Dossiê
Biografia
e Educação Musical: um estudo sobre as rotas formativas de quatro religiosos
brasileiros
BIOGRAPHY
AND MUSIC EDUCATION: A study on
the formative paths of four brazilian
religious
Jusamara Souza 1 jusa.ez@terra.com.br
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil
Michelle Arype Girardi Lorenzetti 2
michelleglorenzetti@gmail.com
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Instituto
Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), Brasil
Revista Orfeu
Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil
ISSN: 2525-5304
Periodicidade: Semestral
vol. 7, núm.
1, 2022
revistaorfeu@gmail.com
URL: https://periodicos.udesc.br/index.php/orfeu/article/view/21771
Autores mantém os
direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação.
Este trabalho está sob uma Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
Resumo: O
presente artigo analisa as rotas formativas musicais de quatro religiosos e
suas atuações como formadores no âmbito da Igreja Católica no Brasil, na
perspectiva da sociologia da educação musical. Os relatos foram colhidos por meio
de entrevistas, seguindo um roteiro semiestruturado de questões que
contemplaram diferentes aspectos e temas relacionados à formação e atuação com
música no ambiente religioso. O referencial teórico adotado apoiou-se no
conceito de “rotas” formativas, de José Machado Pais (2003), como os percursos
de formação dos religiosos e seus caminhos na formação de outras pessoas. A
concepção teórica de biografia e o conceito de rotas formativas possibilitaram
vincular práticas e experiências individuais, no nível micro, àquelas presentes no contexto da Igreja Católica, no nível
macro. Compreende-se que a formação musical dos religiosos entrevistados é
impregnada pelos seus percursos biográficos revelados nas escolhas
pedagógico-musicais, formas de apropriação do conhecimento musical e funções
educativas e socializadoras da religião no contexto da educação musical.
Palavras-chave: Biografia, Formação
Musical, Rotas Formativas, Religião, Sociologia da Educação Musical.
Abstract: This article
analyzes the musical formative
paths of four religious and their
performances as trainers within
the ambit of the Catholic Church in Brazil, from the perspective of the sociology
of music education. The reports were collected
through interviews following
a semi-structured script of questions
that contemplated different aspects and themes related to the formation and performance with music in the religious environment. The Theoretical Frame of Reference elected was based
on the concept of formative “paths” by José Machado
Pais (2003) as the paths of formation of religious and their paths in the formation of other people. The theoretical conception of biography and the concept of formative path made it possible to connect individual practices and experiences, at the micro level, with those present
in the context of the Catholic
Church, at the macro level. It is understood
that the musical formation
of the religious interviewed
is impregnated by their biographical
paths revealed in the pedagogical-musical
choices, forms of appropriation of musical knowledge
and educational and socializing
functions of religion in
the context of music education.
Keywords: Biography, Musical Formation, Formative Paths, Religion, Sociology of Music Education.
Introdução
Nos últimos anos, as fontes biográficas vêm, cada vez mais,
sendo utilizadas, especialmente no campo das ciências sociais e nas pesquisas
educacionais. O conceito de biografia aparece em diferentes contextos temáticos
e visões teóricas, mostrando sua recuperação em um lugar de prestígio na
produção acadêmica devido à retomada das reflexões sobre as ações individuais a
respeito da realidade social em que os sujeitos vivem. Desde então,
intensificaram-se as discussões sobre as questões conceituais e metodológicas
relativas ao uso de biografias na produção do conhecimento científico (AVELAR, 2010; DEMARTINI, 2010).
No campo da educação musical, o trabalho com biografias é
relativamente recente no Brasil. Sua utilização como método de trabalho
científico foi se instalando gradualmente, com pesquisas no âmbito do mestrado
e doutorado3, com a criação de grupos de pesquisa4, e se difundindo com maior rapidez com a participação de
professores e pesquisadores no Congresso Internacional de Pesquisa
(Auto)biográfica (CIPA) (desde 2004) e com a proposição do Grupo de Trabalho
Especial (GTE) “Educação Musical e Pesquisa (Auto)biográfica” no XXV Congresso
da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), em 2021, com apresentações
de trabalho em números crescentes. Desde então, o tema “biografias e educação
musical” tem se imposto com cada vez mais força.
Neste texto, discutimos o que vimos refletindo há um certo tempo
no campo da sociologia da educação musical sobre questões pedagógico-musicais
em espaços/tempos da cotidianidade e sobre a utilização de fontes diferenciadas
como histórias de vida e memórias em investigações que contribuem para a
construção do campo pedagógico-musical (SOUZA, 2000, 2014).
Uma das pesquisas realizadas nessa perspectiva é a tese de doutoramento
defendida por Michelle Arype Girardi
Lorenzetti, em março de 2019. Intitulada Formar-se e ser
formador: rotas formativas musicais de religiosos no contexto católico
brasileiro na perspectiva da sociologia da educação musical e da vida cotidiana,
a tese foi defendida na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), sob orientação da Profa. Dra. Jusamara Souza
(UFRGS) e com a co-orientação do Prof. Dr. Andreas LehmannWermser (HMTM).
A partir da referida pesquisa (LORENZETTI, 2019), o artigo aborda as
rotas formativas musicais de quatro religiosos e suas atuações como formadores
no âmbito da Igreja Católica no Brasil, procurando analisar a relação entre as
histórias individuais de um grupo representativo de agentes e o espaço de
formação que passaram a ocupar após o Concílio Vaticano II (1962-1965). O
conceito de “rotas” formativas foi adotado na perspectiva do cotidiano (MACHADO
PAIS, 2003) como os percursos de formação dos religiosos e seus caminhos na
formação de outras pessoas. São lembranças de como esses quatro religiosos
aprenderam e como passaram a ensinar música para outras pessoas em um contexto
institucional religioso, onde a religião se manifesta em suas escolhas e falas.
Tendo como foco central o formar-se e o processo de formar
outras pessoas, relacionando biografia e formação musical, foram escolhidos
quatro colaboradores para participarem da pesquisa: Padre José Henrique Weber,
Irmã Míria Therezinha Kolling,
Padre Ney Brasil Pereira e Irmã Custódia Maria Cardoso5.
Estes foram escolhidos por terem um importante papel na formação musical na
Igreja Católica brasileira e terem suas formações voltadas para a prática
litúrgico-musical. Além disso, durante a realização da pesquisa, esses
formadores ainda estavam atuando em cursos, palestras, oficinas de música e
condução de ensaios, o que permitia captar as experiências individuais e ações
realizadas no presente.
Referir-se à música na igreja necessariamente implica considerar
a variedade tanto de igrejas quanto de gêneros musicais. Não sendo possível
contemplar todas as variáveis, faz-se necessário determinar um foco, sendo este
um dos fatores que justificam a escolha, nesta pesquisa, de uma igreja – a
Igreja Católica (a qual, em si, já revela grande diversidade) – e de um tipo de
música – a música litúrgica.
Nos últimos anos, vários pesquisadores, no campo da música, têm
dedicado seus estudos a compreender a religião como uma instância educadora (SOUZA, 2003; ZANANDREA, 2009; ALMEIDA, 2014). Com base em estudos como o
de Setton (2012),
a área vem assimilando a ideia de que, junto com a família, a escola e as
mídias, a religião vem promovendo e colaborando para uma educação musical. Setton (2012, p.
95) compreende a religião, assim como a cultura, como “fenômenos que
oferecem espaço para empreender um diálogo entre indivíduo e sociedade”, sendo
vistas como “espaços de entendimento das relações estabelecidas entre o mundo
material (estruturas objetivas) e o mundo simbólico (estruturas
mentais/subjetivas)”.
Destacando a necessidade de discussão sobre as funções sociais e
educativas das religiões, Setton (2008, p. 16) compreende as religiões como
agentes de socialização, ou seja, assim como a família e a mídia, as religiões
são compreendidas como “espaços produtores de valores morais e identitários”
sendo, “por excelência, espaços formadores de consciência”.
Nos estudos sobre o papel da religião católica na formação
musical, pode-se destacar os trabalhos de Torres
(2004), Louro et al. (2011), Lorenzetti (2015), Federizzi e Ormezzano (2017) e
Louro e Reck (2017). Especificamente sobre as
igrejas como instituições de ensino pedagógico-musicais, pode-se citar a obra Kirchen,
Musik, Pädagogik (Igrejas, Música,
Pedagogia), organizada por Macht (2005). Em um
dos capítulos desse livro, Richter (2005)
expõe que a música pode ser compreendida como instituição de ensino, no qual
todas as tarefas de um músico de igreja poderiam ser consideradas pedagógicas.
A importância de se estudar sobre o ensino e aprendizagem de música nas
religiões pode ser justificada pela compreensão de que a prática
pedagógico-musical se encontra em vários lugares, levando em conta que “os espaços
onde se aprende e ensina música são múltiplos” (SOUZA, 2007, p. 28). Considerando a
religião como algo presente na vida das pessoas, logo, suas relações com a
música interessam à área de música e, por isso, a relevância de tomá-la como
objeto de estudo (LORENZETTI, 2020).
Feitas essas considerações introdutórias, o texto apresenta, a
seguir, algumas questões teórico-metodológicas da pesquisa com métodos biográficos
para, na sequência, analisar as trajetórias dos participantes, descrevendo a
aproximação deles com a música e com a religião na família, nas instituições
religiosas e nas universidades, traçando os caminhos que possibilitaram a
formação músico-religiosa e sua atuação como agentes de formação no espaço da
Igreja Católica.
Questões
teórico-metodológicas
Como mencionado, para referirmos aos caminhos de formar-se e
formar outras pessoas, utilizamos o conceito de rotas formativas na perspectiva
da sociologia da vida cotidiana (MACHADO PAIS, 2003). Considerando as raízes
etimológicas de rotina, Machado Pais (2003,
p. 9) sugere a possibilidade de rotina ser associada “à ideia de rota
(caminho), do latim via, rupta, donde derivam expressões ‘rotura’ ou
‘ruptura’: ato ou efeito de romper ou interromper”. As rotas formativas são
feitas de continuidades, de desvios, de cruzamentos, revelando uma trama
complexa.
Para Machado Pais (2003, p.
151), o método biográfico na análise da vida cotidiana é “um método que
acaba por atribuir à subjectividade um valor de
conhecimento que constitui ponto de partida para a compreensão da realidade
social”. Para o autor, “o método biográfico assenta basicamente em elementos
materiais que são, em sua grande parte, ‘autobiográficos’, expostos, portanto,
às múltiplas deformações de um ‘sujeito-objecto’ de
observação” (MACHADO PAIS, 2003, p. 151). Entretanto, mesmo considerando que
esses materiais sejam subjetivos, ele adverte que “os testemunhos
autobiográficos constituem um facto sociologicamente objetivo” (MACHADO PAIS,
2003, p. 151).
Ao tratar sobre fontes documentais na vida cotidiana, Machado
Pais (2003) destaca questões importantes para se trabalhar com documentos
biográficos. Uma das questões colocadas pelo autor é a possibilidade heurística
dos métodos biográficos “de ver o universal através do singular” (MACHADO PAIS,
2003, p. 150-151). Trata-se de uma discussão central nas ciências sociais sobre
a singularidade versus a universalidade, ou o
sujeito em relação ao contexto histórico e social em que vive. Nessa
perspectiva “cada indivíduo singulariza em seus atos a universalidade de uma
estrutura social” e, por isso, através de uma biografia, seria possível ler uma
sociedade (GOLDENBERG, 2004, p. 36-37).
Ao defender o uso dos métodos biográficos, Machado Pais (2003,
p. 151) explica o sentido de indivíduo para a sociologia, afirmando que este “não
constitui um átomo social representativo da unidade heurística mais elementar
da sociologia”. Citando Ferraroti6, o indivíduo
é, para Machado Pais (2003, p. 151), simplesmente “uma síntese complexa de
elementos sociais”; por essa razão, “os documentos biográficos (memórias,
biografias, histórias de vida, etc.) não podem ser considerados como reflexos
passivos de uma entidade individual, isolada”. Para o autor ,“o
relato biográfico revela-se sempre como uma ‘prática humana’” (MACHADO PAIS,
2003, p. 151). À pergunta sobre como a subjetividade “inerente a uma
autobiografia pode constituir o suporte de um conhecimento científico” (MACHADO
PAIS, 2003, p. 151), o autor responde:
Ora, se cada biografia aparece como síntese de
uma história social e, paralelamente, cada comportamento ou acto
individual aparece como síntese de uma estrutura social, há sempre lugar a um
movimento de vaivém, da biografia ao sistema social, do sistema social à biografia.
Ou seja, o sistema social – na medida em que não existe fora dos indivíduos –
manifesta-se sempre na vida individual de tal forma que pode ser apreendido a
partir da especificidade das práticas individuais (MACHADO PAIS, 2003, p. 151).
Com esses argumentos, o autor propõe maneiras de indagar “o
objetivo fundado no subjectivo” e de “descobrir o
geral através do particular” (MACHADO PAIS, 2003, p. 151), procurando articular
a biografia com o seu contexto histórico e social. Trazendo para a pesquisa
realizada, ao tomar como exemplo algumas rotas formativas de religiosos com
trajetórias significativas na Igreja Católica brasileira, procuramos destacar
as condições dadas para suas formações musicais e religiosas, no intuito de ver
as condições sociais existentes, os comportamentos e valores que perpassam
essas trajetórias sem, no entanto, perder o caráter singular e típico de cada
biografia narrada.
Ao centrar a investigação nos relatos de quatro religiosos,
estes são compreendidos como sujeitos que vivem/viveram a música; porém, não se
perde o olhar sobre a maneira como o pensamento institucional religioso
manifesta-se em suas escolhas, suas falas e, principalmente, em seu modo de
aprender e ensinar música. Assim, objetiva-se conjugar o que Machado Pais (2003,
p. 18) sugere que seja articulado pelo cotidiano: “a sociedade a nível dos
indivíduos” e “como a sociedade se traduz na vida deles”.
O método biográfico requer a participação de pesquisadores que
tenham como objetivo desvendar a vida daqueles que serão entrevistados ou cujos
depoimentos serão estudados. No caso da biografia, como escreve Demartini (2010, p.
136), trata-se da “história de um indivíduo redigida por outro”, enquanto a
autobiografia, no sentido restrito, “existe sem nenhum pesquisador”, pois “é o
narrador que, sozinho, manipula os meios de registro, quer seja a escrita, quer
seja o gravador”. Assim, a intermediação e a participação dos pesquisadores
possuem diferentes nuances nos métodos biográficos e a participação do(a)
entrevistador(a) torna-se um ponto importante na utilização dos métodos
biográficos no que tange aos “mecanismos de manipulação e cooptação associados”
à realização de entrevistas (MACHADO PAIS,
2003, p. 151).
Na presente pesquisa, os relatos foram coletados por meio de
entrevistas seguindo um roteiro semiestruturado de questões que contemplaram
diferentes aspectos e temas relacionados à formação e atuação profissional com
música no ambiente religioso. Optamos por colher depoimentos orais, seguindo a
ideia de Bogdan e
Biklen (1994, p. 136), conforme a qual “num projecto de entrevista qualitativa a informação é
cumulativa, isto é, cada entrevista, determina e liga-se à seguinte. O que
conta é o que se retira do estudo completo”. As várias interlocuções não
possuem intensidade nem duração iguais, pois, mesmo quando curtas, podem trazer
elementos relevantes para a pesquisa. A opção por tal sistemática adveio da
possibilidade de “colher opiniões, modos de pensar, atitudes, retóricas que nos
permitem, enfim, descobrir sentidos de vida” (CARVALHO et al.,
2013, p. 370). Nesse sentido, “o conhecimento comum é uma preciosa matéria
prima do conhecimento científico” (CARVALHO et al.,
2013, p. 370), e esse é um dos motivos de se realizar entrevistas. Por se
tratar de pessoas que fizeram parte da história da formação musical na Igreja
Católica, no Brasil, há muitas memórias que não são contadas em livros nem
gravadas em canções. Por essa razão, ter acesso a esses relatos pode ampliar o
olhar sobre como a música é aprendida e ensinada neste contexto.
Nos depoimentos orais, os entrevistados relataram sobre suas vidas
e a relação com a formação litúrgico-musical. Falaram a respeito de suas
concepções, de como vivenciaram alguns fatos, e expuseram suas memórias, que
foram gravadas em áudio e vídeo. No total, foram realizadas sete entrevistas
individuais, durante o ano de 20167, com cerca
de 8 horas e 30 minutos de gravação. Após a transcrição, realizou-se a análise
das entrevistas, a partir de dois grandes temas: a história de formação dos
entrevistados e quem formam/o que ensinam.
Para a análise dos dados, a sociologia da vida cotidiana (MACHADO PAIS, 2003) embasou teoricamente a
pesquisa. Nesta pesquisa, compreende-se que, no cotidiano, naquilo que sempre
ocorre, está a música na igreja, a qual é entendida não pelo olhar histórico
e/ou musicológico, mas pelo olhar da educação musical. Nessa perspectiva do
cotidiano, busca-se valorizar a experiência, o vivido, como Machado Pais (2006, p. 231) pleiteia:
De facto, mais importante do que discutir
definições abstractas sobre o que a religião
representa, importa sobretudo saber como ela é vivida. Isto é, interessa-nos
mais saber, por exemplo, o que é que os crentes pensam e dizem sobre o que
fazem do que, como Durkheim ou Parsons preferiam, olhar simplesmente a religião
como um “sistema social” que exogeneamente se impõe
aos crentes.
A complexidade do cotidiano manifesta-se, nesta pesquisa, pelo
modo de olhar para a realidade, em que os fragmentos de quatro vidas são
capturados, como uma imagem momentânea, seguindo a ideia de snapshot de Simmel (MACHADO
PAIS, 2003). O “aqui e agora” da voz de quatro religiosos narra histórias
de sua própria formação e dos processos formativos ocorrentes na Igreja
Católica. As histórias por eles contadas não são percebidas como algo fixo no
passado, mas como algo possível de ser visto pela perspectiva do “aqui e agora”
da entrevista, tramando o que Machado Pais
(2016) define como tessituras do tempo. O cotidiano não é identificado
somente como o aqui e agora, mas como aquilo que é captado no imediato, que é
capaz de suscitar novos questionamentos, como um fragmento da realidade, que
possui uma perspectiva histórica.
As narrativas orais transformadas em escrita trazem as
experiências relatadas, utilizando-se das próprias palavras e expressões dos
entrevistados, colocando-as entre aspas. As notas de rodapé colaboram para
explicar termos específicos e nomes citados, o que ajuda a compor a
complexidade das rotas formativas e das maneiras de ser e estar na igreja. Para
facilitar a compreensão, ao nos referirmos à instituição Igreja Católica,
adotamos a letra inicial maiúscula. Quando a referência é feita genericamente à
comunidade de culto ou a outras igrejas cristãs, adotamos a inicial minúscula.
Ao mencionar os religiosos, assumimos como parte de seus nomes próprios os
termos “padre” e “irmã”, grafando-os com inicial maiúscula. Para melhor
clareza, os quatro entrevistados são tratados com o termo “religioso(a)”,
devido ao seu vínculo com a instituição Igreja Católica.
Sobre a aproximação com a
música e com a religião na família
Padre José Henrique Weber, conhecido como José Weber, nasceu em
1932 na colônia alemã Anitápolis, Rio do Meio, Santa Catarina. Filho de Samuel
Henrique Weber e de Benta Mattos dos Santos, diz ter suas raízes na mistura da
origem alemã de seu pai com a origem portuguesa açoriana mesclada com
índio-brasileiro de sua mãe. Seu pai, Samuel, denominado sacristão pelos
serviços prestados à Igreja, era um homem “muito religioso
e muito serviçal com a comunidade”. Era “cantor de
igreja” e “puxava os cantos”. Em uma
realidade na qual as missas ocorriam somente uma vez por mês, Samuel, aos
domingos, era o primeiro a chegar “na reza”. Padre
José Weber aprendeu a cantar com seu pai. Após a janta, a família reunia-se
para cantar “os cantos de igreja daquele tempo”. O pai ensinava para “toda a família os cantos lá da igreja”. Como recorda
José Weber, “o pai cantava e a gente aprendia com ele”.
A descrição da vivência músico-religiosa que a família Weber teve nos dá uma
mostra de como era bastante significativa a presença da música religiosa no
âmbito familiar.
Em busca de um futuro melhor para os filhos, Samuel mudou-se com
a família para Laranjeiras do Sul, entre Guarapuava e Foz do Iguaçu, no Paraná.
A região era chamada na época de Território de Iguaçu. Samuel Henrique Weber,
agricultor, trabalhava “na enxada, na foice”, e, em
Anitápolis, “o terreno era muito acidentado”. Além
disso, segundo o relato do Padre José Weber, o Paraná, naquele tempo, “parecia a terra prometida”. Sua família ali chegou de
caminhão. Samuel trabalhou para o governo no Fomento Agrícola e “ganhava o seu salário para sustentar a família”.
O pai sonhara, desde pequeno, ser padre e, “como
ele não pôde ser, ele fez tudo para que um filho dele se tornasse sacerdote”.
Por volta de seus 10 ou 11 anos, o pai perguntou-lhe se ele não queria “entrar no seminário para começar os estudos para ser padre”.
Ao ser indagado sobre sua entrada no seminário e sobre a questão vocacional,
Padre Weber explica a importância das “circunstâncias da
vida” e dos “exemplos”:
Não é que venha Jesus de
noite no teu ouvido dizer: “Oh, Zé, você não quer ser padre?” Não é bem assim.
Às vezes é a própria situação, as circunstâncias da vida. A gente percebe o
exemplo de certos sacerdotes que vale a pena, então a gente [pensa]: “Eu
gostaria de ser igual a esse cara”. Então, quem sabe aí começa uma coisa nova,
o início de uma vocação, às vezes. É muito diverso. Cada um é diferente nesse
ponto.
No caso da Irmã Míria Therezinha Kolling, religiosa do Imaculado Coração de Maria8, a “vocação” para seguir a vida religiosa apareceu bem
cedo. “Apaixonada pela vida e pela música”,
aos sete anos dizia que “queria ser Irmã”. Nascida
no interior de Dois Irmãos, Rio Grande do Sul, em 28 de maio de 19399, quando criança, morou, por dois anos, na cidade de
Novo Hamburgo/RS, frequentando o Colégio São Luís, das Irmãs de Santa Catarina,
onde diz ter despertado sua “vocação à vida religiosa”.
Após um tempo morando em Novo Hamburgo, seu pai decidiu morar em outra cidade
do interior. Os estudos da Irmã Míria prosseguiram no
Colégio Imaculada Conceição, em Dois Irmãos/RS, onde conheceu as Irmãs do
Coração de Maria, sua futura congregação. Tanto no colégio quanto em sua
família e na igreja, a música era cultivada10.
Ela é a 9a de 13 filhos, que vivenciavam a música “em casa e na igreja”. Cantavam “a
quatro vozes” e tinham um “coral da família”.
Atribuía essa prática de coro na família à sua origem alemã, já que “os alemães são muito dados ao canto coral”. Vários de
seus irmãos “tocavam algum instrumento: acordeão, violão,
pandeiro...”. Irmã Míria conta que seu irmão
mais velho percebeu sua “queda para a música”
e, quase sempre, quando era transmitida uma música erudita, ele a
colocava para “dentro do rádio”, para ouvir melhor.
Assim, desde pequena, foi “afinando os ouvidos do coração”
com e para a música, tendo contato com diversos repertórios, que ela
nomeia como: religioso, clássico e popular.
Padre Ney Brasil Pereira apresenta-se como “padre
há 60 anos”. Lida “com música,
cantando, desde pequeno”, quando era “menino
soprano, pelos sete, oito anos de idade”. Ao fazer as contas, descobre
que há “praticamente 80 anos” está envolvido com
música, “porque desde muito cedo” começou “a cantar”. Natural de São Francisco do Sul, Santa
Catarina, “uma pequena cidade histórica”, situada “numa
ilha”, Padre Ney Brasil nasceu em 4 de dezembro de 193011 e conta que, “com oito anos e
meio”, mudou-se para a capital do estado, Florianópolis. Foi ali que ele
teve contato “com o pároco da Catedral [...], que era meio
músico”, o qual lhe deu a oportunidade de “cantar em público”, fazendo
solo. De Florianópolis, partiu “para o seminário de
Azambuja, em Brusque”. Embora “não tivesse
incentivo da família para a vocação sacerdotal”, desde que se conheceu “por gente queria ser padre”. Padre Ney “gostava muito de ir à igreja” e sua “família não se opôs”.
Também nascida em Santa Catarina, “no
município de Biguaçu”, a Irmã Custódia Maria Cardoso é religiosa de uma
congregação brasileira: Irmãzinhas da Imaculada Conceição12,
fundada por Santa Paulina. Descreve seu pai como “um homem
muito entusiasmado pela Bíblia, pela fé”. Segundo Irmã Custódia, ele “não falava da fé de uma maneira piegas”, “falava biblicamente
da alegria”. Sua mãe era professora e “era uma
mulher calma”. Diz pertencer a “uma família feliz,
uma família democrática”, com “seis irmãs e dois
irmãos”.
Irmã Custódia viveu “numa capela” chamada
São Sebastião, em Limeira, São Paulo, onde seu “pai
dirigia o culto”. Lá cantava “em um pequeno coral” com
seu pai e sua família. Lembra de ter “aqueles livros
antigos, chamados ‘Cecília’”, que continham os cantos daquela época. Seu
pai “lia” e ela cantava. Ele “fazia
a função do diácono”, sendo chamado de “capelão” da
capela São Sebastião. Irmã Custódia relata que “ele
cantava” nas “novenas”, na “Festa do Divino”. Recorda que havia “grandes festas” e, nelas, sua “mãe
também cantava sempre”. Além da experiência na Igreja e na família, Irmã
Custódia lembra que “na escola tinha [canto] toda semana”.
Nessa mesma escola, frequentada por ela e seus irmãos, sua mãe lecionava. Eles
cantavam “toda semana” e, aos sábados, faziam
festa.
Os aprendizados construídos nas famílias dos entrevistados
mostram uma prática musical fundamentada em práticas religiosas que já
circulavam nos meios católicos de origem e que, mais tarde, foi mesclada aos
ensinamentos das instituições religiosas disponíveis que tiveram acesso pelo
esforço e/ou pelo apoio dos pais.
Segundo Machado Pais (2003, p. 33), o conhecimento social
“carrila atra-vés de conceitos”. É possível destacar
um vocabulário específico que se refere ao campo religioso musical. São
palavras relacionadas ao conhecimento teoló-gico e
litúrgico, tais como: “mistério”, “ministério”, “missão”, “dom”, “mistagogia”,
“servir”, “cultivar”. Machado Pais (2003, p. 79) explica que “todo o ritual
implica necessariamente uma linguagem que convém ser aprendida”, o que
consistiria não só nas palavras usadas, mas também “na atribuição de
significações parti-culares a comportamentos habituais”.
Os comportamentos descritos nos depoi-mentos, como a
prática de caridade e a participação na vida religiosa, revelam a visão de
mundo e os modelos de educação musical e religiosa vividos na socie-dade da época.
Da formação
músico-religiosa a agentes de formação no espaço da Igreja Católica brasileira
Formação musical no
seminário e em casas de formação
Os quatro religiosos entrevistados têm a sua vida vinculada à
Igreja Católica e professaram votos religiosos. Padre José Weber, Irmã Míria Kolling e Irmã Custódia
pertencem a congregações e, por isso, são denominados religiosos. Padre Ney
Brasil estabeleceu seu vínculo específico com a Igreja em uma diocese13. Ser “padre diocesano” é ter vínculo com a Igreja não
através de um carisma próprio e da vida comunitária, mas em um local
específico, uma diocese. Como diocesano, ele não possui dever de obediência a
um superior religioso, mas reporta-se diretamente ao bispo local. O padre
diocesano vincula-se a um local específico, a diocese, enquanto o religioso
pode ser transferido para qualquer lugar onde haja casa de sua congregação. A
seguir, é descrito como cada um estabeleceu seus vínculos de formação religiosa
e como foram adquirindo sua formação musical nesse contexto.
Padre José Weber relata que seus pais eram “muito religiosos” e o “encaminharam
desde pequeno”. Foi com um sim, “com uma coisinha
assim, quase insignificante”, que começou seu processo de formação no
seminário. Padre Weber conheceu a Congregação Verbo Divino14
“por um acaso da providência”, pois ela estava
presente em Laranjeiras do Sul, local onde fora morar. Após um ano, em 1946,
entrou, junto com seu irmão mais novo, no Seminário Menor15
da Congregação Verbo Divino, localizado em Ponta Grossa, Paraná.
Em 1949, Padre Weber concluiu o curso ginasial como seminarista.
Ao recordar esse tempo em Ponta Grossa, Padre Weber diz que “sentia atração pela música”.
Lá, havia o padre Bruno Welter, que, nas palavras de
Padre Weber, era “mais ou menos músico”
e o “ensinou as primeiras lições de como tocar harmônio”. Após um ano de
dedicação, “já estava tocando, acompanhando os cantos na
igreja”, sendo isso feito com a leitura de partitura.
Em 1950, distanciando-se mais de sua família, mudou-se para
Santo Amaro, São Paulo, onde vivenciou seu primeiro ano oficial na congregação:
o noviciado16 no Seminário Maior17. A rotina musical no seminário era especialmente
vinculada às ações litúrgicas. Aos sábados e domingos, havia música devido à
oração da liturgia das horas e à missa. Nas segundas-feiras, tinha o coro, o
qual, segundo Padre Weber, era um coro de vozes iguais que, nas grandes festas
e solenidades, cantava a missa a quatro vozes. Sua formação, em Santo Amaro,
durou dez anos: dois de noviciado; dois de juniorato18;
dois de estudos de Filosofia; quatro cursando Teologia. Em 1959, foi ordenado
sacerdote19.
Já a Irmã Míria Therezinha Kolling, desde menina, revelou “o
desejo” de se “tornar freira”. Sua família “era muito religiosa”; havia vários parentes, por parte de
mãe, envolvidos com a Igreja: “dois tios padres e uma tia
religiosa, uma prima carmelita, e outros parentes consagrados ao serviço de
Deus”. O contato com esses parentes ajudou muito em sua decisão de ser
consagrada.
Com 11 anos, em Dois Irmãos, tornou-se aspirante à consagração.
Seguiu sua formação na escola regular, em Gravataí, Rio Grande do Sul. Na
época, fazia-se uma espécie de vestibular, e ela chegou a iniciar o curso de
magistério, depois interrompido. Segundo Irmã Míria, “a música fazia parte do currículo”,
e ela se lembra de sempre tirar nota dez no “solfejo à
primeira vista, cantando no coro, tocando piano e sanfona”.
Tendo vivenciado seu noviciado em Porto Alegre, tornou-se, nesse
local, irmã professa, em 1960. Logo após sua profissão religiosa, Irmã Míria foi “transferida pela
congregação para São Paulo”. Ela explica que “surgiram
outras prioridades, e a música ficou em segundo
plano”, embora sempre buscasse manter contato com a música. O voto de
obediência lhe exigiu fazer o magistério. Ela estudou no Instituto de Educação
Padre Anchieta, onde ganhou Cadeira-Prêmio, efetivando-se como professora I20 no Estado de São Paulo, sem concurso. Foi, então,
transferida para Santos/SP, onde morou por vários anos. Licenciou-se em
Pedagogia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Santos.
Padre Ney Brasil entrou no Seminário de Azambuja, em Brusque/SC,
“com 11 anos”. Ali, ele teve “a
oportunidade de encontrar uma escola de música”.
De acordo com sua descrição, “naquele tempo, os seminários
menores eram escolas de música”, onde “se praticava a música coral,
gregoriana, o canto religioso comum e instrumentos”. No seminário, ele
tornou-se “solista do coro”.
Com relação à aprendizagem de um instrumento musical, Padre Ney
menciona que, “naquela época, o instrumento comum era o
harmônio”. Com 12 anos, ele teve “a oportunidade de
começar a aprender o harmônio”. Recorda-se que, cedo, “pelos 16 anos”, começou “a compor, a
fazer arranjos”. Considera que, “no começo, era
bastante autodidatismo”, ou seja, “aquilo que os
padres músicos iam passando”, ia sendo
absorvido. Teoria musical se estudava “relativamente pouco”.
Padre Ney Brasil, após estudar Teologia em Roma, foi ordenado presbítero em 25
de fevereiro de 1956. Sua ordenação ocorreu na Basílica de São Paulo
Extramuros, situada nessa mesma cidade.
Ao descrever o seu caminho para ser freira, Irmã Custódia
acredita que “tudo contribuiu” e que herdou de seus
pais a “vontade de servir às pessoas”. Com “10, 12 anos”, falava para sua mãe que “queria ser irmã, que queria servir às pessoas”, porém, “não tinha noção de vida religiosa” e “não conhecia as irmãs”. O desejo de servir às pessoas foi
despertado a partir da “prática cristã muito feliz e de
serviço às pessoas” demonstrada por seus pais. Eles tinham uma loja, “Fazendas Armarinhos Secos e Molhados”, e, quando o
cliente concluía a compra, seu pai o levava para “dentro
de casa e oferecia café”. Segundo Custódia, seu “pai
tinha compaixão”, sendo capaz de “abrir a porta de
noite” para algum necessitado, colocando-o no interior da casa. Sua mãe
“preparava [as crianças para] a primeira comunhão”,
buscando oportunizar que todas tivessem roupas enfeitadas para a ocasião e
usassem “laço de fita”. Após a missa, sua mãe
oferecia “uma mesa cheia” para que todos pudessem
comer e festejar.
Sua mãe, que conhecia a congregação Irmãzinhas da Imaculada
Conceição, notando a vontade da filha de ser freira, “logo
falou: ‘então eu vou levar você nas irmãs’”. A congregação informava
para a família quais roupas podiam ser levadas e isso era organizado para a
ocasião do ingresso na vida religiosa. Irmã Custódia recorda que suas “camisolas eram todas longas e serviram para muitos teatros”.
Ela participava das peças teatrais, como aquela em que, no Natal, encenavam o
presépio, e diversas pessoas iam assistir.
Irmã Custódia entrou “para o convento em
Nova Trento [SC]”, onde começou os estudos para se “adaptar”. Na época, sua família contava com o auxílio de
“ótimas empregadas que ajudavam a cuidar das crianças”.
Foi seguindo sua formação e vivenciando a mobilidade da vida religiosa: morou
em Ourinhos e Bauru, em São Paulo e em outros lugares. No noviciado, estudou
mais religião, e chegou a ser “professora de Bíblia”.
Nas trajetórias dos religiosos entrevistados, é possível
observar os processos de institucionalização da formação em Congregações e
outras instituições religiosas, que implicavam na plena dedicação deles aos
ensinamentos teológicos e onde se apropriam dos ensinamentos religiosos
seguindo as hierarquias estabelecidas e praticadas pelo catolicismo brasileiro.
Formação acadêmica em
música
Os relatos biográficos também se referem a uma formação musical
feita em instituições superiores no Brasil e no exterior.
Um mês após a ordenação como sacerdote, em 1959, os superiores
de Padre José Weber o “mandaram” estudar música em
Roma. Ele já possuía “uma boa base” de conhecimento
musical. Padre Weber nomina sua experiência de aprendizagem musical no
seminário como a de um “autodidata”. O período em
Roma foi a oportunidade para estudar “só música” durante oito anos, de 1959 a 1967 no
Pontifício Instituto de Música Sacra. Lá, fez os cursos de canto gregoriano e
composição sacra.
Aos 21 anos, tendo feito seus votos religiosos, Irmã Custódia
recebeu um “convite da Universidade de Bauru”. A
madre perguntou-lhe se queria “estudar música”.
No entanto, pelo fato de já ter trabalhado “com o jardim
de infância”, em substituição a outra religiosa que ficara doente e por
“dar conta” do trabalho, a madre sugeriu que
fizesse “especialização em jardim de infância”. No
entanto, Irmã Custódia optou pela música. Foi em Ourinhos, São Paulo, que fez o
segundo grau e trabalhou na educação infantil. Ela recorda que “já falava no rádio lá em Ourinhos, cantava na Igreja, cantava
com a congregação religiosa”. Ela “cantava na
paróquia, fazia aquele corinho da paróquia no mês de maio”. Como
religiosa, juntamente com outras meninas, “fazia muito
discurso, muita poesia”.
Considera que o estudo na Universidade de Bauru trouxe-lhe “segurança na regência” e, além disso, lá pode estudar “toda a história da música, toda a
história da Igreja na música”. Ela diz amar
muito a regência coral. Seu envolvimento com o coral foi ocorrendo após ter
assistido a um recital. O arcebispo Dom Vicente Ângelo José Marchetti Zioni soube que ela “estava estudando
na faculdade” e pediu-lhe para organizar um coral diocesano. Nesse
período, ela cantava como contralto no coral da universidade. Ao concluir a
faculdade, Irmã Custódia foi lecionar em Ourinhos.
Depois de ser ordenado padre, Ney Brasil obteve “uma bolsa nos Estados Unidos” pela Fullbright
Foundation para estudar música. De 1962 a 1963, “por dois
semestres”, cursou “a Faculdade de Música da Universidade de Duquesne,
em Pittsburgh”, onde frequentou “todos os cursos
que eram possíveis fazer”. Segundo Padre Ney, “não
deu para fazer mestrado lá”, porque seu “tempo de
bolsista era só de um ano”.
Ele recorda que o ano de estudos em Pittsburgh “foi um sonho”, porque pôde “desfrutar
da excelente Orquestra Sinfônica local” que fazia “frequentes
concertos”. Por morar perto de “Filadélfia e Nova
York”, teve “a oportunidade de apreciar várias
óperas, com grandes intérpretes”. Nessas cidades, participou “dos ensaios e apresentação da Grande Missa em Dó menor, de
Mozart, da Paixão de São Mateus, de Bach, e de um Poema Sinfônico, de Berlioz”.
No período em que esteve nos Estados Unidos, envolveu-se com a
música na universidade, onde cantou no coro e fez “cursos
de órgão, de piano” e “de orquestração” nos
níveis “inicial e avançado”. Estudou “a prática de todos os instrumentos da orquestra, da banda: as
cordas, as madeiras, os metais, a percussão”. Padre Ney não mais manteve
contato com seus professores, mas considera que “eram
excelentes professores”, de “muita qualidade, muita
seriedade, muito bons”. Ele chegou a exercitar a composição, mas, “por motivos práticos”, quando voltou ao Brasil, teve que
fazer uma “música mais tradicional”.
Paralelamente a seu trabalho como professora, Irmã Míria preparou-se para ingressar na faculdade de música,
tendo aulas particulares com a pianista Elisa Capocchi.
Além de piano, estudou violão com professores particulares, “sempre perseguindo” seu objetivo de fazer música. Fez o
bacharelado em piano, na Faculdade de Música de Santos. Mesmo após a faculdade,
continuou “estudando harmonia com a compositora Adelaide
Pereira da Silva e técnica vocal com a cantora Adelia
Issa, depois com Caio Ferraz”, pois sentia a
necessidade de se “aperfeiçoar, para servir melhor”.
Sobre a reforma do
Concílio Vaticano II: uma experiência geracional21
A reforma litúrgica realizada pelo Concílio Vaticano II no
período de 1962 a 1965 transformou concretamente a vida da Igreja Católica (PASSOS; SANCHEZ, 2015). Segundo Bugnini (1999, p. 5,
tradução nossa), “na história da liturgia, a reforma do Concílio Vaticano
II distingue-se de todas as demais por seu caráter pastoral”. Um dos objetivos
do Concílio, assim como do movimento litúrgico, referia-se à integração e à
participação ativa do povo na celebração litúrgica (BUGNINI, 1999). As reformas
feitas pelo Concílio foram impulsionadas por um movimento que visava, entre
outras questões, à mudança do jeito de as pessoas participarem na liturgia.
Um dos documentos que impactou diretamente a vida litúrgica foi
a constituição Sacrosanctum Concilium (SC), promulgada
pelo Papa Paulo VI, no dia 4 de dezembro de 1963. Ela contém um capítulo
dedicado à música sacra. Os princípios que orientaram a reforma da liturgia
foram: “inteligibilidade dos textos e dos ritos [...] e a consideração do
caráter comunitário e eclesial da celebração” (PASSOS; SANCHEZ, 2015, p. 651). O rito da
missa passou, a partir da década de 1960, por amplas modificações (como a
celebração no vernáculo). Em consequência, a música precisou ser adaptada e
repensada, gerando a necessidade de um intenso trabalho formativo para que um
novo repertório fosse constituído e houvesse pessoas capacitadas para exercer
as funções musicais na liturgia.
Quando o Concílio Vaticano II se desenvolveu, em Roma, Padre Ney
Brasil estudava nos Estados Unidos. Ele descreve: “O
Concílio começou em 1962 e, em 63, já foi aprovada a constituição Sacrossantum Concilium, com
aquela guinada de praticamente 180º, da liturgia do latim para a liturgia em
vernáculo”. Em sua percepção, “essa decisão do
Concílio, talvez, sem os padres conciliares se darem conta, forçou a criação de
uma nova música da Igreja”. Isso significa
que: “foi necessário criar uma música
sacra nova, não mais chamada ‘sacra’, mas, agora, música
‘litúrgica’, com a participação do povo”. Ela
era expressa “nas várias línguas”, substituindo a
música “que tinha quase seus dois mil anos de tradição,
expressa em latim”. Padre Ney comenta que, “na
liturgia em latim, o texto era fixo, direcionado. Cada missa devia ter sua
entrada em gregoriano, seu Kyrie, seu Glória, enfim, o Graduale,
essas coisas todas”. Como resultado, “com a música e liturgia em vernáculo, a ‘coisa’ tornou-se muito
mais livre, possibilitando muita criatividade e improvisação ao mesmo tempo”.
Padre Ney compara a música litúrgica na Europa e no Brasil,
explicando que “na Europa, após o Vaticano II, a música litúrgica manteve certo
nível de qualidade acadêmica”, enquanto, “no
Brasil, houve muita improvisação e, musicalmente, pouca qualidade”. Ele
relata que, no período imediato pós-Concílio, no Brasil, houve “um certo confronto entre os músicos
da música acadêmica e os da música
pastoral”, no qual eles se criticavam mutuamente. Ao avaliar a “produção musical litúrgica”
nos 50 anos posteriores ao Concílio, ele observa haver um repertó
rio vastíssimo. Ele pondera que muita “coisa se compôs”
e que “não se criou um repertório mais ou menos semelhante
ao do gregoriano”, o qual se encontra no Liber
Usualis22.
No Brasil, houve “a tentativa da CNBB
[Conferência Nacional dos Bispos no Brasil]” no que se refere a um
repertório, mas, segundo Padre Ney, o Hinário Litúrgico
tem “suas qualidades e seus defeitos também”, pois
“pelo menos ali” está registrado um “bom número do que se tem composto”.
Ele conta que o repertório continua a ser construído e exemplifica com sua
participação no “Canto Pastoral”, em Porto Alegre,
o qual acontece “há mais de 45 anos”, com “uma porção de composições novas, lançadas”; em sua
avaliação, “algumas com mais qualidade musical, outras,
menos”.
Na visão da Irmã Míria, “o Brasil acolheu com entusiasmo a renovação litúrgica
do Concílio Vaticano II, formando músicos que
começaram a produzir hinos, cantos, missas”, sendo uma “semente lançada” que continua “despontando
e florescendo”.
As mudanças advindas do Concílio Vaticano II requereram
estratégias para serem praticadas. No Brasil, antes do Concílio, na área
litúrgico-musical, diversas músicas compostas em outras línguas eram traduzidas
para o português. Havia livros e manuais, como Harpa de
Sião (padre João Batista Lehmann) e Cecília (Frei Pedro Sinzig,
Frei Basílio Röwer e Frei Romano Koepke).
Os grandes responsáveis pela organização desse material eram religiosos, que o
configuravam de acordo com sua congregação ou ordem religiosa, originárias de
diferentes países. Anteriormente ao Vaticano II, os cantos em português eram
considerados mais como “música religiosa”, sendo pouco usados na liturgia oficial (que
era rezada e cantada em latim) (FONSECA;
WEBER, 2015).
Participação em cursos de
liturgia e canto pastoral no Brasil após o Concilio Vaticano II e as
repercussões na atuação como formadores
Após o Concílio Vaticano II, os religiosos entrevistados
mostraram-se bastante ativos na participação em cursos de liturgia e canto
pastoral no Brasil. Concomitante à sua preparação para a formação acadêmica em
música, Irmã Míria começou “a
participar dos cursos de liturgia e canto pastoral que floresciam, por todo o
Brasil, após o Concilio Vaticano II”. Esses cursos “começaram no Rio de Janeiro, com o Padre Amaro, José Alves, Frei
Joel Postma e outros, no final da década de 60”.
A partir de 1965, Padre Ney também começou “a participar dos cursos de canto pastoral do Rio de Janeiro e de
São Paulo”, sendo “companheiro de músicos como o Frei Joel Postma”,
Padre José Alves e Irmã Míria. Esses cursos “eram laboratórios, porque, praticamente, eram apresentações
dessas composições”. Ele revela que “os primeiros
cursos de canto pastoral” o marcaram; foi “incorporado
à equipe do Cônego Amaro do Rio de Janeiro e do Monsenhor Luiz Marques de São
Paulo, desde 1965”. Depois, logo esses cursos se espalharam pelo Brasil
nas cidades de Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte.
Irmã Míria recorda que, na época da “primeira equipe23, onde o padre José Weber também participava, eram 400 a 500
participantes”, com “gente do mundo inteiro”.
Muitas religiosas estavam envolvidas e eram elas “que
levavam esse material para as comunidades, espalhavam, cantavam”, já que
“muitas irmãs, inclusive, trabalharam em comunidades de
base24, em contato
com o povo”. Ao participar dos cursos, ela aprendia o repertório novo e
se motivava a compor.
Em 1981, ocorreu, em São Paulo, o “Simpósio
de Música Sacra”, realizado pela recém
fundada Sociedade Brasileira de Musicologia, reunindo “500
participantes, vindos de todo o Brasil”. Fizeram-se presentes
conferencistas da Europa e dos Estados Unidos, “expondo
como era a música litúrgica
naqueles países”. Nesse simpósio, ao ouvir os alemães, a Irmã Míria não teve dúvida de que “se Deus
permitisse, iria estudar na Alemanha e na Áustria”. Assim, na semana
seguinte, começou “o curso de alemão no Instituto Goethe,
com uma professora particular”. Passado um ano, recebeu uma “bolsa de estudos da ‘Adveniat’25, organização católica alemã que ajuda as missões”. Ela
permaneceu dois anos na Alemanha (Colônia e Augsburg) e na Áustria (Salzburg),
de 1983 a 1985. Lá, aprofundou seus “estudos musicais,
fazendo uma experiência ímpar no campo da música
sacra e litúrgica”, a qual “é muito valorizada” nesses países.
Em Augsburg (1984), participou de um seminário na Escola Greiner de Música “por quase um ano”,
específico para regentes de corais infantis. Ela diz ter tido “excelentes professores, sobretudo na Alemanha”. Em sua
percepção, “professores particulares de piano, técnica
vocal, harmonia e composição, além de um clima todo musical, foram fundamentais
e muito contribuíram” para sua “experiência de vida”.
Após passar um período de estudos no exterior, “veio uma
nova fase” de seu trabalho.
Voltando ao Brasil, em 1985, continuou lecionando para crianças
na escola Dona Luiza Macuco, em Santos, mas, alguns anos depois, se aposentou.
Lá, ela já havia regido um coro infantil antes de sua viagem para o exterior.
Em 1989, a congregação a transferiu para São Paulo, capital, onde havia uma “vida cultural intensa, facilitando viagens, gravações,
compromissos musicais pelo Brasil afora”. Irmã Míria
lecionou “música, na Escola Nossa Senhora Auxiliadora, das irmãs salesianas”.
Compôs, para datas comemorativas, canções infantis a serem cantadas pelo coral
infantil que lá organizou, as quais foram gravadas em dois CDs.
Compôs, também, várias músicas para missas com crianças e fez “diversas gravações com as gravadoras católicas Paulinas/COMEP e
Paulus, bem como com a editora Vozes”.
Irmã Custódia também se refere ao “Canto Pastoral” quando fala
sobre como começou, depois de 1962, “a fazer os cursos de
canto pastoral com o Frei Joel Postma, com o padre
José Weber” e com o “pessoal mais antigo”.
Mais tarde, passou “a dar cursos também”. Um bispo,
com “uma vibração muito grande”, a conheceu em
Ourinhos e fez um convite para que se mudasse para Apucarana, Paraná. Ela e
outras duas irmãs mudaram-se para lá, engajaram-se na diocese e começaram um “trabalho de cursos, com a inspiração também do curso de Canto
Pastoral” que haviam começado a frequentar em São Paulo. Em Apucarana,
assumiu a “parte da música, da
catequese, das Comunidades de Base”. De Apucarana, Irmã Custódia começou
“a ir para o Brasil, para outras dioceses” que a
convidavam e seguem convidando:
[...]
ontem veio um telefonema de Goiás, então, o padre que dirige a liturgia lá
falou: “eu quero animar o meu povo, eu quero dar umas músicas
diferenciadas. Eu quero animar e quero que a senhora venha aqui”. Aí eu falei:
“que temas você quer estudar?”. A gente pode começar o primeiro encontro, por
exemplo, por equipes de celebração, características da música
litúrgica, como era a música
dos povos para depois chegar até a música litúrgica do Concílio.
Os trabalhos assistenciais e educacionais são algo inseparável
dos trabalhos de formação musical e religiosa. Ao falar dos processos de
transmissão e apropriação musical no ambiente da Igreja Católica, é comum o uso
da palavra “formação” e, referindo-se à pessoa que transmite, “formador” ou
“assessor”. Petrazzini (2004, p. 480), ao destacar a
exigência do Concílio Vaticano II sobre uma ação formativa específica que
renovasse a vida litúrgica dos fiéis, afirma que “o termo ‘formação’ se refere
tanto à ação formadora voltada para determinado objetivo, quanto ao estado de
formação atingido em determinados níveis ou sob determinados aspectos”. Ele
descreve a formação como uma ação orientada que ajude “a pessoa a explicar e
justificar todas as suas capacidades e virtualidades”, explicitando e
expandindo, sendo a formação litúrgica algo que contribui para a “formação
integral do homem-cristão” (PETRAZZINI, 2004, p. 481). O mesmo autor refere-se
à formação litúrgica como um processo que pode ocorrer de modo intencional ou
de um outro modo ocasional. Petrazzini (2004)
apresenta os dois momentos da ação formativa: a formação “para” a liturgia e
“para” a celebração litúrgica e a formação “através da” liturgia e da
celebração litúrgica.
Falar sobre formação musical na Igreja requer falar sobre a
transmissão da fé, pois a música, no culto cristão, “tem a ver com a formação
da fé” (SALIERS, 1998, p. 384, tradução
nossa). Em muitos casos, ela está a serviço da palavra. Há autores, como Saliers (1998), que retratam a música sob a perspectiva de
seu poder formativo na liturgia.
Considerações finais
O objetivo deste artigo foi analisar as biografias acessadas
pelas entrevistas dos religiosos e o campo da formação musical, examinados a
partir do binômio formar-se e formar outras pessoas para o trabalho com música
no contexto da Igreja Católica. Os depoimentos dos participantes da pesquisa
permitiram compreender a aproximação deles com a música e com a religião na
família e, posteriormente, os caminhos que possibilitaram sua formação
músico-religiosa e que se tornassem agentes de formação no espaço da Igreja
Católica brasileira. A concepção teórica de biografia e o conceito de
trajetórias interpretado como rotas formativas por Machado Pais (2003) possibilitaram, nesta
pesquisa, vincular práticas e experiências individuais, no nível micro, àquelas presentes no contexto da Igreja Católica, no nível
macro.
Segundo Machado Pais (2003, p. 45), “o conhecimento produz-se
sempre por uma multiplicidade de vias”. Nessa perspectiva, procuramos traçar
algumas vias nas quais as rotas formativas dos quatro religiosos se
desenvolveram. Os percursos revelam que a formação não ocorre de modo linear e
mostram um pouco da complexidade da formação musical nesse contexto religioso,
podendo ser identificados como “tecidos de maneiras de ser e de estar” (MACHADO PAIS, 2003, p. 30). A religião
apresenta-se como algo que os configura, move, e molda seu jeito de ensinar
música.
Lançar o olhar sobre a música na igreja e ter acesso às
lembranças dos religiosos permitiu conhecer formas de apropriação do
conhecimento musical, das escolhas que os formaram e que possibilitaram formar
outros. Ao discutir o que se entende por formação musical na Igreja Católica,
os entrevistados apresentaram suas concepções, especificadas nas opções
pedagógicas, no detalhamento dos cursos, no papel de formador, no entendimento
de sua finalidade. A formação nesse contexto religioso é vista como algo que
exige compromisso, ao mesmo tempo que proporciona o conhecimento.
O “formador” no ambiente da Igreja Católica é aquele que
assessora cursos, publica materiais, produz o conhecimento. Ele assume intensa
relevância no contexto religioso e um de seus papéis é mostrar as maneiras de
fazer. As formações são oferecidas a partir de encontros, e outros momentos, o
que faz com que aspectos de socialização na família e nas instituições
religiosas ganhem muita força na compreensão de como se dá a aprendizagem
musical.
Padre Ney Brasil, em 2016, com 86 anos, permanecia como membro
da “Equipe de Reflexão da Música
Litúrgica” da CNBB. Irmã Custódia busca
reservar tempo para participar de congressos, sentindo necessidade de se “encher de conteúdo, de exemplo, de
renovação”; por isso, nunca parou de estudar. Faz questão de participar
do encontro “de compositores e músicos
da CNBB”, pois isso lhe possibilita “refletir e
caminhar com mais coesão no grupo maior”. Procura, também, estar
presente na Semana Litúrgica Nacional e nos retiros mensais da congregação.
Todos os anos, reserva datas para que possa participar de eventos de liturgia,
música e comunicação. Ela continua indo em “tantos
encontros” porque preza por não deixar sua formação de lado, pois, em
seu entendimento, sem se formar, “você não pode doar”.
Há especificidades na música feita no contexto religioso,
estando os conteúdos musicais atrelados a particularidades de crença religiosa,
visões de sociedade e questões rituais litúrgicas. A inseparabilidade entre
música e liturgia manifesta-se no modo como se “repassa” o conhecimento nos
encontros, em que as questões técnico-musicais são desenvolvidas juntamente com
o modo de executar, o sentido do texto, a função ritual. Simultaneamente à
apresentação do repertório, busca-se despertar e fortalecer a fé. Nos encontros
ou cursos, são valorizadas as experiências celebrativas, visando colocar em
prática o que foi ensaiado.
As funções educativas das religiões e a compreensão destas como
instituições formativas e socializadoras são aspectos que se tornam relevantes
na discussão e formação na área de música, numa perspectiva sociológica. Por
meio dos relatos biográficos podemos verificar a inserção dos religiosos no
campo músico-pedagógico como aprendizes, formadores, participantes de reformas
litúrgico--musicais e responsáveis pela formação contínua de milhares de
pessoas.
Considerar as instituições religiosas como formativas e
socializadoras é um aspecto relevante para se pensar a área de educação
musical. Mesmo não havendo uma adesão pessoal a crenças, faz-se necessária a
discussão sobre educação musical e religiões, pois sua relação faz parte da
vida de muitas pessoas e é algo vivido em nossa sociedade (LORENZETTI, 2020).
Assim, considerar diferentes experiências e formas de ensinar e aprender música
em contextos religiosos pode trazer essas questões para debate na educação
musical, a fim de promover uma formação que respeite a diversidade cultural e
religiosa.
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CARDOSO, Custódia Maria (Irmã Custódia Maria Cardoso).
Entrevista – parte 1 – concedida a Michelle Arype Girardi Lorenzetti. São Paulo, 14 nov. 2016. Registro em
áudio, vídeo e em texto transcrito. 58min.
CARDOSO, Custódia Maria (Irmã Custódia Maria Cardoso).
Entrevista – parte 2 – concedida a Michelle Arype Girardi Lorenzetti. São Paulo, 15 nov. 2016. Registro em
áudio, vídeo e em texto transcrito. 64min.
KOLLING, Míria Therezinha (Irmã Míria Therezinha Kolling).
Entrevista 1 concedida a Michelle Arype Girardi Lorenzetti. Porto Alegre, 23 abril. 2016. Registro
em áudio, vídeo e em texto transcrito. 74min.
KOLLING, Míria Therezinha (Irmã Míria Therezinha Kolling).
Entrevista 2 concedida a Michelle Arype Girardi Lorenzetti. São Paulo, 12 nov. 2016. Registro em
áudio, vídeo e em texto transcrito. 57min.
PEREIRA, Ney Brasil (Padre Ney Brasil Pereira). Entrevista
concedida a Michelle Arype Girardi
Lorenzetti. Porto Alegre, 29 jul. 2016. Registro em áudio, vídeo e em texto
transcrito. 51 min.
WEBER, José Henrique (Padre José Henrique Weber). Entrevista 1
concedida a Michelle Arype Girardi
Lorenzetti. Porto Alegre, 18 jun. 2016. Registro em áudio, vídeo e em texto
transcrito. 93min.
WEBER, José Henrique (Padre José Henrique Weber). Entrevista 2
concedida a Michelle Arype Girardi
Lorenzetti. São Paulo, 11 nov. 2016. Registro em áudio, vídeo e em texto
transcrito. 103min.
Notas
1 Doutora em Educação
Musical pela Universidade de Bremen, Alemanha. Professora Titular do Departamento
de Música e orientadora no Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desde 1996 coordena o grupo de pesquisa
Educação Musical e Cotidiano – EMCO (UFRGS/ CNPq). No período 2019/2020, atuou
como professora visitante na Hochschule für Musik Theater und Medien, Hannover, Alemanha,
pelo Programa CAPES/PRINT-UFRGS.
2 Doutora em Música
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); realizou seu estágio de
Doutorado Sanduíche pela CAPES na Alemanha. Possui Mestrado e Licenciatura em
Música e Bacharelado Habilitação Canto pela UFRGS. Atua como professora
substituta no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Sul (IFRS – Campus Alvorada) e é pós-doutoranda na UFRGS.
3 Ver os trabalhos de
revisão bibliográfica e Estado da Arte de Abreu
(2017), Gontijo (2019), Cruz e Almeida (2021), Madeira et al. (2021), Pedrollo et al.
(2021) e Röpke
e Monti (2021).
4 Destacam-se os grupos
de pesquisas registrados no Diretório de Grupos do CNPq: Autonarrativas
de Práticas Musicais (NarraMus) (UFSM), liderado
pelas Profa. Dra. Ana Lúcia de Marques LouroHettwer e
Profa. Dra. Maria Cecília de Araújo Rodrigues Torres; Educação Musical Escolar
e Autobiografia (GEMAB) (UnB), liderado pelas Profa. Dra. Delmary
Vasconcelos de Abreu e Profa. Dra. Maria Helena Menna Barreto Abrahão e o Grupo
de Estudos e Pesquisa (Auto)biográficos em Educação Musical (GEPAEM) (UFRR),
liderado pela professora Dra. Jéssica de Almeida.
5 Os colaboradores da
pesquisa autorizaram, formalmente, o uso de seus nomes para publicações
relativas à investigação.
6 Machado Pais
refere-se à obra: FERRAROTI, Franco. Histoire et Histoires
de Vie: lê méthode biographique
dans lês sciences sociales. Paris: Librairie dês Méridiens, 1983.
7 Como mencionado, as
entrevistas fizeram parte do material empírico da tese de Lorenzetti (2019). Parte do material foi
publicado nos artigos de Lorenzetti (2020,
2021). A análise das entrevistas do
ponto de vista dos métodos biográficos foi apresentada inicialmente no artigo
de Souza e Lorenzetti (2021).
8 As Irmãs do Imaculado
Coração de Maria são religiosas de vida apostólica e consagrada. Fundada por
Bárbara Maix (1818-1873), a congregação conta hoje
com irmãs presentes em 8 países e 15 estados brasileiros (IRMÃS DO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA, n.d.).
9 Irmã Míria Therezinha Kolling faleceu
no dia 5 de maio de 2017, aos 77 anos, em São Paulo.
10 Irmã Míria utiliza em mais de um momento da entrevista a
expressão “cultivar”, como no trecho: “Meus pais, na verdade, se conheceram
cantando no coral da igreja, de modo que, desde menina, cultivávamos a música
em casa e na igreja, assim como depois no colégio, em Dois Irmãos e, mais tarde,
em Gravataí” (Irmã Míria
Kolling, 23/04/16, grifo das autoras).
11 Padre Ney Brasil
Pereira faleceu no dia 4 de janeiro de 2017, aos 86 anos, em Florianópolis.
12 As Irmãzinhas da
Imaculada Conceição são uma congregação religiosa fundada por Santa Paulina em
1890, em Nova Trento/SC. A congregação encontra-se em 12 países (CIIC, 2017).
13 Dioceses e
arquidioceses são divisões territoriais da Igreja Católica. As dioceses
correspondem a “uma porção do Povo de Deus confiada ao pastoreio do Bispo com a
cooperação do presbitério” (CÓDIGO DE
DIREITO CANÔNICO, 2006, Cân. 369).
14 Congregação do Verbo
Divino, Missionários do Verbo Divino, ou Verbitas foi
fundada em 1875 nos Países Baixos pelo padre alemão Arnaldo Janssen. Sua sigla,
geralmente assinada após o nome pessoal, é SVD, que significa Societas Verbi Divini.
15 O Seminário Menor é o
local onde adolescentes realizam sua formação escolar prevista no país, para
preparar-se para o acesso à universidade. A experiência no Seminário Menor visa
à formação para a maturação humana e cristã, auxiliando no discernimento sobre
a vocação sacerdotal.
16 Na época, o noviciado
durava dois anos. Atualmente é de somente um ano. Após o noviciado, são feitos
os votos, ou seja, uma promessa. Os votos são: pobreza, castidade e obediência.
17 O Seminário Maior é o
local de formação dos candidatos ao sacerdócio. Através da vivência comunitária,
os seminaristas recebem formação humana, espiritual, intelectual e pastoral.
Nesse período, eles realizam sua formação universitária em Filosofia e
Teologia.
18 O juniorato
é uma etapa de formação para os religiosos que ainda são jovens.
19 A Ordem é um dos
Sacramentos da Igreja Católica. Ela contém três graus: episcopado (bispo), o
presbiterado (padre) e o diaconado (diácono). No caso
da ordenação sacerdotal (presbiterado), através de um rito religioso e
litúrgico, o ministério é conferido ao candidato para a Igreja, para servir em
nome e na pessoa de Cristo no meio da comunidade (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2000).
20 Professor I refere-se
ao profissional que cursou magistério e que se habilitou para atuar na educação
infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental.
21 Os religiosos Padre
José Weber, Irmã Míria e o Padre Ney Brasil pertencem
a essa geração que vivenciou a reforma do Concílio Vaticano II. Já Irmã
Custódia, por ser mais jovem, não fez referência a essa Reforma.
22 Liber
Usualis foi um livro usado na Igreja Católica
para o canto gregoriano. Foi compilado pelos monges da Abadia de Solesmes (França). Contém cantos usados na missa (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus e Agnus Dei) e cantos para
a Liturgia das Horas.
23 Irmã Míria chama de “primeira equipe” os responsáveis pela
renovação litúrgico-musical no Brasil logo após o Concílio.
24 As Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs) nasceram no Brasil na década de 60 e “são grupos de
cristãos leigos, geralmente pobres, que se reúnem regularmente nas casas de
famílias ou em centros comunitários, a fim de ouvir e aprofundar a Palavra de
Deus, alimentar a comunhão fraterna e assumir o compromisso cristão no mundo”.
Utiliza-se a expressão “comunidade” por serem “grupos formados por pessoas a
partir do lugar onde moram [...] que procuram viver relações fraternas de
partilha, ajuda, solidariedade e serviço”. O termo “eclesiais” é usado “por se
tratar de grupos de seguidores dos exemplos de Jesus, dos apóstolos, em
comunhão com a Igreja”. Utiliza-se “de base” pela sua relação com os primeiros
cristãos e “porque é vivida pelo povo que está na base humana e cristã, gente
pobre ou pessoas que se colocam ao lado dos pobres” (CEBs, n.d., n.p.).
25 A Ação Episcopal “Adveniat” foi fundada em 1961 pela Conferência Episcopal
Alemã com “o objetivo de prestar auxílio pastoral a Igrejas locais na América Latina
e no Caribe” (CNBB, 2011, n.p.).
Autor notes
1
Doutora em Educação Musical pela Universidade de Bremen, Alemanha. Professora
Titular do Departamento de Música e orientadora no Programa de Pós-Graduação em
Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desde 1996
coordena o grupo de pesquisa Educação Musical e Cotidiano – EMCO (UFRGS/ CNPq).
No período 2019/2020, atuou como professora visitante na Hochschule
für Musik Theater und Medien, Hannover, Alemanha,
pelo Programa CAPES/PRINT-UFRGS.
2
Doutora em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS);
realizou seu estágio de Doutorado Sanduíche pela CAPES na Alemanha. Possui
Mestrado e Licenciatura em Música e Bacharelado Habilitação Canto pela UFRGS.
Atua como professora substituta no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS – Campus Alvorada) e é pós-doutoranda na
UFRGS.