diante da assertiva que questiona se os clientes devem prestar contas de suas práticas
de responsabilidade socioambiental e sustentabilidade para que ocorra a análise e liberação de
crédito para financiamentos, dos respondentes, 75% concordam totalmente e 25% concordam
parcialmente.
Em sua pesquisa, Siemionko (2010, p. 47) identificou que 87,5% dos respondentes
“afirmam que é importante e necessária a prestação de contas das práticas de responsabilidade
socioambiental e sustentabilidade pelos tomadores de crédito”. Os dados demonstram a
importância de o cliente prestar contas de suas ações para a instituição financeira no momento
da solicitação de crédito, facilitando a análise dos riscos.
Figura 13
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.XIII Se o banco passasse a analisar os
critérios socioambientais para análise de crédito para empréstimos e o cliente apresentasse
aspectos ambientais e sociais negativos, o risco atribuído deve ser maior
Nota. Elaborado pelos autores.
Como resultado, 75% dos respondentes concordam totalmente, enquanto 25% são
indiferentes quanto ao Banco atribuir risco maior, utilizando mecanismos de categorização do
ramo de atividade, no caso de o cliente apresentar aspectos socioambientais negativos.
Na pesquisa de Silveira (2018), os respondentes afirmam que, ao aplicarem
questionário aos tomadores de crédito e identificar que a empresa detém atividades de risco
25.0%
75.0%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
1 Discordo
Totalmente 2 Discordo
Parcialmente 3 Indiferente 4 Concordo
Parcialmente 5 Concordo
Totalmente
14
como empresas que utilizam fornecimento de matéria-prima originada da extração madeireira
, alertam quanto a esse tipo de atividade.
Figura 14
Resultado da aplicação do questionário, assertiva 1.XIV Ao emprestar dinheiro, o banco
também é solidário pela maneira como ele é usado, assumindo a responsabilidade pelos
impactos sociais e ambientais dos serviços financeiros, para as atuais e futuras gerações
Nota. Elaborado pelos autores.
Tem-se que 75% concordam totalmente e 12,5% concordam parcialmente que, ao
emprestar dinheiro, o banco também é solidário pela maneira como ele é usado, ou seja, assume
responsabilidade pelos impactos socioambientais dos serviços financeiros para as atuais e
futuras gerações. Dessa forma, o banco torna-se solidário às ações dos tomadores de crédito
devido ao fato de ter agido como um intermediário de transações financeiras ao conceder
crédito. Na pesquisa de Siemionko (2010, p. 50), 80% dos gestores responderam que
“percebem uma preocupação da instituição ao ser responsável pela forma que o dinheiro por
ela emprestado é usado”.
Apresentação e Análise dos Resultados da Pesquisa Qualitativa
Ao utilizar o software IRAMUTEQ para analisar as respostas subjetivas coletadas com
os respondentes na aplicação da questão 2.I Comente sobre a relação existente entre o
controle interno e os riscos socioambientais, destacando a frequência graficamente em que são
citadas as principais palavras a partir de uma nuvem de palavras (Figura 15).
Figura 15
Nuvem de palavras da percepção dos gestores sobre a relação entre controle interno e os
riscos socioambientais
15
Nota. Elaborado pelos autores.
Na nuvem de palavras, os termos enfatizados pelos respondentes são representados
graficamente de acordo com a frequência em que são citados. Como demonstra a Figura 15, as
principais palavras destacadas no corpus textual são “controlo”, “interno”, “risco”,
“socioambientais”, “estar” e “análise”.
Ao se observar esses dados, pode-se inferir que as funções desempenhadas pelo controle
interno e a análise do risco socioambiental têm relações diretas e indiretas no processo de
concessão de crédito nas instituições financeiras, como confirma o respondente GR01: “Estão
diretamente ligados. O controle interno é básico na mitigação dos riscos socioambientais”.
Tabela 1
Amostra de respostas dos respondentes referente à questão 2.I
2.I Comente sobre a relação existente entre o controle interno e os riscos socioambientais
Respondente
Resposta apresentada
GR01
Estão diretamente ligados. O controle interno é sico na mitigação dos riscos
socioambientais.
GR04
O controle interno funciona como um filtro institucional, na qual se pode identificar se as
políticas socioambientais estão em conformidade com as análises dos riscos identificados
GR05
Acredito que existe relação direta dos controles internos com os riscos socioambientais nas
etapas pós-concessão de crédito, pois o primeiro contato com o cliente (comprometido ou não
com as questões socioambientais) ocorre no momento do atendimento ao cliente.
GR08
O banco está cada vez mais preocupado com o ambiente, realizando propagandas
mensalmente sobre o assunto
Nota. Elaborado pelos autores.
Para o respondente GR05, “há relação direta dos controles internos com os riscos
socioambientais nas fases pós-concessão de crédito, pois o primeiro contato com o cliente
(comprometido ou não com os temas socioambientais) ocorre no momento do atendimento ao
cliente”. Silveira (2018, p. 59) verificou em seu estudo que “Todos referiram que ao se
depararem com o risco e se o mesmo for passível de regularização, é conduzida a solicitação
dessa análise para a área responsável que se situa em um setor do Banco situado no Centro
Administrativo”.
Compreendendo assim a percepção dos gestores quanto aos riscos socioambientais e o
controle interno, o controle interno desempenha funções diretamente ligadas ao risco após o
processo de atendimento, devendo ser realizadas medidas de fiscalização e acompanhamento
das atividades do cliente como parte do processo de concessão de crédito.
Após levantamento e tabulação das respostas referentes à questão 2.II Comente de
que maneira ocorre o processo de concessão de crédito nesta instituição, foi elaborada a nuvem
de palavras (Figura 16).
16
Figura 16
Nuvem de palavras da percepção dos gestores sobre o processo de concessão de crédito
Nota. Elaborado pelos autores.
Pode-se se observar na Figura 16 que as palavras enfatizadas pelos respondentes foram
“análise”, “crédito”, “ser” e “cliente”. Evidencia-se que os gestores percebem a importância de
realização de análise de crédito do cliente para verificação dos riscos relacionados.
Tabela 2
Amostra de respostas dos respondentes referente à questão 2.II
2.II Comente de que maneira ocorre o processo de concessão de crédito nesta instituição
Respondente
Resposta apresentada
GR01
São efetuadas análises de pontos fundamentais: limite de crédito do cliente; capacidade de
pagamento; risco socioambiental.
GR04
O processo se dá ao receber uma proposta, na qual se avalia o objeto de crédito e seu destino,
caso seja para fins que envolvam o meio ambiente, é necessário passar os projetos por técnicos
agrônomos mensurando os recursos fundamentais necessários e o impacto que será gerado ao
ambiente explorado
GR05
Em sua maioria através da análise de crédito do cliente, potencial de endividamento. na
concessão do microcrédito são analisados também as questões sociais, fiscais e ambientais
para a liberação do crédito ao cliente.
GR06
Risco, capacidade de pagamento, garantia oferecida, cadastro atualizado, restritivos e por fim
aprovação do crédito.
Nota. Elaborado pelos autores.
No momento da identificação dos riscos que envolvem o cliente e a instituição
financeira, o respondente GR04 relata que, ao identificar um risco socioambiental, “é
necessário os projetos por técnicos agrônomos mensurando os recursos fundamentais
necessários e o impacto que será gerado ao ambiente explorado”, ou seja, destaca a importância
de um profissional qualificado para verificar a possibilidade de ocorrência dos riscos, pois
desse modo é possível verificar quais medidas podem ser tomadas para mitigar o risco em
evidência.
A pesquisa de Siemionko (2010, pp. 44-45) demonstrou que “41,2% dos respondentes
não conseguem perceber a consideração das dimensões ambientais no processo de análise de
crédito”, criando um alerta em comparação aos riscos econômicos e financeiros. No entanto,
17
os dados atuais demonstram que houve avanço quanto à percepção dos bancários sobre a
importância da dimensão socioambiental na análise de crédito.
O respondente GR05 complementa que “na concessão do microcrédito são analisados
também as questões sociais, fiscais e ambientais para a liberação do crédito ao cliente”, ou seja,
para que seja aprovado o crédito ao cliente, primeiramente deve ser analisada uma série de
fatores, de forma a caracterizar o cliente que está em busca de recursos financeiros, fator de
segurança que auxilia a instituição financeira a tomar as melhores decisões.
Depois de realizar um levantamento e tabular as respostas relacionadas à questão 2.III
Cite quais são os ramos de atividade empresarial analisados com frequência pela instituição,
foi elaborada a nuvem de palavras da Figura 17.
Figura 17
Nuvem de palavras sobre quais os ramos de atividades analisados pela instituição
Nota. Elaborado pelos autores.
Conforme demonstra a Figura 17, em relação aos ramos de atividade empresarial que
são analisados com frequência pela instituição, conforme a percepção dos gestores,
destacaram-se “comércio” e “serviço”.
Tabela 3
1Amostra de respostas dos respondentes referente à questão 2.III
2.III Cite os ramos de atividade empresarial analisados com frequência pela instituição
Respondente
Resposta apresentada
GR01
Florestal, Provedor de Internet, Comércio Varejista e Associação sem fins comerciais.
GR03
Crédito no âmbito de agricultura familiar, pessoa física rural e pessoa jurídica.
GR04
São analisados os que envolvam o meio ambiente, comerciais, agroindustrial, prestadores de
serviços.
GR05
Comerciantes diversos: gêneros alimentícios, roupas, móveis; postos de gasolina; empresas
especializadas em produção agrícola: dendê, pimenta do reino, frutas regionais.
Nota. Elaborado pelos autores.
Além de comércio e prestação de serviços, o respondente GR01 destaca o ramo
“florestal” e o respondente GR03 destaca o crédito no setor agrícola, tanto para pessoa física
quanto para pessoa jurídica. Em determinada instituição financeira, Silveira (2018, p. 58)
identificou que são aplicados questionários “de acordo à classificação do segmento:
18
agronegócio, construção, indústria de transformação, transporte. Para as empresas não
enquadradas nos segmentos citados, aplicam-se os modelos simplificado ou genérico”.
Devido ao fato de os riscos de crédito relacionados ao risco socioambiental serem
constantes em setores que envolvem atividade rural, Silveira (2018, p. 54) afirmou que “o
financiamento em áreas embargadas e de preservação ambiental se torna um grande risco”.
Percebe-se que há uma preocupação em verificar os riscos que estão atrelados ao processo de
concessão de crédito, que envolve tanto as instituições como os tomadores de crédito,
independentemente do local em que a instituição esteja inserida, por se tratar de uma
responsabilidade que envolve diversos fatores de risco.
Considerações finais
Este estudo limitou-se a analisar a percepção dos gestores das instituições financeiras
no município de Tomé-Açu, no estado do Pará, sobre a interação entre o controle interno e o
risco socioambiental como variável no processo de análise de concessão de crédito, por meio
da aplicação de questionários via pesquisa de campo. A utilização de softwares de tabulação e
de análise de dados, como Microsoft Excel e SPSS, auxiliou na expressão gráfica dos dados
quantitativos sobre a concordância dos gestores quanto às assertivas do questionário aplicado,
possibilitando inferir sobre a percepção dos gestores e correlacionar os resultados com estudos
anteriores.
Foi possível observar que a responsabilidade socioambiental está atrelada a todos os
setores, independentemente do porte ou ramo de atuação da empresa, envolvendo seus agentes
internos e externos. Verificou-se que os gestores percebem que há uma relação estreita entre o
controle interno e a variável de risco socioambiental nas instituições financeiras de Tomé-Açu.
Os gestores apresentam a percepção de que tem sido importante adotar procedimentos
de controle interno para auxiliar na gestão de riscos socioambientais na instituição,
principalmente em atividades que ocorrem após o atendimento ao cliente. Demonstrou-se por
meio do software IRAMUTEQ que as principais atividades empresariais que buscam a
instituição financeira para a obtenção de crédito estão relacionadas ao comércio e prestação de
serviço. Os respondentes também destacam outras atividades, como: postos de gasolina,
empresas especializadas em produção agrícola de dendê, pimenta do reino e frutas regionais.
Os gestores desempenham papel fundamental quanto às diretrizes de controle interno e
de risco socioambiental nas instituições financeiras, e as respostas obtidas pelo estudo
demonstram que os respondentes concordam em relação à importância da sua atuação no
acompanhamento de políticas socioambientais.
Este estudo contribui para a sociedade acadêmica e aos setores organizacionais ao
evidenciar que o controle interno tem sido fundamental na análise e mitigação dos riscos
socioambientais, principalmente em atividades que envolvem comércio e prestação de
serviços, atuando como um filtro institucional, com base na premissa de que os riscos existentes
podem ser minimizados e controlados com a utilização consistente dos procedimentos de
controle interno.
Destaca-se a positiva percepção dos gestores sobre os benefícios da adoção de controle
interno eficiente na gestão de riscos socioambientais. Sugere-se que pesquisas futuras sejam
realizadas com um quantitativo maior de respondentes, com a possibilidade de estender a
amostra a tomadores de crédito e todos os colaboradores internos da instituição financeira.
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