e-ISSN 1984-7246
Escrevivência: sentidos na obra
evaristiana e modos de viver a pesquisa em educação*
Dandara
Rodrigues Dorneles**
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS)
Porto Alegre – RS, Brasil
lattes.cnpq.br/8251053729434715
Carla
Beatriz Meinerz***
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS)
Porto Alegre – RS, Brasil
lattes.cnpq.br/9741624321390195
Russel
Teresinha Dutra da Rosa****
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS)
Porto Alegre – RS, Brasil
lattes.cnpq.br/9160396252323696
Escrevivência: sentidos na obra
evaristiana e modos de viver a pesquisa em educação
Resumo
Este artigo discute os resultados da análise de dimensões
da experiência textual da Escrevivência no conjunto da obra de Conceição
Evaristo, cotejando a sua presença em produções de pessoas pesquisadoras negras
da primeira turma que ingressou pela política de ações afirmativas em um
programa de pós-graduação em Educação de universidade da região sul do Brasil.
A experiência textual evaristiana é profundamente marcada pelas vivências e
corporalidades de mulheres negras. Funde a escrita com a vida, relacionando
temas como religiosidade afro-brasileira e ancestralidade. A Escrevivência
incorporada à pesquisa em Educação é um modo diverso de indagar a realidade e
de viver a intelectualidade, a partir de um pertencimento negro capaz de
reivindicar o direito à diferença na escrita e nas práticas acadêmicas. Escrevivência
entendida como palavra germinante, mais do que como conceito, configura o que
se nomeia tradicionalmente como método ou metodologia nos estudos analisados. A
partir da análise de produções acadêmicas, argumenta-se que a Escrevivência é
uma palavra viva, que possui trajetória e que germina práticas de pesquisa e de
formas de escrita em que a autoria é resultado da experiência negra
compartilhada e de conhecimentos herdados de comunidades tradicionais.
Palavras-chave: práticas de
pesquisa; pessoas pesquisadoras negras; intelectualidades negras; palavra
germinante; Conceição Evaristo.
Escrevivência: senses in conceição evaristo’s work and ways of living the
research in education
Abstract
This article discusses the
results of the analysis of the dimensions of the textual experience of Escrevivência
in Conceição Evaristo’s body of work, comparing its presence in the productions
of different Black researchers from the first class that entered a graduate
program in Education at a university in the southern region of Brazil by the
affirmative action policy. The Evaristian textual experience is deeply marked
by the experiences and corporeality of Black women. It blends writing with
life, relating themes such as Afro-Brazilian religiosity and ancestry. Incorporated
into educational research, Escrevivência is a different way of questioning
reality and experiencing intellectuality, based on a sense of Black belonging
capable of claiming the right to difference in writing and academic practices.
Escrevivência, understood as a germinating word rather than a concept,
configures what is traditionally called a method or methodology in the studies
analyzed. Based on the analysis of academic productions, it is argued that Escrevivência
is a living word that has a trajectory and germinates research practices and
forms of writing in which authorship is the result of shared Black experience
and knowledge inherited from traditional communities.
Keywords: research practices; black researchers; black
intellectualities; germinating word; Conceição Evaristo.
___________________________
* Fonte de fomento: Bolsa de Doutorado do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil (CNPq).
Contribuições de
autoria:
** conceituação, curadoria de dados, análise formal,
investigação, metodologia, visualização e escrita – rascunho original.
*** conceituação, análise formal e escrita –
análise e edição.
**** análise formal, aquisição de financiamento e escrita
– análise e edição.
Escrevivência, antes de qualquer domínio, é
interrogação. É uma busca por se inserir no mundo com as nossas histórias, com
as nossas vidas, que o mundo desconsidera. Escrevivência não está para a
abstração do mundo, e sim para a existência, para o mundo-vida.
Conceição
Evaristo, Escrevivência e seus subtextos (2020a).
1 Introdução
O presente texto resulta de uma escrita conjunta
entre uma doutoranda negra, protagonista de sua ideia seminal já por ela
desenvolvida em trajetórias de pesquisa, e duas docentes brancas atuantes na
Pós-Graduação, interlocutoras na onstrução das análises e da fundamentação
sobre a palavra Escrevivência[1]
germinada por Conceição Evaristo (2005, 2016a, 2017a). No artigo, é analisado o
sentido da Escrevivência na obra de Conceição Evaristo e sua incorporação à
pesquisa em Educação por intelectuais negros. A escrita, resultante da
pesquisa, é forjada por mãos femininas, duas pretas e quatro brancas,
expressando pensamentos e sentimentos distintos numa busca de movimento
dialógico em aliança pela transformação das estruturas racistas que operam nos
indivíduos e na sociedade, especificamente nas instituições acadêmicas[2].
Maria Beatriz Nascimento, historiadora que, em 1974, reivindica uma
“história do homem negro”, expõe algumas características de uma pesquisa
realizada por mãos pretas quando afirma que não aceita “mais nenhuma forma de
paternalismo, especialmente intelectual” (2021, p. 46). Nessa direção,
afirma-se sobremaneira que as escritas e os saberes produzidos estão em conexão
com os pertencimentos étnicos e raciais, o que implica numa ciência cada vez
mais intencionalmente identificada e situada no combate ao racismo. No caso das
mãos pretas, a escrita é situada na perspectiva de Nascimento (2021, p. 46), ao
afirmar que as coisas por ela refletidas “já existiam no ventre de minha mãe,
num quilombo qualquer [...], na África, onde já não quero nem posso mais
voltar.” Este é o complexo pertencimento e contexto que nos cabe observar ao
construir conhecimentos acadêmicos.
No caso das mãos brancas, destaca-se que a análise e a escrita da obra
de Conceição Evaristo são experimentadas pelo marcador da experiência branca,
capaz de se focar mais na dor das injustiças relatadas do que no gozo e no
deleite da identificação com vidas negras registradas e expressas em sua
complexidade em narrativas literárias. Logo, é com foco nas experiências e nas
trajetórias negras incorporadas pela primeira autora que dialogamos com as
obras evaristianas a partir da Educação. Assim, a voz autoral é negra, sendo as
duas outras participantes brancas aprendizes a partir da escuta atenta. Cabe
ainda ressaltar que as duas primeiras autoras têm trajetórias de estudos
reconhecidas no campo. Já a terceira autora, embora em uma posição acadêmica
privilegiada, vem se aproximando da área e participou como uma caixa de
ressonância para as elaborações das primeiras, recebendo os ensinamentos e os
devolvendo e, nesse diálogo, tentando contribuir para o seu fortalecimento e
para a estabilização de sentidos.
Conceição Evaristo, que conviveu com Beatriz Nascimento, exprime,
através da literatura, a reivindicação por uma escrita que traz a experiência,
a vivência, a condição do sujeito negro na realidade brasileira, mencionando
que a Escrevivência “[...] é uma busca por se inserir no mundo com as nossas
histórias, com as nossas vidas [...]” (Evaristo, 2020a, p. 35). Em confluência,
Beatriz Nascimento (2021) também traduz com potência a ideia de uma
intelectualidade feminina própria relacionada com a ancestralidade negra, no
que tange à produção historiográfica. Para a autora, devemos fazer a nossa
história, reivindicar um lugar e uma escrita que reflita a experiência vivida e
sentida do negro no contexto brasileiro, pois, em suas palavras, “[...] somos a
história viva do preto, não números [...]” (Nascimento, 2021, p. 45).
Através dos pensamentos e das produções intelectuais dessas mulheres
negras, observa-se a elaboração de uma reflexão profunda e densa, que
reivindica lugares e experiências singulares e coletivas, ao passo que teorizam
e compõem saberes a partir dos pertencimentos. Saberes/conhecimentos (Gomes,
2017) que tensionam as análises científicas problematizando dicotomias e
hierarquizações, e que, da mesma maneira, fundamentam o questionamento de
temas, paradigmas e metodologias do academicismo tradicional próprio da cultura
dominante.
É com base nessas questões políticas e éticas, que envolvem produções
literárias e intelectuais como um todo, sobretudo as produções de pessoas
negras, que Conceição Evaristo vem defendendo uma escrita singular em cruzo com
as heranças da diáspora africana. Uma escrita criada desde os ventres maternos
e expressa em processos de Escrevivência como um júbilo à vida que “[...]
permite embaralhar tudo: vivência e criação, vivência e escrita. Escrevivência”
(Evaristo, 2022, p. 3). Trata-se, assim, de um modo de inserção no mundo, de
uma maneira de existir, bem como de escrever histórias para a composição de um
mundo-vida (Evaristo, 2020a).
Nessa direção, o artigo discorre acerca da análise da obra evaristiana
e reflete teoricamente a possibilidade de a Escrevivência atuar como palavra
germinante, conforme proposto por Nego Bispo (Santos; Dorneles, 2021), mais do
que como categoria, para a configuração de pesquisas e produções acadêmicas em
Educação, inclusive no que se nomeia tradicionalmente como método ou
metodologia. Além da análise documental da obra de Conceição Evaristo, foi
examinada a produção de jovens pesquisadoras/es negras/os, em investigações de
mestrado e doutorado em Educação. Assim, o artigo apresenta os resultados de um
estudo sobre os modos como a Escrevivência vem sendo mobilizada nesse campo,
sobretudo em pesquisas realizadas junto ao Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para tanto, inicialmente, foi realizada uma análise dos sentidos da
Escrevivência na obra literária e nos textos teóricos de Conceição Evaristo, na
direção de apresentar a sua literatura, os aspectos sociais, os temas que
aborda, a dimensão das religiosidades afro-brasileiras, da ancestralidade e da
experiência partilhada por mulheres negras. Posteriormente, são apresentados os
resultados teórico-metodológicos da análise da experiência textual da
Escrevivência incorporada em pesquisas acadêmicas no âmbito da Educação,
compondo abordagens que consideram as múltiplas vivências de negros no Brasil,
historicamente e na contemporaneidade, ao passo que ponderam criticamente as
discussões acadêmicas e éticas provenientes dos estudos de, sobre e junto a
pessoas negras – que são comumente objetificadas em construções
teórico-metodológicas.
Argumenta-se que a Escrevivência, mais do que um conceito, uma
categoria ou uma metodologia, é uma palavra germinante, pois é uma palavra
viva, que possui trajetória e possibilita que novas ideias e fazeres brotem e
confluam (Santos; Dorneles, 2021). Do mesmo modo, é uma experiência textual
profundamente marcada pelas vivências e corporalidades de mulheres negras
(Evaristo, 2020b), que funde a escrita com a vida e, assim, vem inspirando
diversas pesquisas no campo da Educação. É, portanto, um modo diverso de viver
a pesquisa e a intelectualidade, uma tomada de posição negra e feminina, capaz
de reivindicar o direito à diferença na escrita acadêmica. Sobretudo, no caso
da análise aqui empreendida, trata-se de uma forma inédita de compreender e
escrever o Brasil através das mãos de intelectuais negras, capaz de nos
convidar a pensar e a agir por meio da profunda escrita literária, inspirando
modos de pesquisar em Educação.
Considera-se o fato de que compartilhamos práticas de pesquisa numa
cultura investigativa baseada em critérios escritocêntricos, universalistas e
meritocráticos – portanto, ainda pouco dialógicas com saberes associados a
pertencimentos construídos em comunidades outras que não as acadêmicas.
Afirma-se que a pluralidade de saberes e de pertencimentos garante a excelência
de qualquer instituição produtora de conhecimentos, destacadamente a
universitária (Mato, 2008). Amplia-se tal afirmação ao propor a Escrevivência
como uma maneira de desestabilizar as convenções acadêmicas, notadamente ao
questionar os modos de expressão do saber na escrita vinculada ao pertencimento
racial e perpassada por conhecimentos construídos a partir de uma forma
intensiva de existência (Sodré, 2017) em que filosofias e epistemologias não estão
separadas do “espiritual”.
2 A Escrevivência na obra literária de Conceição Evaristo
Maria da Conceição Evaristo de Brito, mais conhecida como Conceição
Evaristo, cresceu na extinta favela Pindura Saia em Belo Horizonte, Minas
Gerais. Graduada em Letras pela UFRJ, Mestra em Literatura Brasileira pela
PUC-Rio e Doutora em Literatura Comparada pela UFF, Evaristo tem a escrita
marcada pela sua vivência como mulher negra, pautando a discriminação racial,
de gênero e de classe. Sua obra literária possui como foco a população negra
brasileira, abordando os desejos e as experiências de liberdade, ao mesmo tempo
retratando a pobreza e a violência que acometem esse segmento[3]. Trata-se de um modo
peculiar de nos fazer compreender o nosso país e a própria forma de realizar
pesquisas em nosso contexto específico.
A literatura de Conceição Evaristo versa sobre a complexidade de ser
uma pessoa negra, trazendo o cotidiano de choro e gozo das protagonistas
majoritariamente femininas. Suas personagens principais, dotadas de
conhecimentos, habilidades e sonhos, são meninas, jovens, adultas, anciãs que
representam as múltiplas formas de ser mulher em distintas realidades: com
deficiência, prostitutas, mães, filhas, esposas, amantes, trabalhadoras.
Portanto, a questão de gênero é bem marcada através da cumplicidade, da
irmandade e do afeto de mulheres cujos corpos vertem águas e lágrimas
insubmissas. Lágrimas de força, resistência e ressignificação. Insubmissas
lágrimas de mulheres que não desistem da vida, da luta, das histórias, dos
filhos e dos sonhos, mesmo em uma sociedade machista, patriarcal, racista,
sexista, classista (Evaristo, 2016a, 2016b, 2017c, 2017d, 2022).
Ademais, ainda que as personagens sejam predominantemente negras,
Evaristo também retrata algumas vivências de mulheres brancas que estão, de um
modo ou de outro, representadas nos textos como aquelas que ocupam espaços e
posições de poder, refletindo a realidade em uma dimensão relacional (Evaristo,
2020a). É o caso da personagem Dona Laura, patroa de Ditinha em Becos da Memória (2017a), assim como da
personagem Dalva Amorato, em Canção para
ninar menino grande (Evaristo, 2022). Desse modo, as obras apresentam uma
riqueza de identidades e subjetividades, além de retratar com profundidade as
distintas experiências de vida e os atravessamentos sociais.
Personagens masculinos também estão presentes na obra evaristiana,
destacando as experiências do processo de tornar-se homem em uma sociedade
machista, a violência patriarcal e as opressões de gênero. Em Canção para ninar menino grande,
Conceição Evaristo (2022) narra algumas vivências de Fio Jasmin, homem, negro,
jovem, cativante, belo, de porte físico alto e forte, que provocam reflexões
sobre a infantilização, a sexualização e a educação de homens negros. Além disso,
são proporcionadas discussões acerca das contradições e das complexidades em
torno da masculinidade de homens negros e as suas relações afetivas. Porém, de
maneira magistral, a obra foca nas experiências de mulheres negras no amor, no
relacionamento, no estabelecimento de famílias; rompendo estereótipos e noções
preconcebidas a respeito da vida e dos propósitos dessas mulheres (Evaristo,
2022).
Em suma, através de poemas, contos, novelas e romances, Conceição
Evaristo aborda questões sociais como injustiça, cultura, religião e supressão
dos direitos humanos presentes nas múltiplas e densas histórias dos seus
personagens[4].
Observa-se que a leitura dessas obras é entrecruzada pela experiência de cada
leitora/leitor e que o pertencimento racial atravessa a relação do pensar e
sentir cada experiência narrada e cada personagem apresentado.
Dentre tantas características e aspectos sociais relevantes nas obras
de Conceição Evaristo se destaca a Escrevivência, experiência textual iniciada
pela autora durante a produção do livro Becos
da Memória (Evaristo, 2017a). Através da Escrevivência, ela elabora imagens
e cenas (con)fundindo a escrita e a vida, confundindo e fundindo a escrita e a
vivência (Evaristo, 2017a). Contudo, para a intelectual, a Escrevivência é mais
do que relatar experiências pessoais e individuais, pois trata de vivências
sempre coletivas.
Como a autora menciona: “Ouço pela partição da experiência de quem
conta comigo e comigo conta. [...] escrevo o que a vida me fala, o que capto de
muitas vivências. Escrevivências.” (Evaristo, 2017b, p.17). Assim, a
Escrevivência é baseada nas lembranças da escritora junto aos seus familiares,
nas experiências de comunidades negras e nas histórias de pessoas que se
encontram em situação de vulnerabilidade social, abordando realidades de
sujeitos e grupos sociais dos quais faz parte.
São os pontos basilares da Escrevivência a memoração à história de
negras e negros, a importância da oralidade, a identidade, as heranças
escravocratas construídas por famílias brancas ainda hoje privilegiadas, o
protagonismo feminino e negro em comunidades, além da evocação à
ancestralidade. Abordando a lembrança, a memória, a recordação e outros termos
correlatos, as obras compõem noções de tempo e presentificam o passado, os ancestrais,
as heranças dos antepassados e as corporalidades africanas[5].
Através da oralidade, da memória e dos aprendizados, os personagens
trazem lembranças e sentimentos que marcaram a vida dos seus antepassados e,
assim, também as suas vidas. São acontecimentos vivenciados e sentidos de forma
coletiva, em que o pesar daqueles que vieram antes se atualiza nos de agora.
Como a autora menciona: “De muitas histórias já sei, pois vieram das entranhas
do meu povo. O que está guardado na minha gente, em mim dorme um leve sonho”
(Evaristo, 2017b, p.17). Trata-se de tudo aquilo que historicamente aconteceu e
acontece com o segmento negro na sociedade, acabando por se atualizar em corpos
e experiências.
Uma dimensão
presente na obra de Conceição Evaristo e na Escrevivência a ser destacada é a
espiritualidade e a religiosidade afro-brasileira, e esse aspecto passa
despercebido a uma pessoa leitora sem
conhecimentos acerca do mundo dos terreiros, dos orixás, das entidades e dos
seus rituais. São referências que requerem de uma formação mais imersa nesse
modo de existência para o entendimento dos múltiplos sentidos das experiências
narradas e também para a fruição plena da beleza poética da obra. Essa dimensão
espiritual e religiosa, como os próprios rituais afro-religiosos, incluindo os
momentos festivos de celebração e de alimentos compartilhados, cria ao leitor
iniciado nas religiosidades e na cultura afro-brasileira um espaço-tempo de
conforto e acolhimento. A dimensão espiritual da obra parece conferir um
sentido de proteção ao leitor, uma atmosfera de quilombo com saberes e fazeres
secretos (Nascimento, 2021), que passam despercebidos pelo opressor e seus
descendentes.
É o caso,
por exemplo, da influição das águas presentes nas produções literárias da
escritora: águas de mamãe Oxum, águas de Iemanjá, águas tempestuosas de Santa
Bárbara, águas que vertem dos olhos de sua mãe, as insubmissas lágrimas de
mulheres, águas de gozo, águas do parto. Desse modo, as águas exprimem as
relações entre as mulheres e as Yabás, assim como desvelam os encadeamentos do
movimento das águas e o fluxo das lembranças e recordações (Evaristo, 2016a,
2016b, 2017c, 2017d). É o que se evidencia de forma veemente no seguinte
excerto:
Minha mãe
trazia, serenamente em si, águas correntezas. Por isso, prantos e prantos a
enfeitar o seu rosto. A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d’água.
Águas de Mamãe Oxum! Rios calmos, mas profundos e enganosos para quem contempla
a vida apenas pela superfície. Sim, águas de Mamãe Oxum (Evaristo, 2016b, p. 18-19).
Outra dimensão presente na obra
evaristiana é a própria noção de pertencimento que a Escrevivência proporciona
na experiência e na vivência compartilhada entre pessoas negras da diáspora
africana. Tal compartilhamento gera na pessoa leitora, para além de uma identificação com a
dor, sentimentos de
pertença a um grupo e a uma comunidade; sentimentos de pertença que foram
violados pelos processos de separação de famílias e entes próximos pela
escravização, por exemplo. Nas palavras da autora:
Nossa escrevivência traz a experiência, a
vivência de nossa condição de pessoa brasileira de origem africana, uma
nacionalidade hifenizada, na qual me coloco e me pronuncio para afirmar a minha
origem de povos africanos e celebrar a minha ancestralidade e me conectar tanto
com os povos africanos, como com a diáspora africana (Evaristo, 2020a, p. 30).
Estão em jogo, portanto, noções
de identidade, pertencimento, heranças culturais, ressignificação e
compartilhamento dessa “vida que eu experimento, que nós experimentamos em
nosso lugar ou vivendo con(fundido) com outra pessoa ou com o coletivo,
originalmente de nossa pertença” (Evaristo, 2020a, p. 31).
Assim, a obra de Evaristo produz
rupturas na cultura hegemonizada a partir da branquitude (Bento, 2002),
participando de processos de reparação histórica muitas vezes imperceptíveis
para o outro não negro. É uma escrita que registra e testemunha dores, muitas
delas vividas no espaço privado, aquele que pode produzir o adoecimento quando
a experiência não é considerada, narrada, reconhecida como violadora de
direitos humanos, em uma sociedade que dissimula o racismo. Evaristo, portanto,
oferece em livros esses espaços de proteção que produzem também o desejo de
viver e de escreviver entre os seus e para os seus, constituindo uma
subjetividade com o potencial de transformar realidades desiguais como as das
instituições educativas e, assim acolher estudantes e docentes que se
reconhecem na riqueza cultural à qual pertencem. É o caso da escrita na forma
da Escrevivência que estamos tematizando neste artigo, capaz de fazer
pensar a brasilidade através de olhares e mãos de intelectuais negras.
3 A incorporação da Escrevivência ao fazer acadêmico
Com a difusão e o reconhecimento nacional e internacional da obra
evaristiana ao longo dos anos, cresce o contingente de textos e de pesquisas,
em diversas áreas do conhecimento, que incorporam a Escrevivência. O movimento
criativo e disruptivo impulsionado pela literatura de Conceição Evaristo
problematiza a cultura hegemonizada no espaço acadêmico, intensificando a
elaboração de escritas, perspectivas teórico-metodológicas e ferramentas
investigativas em diálogo com a Escrevivência para a compreensão do Brasil.
Como a própria escritora menciona, devido à receptividade e ao uso feito por
parte das pessoas que a leem, o termo Escrevivência vem cada vez mais ganhando
novos contornos e significados que potencializam as escritas de negras e
negros, seja no campo literário, seja no campo científico (Evaristo, 2020a).
Em consonância com a expansão de espaços e de temas de estudo, de
acordo com Felisberto (2020), a Escrevivência vem a cada dia adquirindo
múltiplos sentidos em diferentes áreas, seja no campo historiográfico,
literário ou sociológico, e
[...] encena uma possibilidade de escrita com
mais autonomia autoral, de interferência e participação na narrativa, além de
fluidez, com ritmo e sentidos sem tantos enquadramentos de formato, pois existe
a premissa da aproximação do fazer acadêmico com uma realidade vivida em suas
práticas cotidianas, dando um sentido de aproveitamento e utilização, que, de
certa maneira, tem diminuído a distância entre os diferentes saberes produzidos
dentro e fora da universidade (Felisberto, 2020, p. 170-171).
Tais considerações apontam, assim, algumas possibilidades e
potencialidades que os textos literários de Conceição Evaristo, junto com todas
as discussões e pautas sociais que envolvem, vêm oportunizando para a
elaboração de perguntas de pesquisa, reflexões e investigações conduzidas por
intelectuais negros que anseiam por outras formas de narrar, escrever e
pesquisar.
No campo da Educação, este cenário não é diferente, pelo contrário,
parece se ampliar em virtude dos artigos, projetos, dissertações e teses que
tematizam ou incorporam a Escrevivência. Com o propósito de indagar sobre como
a Escrevivência vem sendo incorporada à pesquisa em Educação foram analisadas
produções recentes, que articulam vivências de pessoas e comunidades negras a
epistemologias, teorias, metodologias e pedagogias que buscam romper com
abordagens eurocentradas, ao passo que questionam os saberes a partir dos
pertencimentos. Elaborações que versam sobre modos de educar, de realizar
práticas pedagógicas, ensinar e aprender em diferentes espaços educativos. Do
mesmo modo, tais abordagens buscam problematizar a escrita acadêmica e o
escritocentrismo, tramando importantes debates acerca da relevância da
oralidade, basilar para a Escrevivência.
Há possibilidade de a Escrevivência atuar como palavra germinante mais
do que como categoria, na configuração de pesquisas e produções acadêmicas em
Educação? A partir da análise de produções de intelectuais negros, entendemos
que a Escrevivência não precisa ser incorporada apenas sob a forma de
inspiração, nem tampouco ser engessada como método. A Escrevivência nas
produções analisadas compõe uma fundamentação teórico-metodológica sem
necessariamente estar coadunada com outros métodos. Ela é germinante de
práticas de pesquisa e de formas de escrita em que a autoria é resultado da
experiência compartilhada e de conhecimentos herdados de famílias e de
comunidades negras. Os estudos analisados não se restringem a um recorte
espaço-temporal que tem início com a entrada em campo, ou com a realização de
observações e de entrevistas circunscritas ao tempo do projeto de pesquisa.
Referem-se, isso sim, a vivências inscritas no corpo pelo pertencimento
étnico-racial e que são registradas em produções acadêmicas por intelectuais
negros.
Na pesquisa em Educação, como evidenciamos pelos resultados das
análises a seguir, há vários exercícios de Escrevivência, todos inspirados em
Conceição Evaristo, os quais tensionam os modos costumeiros de produzir
indagação e delimitar objetos de estudo. A Escrevivência tem sido colocada em
diálogo com ferramentas teórico-metodológicas hegemônicas, mas neste artigo
perguntamos se ela pode se configurar como uma palavra germinante, uma
abordagem teórico-metodológica alargada por epistemologias negras.
Algumas das produções analisadas desestabilizam o
escritocentrismo (Mato, 2008) como demarcador de excelência científica, a
partir de convenções e normativas técnicas e teórico-metodológicas. As
produções analisadas buscam romper com a deslegitimação de escritas que advêm
de pertencimento comunitário em contraste com a dominada por grupos
corporativos e institucionalizados. Assim, problematizam a ideia de que toda
explicação intelectual é expressa pela escrita e somente pela escrita
regulamentada por fórmulas e normas restritivas. As produções analisadas
indicam as possibilidades de reformulação das convenções que limitam a
linguagem acadêmica, considerando que tais convenções se estabelecem a partir
de disputas em uma colonialidade de saber e de poder (Quijano, 2005). Assim, a
Escrevivência nos estudos analisados é disruptiva do saber supostamente
universal consolidado cientificamente.
As pesquisas analisadas indicam que a linguagem
acadêmica pode, na medida da disputa das relações de poder que se estabelecem,
ser transformada em suas convenções. E a Escrevivência, na qualidade de
desestabilizadora das convenções da escrita literária, também cria novos
parâmetros de cientificidade que expandem regramentos de escritas científicas –
no campo da Educação, ao menos, isso já está em andamento.
Ademais, a análise das produções que incorporam a
Escrevivência indica que ela é uma maneira de viver a pesquisa e a produção
intelectual de forma singular, questionando a própria ideia do que seja
pesquisar. Viver a pesquisa indica o rompimento com a ideia de separação entre
corpo, mente e espírito no ato de produzir saber, assim como o rompimento com a
da ideia de que o conhecimento é produzido unicamente na universidade. Do mesmo
modo, rompe-se com a ideia de que cognição é apenas razão, uma concepção
moderna ocidentalizada que ainda se impõe sobre nossos imaginários. Como ocorre
essa desestabilização? Por um lado, ela desestabiliza o referencial relativo ao
lugar de fala, ao evocar a mulher negra como aquela que enuncia conhecimentos e
escreve, como uma intelectual. Igualmente, aporta um pertencimento étnico-racial
que se compõe pela ancestralidade, construído na diáspora negra e africana no
Brasil, associado ao engajamento em movimentos e lutas sociais de combate ao
racismo. Nilma Lino Gomes (2017) destaca que os movimentos sociais negros
constroem saberes desestabilizadores inclusive para a própria forma de
construir conhecimentos na academia.
Do mesmo modo, segundo Gomes (2020), a presença de estudantes negras e
negros nas universidades, assim como quilombolas e indígenas, vem iluminando o
campo acadêmico devido às Políticas de Ação Afirmativa. Seja na graduação ou na
pós-graduação, com a instituição de reserva de vagas para os referidos
segmentos, a presença desses estudantes cotistas têm conferido à Universidade
uma produção de conhecimento mais engajada com as suas causas sociais,
reconhecendo outras epistemologias, culturas e corporeidades a partir dos
pertencimentos. Logo, ao romperem com a ideia de estudante acadêmico padrão,
negras e negros, na universidade, deixam de ser apenas objetificados em desenhos
de investigação pela produção científica e passam a ser pesquisadores,
desenvolvendo outras formas de interpretar, analisar e problematizar a
realidade brasileira, alargando as formas de produção intelectual e a noção de
excelência (Gomes, 2020; Silva, 2011; Silva, 2020).
Nessa direção, é inegável a pluralidade de conceitos, teorias e
problematizações que emergem de debates, artigos e estudos atinentes às
questões negras na universidade. Analogamente, são perceptíveis os inúmeros
grupos de pesquisa, escolas de pensamento e vertentes teóricas acerca do
próprio Pensamento Negro na esfera da produção do conhecimento, como Pensamento
Negro em Educação, Radical, Decolonial, Contracolonial, Estudos Críticos
Negros, Estudos Culturais Negros, Afrocentricidade, Afropessimismo[6] etc. Também estão mais
frequentes teorias e discussões sobre a escravização, os movimentos, as
vivências diaspóricas e os direitos da população negra que incidem na Educação.
Há, pois, um conjunto diverso de debates e discussões que expressam a
multiplicidade dos sujeitos negros e dos seus pensamentos. No entanto, quando a
questão é a respeito das formas de narrar, escrever e pesquisar, ou seja, sobre
os modos de fazer e de conduzir a pesquisa, ainda existem dificuldades que
limitam e cerceiam a elaboração de novos pressupostos investigativos, teóricos
e metodológicos.
Algumas problematizações acerca dos métodos e das metodologias
comumente utilizadas nas Ciências Humanas e Sociais estão sendo ampliadas nas
pesquisas analisadas e que se dedicaram a estudar outras realidades, como
aquelas presentes em comunidades tradicionais e periféricas. Nas produções
analisadas, destacamos as seguintes problematizações: 1) ruptura com as
metodologias que implicam em posturas autoritárias do pesquisador frente aos
interlocutores; 2) relação com os participantes da pesquisa como interlocutores
produtores de conhecimento superando abordagens em que são considerados como
parte de objetos de pesquisa; 3) abordagens teórico-metodológicas que buscam pressupostos teóricos negros; 4)
uma dimensão ética que desestabiliza epistemologias ocidentalizadas; 5) o
pesquisador participa das comunidades que estuda questionando o princípio do
afastamento e da necessidade de estranhamento do pesquisador com relação ao
núcleo de pessoas com quem aprende; 6) práticas de pesquisa orientadas por
epistemologias que buscam superar a experiência de pesquisador-colonizador –
aquele que seria o detentor dos conhecimentos, que analisa determinados espaços
e grupos aquém da sua realidade e que seria capaz de explicar a vida dos
sujeitos-objetos melhor do que eles mesmos. São modos de pesquisar distintos
que apontam formas de pensar a realidade da educação brasileira, cruzando
passado e presente.
Os estudos analisados contestam a noção de modelos canônicos de
pesquisa que são impalatáveis para pesquisadoras e pesquisadores que percebem a
forma desrespeitosa como são descritos sujeitos e saberes negros, silenciando a
agência desses sujeitos e tratando seus conhecimentos de maneira assimétrica
perante as concepções teóricas hegemônicas. Diferentemente de abordagens
coloniais supostamente redentoras, que afirmam dar voz às pessoas negras, como
concessão, que emprestam temporariamente seus espaços de poder, alimentando
noções de dependência e subserviência da população negra diante de
pesquisadores brancos, nas pesquisas analisadas os autores narram, em primeira
pessoa, experiências das quais participam.
Em resumo, os estudos analisados produzem rupturas em relação às
metodologias replicadas há anos, fundadas em experiências centradas no eu (branco, cristão, cis,
heteronormativo...), que expressam inúmeras relações de poder e que foram
repercutidas, sobretudo, por pesquisadores que se utilizam de teorias e
conceitos elaborados em países ocidentalizados ou a partir de teóricos europeus
e estadunidenses. Interessa, neste momento, destacar que determinados
pressupostos teóricos e metodológicos ocidentalizados não dialogam com a forma
de condução das pesquisas realizadas por estudantes negros da primeira turma de
cotistas do PPGEDU da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que
desenvolveram os seus estudos com
comunidades negras, ou ainda junto a
pessoas negras e mais, participando desde o seu nascimento das práticas
socioculturais que estudaram, em diferenciação às pesquisas realizadas sobre pessoas negras que são tratadas
como objetos.
O referencial teórico-metodológico das pesquisas buscou considerar
vivências e pensamentos de pessoas negras brasileiras, da diáspora ou
africanas, realizando esforços para a consolidação de outras formas de fazer
pesquisa em Educação[7].
Os estudos analisados enfocam as possibilidades da pesquisa como forma de
colaboração e compartilhamento com os participantes, através do desenvolvimento
da ‘pesquisa ação-colaborativa’, da ‘pesquisa-ativista’ e das ‘forjas
pedagógicas’ que problematizam os instrumentos metodológicos ao compor
dissertações realizadas pelos primeiros estudantes cotistas negros do Programa
de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e
que são apresentadas na obra Reafirmando direitos: cotas, trajetórias e
epistemologias negras e quilombolas na pós-graduação (Dorneles et al.,
2020).
A Mestra em Educação Dandara Rodrigues Dorneles, bióloga e
especialista em História e Cultura Afro-Brasileira, defendeu em 2019 a
dissertação intitulada Saberes, Fazeres e Educação na Terreira: os
Barquinhos de Iemanjá e os discursos ecológicos. Nesse estudo, realizou uma
pesquisa etnográfica inspirada na Escrevivência de Conceição Evaristo, a partir
da qual experienciou o “campo” (con)fundindo escrita/pesquisa e vivência junto a
uma terreira no Rio Grande do Sul. Logo, buscando extrair estratégias
teórico-metodológicas, apresentou a realização de uma etnografia enquanto
escrevivência configurando uma experiência que se afasta daquelas reportadas em
bibliografias mais “tradicionais”, nas quais seria importante o distanciamento
relacional e cultural da etnógrafa com o contexto a ser estudado (Dorneles,
2019).
Em consonância, em 2019, o Mestre em Educação Thiago Pirajira,
bacharel em teatro e ator, defendeu a dissertação intitulada Forjas
Pedagógicas: rupturas e reinvenções nas corporeidades negras em um bloco de
carnaval (Porto Alegre, Brasil). Como instrumento metodológico, Pirajira
(2019) incorporou as Escrevivências junto à noção de Forjas pedagógicas como
aporte na análise das entrevistas realizadas com atores negros durante a sua
pesquisa. Para o autor, as Escrevivências de Conceição Evaristo significaram “a
possibilidade de narrar conjuntamente com o outro [...], propôs uma
desobediência à forma hegemônica de pensar/compor a própria metodologia de
pesquisa”. E ainda significou a possibilidade de compreender, na prática, que
“descolonizar a metodologia desloca os lugares de fala, escuta e escrita”
(Pirajira, 2020, p. 183).
Posteriormente, em 2020, foi a vez da Mestra em Educação Rita de
Cássia dos Santos Camisolão, que é graduada em Letras, especialista em Projetos
Sociais e Culturais e militante do Movimento Negro no Rio Grande do Sul (RS).
Ao defender a dissertação intitulada Cartografia do acolhimento:
escrevivências do estudante negro na UFRGS, a pesquisadora mapeou ações de
acolhimento voltadas aos estudantes negros na universidade, buscando
compreender e analisar o quanto tais iniciativas implicavam nas Escrevivências
negras no espaço acadêmico. Além disso, ao utilizar a cartografia como método
de pesquisa, Camisolão (2020) estabeleceu pontos de conexão entre esse método e
as Escrevivências durante seu processo investigativo. Segundo a autora, as
Escrevivências do negro na UFRGS constituem um dos principais resultados das
ações de acolhimento, na perspectiva da representatividade e do empoderamento
dos estudantes na Universidade (Camisolão, 2020).
Essas três pesquisas, desenvolvidas em simultaneidade no mesmo
Programa de Pós-Graduação em Educação, evidenciam uma convergência de
pensamentos, leituras e necessidades acadêmicas identificadas, as quais
encontram na literatura de Conceição Evaristo uma possibilidade para forjar
caminhos investigativos em consonância com um projeto de sociedade que
respeite, preze e valorize as inúmeras vivências negras. Reverbera na análise
desses estudos o pertencimento étnico-racial como elemento que entrecruza a
Escrevivência e a produção científica, questionando o saber acadêmico em sua
forma, ou seja, propondo viver a pesquisa e a intelectualidade de uma maneira
mais orgânica. Do mesmo modo, as pesquisas evidenciam uma proposta coletiva
construída entre colegas de mestrado, que fizeram parte do grupo dos primeiros
cotistas negros do Programa, no qual o diálogo e a movimentação para a abertura
do debate vêm consolidando novos pressupostos teóricos e metodológicos que
consideram a experiência e o Pensamento Negro.
Estudos como os analisados vêm contribuindo para
a produção de novas abordagens pedagógicas em espaços de formação inicial e
continuada de professores e em práticas curriculares na Educação Básica. Os
conhecimentos produzidos, disseminados em publicações e ações de extensão,
começam a penetrar escolas e currículos, possibilitando que estudantes negras e
negros se reconheçam em práticas culturais que passam a ser valorizadas nessas
instituições.
Além de estudos no âmbito da Educação da UFRGS,
que incorporaram a Escrevivência no rearranjo dos métodos e das metodologias
empregadas nas pesquisas (Camisolão, 2020; Dorneles, 2019; Pirajira, 2019), há,
notoriamente, um crescente número de artigos, dissertações e teses que
mobilizam a Escrevivência em outras áreas. Soares e Machado (2017), por
exemplo, dialogam com esse experimento textual de Conceição Evaristo no
contexto da produção de conhecimento na Psicologia Social no RS. Tais autoras,
investindo em uma estratégia que desse conta das experiências e vivências de
mulheres negras, defendem a Escrevivência como um método de investigação,
mencionando que ela desponta “[...] como uma metodologia e uma ética de
pesquisa que aposta na escrita como forma de resistência” (Soares; Machado,
2017, p. 217).
Ademais, nas palavras das autoras, o diálogo entre o fazer acadêmico
na Psicologia Social e as Escrevivências “emergiu como uma escolha
analítico-metodológica para apresentar as histórias de vida de mulheres que se
articulam entre si, bem como à trajetória de mulher negra da primeira autora”
(Soares; Machado, 2017, p. 216). Logo, observamos também esse aspecto da
Escrevivência, qual seja, o de valorização da vida de mulheres negras como
protagonistas de suas próprias histórias.
Em direção semelhante, Felisberto (2020) também menciona a
Escrevivência como aporte metodológico que marca a trajetória e a escrita de
mulheres negras, porém a partir da Geografia, das Letras e da Pedagogia em um
texto ensaístico. Para a autora, ao trazermos a discussão da escrita de
mulheres negras a partir da Escrevivência para outras áreas, além dos estudos
literários, estamos “decodificando elementos de sua práxis textual, como um
elemento de empoderamento frente ao texto convencional” (Felisberto, 2020, p.
172). E mais, conforme a autora pontua, “estamos vivendo um momento em que a
ebulição de experimentos escritos já não pode mais ser amputada para caber
dentro da roupa justa que um texto acadêmico pode se tornar” (Felisberto, 2020,
p. 179). Assim, olhando para um conjunto de pesquisas conduzidas por estudantes
negras na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Felisberto (2020)
defende a Escrevivência como um operador teórico emergente.
Com base no que foi apresentado até aqui, a Escrevivência tem ganhado
novos contornos, sobretudo nas discussões acerca do fazer acadêmico, ou seja,
nas formas como pesquisadores e estudantes negros estão pensando, organizando e
fazendo as suas pesquisas nas mais diferentes áreas. O conjunto de pesquisas
analisadas configuram um cenário de reivindicação pelo reconhecimento da
produção e do pensamento de pessoas negras por meio da construção de outros
caminhos investigativos. Está em jogo, desse modo, a defesa da Escrevivência
como parte de um processo de virada epistêmica na produção do conhecimento, a
qual reposiciona e problematiza tanto a teoria quanto o método. Portanto,
levando em consideração os objetivos e as reflexões de tais pesquisas
apresentadas e as suas respectivas incorporações da Escrevivência, considera-se
que este experimento textual de Conceição Evaristo tem a potencialidade de
ensejar modos negros de viver a pesquisa, capazes de dialogar com as propostas
emergentes na Educação e, do mesmo modo, capazes de oportunizar outras
compreensões sobre o Brasil.
4 Conclusão
A partir das análises realizadas da obra evaristiana e de produções
acadêmicas que empregam a Escrevivência à pesquisa em Educação, entendemos a
sua incorporação como forma de legitimar o saber construído a partir do
pertencimento étnico-racial, vinculado à ancestralidade negra da diáspora
africana no Brasil, marcada pela religiosidade afro-brasileira que configura
modos de viver, ser e estar no mundo. A Escrevivência como escrita traz
interrogações, exprime dores, provoca desconfortos, questiona epistemologias
ocidentalizadas, ao passo que constitui uma grafia com outras letras e marcas.
Incorporar e realizar Escrevivência é fazer histórias por mãos pretas, fundir e confundir vivências negras, ensejar maneiras
de viver junto e construir mundo-vida. É, portanto, forjar através do pensamento
de mulheres negras potentes modos de abordar e compreender o Brasil e suas
histórias plurais, destacadamente no campo que entrecruza História e Educação.
Consideramos a possibilidade de compreender a Escrevivência como uma
palavra germinante nascida na narrativa literária e capaz de evocar o desejo da
sua incorporação na pesquisa e escrita acadêmica. A Escrevivência germina
práticas de pesquisa e formas de escrita em que a autoria é resultado da
experiência compartilhada e de conhecimentos herdados de comunidades negras.
Assim, mais do que um conceito, uma categoria ou uma metodologia, a
Escrevivência, nas pesquisas em Educação analisadas, é uma palavra germinante,
pois é viva e possui trajetória, possibilitando reedições e confluências.
Neste artigo, a Escrevivência germinou como uma maneira de viver a
pesquisa e a intelectualidade, a partir de um pertencimento negro. Tal maneira
de viver a pesquisa entrecruza fazer o desenho teórico e metodológico, pensar,
produzir dados, conviver, escrever, oferecer e oferecer-se à comunidade. Nessa
direção, a Escrevivência possui uma originalidade que anuncia a própria
consecução de como conduzir pesquisas de modo distinto dos métodos
convencionados pela ciência de hegemonia branca, por vezes rompendo com a
relação de estranhamento ou distanciamento das fontes, criando outros
parâmetros para pensar arquivos e testemunhos. A incorporação da Escrevivência
na prática acadêmica busca superar dificuldades decorrentes da limitação de
técnicas e de estratégias de pesquisa canônicas, às quais não fazem jus nem
sentido às vivências e éticas de pessoas negras pesquisadoras.
Além de analisar resultados de práticas de pesquisa que oportunizam
reflexões teóricas e metodológicas, consideramos que ensejar discussões junto à
Escrevivência e à Conceição Evaristo é também divulgar e valorizar a sua
produção intelectual como mulher negra, ao passo que apresentar parte de um
compromisso político-social e educativo em reconhecer e reverberar o Pensamento
de Mulheres Negras. Assim, os resultados deste estudo são teóricos e
metodológicos e, do mesmo modo, políticos e éticos, pois possibilitam dialogar
com autoras negras que discutem as questões raciais e as distintas formas de
vivências como eixo central de suas produções, seja no campo da Educação ou da
Literatura.
Por fim, cabe mencionar que a Escrevivência, do mesmo modo, responde a
uma demanda surgida com as políticas de ações afirmativas que vêm modificando o
perfil de estudantes e de pesquisadores nas universidades, uma demanda por
perspectivas teórico-metodológicas apropriadas à realização de estudos de
pessoas negras junto às suas comunidades educadoras (periféricas, tradicionais,
artísticas, intelectuais). Perspectivas que proporcionam elaborações que versam
sobre modos de educar, de realizar práticas pedagógicas, ensinar e aprender em
diferentes espaços educativos. Assim, escreviver
evoca demarcar a diferença pela narrativa, cuja palavra escrita não resume tudo
e alcançar o todo é um dilema, um desafio, um convite, uma incerteza. A
encruzilhada aponta muitos caminhos.
Logo, seja como uma maneira de viver a pesquisa e a intelectualidade,
seja como palavra germinante, a Escrevivência se presentifica em distintos
cursos acadêmicos e áreas do conhecimento. Ela vem possibilitando a legitimação
do pensamento, da autonomia e da existência de autoras/es negras/os, bem como
de pesquisadoras/es, sem deixar de reconhecer as múltiplas vivências negras e a
condição da mulher negra na sociedade brasileira. A Escrevivência marca um
lugar de ruptura com a escrita hegemônica que se quer universalista e imparcial,
ensejando uma escrita que potencializa e valoriza a oralidade das comunidades.
É uma escrita de nós, por nós, que traz experiências, singularidades,
multiplicidades e, sobretudo, faz coletividade.
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[1] Utiliza-se a palavra Escrevivência com
letra maiúscula para destacar que o termo cunhado por Conceição Evaristo é
elemento fundamental da escrita do artigo.
[2] Tal movimento dialógico resultou na
atividade acadêmica “Seminário Pesquisa em Educação e Escrevivência”, com a
temática teoricamente reflexionada neste texto, igualmente compartilhado pelos
distintos pertencimentos e experiências raciais aqui identificadas.
[3] Para maiores
informações ver:
EVARISTO, Conceição. Canção para ninar menino grande. Rio de Janeiro: Pallas Editora,
2022.
EVARISTO, Conceição. Becos da memória. 1. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2017a.
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parecenças. 3. ed. Rio de Janeiro: Malê, 2017b.
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Rio de Janeiro: Pallas, 2017d.
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EVARISTO,
Conceição. Olhos d’água. 1. ed. Rio
de Janeiro: Pallas: Fundação Biblioteca Nacional, 2016b.
[4] Para maiores
informações ver:
EVARISTO, Conceição. Canção para ninar menino grande. Rio de Janeiro: Pallas Editora,
2022.
EVARISTO, Conceição. Becos da memória. 1. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2017a.
EVARISTO,
Conceição. Histórias de leves enganos e
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EVARISTO,
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EVARISTO,
Conceição. Ponciá Vicêncio. 1. ed.
Rio de Janeiro: Pallas, 2017d.
EVARISTO,
Conceição. Insubmissas lágrimas de mulheres. Rio de Janeiro: Malê, 2016a.
EVARISTO, Conceição. Olhos
d’água. 1. ed. Rio de Janeiro: Pallas: Fundação Biblioteca Nacional, 2016b.
[5] Para maiores
informações ver:
EVARISTO, Conceição. Canção para ninar menino grande. Rio de Janeiro: Pallas Editora,
2022.
EVARISTO, Conceição. Becos da memória. 1. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2017a.
EVARISTO,
Conceição. Histórias de leves enganos e
parecenças. 3. ed. Rio de Janeiro: Malê, 2017b.
EVARISTO,
Conceição. Poemas da recordação e outros
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EVARISTO,
Conceição. Ponciá Vicêncio. 1. ed.
Rio de Janeiro: Pallas, 2017d.
EVARISTO,
Conceição. Insubmissas lágrimas de mulheres. Rio de Janeiro: Malê, 2016a.
EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. 1. ed. Rio de Janeiro: Pallas: Fundação Biblioteca Nacional, 2016b.
[6] Para maiores
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WILDERSON III, Frank B. Afropessimismo. São Paulo: Todavia, 1. ed. 2021.
[7] A consolidação de um estudo em que a
Escrevivência é considerada o próprio modo de viver a pesquisa e a
intelectualidade está sendo elaborada pela primeira autora, em sua tese em
Educação a ser defendida em 2024 no Programa de Pós-Graduação em Educação da
UFRGS.