CHAMADA PRORROGADA ATÉ 15/05/24 - MUSICISTAS COMO TRABALHADORES(AS) E A MÚSICA COMO TRABALHO NO BRASIL
Pensar a prática musical como atividade laboral pressupõe diversos desafios. A esfera musical, ou ao menos a sua fração vinculada ao ideal de uma arte "pura" ou “desinteressada”, erigiu-se na modernidade ocidental a partir de referências que não somente se diferenciam da lógica economicista, como frequentemente se posicionam como sua antítese. Ideais de liberdade de criação, fruição, contemplação, talento, individualidade e insubordinação - muito atrelados aos fazeres artísticos no mundo moderno - se contrapõem a alguns mais relevantes pilares a sustentar, objetiva e simbolicamente, a sociedade do trabalho no capitalismo.
No Brasil, passadas quase oito décadas da Consolidação das Leis do Trabalho sob o governo de Getúlio Vargas, 78,7% dos(as) musicistas exerciam a ocupação sem acesso à formalização dos vínculos laborais em 2019, segundo a PNAD. No entanto, inúmeros exemplos de correlações entre o mundo do trabalho e o mundo do trabalho da música no país são revelados, no passado e no presente, quando se adota a perspectiva de reconhecer os(as) musicistas como trabalhadores(as) e o amplo conjunto de suas atividades como trabalho. Para citar apenas alguns exemplos: a transformação do Centro Musical do Rio de Janeiro em sindicato em 1941, sob as circunstâncias das referidas “leis trabalhistas”; as reivindicações para o estabelecimento de dissídios coletivos para os(as) musicistas gaúchos(as) nos anos 1950 e 1960; os desafios para manutenção da subsistência da categoria durante a pandemia da Covid-19 e a criação da Lei Aldir Blanc; o trabalho contemporâneo por meio do autogerenciamento subordinado da plataformização ou sob um discurso de empreendedorismo, a escamotear processos de informalização do trabalho e precarização.
Ainda são escassas as pesquisas na área de Música e em outras áreas do conhecimento que analisem o cenário laboral dos(as) musicistas. Por conseguinte, que os(as) reconheçam como trabalhadores(as), cujas múltiplas trajetórias formativas e de trabalho envolvem lutas e estratégias por melhores condições de trabalho, renda e reconhecimento, frente a um contexto laboral de complexa configuração e historicamente marcado pela instabilidade e pela desvalorização.
Considerando o exposto, convidamos pesquisadores(as) da área de Música e de outras áreas do conhecimento a submeterem artigos para o presente dossiê. Esta publicação busca estimular a produção e a divulgação de pesquisas que abordem a música como um trabalho e os(as) musicistas como trabalhadores(as) no Brasil, em perspectiva histórica ou contemporânea, e o debate sobre as diferentes categorias conceituais utilizadas para o tratamento dessa temática.
Sugestões de tópicos para eventuais contribuições ao dossiê:
-Trajetórias formativas e suas correlações com as trajetórias laborais de musicistas.
Ser musicista e ser trabalhador(a) da música.
-A história do trabalho na música e/ou das entidades de classe de musicistas: sindicatos, associações, ordens, cooperativas e outros coletivos de trabalhadores(as).
-A música como trabalho e/ou os(as) musicistas como trabalhadores(as) frente ao Estado e/ou legislação.
-Configurações contemporâneas do trabalho musical/trabalho com música.
-Condições, relações de trabalho e renda no trabalho musical/trabalho com música.
-A formação em música e o debate sobre o trabalho e o ser trabalhador(a) da música na universidade.
-Psicodinâmica do trabalho musical/trabalho com música.
-Empreendedorismo na música, precariedade e informalidade frente ao capitalismo contemporâneo.
-Musicistas, streaming e o trabalho não pago.
-Professores(as) de música como trabalhadores(as) da música.
-Categorias profissionais que compõem os(as) trabalhadores(as) da música e suas e suas realidades de trabalho.
-Musicistas de rua e/ou ambulantes.
-Musicistas como trabalhadores(as) multitarefa.
-A Covid-19 e suas consequências sobre os(as) trabalhadores(as) da música;
-Musicistas e consciência de classe.
-Musicistas, gênero, raça, classe, faixa etária e trabalho.
-Moralidade no trabalho musical: musicistas como trabalhadores(as) versus desvalorização, invisibilidade, hobby ou vagabundagem.
-Música, musicistas, trabalho material e imaterial.
-Musicistas e os sentidos do trabalho musical/trabalho com música.
Link para submissões: http://revistas.udesc.br/index.php/orfeu/information/authors