Traduções
O que os professores podem aprender com os músicos populares?
What can
teachers learn from popular musicians?
Lucy Green 1
l.green@ucl.ac.uk
University College London (UCL), Reino
Unido
Flávia Motoyama Narita 2 flavnarita@unb.br
Universidade de Brasília (UnB) , Brasil
Revista Orfeu
Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil
ISSN: 2525-5304
Periodicidade: Continua
vol. 7, núm.
1, 2022
revistaorfeu@gmail.com
Recepção: 02 Março 2022
Aprovação: 07 Abril 2022
URL: https://periodicos.udesc.br/index.php/orfeu/article/view/21735
Autores mantém os
direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação.
Este trabalho está sob uma Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
Resumo: Esta é
uma tradução da entrevista que Lucy Green deu a Flávia Narita no Instituto de
Educação, em Londres, em 2011. A escolha de traduzir esta entrevista se deve ao
fato de que ela traz os princípios da aprendizagem musical informal, onde a
orientanda entrevista sua orientadora sobre sua área de expertise. Após mais de
10 anos de realização desta entrevista, vejo que seu conteúdo é extremamente
atual e relevante. A obra de Lucy Green tem fundamentado várias pesquisas
acadêmicas e práticas pedagógicas na área da educação musical no Brasil. Green
investigou as práticas de aprendizagem informal dos músicos populares no
contexto do Reino Unido (GREEN, 2002) e sistematizou uma proposta
pedagógico-musical a ser aplicada em escolas regulares (GREEN, 2008). Essa
proposta pode aumentar o engajamento de alunos e alunas na aprendizagem musical
quando eles tocam ou cantam músicas de suas preferências, têm autonomia e
realizam atividades que envolvem a tomada de decisões. Esta entrevista traz
também as motivações de Green em relação ao tema de sua pesquisa e o impacto da
pesquisa sobre a sua própria prática musical. Além disso, este texto revisita
os cinco princípios da aprendizagem informal da música que foram adaptados para
as salas de aula escolares e ressalta que somente incluir a música popular no
currículo escolar não garante uma experiência musical completa.
Palavras-chave: Educação musical escolar,
Aprendizagem musical informal, Música popular, Proposta pedagógico-musical.
Abstract: This is
a translation of the interview that
Lucy Green gave to Flávia Narita at
the Institute of Education
in 2011. The choice of translating
this interview is due to the fact
that it brings the principles of informal music learning. We can
see the then a PhD student interviewing her supervisor on the topic of her supervisor’s
expertise. After more than
10 years that this interview has been available on YouTube, I see that its content is still extremely topical and relevant. Lucy Green’s work has been
the basis for several academic research and pedagogical practices in the field of music education in Brazil. Green (GREEN, 2002) investigated
the informal learning practices
of popular musicians in the UK. Based
on that research,
she offered a pedagogical approach for music to be applied
in mainstream schools in
the UK context (GREEN,
2008). This approach can
increase students’ engagement in music learning when they
play or sing their favourite songs, developing their autonomy, and getting involved with decision-making tasks. This interview also brings Green’s
motivations in conducting this research and the impact of this research on her
own musical practice. In addition, this text revisits the five principles of informal music learning practices that had been adapted
to school classrooms and emphasizes that only including
popular music in the school
curriculum is not enough to guarantee
a complete musical experience.
Keywords: music education
in mainstream school,
informal music learning,
popular music, music pedagogy.
PREFÁCIO
Em outubro de 2010, eu iniciava a jornada mais desafiadora da
minha carreira acadêmica: realizar um doutorado pleno no exterior, no Instituto
de Educação (IOE) da Universidade de Londres. Flávia era orientanda da
professora titular Lucy Green, e eu fui orientanda do professor titular Graham Welch. Tive o privilégio de ser aluna de Lucy Green no
módulo Research in Music Education
(Em português, Pesquisa em Educação Musical). Além disso, também participei de
um projeto de pesquisa intitulado “The Ear Playing Project”[4], em que professores de instrumento eram convidados a participar
de um treinamento para aprenderem a tirar músicas de ouvido, ou seja, um
projeto que empregava as práticas de aprendizagem informal dos músicos
populares. Posso dizer que sempre tive interesse em tirar música de ouvido.
Apesar de eu ter tido uma formação tradicional ao piano, desde cedo comecei a
tirar músicas de ouvido por conta própria, músicas de filme, de minisséries, em
uma época sem internet e em que o acesso à música se dava por meio de rádio ou
pelos meios físicos: CDs, LPs, fitas K7. Quando participei do projeto de
pesquisa “The Ear Playing
Project”, coordenado por Lucy Green, percebi que vários professores de
instrumento não apresentavam essa habilidade de tirar música de ouvido, mesmo
no contexto de Londres, na Inglaterra. No entanto, a habilidade de tirar música
de ouvido pode ser treinada, por isso ressalto a importância desse treinamento
em paralelo ao tocar por partitura.
Em outubro de 2020, iniciei minha carreira como docente de
instituição de Ensino Superior na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) na
área de piano/educação musical. Logo que entrei em exercício, dividi uma
disciplina com outro professor, e uma unidade do plano de ensino visava abordar
os conceitos de aprendizagem informal de música, com sugestões de leitura de artigos
de Lucy Green. Foi quando me senti motivada a traduzir essa entrevista, gravada
em vídeo, que Lucy Green deu a Flávia Narita no Institute
of Education em 2011, quando fazíamos doutorado em
Londres. Primeiro, essa entrevista gravada em vídeo foi transcrita para o
inglês. Depois, o texto original da entrevista foi traduzido para o português.
A escolha de traduzir esta entrevista se deve ao fato de que ela traz os
princípios da aprendizagem musical informal, onde a orientanda entrevista sua
orientadora sobre sua área de expertise. Após mais de 10 anos de realização
desta entrevista, vejo que seu conteúdo é extremamente atual e relevante.
Espero que a tradução desta entrevista de Lucy Green por Flávia Narita, de
apenas 12 minutos e 33 segundos, que já atingiu mais de 18 mil visualizações no
canal do YouTube da UCL Institute of Education University College London[5], contribua na
jornada de aprendizagem e construção de práticas pedagógicas de muitos
estudantes de música.
Dra. Luciana Hamond (PhD, UCL/Institute of Education, Londres, Reino Unido).
TRADUÇÃO DA ENTREVISTA
Flávia Narita (FN): Eu entendo que um de seus
projetos de pesquisa envolve práticas informais na aprendizagem musical.
Lucy Green (LG): Provavelmente começou
quando eu era uma adolescente. Na verdade, [teve início] quando comecei a me
perguntar como músicos populares aprendiam suas habilidades instrumentais,
porque eu, eu mesma, estava tendo aulas de piano clássico, e era um mistério
para mim como músicos populares realmente faziam isso.
LG: Então, isso conduziu meu
trabalho por muitos e muitos anos e culminou por volta de 10 a 15 anos atrás,
quando realizei um estudo sobre como músicos populares aprendem. Desse estudo
eu peguei as principais características de suas práticas de aprendizagem e as
adotei e adaptei para a sala de aula da escola [regular].
[As principais características da aprendizagem dos músicos
populares] se baseavam em cinco coisas: primeiro, que eles [músicos populares]
aprendem escolhendo sua própria música, portanto estão usando músicas que eles
conhecem, amam e se identificam. Em segundo lugar, eles aprendem tocando de
ouvido, como você sabe (todo mundo sabe); eles colocam sua música favorita e
apenas tentam tocar junto com ela. Em terceiro lugar, trabalham [a música]
tanto sozinhos quanto com amigos – e é muito importante que trabalhem com
amigos que partilham gostos musicais semelhantes. Em quarto lugar, por causa de
toda essa forma de aprendizagem, sua aprendizagem tende a ser idiossincrática, é
muito pessoal, é aleatória e não é estruturada da forma progressiva que
normalmente tentamos estruturar a aprendizagem musical em ambientes formais. E
também muitas vezes acontece sem qualquer professor, ou adulto, ou qualquer
pessoa capaz de lhes dar ajuda especializada. Por fim, eles tendem a integrar
todas as habilidades de ouvir, compor, executar e improvisar em todo o processo
de aprendizagem.
Eu simplesmente adaptei essas práticas de aprendizagem dos
músicos populares para a sala de aula da escola [regular]. Então trabalhamos
primeiro em escolas secundárias [de Ensino Fundamental II], e as crianças foram
convidadas a escolher sua própria música, escolher amigos para formarem seus
grupos, escolher seus próprios instrumentos, escolher uma música e tentar
copiá-la de ouvido por meio uma gravação.
FN: Então provavelmente a
prática era importante.
LG: Isso mudou minha própria
prática musical? Eu mesma comecei a usar essas práticas. Então me peguei
colocando algumas canções de uma das minhas musicistas favoritas – Joni Mitchell, você sabe – e começando a aprender a tocar e
a cantar a música de ouvido, o que achei uma atividade fascinante, porque,
embora eu tenha habilidades básicas de treinamento auditivo e de improvisação,
eu antes nunca tinha realmente sentado com uma gravação e tentado tirá-la de
ouvido completamente. E o interessante para mim é que eu estava fazendo isso
enquanto estava no início do meu projeto, levando as práticas de aprendizagem
para a escola.
FN: Certo.
LG: E porque descobri que
fazer isso [tirar música de ouvido] abriu meus próprios ouvidos, eu acrescentei
uma pergunta às entrevistas que fizemos com as crianças: “Desde que você
começou a fazer parte deste projeto, você notou alguma diferença na maneira
como você ouve música em casa?”.
Eu fico satisfeita por ter acrescentado essa pergunta, porque as
respostas a ela [a essa pergunta] têm sido incríveis, um grande número de
crianças disse que “sim”. Isso impactou a maneira como ouvem música, me fez
perceber e os fez perceberem que eles tendem – os jovens que ouvem música
popular – a se concentrar inteiramente nas letras e no canto, e muitos deles
realmente diziam coisas como: “Antes de fazer este projeto, eu não sabia que
havia algo a mais na música além das letras”.
FN: Ah, isso é interessante!
LG: Agora, é o que eles chamam
de “partes submersas [que estão embaixo da superfície que é a letra]”. “A
música de fundo significa mais para mim do que as letras.”
FN: Então você também meio que
está dizendo que não importa [a música popular] apenas estar no currículo.
Mesmo se você incluir a música popular no currículo, isso não garante que eles
[os alunos] terão uma experiência completa de como fazer música, então é uma
questão de pedagogia.
LG: É uma pedagogia, isso
mesmo, Flávia, porque, como você sabe, a música popular está no currículo
escolar aqui e em muitos outros países há muitos anos. Mas o que acabamos
fazendo como professores é abordar a música popular no currículo da mesma forma
que abordaríamos a música clássica ou qualquer outro tipo de música de outras
partes do mundo. E, portanto, não estaríamos realmente usando as técnicas que
os próprios músicos usam para criar a música.
Então, de certa forma, o que tínhamos no currículo era uma espécie
de… algo que não é uma coisa real.
FN: Certo.
LG: As crianças podiam ouvir,
mas não havia nenhum desenvolvimento de seus ouvidos ou de suas habilidades
acontecendo daquela forma.Esse
projeto maravilhoso, Musical Futures, me abordou e me pediu para me juntar a
eles, então eu tive a oportunidade de fazer isso. Musical Futures é agora um
grande projeto no Reino Unido e é também um projeto que está em andamento na
Austrália. Esperamos, como você sabe, que esse projeto também aconteça no
Brasil. Também existem partes dos EUA e do Canadá onde o projeto está começando
a ser usado. O projeto Musical Futures foi financiado principalmente pela
Fundação Paul Hamlyn.
Essa forma de trazer as práticas de aprendizagem dos músicos
populares para a sala de aula, é claro, impactou o papel do professor também. O
papel do professor é o de se afastar no início do processo [de aprendizagem],
de observar o que os alunos estão fazendo, tentar compreender e ter empatia com
os objetivos que os alunos estão estabelecendo para si mesmos, e só então
começar a intervir e oferecer uma orientação, e também atuar como um modelo
musical tocando instrumentos ou fazendo o que quer que seja.
Agora isso é um pouco diferente do papel do professor, claro, em
uma forma pedagógica mais tradicional, onde o professor é aquele que sabe; no
caso da música, o professor é que escolhe a música. O professor vai dizer aos
alunos quais notas eles tocarão às vezes, como tocá-las, em que ordem devem ser
tocadas, e isso vem do professor para o aluno.
Desse modo [na aprendizagem informal], o aluno tem muito mais
autonomia para fazer suas próprias escolhas e direcionar sua própria
aprendizagem, com os amigos, e encontrar seu próprio caminho no processo de
aprendizagem. Agora, como você pode imaginar, no início do Musical Futures,
alguns dos professores nos estágios iniciais estavam bastante preocupados com o
que aconteceria se déssemos toda essa liberdade aos alunos na sala de aula. E,
é óbvio, a primeira vez que tentei fazer isso na minha sala de aula [de música]
em Londres, eu pensei a mesma coisa. Não tinha ideia se essa abordagem
[pedagógica] funcionaria ou não. Mas, felizmente,
funcionou, realmente funcionou incrivelmente bem.
O que acaba acontecendo é que, depois de duas ou três aulas, os
professores começam a ficar um pouco apreensivos porque não têm certeza aonde
isso vai dar. Mas, depois de três a quatro aulas, a maioria dos professores
fica surpresa com o quão altamente motivadas e o quão bem organizadas as
crianças se mostram: como elas se inserem em seus grupos de amizade, como se
organizam e como elas realmente mostram que têm habilidades musicais que muitas
vezes os professores não sabiam que elas tinham.
Muitos dos nossos professores relataram que isso fez com que
eles percebessem que antes não estavam dando às crianças crédito suficiente por
terem tanta habilidade quanto elas realmente têm. Claro que isso é algo que nós
[professores] de formação clássica normalmente não fazemos.
Hoje em dia, com o surgimento de músicos clássicos mais jovens,
alguns deles são o que podemos chamar de “bimusicais”;
eles têm um pé no jazz ou na música popular ou música folclórica, ou música
tradicional e um pé na música clássica, mas eles ainda estão em minoria.
Na educação formal, uma coisa que não aprendemos, como músicos,
é como tocar de ouvido ou como improvisar. Há uma quantidade enorme de
educadores musicais e de professores de música neste país e em muitos lugares
que são músicos clássicos altamente qualificados, mas que realmente não sabem
tocar de ouvido ou improvisar. E, portanto, eles não sabem como ensinar [essas
habilidades].
É por isso que, em vez de olhar para as habilidades que temos
como músicos treinados e educadores musicais, eu fui ver quais habilidades
essas pessoas que sabem tocar de ouvido e improvisar têm para trazer essas
habilidades para o campo da educação musical formal.
Em parte, é por isso que, é claro, os professores que são
treinados, eles nunca tiveram a experiência de tirar de ouvido uma música por
meio de uma gravação, é uma coisa bastante misteriosa, bastante preocupante e
assustadora, e muito reveladora também.
FN: Sim, acho que para
professores e alunos também vai ser uma experiência interessante, uma
experiência enriquecedora, e o que você disse é também sobre o progresso,
certo? Isso não significa que, por não estar lendo a partitura, você não está
desenvolvendo a sua técnica ou suas habilidades musicais, muito pelo contrário.
LG: Há uma espécie de
relaxamento e também diversão e experimentação. Um conhecer o instrumento de
uma maneira que é mais como se o instrumento fosse uma parte do corpo, você
sabe, que é como todos nós queremos sentir [ao tocar] o nosso instrumento.
FN: Então você está falando
sobre muita motivação intrínseca por parte dos alunos, certo?
LG: Sim.
FN: Porque eles escolhem a
música, essa é a música que eles querem tocar, então é por isso que eles tocam
de ouvido, mesmo que seus professores pensem que é um nível bastante avançado.
E como você acha que os professores podem ajudá-los nessa negociação?
LG: Certo, bem, este é um
ponto absolutamente crucial e é algo que venho examinando com mais detalhes em
meu projeto instrumental [“The Ear Playing Project”[6]]. Assim, os professores ajudam [os alunos] obviamente
dando sugestões sobre como segurar o instrumento. Por exemplo, um professor
pode mostrar a um aluno que tentou encontrar uma nota e não conseguiu.
O professor vai permitir que eles tentem um pouco e depois dirá:
“Por que você não coloca seu dedo aqui nesta corda? Essa é a primeira nota”. É sobre
observar o que a criança está fazendo, ouvi-la tentando avaliar o que está
tentando fazer e então pensar “Como posso ajudar esses alunos a atingirem esse
objetivo específico?”.
Se eu não tivesse feito muito trabalho filosófico e teórico, eu
teria feito o mesmo trabalho prático em sala de aula? Acho que, em poucas
palavras, a resposta é “não”, porque, se vamos fazer um trabalho que muda a
prática, então isso vem de uma grande riqueza de conhecimento e compreensão,
não é? E é por isso que viemos para a universidade, e é isso que estamos
fazendo nas universidades: é expandir as nossas mentes e ajudar nossos alunos a
expandir suas mentes para que eles possam ter um olhar “fresco” sobre a
prática, com novos olhos e uma nova compreensão.
FN: Claro. Bem, muito
obrigada, Lucy. Foi ótimo conversar com você.
LG: Foi ótimo conversar com
você também, Flávia. Vejo você na próxima orientação.
PREFACE
In October 2010, I started
the most challenging journey of my academic
career: the pursuit of a
full doctorate abroad at the Institute of Education (IOE) at the University
of London. Flávia was supervised
by Professor Lucy Green and I was
supervised by Professor
Graham Welch. I was also privileged of being a student of Lucy Green in
a module called Research in
Music Education. Furthermore,
I have also participated in a research project entitled “The Ear Playing Project”[7] where instrumental teachers were invited
to participate in a
training to learn how to play music
by ear; that
is, a project employing the informal learning practices of the popular musicians.
I can say that I have always
been interested in playing music by
ear. Although I have had a traditional
piano training, I started playing
music by ear on my
own when I was a child, particularly
by playing music from movies
and series in a time without internet. At that time music was accessed by
the radio, or by the physical media such as: CDs, LPs,
K7 tapes. When I participated in the research project “The Ear Playing Project” coordinated by Lucy Green, I realized that many
instrumental teachers did not have this
ability to play music by ear,
even in the context of
London, England. However,
the ability to play music by ear
can be trained
and that is why I emphasize the importance of this ear playing practice
in parallel with playing by reading
musical notation.
In October 2020, I started
my career as a Higher Education Institution lecturer at the Federal University of Mato Grosso (UFMT) in the area of piano/music education. As soon as I started this job
position, I shared a module with
another colleague. One of the units of the teaching plan aimed
to address the concepts of informal music learning, focusing on Lucy Green’s publications. That is when I felt
motivated to translate this video interview that Lucy Green
gave to Flávia Narita at
the Institute of Education
in 2011. At that time both
Flávia and I were PhD students
in London. First, this video interview was first transcribed into English. Then, the original
interview text was translated into Portuguese. The choice of translating this interview is due to the fact
that it brings the principles of informal music learning. We can
see the then a PhD student interviewing her supervisor on the topic of her supervisor’s
expertise. After more than
10 years that this interview has been available on YouTube, I see that its content is still extremely topical and relevant. The original interview lasts
12minutes and 33 seconds and it has
already reached over 18,000
views on the UCL Institute of Education University
College London’s YouTube channel[8]. I hope that
the translation of this
interview will contribute to the journey of learning and teaching practices of many music students.
Dr. Luciana Hamond (PhD, UCL-Institute of Education, London, UK.
Interview in English
Flávia Narita (FN): I understand
that one of your research projects
involves informal musical learning
pratices.
Lucy Green (LG): It started
probably when I was a teenager. Actually, when I started wondering how popular musicians learned their instrumental skills because
I, myself, was having classical piano lessons and it was a mystery to me how
popular musicians did it, really.
LG: So that’s
driven my work for many, many years and it ended up about
10 to 15 years ago doing a study
of how popular musicians learn and from that study I took
the main characteristics of
their learning practices and adopted them and adapted them for the school classroom.
It was based
on five things:
one, that they learn by
choosing their own music, therefore
they are using music that they
know, and love and identify with. Secondly, they learn by playing
by ear, as you know (everybody
knows) they put on their
own favourite music and just attempt to play along with it. Thirdly they work
both by themselves
and with friends – and it is
very important that they work
with friends who share similar musical tastes. Fourthtly because of all this way
of learning their learning tends to be idiosyncratic,
it’s very personal, it’s haphazard, it’s not structured in the kind of progressive way that we
normally try to structure music
learning in formal environments.
And also, it often takes place without any
teacher, or adult, or anybody
who is able
to give them
expert help. And fiftly they
tend to integrate
all the skills of listening,
composing, performing and improvising all the way through the learning process.
And I simply adapted
those for the school classroom. So, we worked first
of all in secondary schools and the kids were asked to choose
their own music, choose friendship
groups, they choose their own
instruments, pick a song and attempt to copy it by
ear from a recording.
FN: So probably
the practice was important.
LG: Did it change
my own musical practice? I did start using those practices
myself. So, I found myself putting
on some songs of one of my favourite
musicians, Joni Mitchell, you know, and starting
to learn to play the song and to sing it by
ear, which I found a fascinating task because…. Although I have basic ear skills and improvisation skills, I’d never actually sat down with a recording
before and fully tried to copy
it.
And the interesting thing to me about
that was that I was doing
this whilst I was at the beginning
of my project taking the learning practices into the school.
FN: Alright.
LG: And because
I found that doing it myself opened my own
ears, I added a question to the interviews that we did
with the children: “Since you’ve been
doing this project have you
noticed any differences in the way you listen to
music at home?” And I’m so glad
I added that question because the answers to it have
been fascinating and a large number of kids said “yes”, it had affected the way they hear
music. And it made me realise, and it made them realise, that
they tend… young kids who listen to popular music tend to
focus entirely on the lyrics, and the singing and many of them actually said
things like: “Before I did this project, I didn’t realise there was any
more to music apart from the lyrics”
FN: Ah, that’s
interesting!
LG: And now,
it’s what they call the “underneath bits”. “The background music
means more to
me than the lyrics”.
FN: So, you’
re also kind
of saying that it doesn’t matter just being in the curriculum even if you
take popular music into the curriculum, it doesn’t guarantee that they are going
to have a full experience of how to make music, so it’s a matter
of pedagogy.
LG: It is
a pedagogy, that’s absolutely right, Flávia, because, as you know, popular music has been in the school curriculum here and in many other countries as well for many years.
But what we’ve tended to
do as teaches is to approach the popular music in
the curriculum in the same way
that we would
approach classical music or any other
kind of music from around the world. And therefore, we weren’t
actually using the techniques that the musicians themselves use to create the music.
So, in a way
what we had
in the curriculum was, a kind
of, not the real thing. FN: Right.
LG: Children
could listen to it, but there
wasn’t any development of their ears going on
or any development
of their skills going on that way.
This wonderful
project, Musical Futures, approached
me and asked me to join them and then
I had the opportunity in doing that. Musical Futures is now a major UK national project, and it’s also a project
which is going on in Australia. We hope, as you
know, that it’s going to
happen in Brazil. There are also parts of the USA and Canada where it’s beginning
to be used.
The Musical Futures project was
funded mainly by the Paul Hamlyn Foundation.
This way
of bringing in popular musicians’
learning practices into the
classroom has, of course, affected the role of the teacher as well. The role of the teacher is to
stand back at the beginning of the process, observe
what the pupils are doing, try to
sympathise and empathise with the goals that the pupils are setting for themselves, and only at that point start to step in and offer guidance and also to act
as a musical model by playing
the instruments themselves or whatever.
Now this
is a little bit different from the role of the teacher, of course, in a more
standard pedagogic form, where the teacher is the one who
knows in the case of music,
the teacher chooses the music. The teacher will tell the pupils
which notes to play sometimes, how to play them, what
order to play them in and it comes from the teacher to the student.
In this way
the student is given much more autonomy to make their own choices
and to direct their own learning, with
their friends, and to find their own
route through the learning process. Now as you can
imagine at the beginning of
Musical Futures quite a few of the teachers in the very, very early stages
were quite worried about what was
going to happen if we
give the students in school classroom all this freedom.
And of course, the first
time that I tried this in my first
London classroom I thought
the same thing. I had no idea if
the technique would work or not.
But luckily it has worked, it really has worked
incredibly well.
What tends
to happen is that after
two or three
lessons the teachers begin to get
pretty nervous because they’re not sure where
it’s going to go. But after
three to four lessons most of the teachers are amazed at how highly
motivated the kids have been, how well-organized
they’ve been, how they’ve got
themselves into their friendship groups, how they’ve sorted
themselves out and how they’ve actually shown that they
have musical abilities that very often
the teachers didn’t know they had.
And a lot of our
teachers have said it made them
realise that previously they were not giving
children enough credit for having as much ability as they actually do have. Of course, this is something
that we trained
classical musicians ourselves haven’t usually done.
Nowadays with
younger classical musicians coming up, some of them are what we might
call “bi-musical”; they have a foot
in either jazz or popular music or folk music,
traditional music, and a foot in the classical camp but they’re
still in the minority.
And in the formal education, one thing that
we don’t learn, as musicians, is how to
play by ear or how to
improvise. And there’s a lot
of music educators and teachers in this country and many places who
are very highly proficient trained classical musicians but who don’t
really know how to play by
ear or to
improvise themselves. And therefore,
don’t know how to teach
it.
This is
why instead of looking at what
skills we have as trained musicians and music educators, I went to look at
what skills those people who do know
how to play by ear and improvise have and bring those skills into the formal music
education realm.
That’s partly
why, of course, teachers who are trained, if they’ve
not really ever had the experience
themselves of copying a recording by ear,
it is quite a mysterious thing, it is quite worrying and frightening, and very revealing as well.
FN: Yeah, I think
for both teachers and pupils as well it’s going to
be an interesting
experience, an enriching experience, and what you said,
it’s also about the progress, right? It doesn’t mean that because
you are not reading from the score that you are not
progressing in your technique, or in your musical skills, rather the opposite.
LG: There’s a kind
of level of relaxation and also fun and experimentation
and getting to know the instrument in a way which is
more like the instrument is
a part of their body, you know, which
is how we
all want our instrument to feel.
FN: So, you’re
talking about a lot of intrinsic motivation from the part of the students, right?
LG: Yes.
FN: Because they
choose the music, that’s the music they want to
play so that’s why they go and play by ear even
if their teachers think it’s quite an advanced
level. And how do you think the teachers
can help them in this negotiation?
LG: Right, well
this is an
absolutely crucial point and it’s
something I’ve been looking at
in more detail in my
instrumental project [Ear Playing Project[9]]. So, teachers
help [students] by obviously making suggestions for how to hold
the instrument. For example,
a teacher could show a pupil who has
tried to get a note and they can’t get it.
The teacher will
allow them to try for a while
and then say: “Why don’t you
put your finger here on
this string? That’s the first note”. It’s about watching
what the child is doing, listening
to them trying
to gauge where they’re attempting
to do and then thinking “How can
I help this pupil achieve this particular goal?”
If I had
not done a lot of philosophical and theoretical work, would I have done
the same practical work in the classroom? I think in a nutshell the answer is “no”, because if we’re
going to do work which changes
practice, then that comes out of a whole wealth of knowledge and understanding, doesn’t it? And that’s why we
come to university and that’s what we’re
doing at universities; is expanding our minds and helping our students
to expand their minds so that they can
have a “fresh” look at practice with
new eyes and new understanding.
FN: Sure. Well,
thanks very much, Lucy, it’s been lovely to
talk to you.
Referências
GREEN, L. How popular
musicians learn: A way ahead for music
education. London: Ashgate
Press, 2002.
GREEN, L. Music, informal learning and the school: a new classroom pedagogy. Aldershot: Ashgate Press, 2008.
Notas
1 Lucy Green é professora
emérita de Educação Musical na University College
London, Institute of Education
(UCL/IOE). É conhecida internacionalmente por seu trabalho em educação musical,
em especial com relação a novas pedagogias, gênero, ideologia, sociologia da
música e da educação musical, música popular, inclusão, igualdade e
aprendizagem informal. Autora e organizadora de livros, tem muitas de suas
obras traduzidas para diversas línguas. Seu primeiro livro, Music on Deaf Ears:
Musical Meaning, Ideology
and Education, foi recentemente traduzido para o
português e lançado no Brasil
2 Flávia Motoyama Narita é professora do Departamento de Música
(MUS) da Universidade de Brasília (UnB) desde 2006. Foi coordenadora dos cursos
de Licenciatura diurno e a distância e vice-chefe do MUS. Atualmente é diretora
de Difusão Cultural do Decanato de Extensão da UnB. Possui Graduação em Música
(Licenciatura) pela Universidade de São Paulo (USP) e Mestrado e Doutorado em
Educação Musical pela University College London, Institute of Education (UCL/IOE),
sob orientação de Lucy Green.
3 Luciana Fernandes Hamond é professora na área de Piano/Educação Musical do
Departamento de Artes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) desde 2020.
É PhD em Educação Musical pela University College London
(UCL), Institute of Education,
Londres, Inglaterra, sendo bolsista CAPES. Áreas de interesse: pedagogia do
piano, tecnologias digitais no ensino e aprendizagem de piano presencial e
on-line, e métodos qualitativos em educação musical.
4 O site do Ear Playing Project é http://earplaying.ioe.ac.uk/
5 Link para a
entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=4r8zoHT4ExY&t=6s.
6 A partir do “The Ear Playing Project”, Lucy Green
lançou o projeto de pesquisa HeLP (Hear, Listen, Play). As
publicações mais relevantes são:
GREEN, Lucy. Hear, Listen,
Play! How to Free Your Students’
Aural, Performance and Improvisation Skills. USA:
Oxford University Press, 2014.
GREEN, Lucy. Musical “learning styles” and “learning strategies” in the instrumental lesson:
some emergent findings from a pilot study.
Psychology of Music, v. 40, n. 1, p. 42-65, 2012. DOI:
https://doi.org/10.1177/0305735610385510.
VARVARIGOU, Maria; GREEN, Lucy. Musical learning
styles and strategies in
the instrumental music lesson:
the Ear-Playing Project project.
Psychology of Music, v. 43, n. 5, p. 705-722, 2014. Article first published
online: June 4, 2014; Issue
published: September 1,
2015. DOI: https://doi. org/10.1177/0305735614535460.
BAKER, David; GREEN, Lucy. Ear playing and aural development: results from a “case-control’experiment”. Research Studies in Music Education, v.
35, n. 2, p. 141-159, 2013. Article first published online: October 28, 2013; Issue published: December 1, 2013. DOI:
https://doi. org/10.1177/1321103X13508254.
7 The website for the Ear Playing Project is http://earplaying.ioe.ac.uk/
8 Link for the
interview: https://www.youtube.com/watch?v=4r8zoHT4ExY&t=6s
9 Following
the Ear Playing Project,
Lucy Green created the HeLP
(Hear, Listen, Play)
Project. The most relevant publications are:
Green, Lucy. Hear, Listen,
Play! How to Free Your Students’
Aural, Performance and Improvisation Skills, USA:
Oxford University Press, 2014. ISBN:978-0-19-999576-9
Green, Lucy ‘Musical “learning styles” and “learning strategies” in the instrumental lesson:
someemergent findings from a pilot study’,
Psychology of Music, Vol. 40, no. 1, pp. 42-65, 2012.
https://doi.org/10.1177/0305735610385510
Varvarigou, Maria and Green, Lucy, ‘Musical learning
styles and strategies in
the instrumentalmusic lesson:
the Ear-Playing Project project’,Psychology of Music, Vol. 43,
No.5, p. 705-722, 2014.Article first published online: June 4, 2014; Issue published: September 1, 2015: https://doi. org/10.1177/0305735614535460
Baker, David and Green, Lucy, ‘Ear playing and aural development: results from a ‘case-control’experiment’, Research Studies in Music Education, Vol 35 , No.2 , p.141-159, 2013. Article first published
online: October 28, 2013; Issue
published: December 1, 2013
https://doi. org/10.1177/1321103X13508254
Autor notes
1 Lucy Green é
professora emérita de Educação Musical na University College
London, Institute of Education
(UCL/IOE). É conhecida internacionalmente por seu trabalho em educação musical,
em especial com relação a novas pedagogias, gênero, ideologia, sociologia da
música e da educação musical, música popular, inclusão, igualdade e
aprendizagem informal. Autora e organizadora de livros, tem muitas de suas
obras traduzidas para diversas línguas. Seu primeiro livro, Music on Deaf Ears:
Musical Meaning, Ideology
and Education, foi recentemente traduzido para o
português e lançado no Brasil
2 Flávia Motoyama Narita é professora do Departamento de Música
(MUS) da Universidade de Brasília (UnB) desde 2006. Foi coordenadora dos cursos
de Licenciatura diurno e a distância e vice-chefe do MUS. Atualmente é diretora
de Difusão Cultural do Decanato de Extensão da UnB. Possui Graduação em Música
(Licenciatura) pela Universidade de São Paulo (USP) e Mestrado e Doutorado em
Educação Musical pela University College London, Institute of Education (UCL/IOE),
sob orientação de Lucy Green.
3 Luciana Fernandes Hamond é professora na área de Piano/Educação Musical do
Departamento de Artes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) desde 2020.
É PhD em Educação Musical pela University College
London (UCL), Institute of Education,
Londres, Inglaterra, sendo bolsista CAPES. Áreas de interesse: pedagogia do
piano, tecnologias digitais no ensino e aprendizagem de piano presencial e
on-line, e métodos qualitativos em educação musical.