Entre as (re)existências da cura xamânica na região amazônica e o cientificismo colonial: Um olhar discursivo sobre o silenciamento vivenciado pelos povos originários

Autores

  • Carolina Pinheiro Barros Universidade do Sul de Santa Catarina - Unisul
  • Vanessa Silva Sagica Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

DOI:

https://doi.org/10.5965/1984724622482021261

Palavras-chave:

Ritual xamânico, Análise do discurso, Religião, Memória, Oralidade

Resumo

Este artigo tem como proposta abordar a temática da eficácia simbólica do xamanismo, na buscar da cura de seus sujeitos envolvidos, bem como levantar questões sobre o silenciamento desses sujeitos originários em favor das práticas de cura cientificistas, logo, de poder. Temos como suporte os pressupostos metodológicos da Análise do Discurso, que estuda a língua não só no seu aspecto linguístico, mas também na sua relação com questões sociais, portanto, no extralinguístico. O método envolverá a análise discursiva em entrevistas e das formas de transmissão e práticas do ritual xamânico, este inferido na região amazônica em recortes dos sites de veículos noticiosos (on-line) Portal Mongabay, National Geographic e G1. Buscamos identificar, na contemporaneidade, a resistência dessa prática e como ela é vivenciada, mesmo que subjugada e ignorada em favor das práticas de cura trazidas pelo colonialismo, com seu cientificismo e suas religiões, por serem de fontes empíricas. Os resultados mostram que os indígenas sofrem o silenciamento e o descaso por não terem acesso a hospitais, pois a COVID-19 é uma doença nova e requer cuidados específicos. Seguimos os subsídios teórico-metodológicos da Análise do Discurso para o silenciamento em Orlandi (2009). Especificamente para práticas xamânicas, nos baseamos em Maués (1994, 2007).

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Carolina Pinheiro Barros, Universidade do Sul de Santa Catarina - Unisul

Doutoranda em Ciências da Linguagem na Universidade do Sul de Santa Catarina - Unisul. Mestre em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM.

Vanessa Silva Sagica, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Doutoranda em Linguística na Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Mestre em Ciências da linguagem pela Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul.

Referências

ALTHUSSER, L. Aparelhos ideológicos de estado. 3. ed. Lisboa: Editoria Presença: Martins, 1974.

ANDRADE, Ugo Maia. Xamanismo e redes de relações interindígenas: Amazônia e Nordeste brasileiro. Revista de Antropologia Vivência, Natal: UFRN, n.54, p. 84-100, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/vivencia/article/view/21542/12889. Acesso em: 20 abril.2020.

AZZI, Riolando. A teologia católica na formação da sociedade colonial brasileira. Petrópolis: Vozes, 2004.

BEATRIZ, Rebeca. Após morte do último índio juma, lideranças associam covid-19 com 'extermínio' de povos indígenas. G1, Manaus, 18 fev. 2021. Disponível em : https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2021/02/18/apos-morte-do-ultimo-indio-juma-liderancas-associam-covid-19-com-exterminio-de-povos-indigenas.ghtml. Acesso em: 18 mar. 2021.

CASSIRER, Ernst. Linguagem e mito. São Paulo: Editora Perspectiva. 3. ed. 1992.

CESARINO, Pedro de Niemeyer. Virtualidade e equivocidade do ser nos xamanismos ameríndios. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, [São Paulo], n. 69, p. 267-288, abr. 2018.

DI BELLA, Gabi. Indígenas recorrem à medicina tradicional no tratamento contra a covid- 19. National Geographic Brasil, [s.l.], 03 ago. 2020. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/cultura/2020/07/indigenas-recorrem-a-medicina-tradicional-no-tratamento-contra-a-covid-19. Acesso em: 16 mar. 2021.

EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. Tradução de Sandra Castello Branco. São Paulo: UNESP, 2005.

FREIRE, José Ribamar Bessa. A canoa do tempo: tradição oral e memória indígena. In: COLÓQUIO UERJ, 4., 1992, Rio de Janeiro. [Trabalho apresentado em evento]. Rio de Janeiro: Imago, 1992. v. 1. p. 138-164. (Tema: América; Descoberta ou Invenção).

FREYRE, GILBERTO. Casa grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 48. ed. rev. São Paulo: Global, 2003. (Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil; v. 1).

GALVÃO, Eduardo. Santos e Visagens: Um estudo da vida religiosa de Itá, Baixo Amazonas. São Paulo, Editora Nacional. 1955.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Covid 19 e os povos indígenas, [s.l.], 2020. Disponível em: https://covid19.socioambiental.org/. Acesso em: 20 mai.2021.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. 1. ed. Tradução Beatriz Perrone-Moises; Prefácio de Eduardo Viveiro de Castro. São Paulo: Companhia das letras, 2015.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e significado. Lisboa: Edições 70, 1985.

MAUÉS, Raimundo. Heraldo. Catolicismo e xamanismo: reflexões sobre pajelança amazônica, renovação carismática e outros movimentos eclesiais. Revista Pós Ciências Sociais, São Luís, v. 4, n.8 p. 11-30, 2007.

MAUÉS, Raimundo. Heraldo. Medicinas populares e pajelança cabocla na Amazônia. In: Paulo César Alves; Maria Cecília S. Minayo. (Org.). SAÚDE E DOENÇA: UM OLHAR ANTROPOLÓGICO. 1ed.RIO DE JANEIRO: FIOCRUZ, 1994, p. 73-81. Disponível em: file:///C:/Users/Caroline/Desktop/coisas/ARTIGOS/Heraldo%20Mau%C3%A9s3.pdf. Acesso em 10mai.2021.

MOURA, Elen Cristina Dias de. Eu te benzo, eu te livro, eu te curo: nas teias do ritual de benzeção. Revista de Humanidades - MNEME, Caicó: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, v. 11, n. 29, p. 340- 367, jan./jul. 2011.

MUNDURUKU, Daniel. Escrita indígena: registro, oralidade e literatura: O reencontro da memória. In: DORRICO, Julie; DANNER, Leno Francisco; CORREIA, Heloisa Helena Siqueira; DANNER, Fernando (orgs.) Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica e recepção. Porto Alegre: Editora Fi, 2018.

NASCIMENTO, Felipe Augusto Santana do. Mo(vi)mentos da história e da memória nos caminhos da análise de discurso: os brasiguaios. Revista Entrelinhas (UNISINOS. Online), [São Leopoldo], v. 9, n. 1, p. 29-47, jan./jun. 2015. Disponível em: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:LFYolDb24kwJ:revistas.unisinos.br/index.php/entrelinhas/article/download/9325/4881+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br. Acesso em: 10mai. 2021.

ORLANDI, Eni de Lourdes Puccinelli. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. 4. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1997.

ORLANDI, Eni de Lourdes Puccinelli. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 8. ed. Campinas: Pontes, 2009.

ORLANDI, Eni de Lourdes Puccinelli. Segmentar ou recortar. Estudos, Uberaba, v. 10, p. 09-26, 1984.

PORTAL G1. Pajé faz ritual de cura indígena para tentar salvar garoto de cinco anos. [S.l: s.n.], 2009. Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1091133-5598,00PAJE+FAZ+RITUAL+DE+CURA+INDIGENA+PARA+TENTAR+SALVAR+GAROTO+DE+CINCO+ANOS.html. Acesso em: 01 out. 2020.

RIBEIRO, Fernanda Maria. Povo Kokama troca hospitais por rituais com ayahuasca para curar indígenas do coronavírus. Portal Mongabay, Tabatinga-AM, 30 jul. 2020 Disponível em: https://brasil.mongabay.com/2020/07/povo-kokama-troca-hospitais-por-rituais-com-ayahuasca-para-curar-indigenas-do-coronavirus/. Acesso em: 01 out. 2020.

SAGICA, Vanessa Silva. [Entrevista cedida a] Carolina Pinheiro Barros, Florianópolis (SC), 09 set. 2020.

SANTOS, Souza de. Boaventura. Pela mão de Alice. São Paulo: Cortez Editora, 1995.

Downloads

Publicado

2021-05-21

Como Citar

BARROS, Carolina Pinheiro; SAGICA, Vanessa Silva. Entre as (re)existências da cura xamânica na região amazônica e o cientificismo colonial: Um olhar discursivo sobre o silenciamento vivenciado pelos povos originários. PerCursos, Florianópolis, v. 22, n. 48, p. 261–283, 2021. DOI: 10.5965/1984724622482021261. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/percursos/article/view/19171. Acesso em: 26 dez. 2024.