Usabilidade e funções do orçamento na percepção
dos gestores de uma empresa do ramo
metalmecânico
Silvana Dalmutt Kruger
Doutora em Ciências Contábeis pela UFSC.
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS, Brasil.
silvana.d@ufms.br
http://lattes.cnpq.br/0153188470408166
https://orcid.org/0000-0002-3353-4100
Lindomar de Togni
Graduado em Ciências Contábeis pela UNOESC.
Universidade Comunitária da Região de Chapecó,
UNOCHAPECO, Brasil.
togni@unochapeco.edu.br
http://lattes.cnpq.br/3255383474175238
https://orcid.org/0000-0003-0051-4645
Antonio Zanin
PhD no Departamento de Produção e Sistemas da Universidade
do Minho (Portugal).
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS, Brasil.
zanin.antonio@ufms.br
http://lattes.cnpq.br/5826160717318135
https://orcid.org/0000-0001-7837-7375
Disponibilidade: https://doi.org/10.5965/2764747111212022060
Data de Submissão: 26 de junho de 2022.
Data de Aprovação: 03 de outubro de 2022.
Edição: v. 11, n. 21, p. 060-076, dez. 2022
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Usabilidade e funções do orçamento na percepção dos gestores de uma empresa do
ramo metalmecânico
Resumo
Objetivo(s): Este estudo tem como objetivo relacionar a utilidade e as funções do
orçamento no processo de tomada de decisões com base nas percepções dos gestores de uma
empresa do ramo metalmecânico. Método: Metodologicamente, a pesquisa é descritiva,
realizada a partir de um levantamento com amostra de 33 gestores/supervisores/analistas que
atuam em diversas áreas da empresa estudada. Resultados: Constatou-se que 78,80% dos
gestores utilizam o orçamento anual com acompanhamento mensal (orçado versus realizado) e
84,80% indicam o uso como artefato de planejamento, coordenação, alocação de recursos e
determinação dos volumes operacionais. O ranking dio (RM) obtido evidencia que os
gestores identificam as funções de planejamento, diálogo e utilidade do orçamento,
demonstrando a usabilidade do instrumento no processo de gestão. Identificaram-se como
principais funções do orçamento: a coordenação das unidades da empresa (4,82); a análise das
projeções mensais e anuais (4,76); o planejamento vinculado às estratégias da empresa (4,73);
e a comparação do desempenho planejado com os resultados reais (4,70); os resultados,
inclusive, indicam que no contexto da pandemia Covid-19, o orçamento auxiliou no
alinhamento de novas estratégias e nos ajustes do planejamento organizacional (4,27). Os
achados apontam que o orçamento possui múltiplas funções para os gestores da empresa
estudada, confirmando seu reconhecimento pelos gestores como instrumento gerencial, com
utilidade relacionada aos processos de planejamento e tomada de decisões. Contribuições:
Como contribuição, este estudo evidencia as diversas funções e a adaptabilidade do orçamento
no contexto organizacional, demonstrando a usabilidade pelos gestores que atuam em distintos
setores na empresa.
Palavras-chave: Orçamento Empresarial. Funções do Orçamento. Utilidade do Orçamento.
Usability and functions of the budget in the perception of managers of a company in the
metal-mechanical field
Abstract
Objective(s): The study aims to relate the usefulness and functions of the budget in the
decision-making process, based on the perceptions of the managers of a company in the metal-
mechanical sector. Method: Methodologically, the research is descriptive, based on a survey,
considering a sample of 33 managers/supervisors/analysts who work in different areas of the
studied company. Results: It was found that 78.80% of managers use the annual budget with
monthly monitoring (budget versus actual), 84.80% indicate its use as an artifact of planning,
coordination, resource allocation, and determination of operational volumes. The mean rank
(MR) obtained shows that managers identify the functions of budget planning, dialogue, and
utility, demonstrating the usability of the instrument in the management process. The main
functions of the budget were identified as: the coordination of the company’s units (4.82);
analysis of monthly and annual projections (4.76); planning linked to company strategies
(4.73); and comparison of planned performance with actual results (4.70); the results even
indicate that in the context of the COVID-19 pandemic, the budget helped to align new
strategies and adjust organizational planning (4.27). The findings indicate that the budget has
multiple functions for the managers of the company studied, confirming its recognition by
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managers as a management instrument, with utility related to the planning and decision-making
processes. Contributions: As a contribution, the study highlights the different functions and
adaptability of the budget in the organizational context, demonstrating its usability by managers
who work in different sectors in the company.
Keywords: Business Budget. Budget Functions. Budget Utility.
Funciones de usabilidad y presupuesto en la percepción de los gerentes de una empresa
metalmecánica
Resumen
Objetivo(s): Este estudio tiene como objetivo relacionar la utilidad y funciones del presupuesto
en el proceso de toma de decisiones a partir de las percepciones de los gerentes de una empresa
del sector metalmecánico. Método: Metodológicamente la investigación es descriptiva,
realizada a partir de una encuesta con una muestra de 33 gerentes/supervisores/analistas que
laboran en diferentes áreas de la empresa estudiada. Resultados: Se encontró que el 78,80%
de los gerentes utilizan el presupuesto anual con seguimiento mensual (presupuestado versus
realizado) y el 84,80% indican utilizarlo como un artefacto de planificación, coordinación,
asignación de recursos y determinación de volúmenes operativos. El ranking medio (RM)
obtenido muestra que los gestores identifican las funciones de planificación, interlocución y
utilidad presupuestaria, demostrando la usabilidad del instrumento en el proceso de gestión. Se
identificaron como funciones principales del presupuesto: la coordinación de las unidades de
la empresa (4,82); análisis de proyecciones mensuales y anuales (4.76); planificación vinculada
a las estrategias de la empresa (4,73); y la comparación del desempeño planificado con los
resultados reales (4.70); los resultados incluso indican que en el contexto de la pandemia de
Covid-19, el presupuesto ayudó a alinear nuevas estrategias y ajustar la planificación
organizacional (4,27). Los hallazgos indican que el presupuesto tiene múltiples funciones para
los gerentes de la empresa estudiada, lo que confirma su reconocimiento por parte de los
gerentes como una herramienta de gestión, con utilidad relacionada con los procesos de
planificación y toma de decisiones. Aportes: Como aporte, este estudio destaca las diferentes
funciones y adaptabilidad del presupuesto en el contexto organizacional, demostrando su
usabilidad por parte de los directivos que actúan en los diferentes sectores de la empresa.
Palabras clave: Presupuesto Empresarial. Funciones Presupuestarias. Utilidad Presupuestaria.
Introdução
No cenário competitivo, as estratégias de gestão, como o planejamento e a análise do
desempenho econômico-financeiro, tornam-se diferenciais para o alinhamento estratégico
(Souza et al., 2021). A complexidade do ambiente exige dos gestores medidas eficientes para
o acompanhamento dos resultados, bem como para subsidiar o processo de tomada de decisões
(Bornia & Lunkes, 2007), com isso, planejar, organizar e controlar se tornam diferenciais
competitivos para as organizações atingirem objetivos propostos (Valverde et al., 2020).
Desenvolver habilidades de controle e planejamento operacional é necessário para a
condução dos negócios (Dantas Neto & Oliveira, 2021). O planejamento e o
contingenciamento de acontecimentos futuros, que influenciam no desenvolvimento e no
desempenho das atividades, são demanda recorrente dos gestores (Silva et al., 2018). Nesse
sentido, a utilização do orçamento em conjunto com outros controles de gestão torna o
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planejamento e as análises mais eficientes, auxiliando o processo de tomada de decisões (Silva
et al., 2020).
A estrutura organizacional das empresas é sem dúvida um parâmetro fundamental para
o desenvolvimento de suas atividades operacionais, sendo o orçamento empresarial um
instrumento de controle gerencial de suporte para a gestão e tomada de decisões (Mucci et al.,
2016). A utilização do orçamento também se desdobra em diversas funções, inclusive como
artefato para avaliar o desempenho pessoal (Beuren & Silva, 2014).
Identificar como os gestores e as organizações avaliam o desempenho organizacional
torna-se relevante para controlar e definir estratégias, visando comparar resultados e avaliar a
rentabilidade dos investimentos (Kruger & Petri, 2014). A elaboração e o desenvolvimento do
orçamento devem envolver diversos setores e indivíduos a fim de mensurar e elaborar as metas
orçamentárias (Defaveri et al., 2019). A comparação entre o orçado e o realizado permite
observar a eficiência de cada setor da organização, bem como as estratégias para alcançar as
metas definidas (Dantas Neto & Oliveira, 2021). Nesse sentido, o orçamento assume múltiplas
funções, criando valores e subsidiando os processos de gestão, contribuindo para a melhoria
do desempenho empresarial (Mucci et al., 2016).
Frezatti et al. (2013) indicam que o processo orçamentário pode ser estruturado sob as
perspectivas top down (definido a partir da direção da empresa) ou bottom up (definido pelas
áreas, avaliado e validado pela alta administração). Silva et al. (2020) destacam a relevância
do orçamento para o controle gerencial das organizações, especialmente para o apoio nas
estratégias e no processo decisório.
As funções orçamentárias podem ser formadoras de metas, sendo que diferentes
prioridades podem surgir na busca por oportunidades (Mucci et al., 2021). Nesse sentido, o
orçamento é reconhecido como artefato moderno de gestão, e os diversos estudos na literatura
indicam a relevância da estruturação orçamentária, bem como dos estímulos da aplicação do
orçamento, como suportes ao planejamento organizacional (Luza & Lavarda 2021).
Vargas-Hernandez e Cardenaz (2019) evidenciam que o orçamento permite prever e
direcionar ações, alinhando as estratégias monetárias às ações para a execução de estratégias.
O orçamento torna-se base de apoio para a tomada de decisões, além de possibilitar a avaliação
do planejamento, contribuindo no controle orçamentário das rotinas operacionais e na análise
da efetividade das atividades empresariais (Flores & Leal, 2018). Chenhall et al. (2011)
indicam a importância da integração do orçamento aos sistemas de controles gerenciais com o
intuito de interagir com os gestores e incentivar processos de inovação e melhoria nas
organizações.
Destaca-se a relevância do orçamento no contexto empresarial, especialmente para
auxiliar os gestores no processo decisório e na mensuração e elaboração das metas
orçamentárias (Dantas Neto & Oliveira, 2021; Defaveri et al., 2019; Mucci et al., 2016). Nesse
contexto surge a problemática norteadora desta pesquisa: qual a utilidade e função do
orçamento no processo de tomada de decisões? O objetivo, portanto, foi relacionar a utilidade
e as funções do orçamento no processo de tomada de decisões, com base nas percepções dos
gestores de uma empresa do ramo metalmecânico.
Justifica-se a relevância do estudo frente às contribuições práticas e percepções dos
gestores, evidenciando que o orçamento assume múltiplas funções no ambiente corporativo,
bem como se mostra um artefato gerencial no apoio ao processo de tomada de decisões (Mucci
et al., 2016). Nesse aspecto, esta pesquisa corrobora discussões acerca da usabilidade e funções
do orçamento, ponderando a finalidade de controle e planejamento do instrumento. Ainda,
evidencia que o instrumento é utilizado por gestores de distintos setores e com diferentes
formações, sendo consenso a percepção da relevância do orçamento para subsidiar a análise do
desempenho e o processo de tomada de decisões. Os resultados corroboram a evidenciação da
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utilidade do orçamento no processo de gestão por todos os setores da organização (Lenz & Feil,
2016). O artigo está estruturado em cinco seções, além desta introdução. Na seção seguinte
encontra-se a revisão teórica, contemplando a importância, as funções e os tipos de orçamento
empresarial. Na terceira seção são apresentados os procedimentos metodológicos do estudo.
Na sequência estão os resultados e a análise, proporcionando uma discussão das percepções do
uso e das funções orçamento pelos gestores da empresa estudada. Por fim, na quinta e última
seção, apresentam-se as considerações finais, com destaque para as contribuições da pesquisa
e sugestões para estudos futuros.
Revisão teórica
Nesta seção aborda-se a importância da utilização do orçamento no processo de tomada
de decisões, destacando as funções do orçamento e estudos correlatos ao tema.
Orçamento Empresarial
O processo orçamentário reflete o planejamento estratégico da organização, pois orienta
e fornece as diretrizes que norteiam as ações para determinado período, contemplando as etapas
de planejamento, execução e controle (Lunkes et al., 2014). As empresas podem se preparar
para acontecimentos e contingenciar adversidades baseando-se no controle, análise e gestão do
orçamento (Souza et al., 2021).
O orçamento contribui para o alinhamento dos objetivos empresariais, auxiliando os
gestores nas etapas de controle das metas, inclusão de ações ou adequações para conduzir o
negócio aos objetivos propostos (Dal Magro & Lavarda, 2015). Para tanto, tais metas e ações
devem ser disseminadas e compreendidas por todos os setores da organização (Lenz & Feil,
2016). Mucci et al. (2016) destacam a importância do orçamento para auxiliar o processo de
tomada de decisões dos gestores.
Segundo Vargas-Hernandez e Cardenaz (2019), no quesito financeiro, o orçamento
admite prever e direcionar planos pré-estabelecidos em questões monetárias e que pautem de
forma positiva a execução de estratégias. Flores e Leal (2018) corroboram que o orçamento é
uma das principais base de apoio à tomada de decisões, pois permite avaliar o planejamento e
garante o controle orçamentário das rotinas operacionais das atividades. Dantas Neto e Oliveira
(2021) apontam a importância do orçamento frente ao cenário de competitividade empresarial
por auxiliar no planejamento, na avaliação e no controle das atividades.
As organizações devem analisar internamente suas operações, fluxos e estratégias, mas
também precisam considerar a análise comparativa do seu desempenho com o cenário externo,
ou seja, observar o mercado, as perspectivas futuras de vendas e custos, a aceitabilidade dos
produtos, além da capacidade econômica de investimento e operação (Dantas Neto & Oliveira,
2021; Tigre, 2005). Nesse contexto, o orçamento se estabelece como instrumento preditivo,
contribuindo com a avaliação dos recursos e a análise de suas entradas e saídas, bem como na
identificação das fontes de geração de riqueza (Chagas & Araujo, 2013).
A forma como as empresas definem e organizam a execução das atividades
organizacionais pode ser entendida como a estrutura da organização, e é determinante tanto
para a eficiência e motivação do trabalho quanto para a gestão e controle dos resultados
(Mendes et al., 2018). No contexto dos sistemas de controles gerenciais (SCG) das
organizações, o orçamento é instrumento de monitoramento das atividades, orientando o plano
e a execução das metas e das atividades (Flores & Leal, 2018; Mucci et al., 2016). Para
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contextualizar os SCG, Correia et al. (2020) destacam que esse sistema é uma estrutura que
auxilia na produção de resultados.
Frezatti et al. (2013) indicam que o processo orçamentário pode ser estruturado sobre
duas perspectivas: (i) top down (de cima para baixo quando é definido a partir da direção da
empresa); ou (ii) bottom up (de baixo para cima quando é proposto pelas áreas,
posteriormente avaliado e validado pela alta administração). Vanzella e Lunkes (2006)
descrevem que orçamentos básicos funcionam em mercados estáveis, com poucas opções de
escolhas, em situações previsíveis, se tornando assim um método básico e tradicional de gestão.
Entretanto, o mercado vem se alterando e buscando mais informações através das ferramentas
orçamentárias, pois a insuficiência de informações da conjuntura básica limita as organizações.
Diante disso, surgem modelos e tipos diferentes de orçamento.
Os diferentes tipos de orçamentos podem ser utilizados e adaptados ao contexto da
realidade organizacional. Defaveri et al. (2019) explicam que o orçamento é artefato gerencial
de maior destaque dentro dos SCG. Chenhall et al. (2011) entendem que a integração do
orçamento e os sistemas de controles gerenciais favorecem a inovação para as organizações,
proporcionando oportunidades futuras e motivando os envolvidos.
As múltiplas funções do orçamento criam valores e pautam seu apoio aos processos de
gestão, melhorando assim a atuação empresarial (Mucci et al., 2016). Defaveri et al. (2019)
indicam que o desenvolvimento de um orçamento envolve a participação de várias pessoas
dentro das instituições para mensurar e elaborar metas orçamentárias para o desenvolvimento
operacional. Pode-se resumir que o orçamento empresarial, ao fim de cada fase, une todas as
áreas da empresa, deixando observar a eficiência de cada setor (Dantas Neto & Oliveira, 2021).
A Tabela 1 apresenta de forma comparativa diferentes tipos de orçamento que podem ser
adaptados à realidade empresarial.
Tabela 1
Tipos de orçamento
Tipos
Características
Orçamento
base zero
Neste processo, a filosofia para uso está em romper com as ocorrências do passado, ou seja, não
se basear em fatos anteriores para a elaboração do orçamento. A proposta desse tipo de orçamento
é debater todas as atividades operacionais que consumirão os recursos da entidade, questionando
cada gasto (consumo de recursos) na busca pela real necessidade de cada departamento.
Orçamento
estático
Esse tipo de orçamento utiliza como premissa a não alteração do nível de atividade. Em outras
palavras, significa que as quantidades e volumes são estáticos, como a quantidade de produtos
vendidos. Posteriormente à execução do orçamento, os dados reais são confrontados com os
dados orçados.
Orçamento
flexível
Sua elaboração contempla a distinção entre os custos fixos e variáveis. Enquanto os custos fixos
terão tratamento habitual, os variáveis seguirão o volume de atividades, ou seja, o orçamento é
adaptável às alterações dos planos de atividade, e não a um só plano estático.
Orçamento
ajustado
Esse modelo é originário do orçamento flexível, mas incorpora a modificação de um volume ou
a alteração do nível de atividades que inicialmente foi planejado. Assim, pelas características
desse tipo de orçamento, é possível fazer ajustes nos volumes planejados, mudando os níveis ou
até alterando as quantidades previamente orçadas.
Orçamento
corrigido
Pode ser conceituado pela adequação do orçamento original, de forma automática, sempre que
ocorrer variação nos preços em função da inflação ou conforme cláusulas de reajuste baseadas
em inflação futuras.
Orçamento
contínuo
O orçamento contínuo (ou rolling budgeting) representa termos novos sobre orçamentos, os quais
têm objetivo de tornar a ferramenta de planejamento e controle mais flexível e menos estática.
Nesse conceito, projetam-se sempre ao menos 12 meses (ou mais, dependendo do conceito da
empresa) e, assim que um mês se encerra, um novo período é projetado, usando a mesma base de
tempo.
Nota. Adaptado de Zortéa e Araujo (2017).
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Silva e Lavarda (2020) evidenciam que o desenvolvimento do controle orçamentário de
forma eficaz estimula a criatividade organizacional, pois é parte importante do ambiente de
trabalho. Silva et al. (2020) destacam a importância do orçamento como controle gerencial da
organização e, consequentemente, no apoio da análise do comportamento das estratégias,
servindo de alicerce para o acompanhamento entre o planejado e o executado e para subsidiar
o processo decisório.
Funções do Orçamento
O objetivo principal de um orçamento é instaurar estratégias que contemplem as
atividades empresariais em determinado período (Flores & Leal, 2018). Sua utilização permite
mensurar o desempenho previsto e o realizado, tornando-se aliado do processo de planejamento
e controle operacional (Mário et al., 2013). O orçamento proporciona visão para o futuro,
orienta estratégias, auxilia na definição das metas e, consequentemente, permite a avaliação do
desempenho empresarial (Santos et al., 2020).
Caracterizado como um artefato de controle gerencial, o orçamento assume função de
planejamento, análise e estruturação de estratégias (Silva et al., 2020). Utilizado com função
de planejamento, permite o alinhamento às estratégias da empresa e, posteriormente, o diálogo
e acompanhamento das metas estabelecidas no planejamento (Luza & Lavarda, 2021). Frezatti
(2005) afirma que a relevância do processo de planejamento está diretamente relacionada à
execução das atividades operacionais.
Na base da contabilidade gerencial, o orçamento possui, entre suas mais variadas
funções, a missão de fornecer diagnósticos aos gestores que estão à frente das operações (Mário
et al., 2013), enquanto para fins administrativos permite a participação e o engajamento dos
gestores (Defaveri et al., 2019). A percepção de importância do processo orçamentário pode
ser distinta, de acordo com a utilização e as perspectivas de uso de cada profissional ou
organização (Mucci et al., 2016), inclusive pode assumir funções e abrangência distintas entre
os setores da mesma entidade (Lenz & Feil, 2016). Ainda, destaca-se a importância de
informações que possam subsidiar os gestores na condução de estratégias assertivas em relação
aos objetivos organizacionais (Pederssetti & Kruger, 2020).
Com função de controle e planejamento, o orçamento é considerado instrumento de
avaliação de desempenho (Sena, 2021; Souza & Lunkes, 2015). Ainda, Mucci et al. (2021)
enfatizam que o processo orçamentário é conduzido por suas múltiplas funções, destacando
então os papéis estratégico, gerencial, administrativo e de reporte. Vargas-Hernandez e
Cardenaz (2019) destacam que as organizações utilizam orçamentos como ferramenta contábil
para introduzir estratégias e dissimular as metas aos setores da organização.
A utilidade do orçamento está associada não apenas à previsão, mas também à
orientação, transparência das atividades, estratégias criativas e adaptação às diretrizes da
empresa (Silva et al., 2020). O orçamento também possui função motivacional, contribuindo
com o alinhamento do planejamento e das metas, motivando, por exemplo, o setor comercial a
desenvolver estratégias operacionais (Chagas & Araujo, 2013).
Segundo Hansen e Van Der Stede (2004), existem quatro funções orçamentárias que
servem de base para as organizações, que são divididas da seguinte forma: i) planejamento
operacional; ii) avaliação de desempenho; iii) comunicação de metas; e iv) formação de
estratégia. Ainda, Mucci et al. (2016) e Mucci et al. (2021) evidenciam que a forma de
utilização do orçamento pelas organizações revela que o instrumento possui múltiplas funções.
As múltiplas funções do orçamento remetem à relevância do instrumento como subsídio
ao processo de tomada de decisão, bem como às distintas maneiras e forma de utilização, quer
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seja para controle, planejamento por setor/departamento ou em diferentes níveis hierárquicos
(Frezatti et al., 2011). Mucci et al. (2016) indicam as razões para a elaboração do orçamento,
evidenciando: i) função de planejamento (planejar, controlar, alocar recursos e determinar
volumes operacionais; ii) função de diálogo (comunicar, criar consciência e motivar); e iii)
função de utilidade (modo de elaboração e uso, dimensões e estilo de uso do orçamento).
Estudos anteriores, como os de Dal Magro e Lavarda (2015), Lenz e Feil (2016), Mucci
et al. (2016), Vargas-Hernandez e Cardenaz (2019), Bilk et al. (2021) e Luza e Lavarda (2021),
evidenciam a importância da utilização do orçamento como artefato de apoio ao processo de
gestão e tomada de decisões no ambiente das organizações. Os resultados indicaram a
amplitude do orçamento alinhado às projeções das empresas industriais, ao comprometimento
na execução, aos registros do orçado versus o que fora planejado e suas análises, indicando que
o orçamento é amplamente utilizado no planejamento operacional, sendo artefato gerencial de
apoio para o planejamento dos setores envolvidos (Dal Magro & Lavarda, 2016).
A adoção do orçamento flexível pelas indústrias revela a importância do artefato como
auxílio na tomada de decisões, bem como no comprometimento com as metas e
responsabilidades atreladas ao orçamento, evidenciando a utilidade do orçamento como
ferramenta de gestão (Lenz & Feil, 2016).
Mucci et al. (2016) identificam as múltiplas funções do orçamento empresarial e sua
associação com a percepção de utilidade e relevância. A associação positiva entre as funções
de planejamento (ex ante) e diálogo (ex post) revela que o orçamento possui múltiplas funções
dentro uma única empresa, destacando sua importância no desempenho das funções de
planejamento e diálogo, o que permite associá-lo à percepção de utilidade e relevância desse
artefato para o processo de gestão e controle. Em uma amostra composta por empresas
mexicanas, Vargas-Hernandez e Cardenaz (2019) indicam a necessidade da implementação do
uso do orçamento como artefato de gestão para melhorar a produtividade e a competitividade
empresarial, ponderando a importância do uso desse recurso como instrumento de apoio ao
processo de tomada de decisões. Ainda, o orçamento pode colaborar com as empresas em
momentos de crises econômicas, e a função orçamentária de planejamento tem maior
importância para os gestores do que a função de avaliação de desempenho (Bilk et al., 2021).
Luza e Lavarda (2021) evidenciam que os fatores coercitivos, miméticos e normativos
advindos do ambiente empresarial direcionam a utilidade do orçamento e indicam a influência
positiva das funções de planejamento e estratégia.
De forma geral, observa-se que o orçamento é um artefato gerencial usado no ambiente
das organizações em diferentes ramos de atuação e adaptável a diferentes portes, cuja utilização
está diretamente relacionada com a finalidade de apoiar o controle e o planejamento das
organizações, bem como subsidiar o processo de tomada de decisões.
Procedimentos metodológicos
Metodologicamente, a pesquisa se caracteriza quanto aos objetivos como descritiva,
realizada por meio de levantamento ou survey, com análise de cunho quantitativo. A coleta de
dados foi realizada por meio de um questionário eletrônico (via Google Forms), enviado aos
gerentes de uma empresa brasileira do setor de fabricação de máquinas industriais, com
objetivo de relacionar a utilidade e as funções do orçamento no processo de tomada de decisões
a partir das percepções dos gestores da empresa.
Cabe destacar que, após o contato com a empresa, o questionário foi enviado
antecipadamente ao diretor responsável, e após a concordância com o escopo da pesquisa e a
conduta referente aos procedimentos de coleta de dados, foi estabelecido o cronograma de
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envio do questionário aos 48 gestores/supervisores da organização. O período de coleta de
dados ocorreu entre os dias 9 de julho de 2021 e 31 de julho de 2021.
O ambiente de estudo é uma empresa de grande porte, localizada em Santa Catarina,
com experiência de 27 anos de atuação a nível nacional e internacional, com projetos de
instalação de plantas industriais, equipamentos e máquinas para o setor bovino, suíno, avícola,
de pescados, entre outros, atendendo a frigoríficos, laticínios, indústrias alimentícias, de
cosméticos etc. A empresa é familiar e possui ao todo 386 colaboradores diretos, sendo 48
gestores/supervisores de diversas áreas da organização e analistas envolvidos com o
orçamento. A amostra do estudo contemplou 33 respondentes/participantes da pesquisa.
O constructo de pesquisa foi desenvolvido a partir do estudo de Mucci et al. (2016),
contemplando a utilidade e as funções do orçamento, com o intuito de obter um conhecimento
empírico quanto à usabilidade e as funções do orçamento, conforme as percepções dos
gestores/supervisores/analistas da empresa estudada. De acordo com Patton (2014), o
detalhamento do ambiente de um estudo de caso pode colaborar com outras organizações,
considerando as características similares. Nesse sentido, esta pesquisa agrega as percepções e
a análise do contexto de uma empresa familiar de grande porte, atuante no ramo
metalmecânico.
O questionário foi elaborado contemplando inicialmente as características dos
respondentes: 1) idade; 2) sexo; 3) grau e área de formação; 4) função ou cargo; e 5) tempo de
atuação na empresa. Na sequência, os respondentes foram questionados acerca do orçamento:
i) tipos e forma de uso do orçamento; ii) percepções do uso; e iii) funções do orçamento. Nessa
etapa, para identificar as funções do orçamento, utilizou-se de escala tipo Likert de 5 pontos
para mensurar o grau de concordância com as funções de planejamento, diálogo e utilidade do
orçamento. Após a coleta de dados, as informações foram organizadas em tabelas, e para a
análise dos dados foram usadas técnicas de estatística descritivas e do ranking médio (RM).
Para identificar o RM das respostas, utilizou-se como modelo o método abordado por Malhotra
(2001) para análise de escala do tipo Likert.
Análise e interpretação dos resultados
A partir da aplicação dos questionários junto aos gestores da empresa estudada (no
contexto do ambiente de estudo), identificou-se inicialmente a caracterização dos respondentes
quanto a idade, gênero, formação, tempo e área de atuação na empresa estudada, conforme
apresenta a Tabela 2.
A partir do questionário, identificou-se que 60,60% dos respondentes tinham entre 30
e 40 anos e que 91% eram do gênero masculino, sendo apenas 9% de mulheres. Quanto à
formação dos gestores, 84,85% dos entrevistados possuem graduação, e as áreas de maior
ênfase são Ciências Contábeis, Administração e Engenharias. Quanto ao tempo de atuação na
empresa, observa-se que 63% somavam mais de 5 anos, sendo que oito gestores tinham mais
de 10 anos de experiência na empresa. Referente ao cargo ou à função que exercem, 81,82%
são gerentes ou coordenadores de setor, além do diretor e quatro analistas.
Tabela 2
Características dos respondentes
Características
Frequência absoluta
Frequência relativa
Idade
Até 30 anos
9
27,27%
Até 40 anos
20
60,60%
Até 50 anos
4
12,12%
69
Total
33
100%
Sexo
Masculino
30
90,90%
Feminino
3
9,10%
Total
33
100%
Formação
Ensino fundamental ou ensino médio
5
15,15%
Graduação
12
36,36%
Especialização, mestrado ou doutorado
16
48,48%
Total
33
100%
Área de formação
Não graduado
5
15,15%
Contábeis/Administração
11
33,33%
Engenharias
5
15,15%
Diversas/outras
12
36,36%
Total
33
100%
Tempo de atuação na empresa
Até 5 anos
12
36,35%
De 5 a 10
13
39,39%
De 11 a 15
6
18,18%
De 16 a 20
1
3,03%
Acima de 21
1
3,03%
Total
33
100%
Cargo ou função que exerce
Analista/Auxiliar
5
15,15%
Gerente/Coordenador
27
81,82%
Diretor
1
3,03%
Total
33
100%
Nota. Dados da pesquisa.
Na sequência, questionou-se acerca da periodicidade e forma de utilização do
orçamento, obtendo-se os dados demonstrados na Tabela 3.
Tabela 3
Periodicidade e forma de utilização do orçamento
Tipo de orçamento
Frequência
absoluta
Orçamento anual com acompanhamento mensal (orçado versus
realizado)
26
Orçamento por departamento ou produto/linha de
produção/segmento
9
Orçamento anual
8
Orçamento semestral
5
Orçamento trimestral
4
Outro
2
Total
33
Nota. Dados da pesquisa.
Observa-se na Tabela 3 que alguns respondentes indicam a utilização de mais de um
tipo/forma de uso do orçamento, sendo que o orçamento anual com acompanhamento mensal
(orçado versus realizado) aparece com maior percentual de utilização (78,80%). As
periodicidades trimestral, semestral e anual também são indicadas (somadas, totalizam 51,50%
da amostra), além do orçamento por departamento ou produto/linha de produção/segmento
(27,30%). As distinções relacionadas à indicação da periodicidade de elaboração do orçamento
70
podem estar associadas à forma de participação na elaboração do orçamento ou à metodologia
utilizada pelos departamentos/setores para elaboração e acompanhamento do orçamento.
Observa-se na Tabela 3 que o orçamento é utilizado pelos gestores de formas variadas,
com análise mensal, trimestral, semestral ou anual, ou ainda com acompanhamento mensal do
realizado versus orçado, ou por departamento/produto/segmento. Resultados anteriores do
estudo de Dal Magro e Lavarda (2015) evidenciaram a utilização do orçamento com
alinhamento ao planejamento (orçado versus planejado), bem como a análise realizada por
setor. Os achados corroboram a pesquisa de Mucci et al. (2021), evidenciando que o processo
orçamentário envolve a combinação de diversas características para aplicá-las às mais variadas
funções do orçamento.
Frezatti (2005) indica no contexto do orçamento anual a relevância do processo de
planejamento ligado à execução das atividades. Nesse sentido, é possível constatar que os
respondentes indicam a utilização do orçamento com periodicidade variada, sugerindo o uso
desse artefato como subsídio para o acompanhamento do planejamento anual realizado.
Tabela 4
Percepções da utilidade do orçamento
Uso do orçamento
Frequência
absoluta
Frequência
relativa
Planejamento, coordenação, alocação de recursos e determinação
dos volumes operacionais
28
84,80%
Sinalizar metas a serem alcançadas, analisar os desvios e fazer as
correções
21
63,60%
Controle do desempenho (orçado versus realizado)
20
60,60%
Comunicação de metas e formação das estratégias de longo prazo
15
45,40%
Alocação de recursos e comunicação
10
30,30%
Planejamento operacional e avaliação de desempenho de curto prazo
8
24,20%
Influenciar comportamentos, motivar, aprimorar processos
7
21,20%
Comunicação, criação de consciência, motivação
6
18,20%
Total
115
100%
Nota. Dados da pesquisa.
Outra caracterização investigada foi a percepção dos gestores quanto à utilidade do
orçamento, observando-se que foram apontadas múltiplas funções, conforme apresenta a
Tabela 4. Identificou-se que 84,80% dos respondentes compreendem que a finalidade do
orçamento é a de planejamento, coordenação, alocação de recursos e determinação dos
volumes operacionais, seguida da percepção de 63,60% que indicam o uso para sinalizar metas
a serem alcançadas, analisar os desvios e fazer as correções, além do uso para o controle do
desempenho (60,60%). Outras percepções relacionadas à comunicação de metas e formação
das estratégias de longo prazo, alocação de recursos e comunicação e planejamento operacional
e avaliação de desempenho de curto prazo também revelam aspectos importantes do uso do
orçamento como instrumento de apoio à gestão organizacional.
A caracterização de percepção pode estar associada ao modo como o orçamento é
desenvolvido e utilizado pela empresa, conforme preconizam Mucci et al. (2016), bem como
os achados estão alinhados com o estudo de Souza e Lunkes (2015), destacando a relevância
do orçamento como instrumento de controle, planejamento e avaliação.
Na sequência, os participantes foram perguntados sobre as funções do orçamento,
fornecendo as respostas demonstradas pela Tabela 5.
71
Tabela 5
Funções do orçamento
FUNÇÕES DO ORÇAMENTO
RM
Função de
planejamento
Planejamento vinculado às estratégias da empresa
4,73
Coordenação das unidades da empresa
4,82
Alocação de recursos para as unidades
4,61
Determinação dos volumes operacionais
4,45
Como instrumento de apoio à gestão estratégica
4,64
Na análise das variações e ações (corretivas ou orientativas) que são tomadas com
base no padrão de desempenho
4,70
Função de
diálogo
Atribuição de responsabilidades
4,12
Comunicação de objetivos e ideias
4,09
Criação da consciência daquilo que é importante de se alcançar
4,64
Motivação do pessoal
3,91
Constituição de uma base para sistemas de remuneração e bônus
4,42
Comparação do desempenho planejado com os resultados reais
4,70
Para análise de resultados e da relação com as metas
4,52
Função de
utilidade
O orçamento me permite gerenciar melhor a minha gerência
4,55
O orçamento me permite manter e aprimorar o meu desempenho como gerente
4,39
O orçamento me permite estar sempre ciente sobre o que é necessário para obter
um bom desempenho no meu trabalho
4,21
O orçamento me fornece informações adequadas para otimizar as decisões e
cumprir meus objetivos de desempenho
4,45
O orçamento me torna apto a obter informações táticas e estratégicas necessárias
para avaliar alternativas de decisões
4,48
O orçamento me é útil na análise das projeções mensais e anuais
4,76
Percepções
dos gestores
A empresa (ou departamento) é comprometida com o planejamento, sua
execução e controle
4,12
No contexto da pandemia de Covid-19, o orçamento auxiliou no alinhamento de
novas estratégias e nos ajustes do planejamento organizacional
4,27
Nota. Dados da pesquisa.
A Tabela 5 reúne as respostas obtidas por meio do RM acerca das funções do
orçamento. Os resultados permitem evidenciar de forma comparativa as funções de
planejamento, diálogo e utilidade do orçamento. Na análise, identifica-se que as funções
relacionadas ao planejamento apresentam maior RM, demonstrando a importância percebida
pelos gestores, com destaque para as funções de coordenação das unidades da empresa (4,82)
e planejamento vinculado à estratégia (4,73). Esse resultado está alinhado com os achados de
Lunkes et al. (2014), evidenciando que a função orçamentária está ligada ao planejamento
estratégico da empresa, pois fornece informações de apoio aos gestores. A função com menor
ênfase está relacionada à determinação dos volumes operacionais (4,45), o que não a torna
menos importante, considerando que os gestores evidenciam a concordância em relação à
relevância do orçamento com função de coordenação das unidades e alinhamento entre
planejamento e estratégias.
Quanto à função do diálogo atribuída ao orçamento, observa-se relevância na
comparação do desempenho planejado com os resultados reais (4,70), seguida pela criação de
consciência de o que é importante alcançar (4,64). Com isso, cabe destacar a importância da
função de diálogo do orçamento como instrumento de apoio para monitorar as metas
estabelecidas. Nesse sentido, destacam-se as funções de planejamento (ex ante) e diálogo (ex
post), evidenciadas por Luza e Lavarda (2021). O menor RM das respostas obtidas está
relacionado à função de motivação (3,91) mesmo que os gestores reconheçam a função de
diálogo na criação da consciência daquilo que é importante para se alcançar (4,64), não
percebem o orçamento como instrumento de apoio na motivação pessoal.
72
Os achados corroboram os estudos de Mucci et al. (2016) e Luza e Lavarda (2021),
destacando as funções de planejamento e diálogo, bem como a relação do orçamento com a
construção de metas e seu monitoramento, subsidiando o processo decisório.
Para a função de utilização do orçamento, a partir do RM, destacam-se a análise das
projeções anuais e mensais (4,76), a utilização do orçamento na otimização da gerência de cada
setor (4,55) e o subsídio fornecido pelo orçamento para a obtenção de informações táticas e
estratégicas necessárias para avaliar alternativas de decisões (4,48). As percepções demonstram
que, na empresa estudada, o orçamento é percebido com funções de planejamento, diálogo e
utilidade, reforçando seu papel como instrumento de apoio organizacional que permite
melhorar o desempenho dos gerentes frente aos objetivos e estratégias da empresa, conforme
evidenciam Silva et al. (2020).
O questionário permitiu constatar a percepção dos gerentes e supervisores dos diversos
setores em relação às funções e utilidades do orçamento. Acerca do contexto da pandemia
Covid-19, questionados se o orçamento auxiliou no alinhamento de novas estratégias e nos
ajustes do planejamento organizacional, constatou-se que os respondentes percebem a
importância, conforme o RM de 4,27. Ao questionar a percepção dos gestores quanto ao
comprometimento da empresa ou departamento com o planejamento, a execução e o controle
do orçamento, identificou-se o RM de 4,12, evidenciando que a organização ainda pode
melhorar a comunicação e a gestão dos atributos do orçamento, visando demonstrar
engajamento e comprometimento quanto às funções e usos do orçamento pelas equipes.
É possível destacar as percepções relacionadas ao planejamento, organização e
controle, tornando-se diferenciais competitivos para as organizações, especialmente quando o
orçamento está alinhado ao planejamento estratégico e os gestores reconhecem as ações e
objetivos propostos (Valverde et al., 2020).
Identificou-se que o orçamento teve papel importante para a empresa no cenário de
crise desencadeado pela pandemia do novo coronavírus, o que demonstra alinhamento com a
pesquisa realizada por Bilk et al. (2021), evidenciando que o orçamento se ajusta e se modifica
em momentos determinantes e atípicos de crises, ainda que a função de planejamento receba
maior ênfase. De modo geral, corroborando os achados de Mucci et al. (2016), os resultados
desta pesquisa demonstram que o orçamento é utilizado e reconhecido como instrumento de
gestão e que suas funções se associam às percepções de planejamento e diálogo.
Os resultados também corroboram as pesquisas de Dal Magro e Lavarda (2015), Lenz
e Feil (2016) e Vargas-Hernandez e Cardenaz (2019), com destaque para o papel do orçamento
como apoio, para a tomada de decisões dos gestores e no alinhamento das ações em relação às
metas e as estratégias organizacionais, justificando a relevância do orçamento como artefato
de gestão. A pesquisa evidenciou que o orçamento possui múltiplas funções dentro da
organização, consoante o estudo de Mucci et al. (2016), revelando que as funções do orçamento
(de planejamento, diálogo e utilidade) estão diretamente relacionadas aos processos
operacionais de controle e planejamento das organizações. O estudo traz evidências adicionais
aos achados de Dal Magro e Lavarda (2015), Lenz e Feil (2016), Mucci et al. (2016), Vargas-
Hernandez e Cardenaz (2019), Bilk et al. (2021) e Luza e Lavarda (2021), demonstrando que
o orçamento possui usabilidade e função de controle e planejamento, atendendo às diferentes
perspectivas dos gestores no processo decisório.
Considerações finais
Este estudo objetivou relacionar a utilidade e as funções do orçamento no processo de
tomada de decisões com base nas percepções dos gestores de uma empresa do ramo
metalmecânico. A pesquisa evidencia que o orçamento assume múltiplas funções dentro da
73
organização estudada. Os achados demonstram a centralidade das funções relacionadas ao
papel de planejamento e diálogo do orçamento, bem como constatou-se que o orçamento possui
usabilidade e função de apoio aos processos de tomada de decisões pelos gestores/supervisores.
Destaca-se a importância das funções do orçamento dentro das organizações, bem como
sua utilização por setores e níveis distintos, com periodicidade diversificada, revelando outra
característica do orçamento como artefato gerencial: ser adaptável e maleável aos interesses
dos gestores, departamentos/setores e das organizações de forma ampla. Constatou-se que
78,80% dos gestores utilizam o orçamento anual com acompanhamento mensal (orçado versus
realizado) e 84,80% indicam o uso como artefato de planejamento, coordenação, alocação de
recursos e determinação dos volumes operacionais.
Ao analisar o RM das respostas obtidas, observa-se que os gestores identificam as
funções de planejamento, diálogo e utilidade do orçamento, evidenciando a usabilidade do
instrumento no processo de gestão da empresa. Foram identificadas como principais funções
do orçamento: a coordenação das unidades da empresa (RM de 4,82); a análise das projeções
mensais e anuais (4,76); o planejamento vinculado às estratégias da empresa (RM de 4,73); e
a comparação do desempenho planejado com os resultados reais (RM de 4,70). Os achados
demonstram que o orçamento possui múltiplas funções para os gestores da empresa estudada,
confirmando-o como instrumento gerencial com utilidade relacionada aos processos de
planejamento e tomada de decisões. Os resultados evidenciam a importância do orçamento e
suas múltiplas funções no contexto organizacional, especialmente quanto à usabilidade para a
coordenação e acompanhamento das atividades/unidades operacionais.
Esta pesquisa corrobora a literatura ao destacar a usabilidade do orçamento por uma
empresa familiar do ramo metalmecânico que possui, ao todo, 48 profissionais que atuam como
gestores/supervisores, cujas percepções sobre o uso e as funções do artefato buscou-se
identificar. Como contribuição, o estudo evidencia as diversas funções e a adaptabilidade do
orçamento no contexto organizacional, demonstrando sua usabilidade pelos gestores que atuam
em distintos setores da empresa. O instrumento, dessa forma, é flexível e ajustável aos
interesses de seus usuários, sendo utilizado com periodicidade diferente (mensal, trimestral,
semestral, anual), para acompanhamento do desempenho realizado versus orçado ou do
desempenho por departamento/produto/segmento. Ainda, os gestores indicaram que, no
contexto da pandemia de Covid-19, o orçamento auxiliou no alinhamento de novas
estratégias e nos ajustes do planejamento organizacional (RM de 4,27).
No contexto da empresa, a utilização do orçamento para os fins de coordenação das
unidades da empresa e desenvolvimento de projeções ganhou maior destaque. Nesse sentido,
evidencia-se que as funções relacionadas ao planejamento, organização e controle,
identificadas como pressupostos da usabilidade do orçamento, podem ser diferenciais
competitivos para a empresa estudada. Assim sendo, a pesquisa contribui com outras
organizações ao evidenciar que o instrumento é utilizado no processo de controle e
planejamento pelos gestores, como mecanismo de análise e de apoio ao processo decisório. O
artigo agrega insights acerca da usabilidade e funções que o orçamento desempenha na gestão
empresarial, inclusive com diferentes perspectivas por parte dos gestores, confirmando sua
relevância como instrumento gerencial.
Como sugestões para pesquisas futuras, recomenda-se a análise em outros ambientes e
segmentos empresariais, observando os tipos de orçamentos utilizados e suas funções,
ponderando a relação do desempenho financeiro com o uso do orçamento e buscando entender
a importância desse artefato na gestão e na tomada de decisões em relação aos resultados por
departamento/setor.
Acredita-se que os resultados apresentados contribuem para a evidenciação da
importância e da usabilidade do orçamento no contexto interno das organizações, enfatizando-
74
o como instrumento de apoio gerencial ao processo de controle, planejamento e tomada de
decisões, bem como que novos estudos possam explorar a utilização do orçamento na
implementação de estratégias de gestão.
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