Erika Hilton na revista Ela: uma proposta interseccional entre moda, gênero e política

RESUMO

O artigo analisa a intersecção entre moda e política na figura de Erika Hilton, deputada federal pelo PSOL-SP, destacando como ela utiliza a moda para promover sua identidade de gênero e seu ativismo. O estudo de caso, baseado em uma entrevista à revista Ela d’O Globo pelo Dia Internacional das Mulheres, explora pautas de inclusão e diversidade ao mesmo tempo em que apresenta Erika em um ensaio fotográfico com ares de editorial de moda. A pesquisa se classifica como básica, qualitativa e descritiva, utilizando pesquisa bibliográfica e abordagem da roleta interseccional, juntamente com os quadros de sentidos de Ervin Goffman. Os resultados revelam as contradições entre o uso de marcas de luxo e as lutas sociais, evidenciando como a moda pode ser um meio de inclusão, mas também perpetuar exclusões.

Palavras-chave: Moda, Gênero e Política; Roleta interseccional; Erika Hilton.

Erika Hilton in Ela magazine: an intersectional proposal between fashion, gender and politics

ABSTRACT

The article analyzes the intersection between fashion and politics through the figure of Erika Hilton, a federal deputy for PSOL-SP, highlighting how she uses fashion to promote her gender identity and activism. The case study, based on an interview with Ela magazine from O Globo for International Women’s Day, explores issues of inclusion and diversity while presenting Erika in a photo shoot with a fashion editorial feel. The research is classified as basic, qualitative and descriptive, using bibliographic research and the intersectional roulette approach, together with Ervin Goffman’s frameworks of meanings. The results reveal the contradictions between the use of luxury brands and social struggles, showing how fashion can be a means of inclusion but also perpetuate exclusions.

Keywords: Fashion, Gender and Politics; Intersectional Roulette; Erika Hilton.

Erika Hilton en la revista Ela: una propuesta interseccional entre moda, género y política

RESUMEN

El artículo analiza la intersección entre la moda y la política a través de la figura de Erika Hilton, diputada federal por el PSOL-SP, destacando cómo utiliza la moda para promover su identidad de género y su activismo. El estudio de caso, basado en una entrevista para la revista Ela de O Globo por el Día Internacional de la Mujer, explora temas de inclusión y diversidad, al mismo tiempo que presenta a Erika en una sesión fotográfica con un estilo editorial de moda. La investigación se clasifica en básica, cualitativa y descriptiva, utilizando la investigación bibliográfica y el enfoque de la ruleta interseccional, junto con los marcos de significados de Ervin Goffman. Los resultados revelan las contradicciones entre el uso de marcas de lujo y las luchas sociales, evidenciando cómo la moda puede ser un medio de inclusión, pero también perpetuar exclusiones.

Palabras-clave: Moda, Género y Política; Ruleta interseccional; Erika Hilton.

1. INTRODUÇÃO

Tendo sido lançado como um caderno do jornal O Globo em janeiro de 1964, o caderno Ela, voltado para o público feminino, nasce como um manual de como deve ser a mulher daquela época: “[...] o caderno de estilo de vida do GLOBO, que se anunciava como um espaço livre para discussão dos assuntos que interessavam à mulher, da moda ao comportamento, da sociedade à criação dos filhos” (Acervo, O Globo, 2014).

Em sua primeira edição, o caderno citava grandes personalidades do público feminino como Jacqueline Kennedy, Grace Kelly e Brigitte Bardot – mulheres que eram consideradas ícones da moda e modelos sociais a serem seguidos. A edição de lançamento ainda trazia uma carta do empresário Roberto Marinho, dono do Grupo Globo, que dava indícios de qual mulheres a revista visava contemplar, a “mulher moderna”: “[...] afinal de contas, o mundo moderno é bem menos masculino e muito mais feminino do que parece” (Dalboni, 2023).

Posteriormente, em 2017, O Globo decide atualizar o manual destinado às mulheres e lança a revista em substituição ao caderno, que passa então a acompanhar as edições de domingo do jornal. O gesto faz da revista um produto que “[...] dará mais espaço às mulheres e à sua visão de mundo, com reportagens que traduzem o estilo de vida e o espírito das cariocas” (Acervo, O Globo, 2023).

O presente estudo tem por objetivo analisar a intersecção entre moda e política na figura de Erika Hilton, deputada federal pelo PSOL-SP, destacando como ela utiliza a moda para promover sua identidade de gênero e seu ativismo. Tem-se como corpus de análise uma entrevista concedida por Hilton em 2024 à revista Ela (antigo caderno), d’O Globo, pelo Dia Internacional das Mulheres, onde Erika Hilton fala dos problemas enfrentados por todas as mulheres e desafios da atuação parlamentar, ao mesmo tempo em que ilustra as páginas da entrevista posando para um editorial no qual se destacam roupas e acessórios de grandes marcas de luxo e grifes internacionais.

Em sua atuação como parlamentar, Hilton pauta assuntos de cunho político e legislativo por meio de suas roupas, vestimentas, artefatos e performances no universo da moda e da beleza, assim como utiliza sua presença em revistas de moda para articular uma nova narrativa sobre identidade de gênero e ativismo político. Ao examinar como Erika utiliza a moda como aparato de comunicação política e expressão de identidade, este trabalho contribui para uma compreensão mais ampla das interações entre moda e política sob as lentes da interseccionalidade – importante ferramenta metodológica que permite expor injustiças representacionais e discursivas, propondo ferramentas de equidade, conforme Carrera (2020).

O artigo está organizado nas seguintes seções: na primeira, aborda-se na fundamentação teórica um olhar interseccional para a moda; na segunda, apresenta-se a metodologia, alinhada à perspectiva de Goffman (2012) para análise dos enquadramentos em que Erika é posicionada pelas escolhas editoriais da revista; na sequência, discute-se a partir da análise. Por fim, aponta-se conclusões a partir do estudo desenvolvido, e indica-se caminhos possíveis para pesquisas futuras.

2. UM OLHAR INTERSECCIONAL SOBRE A MODA

A interseccionalidade é uma teoria e também um operador metodológico que ganha força na virada da última década do século XX, tendo sido cunhada a partir articulação de feministas negras latinas, a exemplo de Lélia Gonzalez, que, nas décadas de 1970 e 1980, já tinha um pensamento bem amadurecido a respeito das diferenças e exclusões a que são submetidas mulheres negras na sociedade. Posteriormente sistematizado pela jurista norte-americana Kimberlé Crenshaw (1989), o conceito de interseccionalidade pode ser entendido como eixo metodológico que consiste em fazer visível o processo nocivo de fraturas nas identidades sociais, conforme também aponta Carrera (2020).

Crenshaw (2002) compreende que as realidades sociais são construídas por sistemas de discriminação que interagem entre si de maneiras distintas, indicando que experiências e oportunidades de mulheres se dão de forma diferente na sociedade. Também segundo Collins e Bilge (2020, p. 17):

[...] as relações interseccionais de poder influenciam as relações sociais em sociedades marcadas pela diversidade, bem como as experiências individuais na vida cotidiana.

As autoras também propõem a interseccionalidade enquanto ferramenta analítica, que considera que as categorias gênero, raça, classe social, orientação sexual, etnia, entre outras, são interconectadas e moldam-se mutuamente. Para elas, a interseccionalidade é uma forma de entender e explicar a complexidade do mundo, das pessoas e das experiências humanas (Collins e Bilge, 2020). Assim, enquanto eixo teórico e metodológico, o pensamento interseccional ajuda-nos a entender como múltiplas formas de opressão se combinam e afetam de maneira complexa a vida de indivíduos subalternizados, criando realidades e desafios únicos para cada indivíduo.

É a partir deste olhar que se dirige ao tema de interesse do estudo: as relações entre moda, jornalismo, gênero e política. Nas definições de Belmiro e Miranda (2019), os editoriais de moda são o que diferenciam as revistas de moda de outras especialidades editoriais do jornalismo de revistas, tendo como função divulgar marcas e personalidades com certa influência social a partir de um conjunto de elementos, o que, segundo as autoras, torna o editorial de moda um dos mais poderosos instrumentos de comunicação, fazendo das revistas coletâneas visuais:

[...] A fotografia de moda é utilizada nos editoriais como uma forma propícia à sugestão de sentimentos e emoções, ao contrário de outros ramos da fotografia (Belmiro; Miranda, 2019, p. 8).

Já Mendonça (2010) complementa que os editoriais de moda em revistas femininas ou masculinas norteiam direções e apontam possibilidades para “vestir bem”. O filósofo Georg Simmel (2008) aborda as complexidades da moda definindo-a como um fenômeno social e cultural, fazendo do comportamento de cada indivíduo um simples exemplo. Ao imaginarmos editoriais de moda e capas de revistas, em especial as revistas femininas, é esperado um certo padrão de mulher que venha a ser representado - na maioria das vezes, padrões que atendam aos quesitos de beleza já estabelecidos, historicamente, em uma sociedade heterocisnormativa.

No Brasil, mulheres neste padrão são, tradicionalmente, brancas, magras ou com certo padrão de corpo, que representam as classes mais abastadas e as regiões mais favorecidas do país, como o Sudeste. Quando mulheres que fogem a este padrão se apresentam nas capas de revistas de moda ou em seu interior, são associadas, historicamente, a tendências divergentes, subalternas, dissidentes ou exóticas.

No caso de Erika Hilton, mulher negra, transexual e parlamentar, estampa a capa de uma revista nacional, Ela d’O Globo, em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres – fato que, por si só, já provoca um deslocamento dos padrões esperados para a data, especialmente na mídia comercial hegemônica. Estas questões serão retomadas posteriormente. Vale reforçar aqui que a moda, por ser um fenômeno que atravessa todos na sociedade, segundo Simmel (2008), é um produto da divisão de classes, servindo como elemento de diferenciação e, simultaneamente, de imitação, em um ciclo retroalimentado pelo próprio sistema – as revistas inclusas. Assim, estar na capa e no interior de uma revista é parte importante de um movimento maior do jogo político de diferenciação/visibilidade e também de reconhecimento a partir da moda.

Erika, por ser uma parlamentar com voz ativa em plataformas de mídias sociais e forte influência, faz uso dessas estruturas, difundindo seus ideais políticos juntamente a elementos da moda, permitindo assim uma difusão mais rápida da sua comunicação por meio da moda e seus aparatos. De novo, para Simmel (2008), a maneira como a sociedade se expressa e se concebe está em contínua remodelação através da moda, que é composta por camadas superiores e inferiores, camadas essas que Erika se propõe a aproximar a partir do editorial, conforme será visto a seguir.

Gomes (2010), influenciado pelos estudos de Simmel, visa identificar o relevante papel que a revista tem como aparato midiático no mundo da moda. Sugerindo o entendimento da revista de moda como um manual que dita tendências, o autor defende que “[...] o estudo da comunicação de moda apresenta-se como uma necessidade moderna para a compreensão do indivíduo e do seu estilo de vida” (Gomes, 2010, p. 12). O autor orienta, ainda, que há uma problemática no sistema da moda e que ela é mais do que design e estilismo:

Pois funciona como um reflexo da nossa sociedade, da mentalidade, das normas e valores, e do sentido estético num determinado momento da nossa história e cultura. Desta forma, o papel dos meios de comunicação ganha importância como forma de disseminação da informação e dos padrões da moda (Gomes, 2010, p. 11).

No caso da edição em análise, ressalta-se que a figura de Erika Hilton promove discussões em torno do próprio conceito de “mulher” e de como parlamentares são enquadradas nas revistas, circulando por ambiências onde o vestir tende a mimetizar modos de apresentação do masculino para fortalecer a associação com a credibilidade e outros valores morais. Nesse sentido, Cotta e Farage (2021) questionam as estruturas engessadas que determinam o que devem ou não vestir as mulheres, especialmente nos espaços de poder.

As autoras investigam a relação da mulher com a roupa de trabalho e o que há por trás das escolhas diárias que fazem diante do espelho. Elas alertam, assim como Simmel (2008) já havia proposto, que as roupas, desde o início, têm como uma de suas funções diferenciar: “Vestir-se é político. Nada do que vestimos é aleatório, neutro ou puramente pragmático. Por meio da moda conseguimos compreender, explicar e até mesmo transformar a sociedade” (Cotta; Farage, 2021, p. 87). Na obra, as autoras fazem um levantamento histórico da origem das escolhas das roupas destinadas ao guarda-roupa feminino, e o estudo serve para formação de repertório que visa romper com lógicas já estabelecidas de padrões impostos para aprisionar mulheres.

Desta forma, nota-se que os estudos sobre a moda já apontam caminhos possíveis para um olhar interseccional, indicando a necessidade de superação de uma visada moderna sobre a moda, sem se limitar a dimensões binárias de masculino/feminino, delicado/grotesco, magro/gordo, feio/bonito, hetero/homo, propondo leituras mais aprofundadas e complexificadoras dos enquadramentos (Goffman, 2012) das revistas de moda.

Para operacionalizar esse olhar, as contribuições de Erving Goffman (2012) são acionadas: o autor refere-se à forma como as interações sociais são estruturadas e interpretadas pelos indivíduos com base em contextos culturais e sociais específicos. Para Goffman (2012), a noção de enquadramento diz respeito a uma situação na qual se encontram indivíduos em interação, e é possível responder à questão: “o que está acontecendo aqui?”. Assim, a pergunta motivadora é: “o que está acontecendo quando uma mulher trans/travesti e deputada federal ocupa a capa de uma revista de moda em homenagem ao dia das mulheres?”.

3. METODOLOGIA

O estudo de caso aqui apresentado consiste em uma análise de caráter qualitativo da entrevista de Erika Hilton à revista (antigo caderno) Ela d’O Globo, sob as lentes da interseccionalidade, método que consiste em fazer visível o processo nocivo de fraturas nas identidades sociais, conforme Carrera (2020). A autora propõe a “roleta interseccional”, admitindo que a observância das matrizes de opressão que atravessam os corpos e os sujeitos é fundamental para a compreensão dos efeitos comunicacionais por eles engendrados, propondo um olhar que vá além das diferenças que constituem os indivíduos, direcionando esse olhar para como essas diferenças são estabelecidas (Carrera, 2020, p. 1). Com a metáfora fictícia da roleta, a autora ilustra como esses marcadores não atuam de forma isolada, mas de maneira simultânea e interdependente, moldando oportunidades, opressões e privilégios vivenciados pelas pessoas. A ideia é que a roleta gira e, ao girar, dependendo de onde ela para, diferentes combinações de identidades e experiências surgem, evidenciando a complexidade das intersecções e marcadores sociais.

Ainda conforme Carrera (2021, p. 6), “[...] os espaços midiatizados, assim como os ambientes interacionais e de conversação, são lugares emblemáticos para o debate sobre matrizes de opressão e dinâmicas discriminatórias”. Assim, a revista de moda pode ser entendida como local onde dinâmicas de poder se revelam, padrões são reforçados, tendo a capacidade de amplificar vozes ou até mesmo reforçar estereótipos prejudiciais a determinados grupos.

A análise volta-se para a entrevista e editorial de Erika, com o intuito de identificar como a deputada amplia seu discurso, discute pautas relacionadas à inclusão e diversidade ao mesmo tempo em que aciona elementos e linguagens da moda no editorial. Busca-se ainda identificar, a partir dos quadros de sentidos de Goffman (2012), como Erika é enquadrada na revista.

Na análise de Goffman (2012), a metáfora teatral, na qual a vida social pode ser entendida como uma peça, mostra-se de grande valia para análise de indivíduos que exercem cargos políticos. Nessa perspectiva, o autor traz diferentes conceitos que podem ser aplicados a essa análise, como os de “palco”, “fachada” e “cenário”. No caso de Erika Hilton, investiga-se como esses quadros de sentidos são apresentados na entrevista disponível na revista Ela d’O Globo, sob um olhar interseccional.

Procura-se identificar em quais quadros simbólicos Erika é enquadrada a partir de Goffman (2012). Fundamentadas nas interações face a face e nos conceitos deste autor, entende-se o quanto as interações não são simples ou espontâneas, pois são complexas na medida em que, na frente dos outros, os indivíduos representam papeis sociais já pré-estabelecidos e buscam administrar sua auto apresentação aos demais, criando duas formas de expressão: a que se transmite e a que emite (Goffman, 2012). França e Simões (2012), em estudos sobre a obra de Goffman, complementam que, ao representar papeis, ou personagens, os indivíduos são atores, e as interações são pequenas peças teatrais, encenadas em diferentes palcos:

Os papeis são definidos socialmente (os indivíduos se investem dos papeis construídos pela sociedade), e na administração de seu desempenho frente à plateia, há inclusive uma distinção entre a “fachada” (aquilo que queremos dar a ver, a frente do palco) e o “fundo” (aspectos aos quais não queremos dar visibilidade em dadas situações) (França; Simões, 2012, p. 105).

A partir das concepções de Goffman (2012), pode-se considerar a revista para a qual Erika deu entrevista e participou do editorial como o “palco” dessa interação simbólica. Para o autor, esse espaço é onde acontece a realização da peça dramática. Assim, pode-se definir como “palco” a revista (antigo caderno) Ela d’O Globo, mídia que estaria servindo de ator social. Para Carvalho (2023), pensar o jornalismo como ator social “[...] permite colocar em cena dimensões culturais, econômicas, ideológicas, comportamentais e outras variáveis indispensáveis” (Carvalho, 2023, p.26) – dimensões nas quais Erika Hilton é enquadrada, e espaço no qual apresenta-se como mulher, travesti, deputada e ativista dos direitos LGBTPQIAPN+, utilizando a moda como um meio condutor para comunicação política e expressão de sua identidade e ideais políticos.

Ainda para Goffman (2012), a interação é sobre como os indivíduos influenciam mutuamente suas ações quando estão em presença física imediata. Aplicando essa perspectiva à análise de Erika Hilton na revista Ela d’O Globo, pode-se explorar como essas interações se manifestam no contexto do editorial de moda e na entrevista. Goffman (2012, p. 34) conceitua “quadros” como “[...] definições de uma situação que são elaboradas de acordo com os princípios de organização que governam acontecimentos, pelo menos os sociais e nosso objetivo nele”. Ou seja, compreende-se como quadros nessa situação o conjunto de elementos que permitem aos indivíduos envolvidos na situação interpretar e responder a determinadas situações ali presentes.

Para França e Simões (2012) o interesse de Goffman se dirige para o aspecto maquinado e manobrado das relações interpessoais, argumentando que a interação social é um jogo de encenação, e os atores envolvidos são jogadores que na maioria das vezes querem ganhar. Olhar para a entrevista de Erika com as lentes da interseccionalidade, juntamente ao quadro de sentidos proposto por Goffman (2012), é uma oportunidade de observar como relações se organizam em esferas de atores sociais como as revistas, ator esse que sempre está envolvido em jogos de poder e disputas de sentidos, conforme Carvalho (2023).

Ao se colocar para o público nesses espaços, Erika também “quer ganhar” o jogo político, midiático e da diferenciação pela moda. Pode-se então refletir e compreender como avenidas identitárias se cruzam, fazendo com que a figura de Erika Hilton, uma mulher, trans/travesti, negra, deputada federal, seja capa em uma revista de moda, em posição de destaque, no Dia das Mulheres.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Sendo a primeira mulher transexual a ocupar liderança da bancada do PSOL na Câmara dos Deputados, cargo a que chegou no ano de 2024, Erika aborda na entrevista aspectos dessa conquista e também de sua infância, vida pessoal, bem como o namoro com o fotógrafo Daniel Zeza. A deputada menciona diferentes formas de opressão e discriminação que ela enfrenta como mulher negra e transexual que atua na política, fala sobre ambições políticas, tratando da dificuldade de atuar na Câmara, privilegiando destacar a luta conjunta entre mulheres, mas tomando as mulheres em um sentido universal. Como alerta Carrera (2020), a constituição do sujeito subalternizado, atravessado por diversas avenidas de opressão, faz-nos entender que, na mulheridade, existem categorias, tais como raça, cor, identidade, entre outras, que não podem ser esquecidas na luta por direitos. Dessa forma, a universalização da categoria mulher pode ser lida tanto quando uma fragilidade do discurso de Erika, quanto como uma tentativa de diálogo com um público heterogêneo, diante de uma data em que as mulheres são acionadas por suas lutas coletivas.

Nas divisões de poderes, tanto das revistas, quanto na moda, não é comum vermos o foco em pessoas de pele preta e transexuais, seja pela desumanização desses corpos ou pelas políticas de exclusão que os colocam em subcategorias o que, segundo Preciado (2022), os torna corpos abjetos, passíveis de violências, que são vistos de certa maneira como “monstros” por fazerem a travessia (da transgeneridade) e subverterem as noções da binariedade: “Aquele cuja face, corpo e práticas ainda não podem ser considerados verdadeiros em um regime de conhecimento e poder determinados” (Preciado, 2022, p. 297).

Vale ressaltar que o Brasil é o país entre as nações que fazem essa contagem que mais assassina transexuais no mundo pelo 14° ano consecutivo, de acordo com relatório da ANTRA. Erika, sendo uma mulher negra e transexual, a estampar capa e páginas de uma revista dominical da mídia empresarial, faz surgir fissuras em torno de quais operadores são acionados para que determinados corpos possam ou não ocupar esse espaço. É interessante identificar como os atravessamentos são pautados na figura de Erika, e como a moda dialoga ou não com suas pautas de trabalho. No editorial que acompanha a matéria, são apresentados diversos objetos e roupas que são de alto valor aquisitivo e de grande exclusividade, a exemplos de colar e brincos Swarovski utilizados na capa da revista e as roupas de marcas de luxo que compõem o style de Erika. Ao olhar para esses atravessamentos com a lente interseccional, podemos identificar contradições nessa interseção entre moda e política na comunicação de Erika. No editorial e na entrevista, Erika usa peças de luxo, a exemplo da fotografia composta por um look totalmente vermelho no qual a deputada usa roupas da grife italiana Dolce & Gabbana (Figura 1).

Figura 1: Erika Hilton veste Dolce & Gabbana, em Editorial para a revista Ela

Fonte: Reprodução / Revista Ela (2024).

Nota-se marcadores fundamentais à análise, tais como gênero, sexualidade e classe, a partir das fotos do editorial. Fundada por Domenico Dolce e Stefano Gabbana, ambos abertamente homens gays, a grife Dolce & Gabbana apresenta-se com uma imagem associada à sensualidade e ao glamour, voltada para o público de elite. A dupla que comanda a grife já se envolveu em inúmeras controvérsias por campanhas publicitárias consideradas racistas e por falas preconceituosas. Um exemplo notório é a campanha de 20181 na China, em que a marca foi acusada de perpetuar estereótipos racistas. A reação foi de grande repúdio, com muitos consumidores boicotando a marca e o cancelamento de um desfile que iria ser sediado no país.

Assim como a grife Dolce & Gabbana, utilizada como exemplo para expor as dualidades que se fazem presentes no fato de Erika Hilton defender pautas no sentido oposto às polêmicas da marca, pode-se afirmar que essas marcas se alinham às demais casas de moda (Mugler, Prada, Mounf Off, Area, Salvatore Ferragamo, Fendi e joalheria Swarovski) utilizadas no editorial (Figuras 2 e 3).

Figura 2: Erika Hilton de vestido Area na Farfetch, luvas Mounf Off, joias Swarovski

Fonte: Reprodução / Revista Ela (2024).

Figura 3: Erika veste Salvatore Ferragamo, sutiã Intimissimi, botas e brincos Fendi

Fonte: Reprodução / Revista Ela (2024).

Fazem parte da mesma hegemonia, a moda estrangeira e de luxo, que, por definição, é exclusiva e inacessível para a maioria. São produtos destinados a um público de elite específico e que, na maioria das vezes, determinam quais corpos estão aptos a usarem tais peças, o que nos leva pensar sobre quem realmente tem acesso a essa moda em evidência e para qual público este produto midiático está sendo destinado. Segundo Simmel (2008), isso constitui a essência da moda, em que só uma pequena parte tem acesso, enquanto a totalidade se encontra a caminho dela.

É necessário salientar a importância da roupa como pilar para a comunicação de grupos e para os respectivos traços identitários. Assim, pode-se compreender que, mesmo que a moda e seus elementos se façam presentes e sirvam de condutores na expressão de Erika na entrevista e na política, a escolha pelos trajes do editorial que, necessariamente, não passam por uma escolha da deputada, mas por toda uma equipe de produção, provoca deslocamentos tanto em relação ao que se espera do vestuário de uma parlamentar (como terninhos e tailleur), quanto do eixo de classe que se vincula às pautas defendidas por Erika.

Para Simmel (2008, p.25), a moda pode agir muitas vezes como um “produto da divisão de classes e comportar-se como muitas outras configurações, sobretudo como a honra, cuja dupla função é formar um círculo social fechado e, ao mesmo tempo isolá-lo dos outros”. Assim, entende-se que a moda e os artefatos presentes servem como um elemento de autenticidade e valorização da posição da deputada, colocando-a em um local de destaque, podendo agir como um produto dualístico de união ou diferenciação, conforme imagem construída (Figuras 2 e 3).

Nas concepções de Goffman (٢٠١٢), pode-se conceituar o “palco” onde Erika Hilton se encontra: sua escolha de vestuário não se alinha exatamente com os locais da política que vem ocupando como parlamentar (terninhos, roupas masculinas), mas fortalece sua imagem como um sujeito político de outra ordem, que deseja trazer uma nova percepção sobre a existências de corpos travestis na sociedade e na política brasileira. Esse palco metafórico ganha materialidade na revista no sentido de que é um espaço social, cultural e de disputa de poderes onde a imagem e mensagem da deputada são projetadas e interpretadas pelo público, sinalizando para a forma como Erika quer ser lida nesse espaço que, durante muito tempo, foi somente destinado a mulheres que compartilham da cisgeneridade normativa: há sensualidade, transparência, pele a mostra, cabelos ao vento, joias e glamour.

Erika Hilton, sendo uma mulher negra e travesti, traz, em particular, marcadores identitários que desafiam as normas tradicionais da sociedade, especialmente dentro do contexto midiático, político e da moda, que historicamente, tem privilegiado mulheres cisgêneras e brancas.

Deduz-se que a presença de Erika nesse espaço serve como uma “representação interseccional” trazendo um novo olhar sobre representações de gênero que vão para além do corpo cis. Erika é um novo ator em um palco cisheteronormativo, que ocupa esse espaço com as dualidades e contradições passíveis dos espaços da moda e do jornalismo. Nesse sentido, e citando novamente Carrera (2020), na comunicação podem ser reveladas estruturas e políticas que expõem as avenidas de opressão:

A construção cultural e os sentidos marginalizantes que circulam sobre estes sujeitos. Esses sentidos, inclusive, transcendem o campo midiático e operam no âmbito das relações sociais, até mesmo acadêmicas, que também costumam compor objetos de estudo em comunicação (Carrera, 2020, p. 6).

Tais construções culturais excluem mulheres trans e travestis de várias esferas da sociedade, desde o convívio familiar, evasão escolar, à baixa representação na política. Erika, juntamente com a deputada Duda Salabert (PDT-MG), são exemplos dessa exclusão sistêmica: ambas são as primeiras e até então únicas mulheres trans/travesti como parlamentares no Congresso Nacional em toda história do Brasil. Portanto, a presença e os quadros em que Erika é colocada nos oferecem oportunidades para que novas histórias sejam contadas ao mesmo tempo que nos revela que, para que essas histórias sejam contadas, ainda é preciso fazer parte de determinados quadros, que, por vezes, podem revelar opressões e violências, ao mesmo tempo em que também podem perpetuar a manutenção de outros que excluem e apagam.

Conforme Goffman (2012), a “fachada” pode ser entendida como os elementos utilizados pelas pessoas durante a interação. O autor defende que a fachada é composta por dois elementos, a sua fachada pessoal, que são suas expressões, aparência, tom de voz, formas de falar, e o cenário que acompanha essa fachada. O cenário pode ser definido como os elementos físicos e simbólicos que compõem a cena (Goffman, 2012).

Na revista, identifica-se como a fachada pessoal de Erika e o cenário se manifestam. A deputada faz uso de roupas de grife, poses de modelo, maquiagem, cabelo bem produzido e acessórios de luxo como parte de sua fachada pessoal, enfatizando a forma como quer ser lida socialmente. Entende-se que esses elementos são escolhidos para comunicarem não apenas seu estilo pessoal, mas também sua identidade interseccional como mulher trans, negra e deputada (Figura 4).

Figura 4: Capa da revista Ela 2024, Erika usa colar e brincos da joalheria Swarovski

Fonte: Revista Ela, 2024.

As escolhas de moda de Erika em sua comunicação têm como função passar seus valores, identidade política e uma nova percepção sobre corpos que não se enquadram nos “padrões” em um local majoritariamente masculino e heteronormativo como a política.

Além disso, o cenário onde essa fachada é projetada funciona como um palco, cuja definição já trouxemos acima, e que pode operar como um mecanismo que amplifica e molda sua imagem diante da sociedade. A revista, com seus elementos visuais e editoriais, incluindo as fotografias, capa (Figura 5), design e narrativas textuais, pode ajudar a construir e transmitir a imagem de Erika para o público. Na capa, por exemplo, a imagem de luxo em destaque é contraposta com os dizeres “Uma só luta”, uma tentativa de unir mulheres ao mesmo tempo em que sinaliza uma diferenciação pela moda.

Ao se voltar o olhar para o conteúdo textual da entrevista, é possível observar que pautas como a de pessoas em situação de rua, meio ambiente, combate à fome e união entre as mulheres são apresentadas, como no trecho: “Quem é mãe solo na periferia sabe como as chuvas causam crises absurdas” (Vanini, 2024), em que Erika exemplifica como o feminino pode ser plural a depender da classe social, local onde reside e cor da pele. Ao trazer à tona tais marcadores identitários em um espaço midiatizado, que desempenha um papel na divisão e manutenção de poderes como são o caso das revistas, camadas de violências podem surgir, como define Carrera (2020, p. 6):

Os espaços midiatizados, assim como os ambientes interacionais e de conversação, constantemente colocados sob os holofotes das pesquisas em Comunicação, são lugares emblemáticos para o debate sobre matrizes de opressão e dinâmicas discriminatórias.

Além disso, a moda, no contexto da política e da mídia, pode ser utilizada como uma ferramenta de comunicação visual que transmite mensagens sobre identidade, poder e status. No caso da deputada, ao posar para um editorial usando tais grifes, em imagens associadas ao luxo e ao poder pelo status de classe, pode-se não apenas reforçar sua posição de prestígio, mas também subverter estereótipos já estabelecidos de quem pode ou não ter acesso a esses espaços, a depender da leitura interseccional que se faz. Isso nos permite inferir que há uma tentativa de utilizar a moda como uma forma de inclusão simbólica, permitindo que a deputada reivindique um espaço de poder tradicionalmente negado a grupos marginalizados, ao qual faz parte, mobilizando a revista como palco para suas pautas, propondo possíveis novos enquadramentos neste espaço.

Em todos os temas abordados na entrevista, a deputada observa a mulher como figura central, já que são as mais afetadas. Erika ressalta a abrangência das opressões e desigualdades que afetam as mulheres como um todo, especialmente aquelas em situações de vulnerabilidade. Segundo a parlamentar, o feminino é plural, mas há um ponto em comum entre todas as mulheres, independente de classe ou gênero, a violência, como no trecho em que diz: “Todas as mulheres são afetadas pelo ódio, pelo não direito de ocupar espaços dignos. E isso é o que nos une. Devíamos ter a clareza disso e deixar as diferenças de lado” (Vanini, 2024).

No entanto, ao se observar a composição da equipe, desde jornalista, fotógrafo, assistente, maquiador, etc., na edição que traz Erika Hilton como capa, observa-se que a parlamentar era a única mulher envolvida em todo processo de produção da revista e que, mesmo que alguns dos homens presentes compartilhem a homossexualidade como marcador identitário, a cisgeneridade prevalece, o que reflete não só na moda, mas em um problema estrutural. Em levantamento feito pelo portal de notícias G12 em 2024, com aproximadamente 300 empresas no país, com 1,5 milhão de trabalhadores, a parcela de colaboradores da comunidade LGBTQIAPN+ num geral ocupam apenas 4,5% dos postos de trabalho nas empresas. O estudo ainda revela que para pessoas trans, a situação é ainda pior, os números não chegam nem a 0,5%, o que corresponde a (0,38%) do total de funcionários.

Assim, fazendo surgir fissuras que nos levam a questionar que, mesmo que tenhamos uma deputada negra e travesti em uma capa de revista dominical, acessível para determinado público a depender da classe social, ainda existe um longo caminho a ser percorrido, sobretudo a quais corpos o jornalismo visa evidenciar em uma capa de revista de moda. Percebe-se que o jornalismo e o modus operandi presentes na mídia seguem as mesmas especificidades, seguindo normas patriarcais e sexistas, também colocando sob Erika um olhar que a objetifica. Carvalho (2023) orienta que, ao falarmos do jornalismo como um ator social é preciso atentar-se a uma tendência ingênua ao seu trato:

Há uma tendência ingênua no trato com a noção de atores sociais, qual seja, a de considerar que estamos diante de agentes homogeneizados por lutas comuns a favor dos direitos humanos, da liberdade e de outras premissas igualitárias, prejudicando a percepção de clivagens, contradições, jogos de poder e disputas de sentido no interior de grupos que, a princípio, lutariam por uma mesma causa (Carvalho, 2023, p. 36).

A entrevista, sob as lentes da interseccionalidade, revela dualismos entre o que aparece em texto e o que apresenta o editorial, fazendo com que mesmo que a moda presente seja um instrumento de inclusão de Erika neste universo, pode também ressaltar camadas de exclusão de classe, diferenciação pelo luxo e manutenção de estruturas que perpetuam práticas excludentes a depender do gênero, raça, sexualidade ou/e status social. Isso faz com que a moda presente no editorial possa criar uma imagem de exclusividade e elitismo que não se alinham completamente com as lutas por igualdade social defendidas por Erika, fazendo com que haja contradições em sua figura apresentada na revista. A um público menos acostumado com sua figura, tais contradições podem justamente servir para fomentar críticas com base em incoerências que se manifestam na revista, mas não necessariamente impedem que Erika faça um trabalho parlamentar alinhado com seus valores.

Ainda assim, são esses dualismos que fazem com que a figura de Erika nesse espaço seja de grande valia e ganhos para a sociedade, fazendo com que ao se falar de mulheres, e sobretudo mulheres em capas de revistas, se consiga enxergar novas possibilidades de existência e identidade. Cotta e Farage (2021), em uma das várias questões debatidas em sua obra, discutem o porquê de a relação da mulher com a roupa de trabalho ser tão complicada, e sempre retorna de alguma forma ao debate: “partimos da premissa de que o trinômio mulher-roupa-trabalho nunca é um assunto apenas do universo da moda, mas do âmbito político de fato” (Cotta; Farage, 2021, p. 11).

Portanto, a presença na revista Ela pela ocasião do Dia das Mulheres também é uma forma de superar barreiras a que mulheres trans são submetidas. Ao se ter uma personalidade como Erika Hilton, com todos seus marcadores identitários e sociais, em um espaço tido como cisnormativo e branco, estampando a capa de uma revista que desde o seu surgimento propunha um certo jeito de ser mulher, têm-se uma potência em meio à contradição. Erika, ao reivindicar uma luta conjunta entre as mulheres, tomando “mulher” no sentido de variadas identidades possíveis, e ao enquadrar-se nos aparatos proposto pela revista, como uma “diva pop”, abre horizontes e cria novas possibilidades no imaginário social e político. A partir da revista, ao se imaginar uma identidade travesti, não se associa essa existência apenas a violências e estereótipos negativos, o que remete novamente às noções de Goffman (2012) – que, ao mencionar o público, fala da capacidade dos espectadores de absorver o que é emitido pelo “autor” por meio do “palco”:

[...] a extraordinária capacidade dos espectadores de se deixar absorver numa transcrição que se afasta radical e sistematicamente de um original imaginável. Produz-se uma correção automática e sistemática e parece ocorrer sem que os autores percebam conscientemente as convenções de transformação que empregaram (Goffman, 2012, p. 188).

Essas convenções e transformações propostas pelo autor são justamente o que a deputada propõe. Portanto, a presença de Erika nesse espaço configura-se como um rico material de análise e de novas formas de compreender o mundo como espaço em que novas narrativas sobre pessoas trans e travestis emergem e mobilizam atores sociais diversos, como o jornalismo e a moda.


5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em virtude dos resultados aqui apresentados, conclui-se que, ao estampar a capa uma edição de uma revista voltada para o público feminino em uma data como o Dia Internacional das Mulheres, falar sobre sua trajetória, desafios e discriminações enfrentadas como mulher, Erika sinaliza para a diversidade de identidades existentes, e traz à tona problemas vividos por todas as mulheres, independente da identidade com que se identificam.

No entanto, nos liames entre moda e política propostos, observou-se certa distância entre as escolhas de objetos e artefatos da moda e as pautas propostas na matéria. Cabe notar que não se trata de fazer um julgamento de valor em relação aos usos de marcas de luxo por uma parlamentar negra, travesti, transexual. O que se aponta é que se pode considerar que as escolhas estéticas e de estilo de Erika conversam com a forma como ela quer ser vista e interpretada na sociedade. Essa intersecção entre moda e política apresentada por Erika Hilton influencia a forma como a deputada é enquadrada, exerce seu mandato e apresenta-se em revistas.

À vista disso, foi possível observar como a moda opera com dualidades: ao mesmo tempo em que pode servir de condutora para revelar opressões enfrentadas por determinados grupos, proporciona inclusão em espaços que tradicionalmente podem excluir e proporcionar diferenciações. Erika Hilton, ao utilizar a moda como forma de se comunicar através de revistas, não apenas reafirma sua identidade enquanto uma mulher pertencente a esse espaço, mas também promove uma visão mais inclusiva, ampla e diversificada da política e da sociedade.

AGRADECIMENTOS

Agradecimento à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro e pela concessão da bolsa de estudos, que foi fundamental para a realização deste trabalho.

NOTAS DE FIM DE TEXTO

1 A marca postou um vídeo de uma modelo tentando comer comida italiana com hashi, o post sofreu com comentários negativos e foi tirado do ar em menos de 24 horas. Disponível em: https://ffw.uol.com.br/noticias/moda/dolce-gabbana-cancela-desfile-em-xangai-apos-ser-acusada-de-racismo. Acesso em: 17 jul. 2024.

2 Estudo revela que apenas 0,38% dos postos de trabalho no Brasil são ocupados por pessoas trans. Disponível em: https://g1.globo.com/globonews/jornal-das-dez/noticia/2024/05/15/estudo-revela-que-038percent-dos-postos-de-trabalho-no-pais-sao-ocupados-por-pessoas-trans.ghtml.Acesso em 20, out. 2024.

REFERÊNCIAS

BENEVIDES, Bruna G.; NOGUEIRA, Sayonara Naider Bonfim. Dossiê dos assassinatos contra travestis e transexuais brasileiras em 2019. São Paulo: Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2020. Disponível em: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2020/01/dossic3aa-dos-assassinatos-e-da-violc3aancia-contra-pessoas-trans-em-2019.pdf. Acesso em: 20 abr. 2024.

CARRERA, F. Roleta interseccional: proposta metodológica para análises em Comunicação. E Compós, [S. l.], v. 24, 2021. DOI:10.30962/ec.2198. Disponível em: https://www.e compos.org.br/e-compos/article/view/2198. Acesso em: 18 abr. 2024.

CARVALHO, Carlos Alberto de. O jornalismo, ator social, colonizado e colonizador. Curitiba: CRV, 2023. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1A3YGMC3K8bhB2Hgs4n9oKjZKen73OqpW/view?pli=1https://drive.google.com/file/d/1A3YGMC3K8bhB2Hgs4n9oKjZKen73OqpW/view?pli=1. Acesso em: 20 jul. 2024.

COLLINS, P. H.; BILGES, S. Interseccionalidade. Tradução Rene Souza. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2020.

COTTA, M.; FARAGE, T. Mulher, roupa, trabalho: como se veste a desigualdade de gênero. 1. ed. São Paulo: Paralela, 2021.

CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas, 2002.

DALBONI, Melina. Ela celebra 60 anos refletindo desejos e ambições da mulher moderna ao longo das décadas. O Globo, 2024. Disponível em: https://oglobo.globo.com/ela/noticia/2023/12/11/ela-celebra-60-anos-refletindo-desejos-e-ambicoes-da-mulher-moderna-ao-longo-das-decadas.ghtml . Acesso em: 22 jul. 2024.

FABRIS, Ligia; GIUSTI, Victor; SAAB, Beatriz. Desinformação, conservadorismo e narrativas transfóbicas orientam projetos de lei com conteúdo antitrans entre 2019 e 2023. FGV ECMI, 2023. Disponível em: https://midiademocracia.fgv.br/node/103. Acesso em: 26 jul. 2024.

GOFFMAN, Erving. Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise/ Erving Goffman; prefácio de Bennet M. Berger; tradução de Gentil A. Titton. Petrópolis: Vozes, 2012.

GOMES, Nelson, Pinheiro. O marketing da aparência: Comunicação e imagem nas publicações periódicas de moda. 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências da Cultura) – Universidade de Lisboa Faculdade de Letras, Lisboa, 2010. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/1935/1/ulfl072331_tm.pdf. Acesso em: 29 jul. 2024.

MENDONÇA, Carla Maria Camargos. Um olhar sobre as mulheres de papel: Tirania e prazer nas revistas Vogue. 2010. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. Disponívelem:https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/FAFI-8U5J6E/1/tesecarlacomp.pdf. Acesso em: 29 jul. 2024

MENDONÇA, Ricardo Fabrino; GUIMARÃES, Simões, Paula. Enquadramento. Diferentes operacionalizações analíticas de um conceito. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 27, núm. 79, jun. 2012, pp. 187-201.

O GLOBO. No dia 4 de janeiro de 1964, nascia Ela, o caderno mais charmoso do Globo. Disponível em:https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/no-dia-4-de-janeiro-de-1964-nascia-ela-caderno-mais-charmoso-do-globo-11208952. Acesso em: 22 jul. 2024.

PRECIADO, Paul B. Eu sou o monstro que vos fala: Relatório para uma academia de psicanalistas. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2022.

SIMMEL, Georg. Filosofia da Moda. Lisboa: Edições Texto e Grafia, 2008.

SOUZA, Valdete Vazzoler de; CUSTÓDIO, José de Arimathéia Cordeiro. Fotografia: meio e linguagem dentro da moda. Discursos Fotográficos, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 231–251, 2005. Disponível em:https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/article/view/1474. Acesso em: 26 jul. 2024.

VANINI, Eduardo. Erika Hilton fala sobre namoro e fama: “Tentamos manter momentos de intimidade, mas não dura muito”. O Globo, 2024. Disponível em: https://oglobo.globo.com/ela/gente/noticia/2024/03/03/erika-hilton-fala-sobre-namoro-e-fama tentamos-manter-momentos-de-intimidade-mas-nao-dura-muito.ghtml . Acesso em: 20 jul. 2024.

Erika Hilton in Ela magazine: an intersectional proposal between fashion, gender and politics

ABSTRACT

The article analyzes the intersection between fashion and politics in the figure of Erika Hilton, federal deputy for PSOL-SP, highlighting how she uses fashion to promote her gender identity and activism. The case study, based on an interview with O Globo’s Ela magazine on International Women’s Day, explores inclusion and diversity while presenting Erika in a fashion editorial photo shoot. The research is classified as qualitative and descriptive, using bibliographical research and the intersectional roulette approach, together with Ervin Goffman’s frames of meaning. The results reveal the contradictions between the use of luxury brands and social struggles, showing how fashion can be a means of inclusion, but also perpetuate exclusions.

Keywords: Fashion; Gender and Politics; Intersectional Roulette; Erika Hilton.

Erika Hilton na revista Ela: uma proposta interseccional entre moda, gênero e política

RESUMO

O artigo analisa a intersecção entre moda e política na figura de Erika Hilton, deputada federal pelo PSOL-SP, destacando como ela utiliza a moda para promover sua identidade de gênero e seu ativismo. O estudo de caso, baseado em uma entrevista à revista Ela d’O Globo pelo Dia Internacional das Mulheres, explora pautas de inclusão e diversidade ao mesmo tempo em que apresenta Erika em um ensaio fotográfico com ares de editorial de moda. A pesquisa se classifica como básica, qualitativa e descritiva, utilizando pesquisa bibliográfica e abordagem da roleta interseccional, juntamente com os quadros de sentidos de Ervin Goffman. Os resultados revelam as contradições entre o uso de marcas de luxo e as lutas sociais, evidenciando como a moda pode ser um meio de inclusão, mas também perpetuar exclusões.

Palavras-chave: Moda, Gênero e Política; Roleta interseccional; Erika Hilton.

Erika Hilton en la revista Ela: una propuesta interseccional entre moda, género y política

RESUMEN

El artículo analiza la intersección entre la moda y la política a través de la figura de Erika Hilton, diputada federal por el PSOL-SP, destacando cómo utiliza la moda para promover su identidad de género y su activismo. El estudio de caso, basado en una entrevista para la revista Ela de O Globo por el Día Internacional de la Mujer, explora temas de inclusión y diversidad, al mismo tiempo que presenta a Erika en una sesión fotográfica con un estilo editorial de moda. La investigación se clasifica en básica, cualitativa y descriptiva, utilizando la investigación bibliográfica y el enfoque de la ruleta interseccional, junto con los marcos de significados de Ervin Goffman. Los resultados revelan las contradicciones entre el uso de marcas de lujo y las luchas sociales, evidenciando cómo la moda puede ser un medio de inclusión, pero también perpetuar exclusiones.

Palabras-clave: Moda, Género y Política; Ruleta interseccional; Erika Hilton.

1 INTRODUCTION

Launched as a section of the newspaper O Globo in January 1964, the Ela section was created as a manual of how women should behave at the time, presenting “[...] GLOBO’s lifestyle section, which advertised itself as a free space to discuss issues that interested women, from fashion to behavior, from society to raising children” (Acervo, O Globo, 2014).

In its first issue, the section quoted great female personalities such as Jacqueline Kennedy, Grace Kelly and Brigitte Bardot - women who were considered fashion icons and social role models. The launch issue also featured a letter from businessman Roberto Marinho, owner of the Globo Group, which hinted at which women the magazine aimed to contemplate, the “modern woman”: “[...] after all, the modern world is much less masculine and much more feminine than it seems” (Dalboni, 2023).

Later, in 2017, O Globo decided to update the manual aimed at women and launched the magazine to replace the section, which would then accompany the newspaper’s Sunday editions. The move makes the magazine a product that “[...] will give more space to women and their vision of the world, with reports that reflect the lifestyle and spirit of cariocas” (Acervo, O Globo, 2023).

This study aims to analyze the intersection between fashion and politics in the figure of Erika Hilton, federal deputy for PSOL-SP, highlighting how she uses fashion to promote her gender identity and her activism. The corpus of analysis is an interview given by Hilton in 2024 to O Globos Ela magazine (formerly Caderno), on International Women’s Day, in which Erika Hilton talks about the problems faced by all women and the challenges of parliamentary action, while at the same time illustrating the pages of the interview posing for an editorial in which clothes and accessories from major luxury brands and international labels stand out.

In her work as a parliamentarian, Hilton addresses political and legislative issues through her clothing, artifacts and performances in the world of fashion and beauty, as well as using her presence in fashion magazines to articulate a new narrative about gender identity and political activism. By examining how Erika uses fashion as an apparatus for political communication and identity expression, this work contributes to a broader understanding of the interactions between fashion and politics through the lens of intersectionality - an important methodological tool that allows representational and discursive injustices to be exposed, proposing tools for equity, according to Carrera (2020).

The article is organized into the following sections: the first deals with the theoretical basis of an intersectional approach to fashion; the second presents the methodology, aligned with Goffman’s (2012) perspective for analyzing the frameworks in which Erika is positioned by the magazine’s editorial choices; the next section discusses the analysis. Finally, conclusions are drawn from the study and possible outcomes for future research are indicated.

2. AN INTERSECTIONAL LOOK AT FASHION

Intersectionality is a theory and a methodological operator that gained strength at the turn of the last decade of the 20th century. It was coined from the articulation of black Latin feminists, such as Lélia Gonzalez, who, in the 1970s and 1980s, already had a very mature mindset about the differences and exclusions to which black women are subjected in society. Later systematized by the American jurist Kimberlé Crenshaw (1989), the concept of intersectionality can be understood as a methodological axis that consists of making visible the harmful process of fractures in social identities, as Carrera (2020) also points out.

Crenshaw (2002) understands that social realities are constructed by systems of discrimination that interact with each other in different ways, indicating that women’s experiences and opportunities occur differently in society. Also, according to Collins and Bilge (2020, p. 17):

[...] intersectional power relations influence social relations in societies marked by diversity, as well as individual experiences in everyday life.

The authors also propose intersectionality as an analytical tool, which considers that the categories of gender, race, social class, sexual orientation and ethnicity, among others, are interconnected and shape each other. For them, intersectionality is a way of understanding and explaining the complexity of the world, people and human experiences (Collins and Bilge, 2020). Thus, as a theoretical and methodological axis, intersectional thinking helps us to understand how multiple forms of oppression combine and affect the lives of subalternized individuals in complex ways, creating unique realities and challenges for everyone.

It is from this perspective that we turn to the subject of interest in this study: the relationship between fashion, journalism, gender and politics. According to Belmiro and Miranda (2019), fashion editorials are what differentiate fashion magazines from other editorial specialties in magazine journalism. Their function is to publicize brands and personalities with a certain social influence based on a set of elements, which, according to the authors, makes fashion editorials one of the most powerful communication tools, making magazines visual collections:

[Fashion photography is used in editorials as a way of suggesting feelings and emotions, unlike other branches of photography (Belmiro; Miranda, 2019, p. 8).

Mendonça (2010) adds that fashion editorials in women’s and men’s magazines guide directions and point out possibilities for “dressing well”. The philosopher Georg Simmel (2008) discusses the complexities of fashion, defining it as a social and cultural phenomenon, making the behavior of each individual a simple example. When we imagine fashion editorials and magazine covers, especially women’s magazines, we expect a certain standard of woman to be represented - most of the time, standards that meet the beauty requirements already established, historically, in a heterocisnormative society.

In Brazil, women of this standard have traditionally been white, slim or with a certain body shape, representing the wealthier classes and more favored regions of the country, such as the Southeast. When women who do not meet this standard appear on the covers of fashion magazines or inside them, they are historically associated with divergent, subaltern, dissident or exotic tendencies.

In the case of Erika Hilton, a black woman, transsexual and parliamentarian, as she graces the cover of a national magazine, Ela d’O Globo, in honor of International Women’s Day - the fact itself causes a shift in the standards expected for the celebration date, especially in the hegemonic commercial media. These issues will be revisited later. For now, as according to Simmel (2008), it is important to understand that fashion is a product of class division, serving as an element of differentiation and, at the same time, imitation, in a cycle that is fed back by the system itself - including magazines. Thus, being on the cover and inside a magazine is an important part of a larger movement in the political game of differentiation/visibility and of recognition based on fashion.

Erika, as a parliamentarian with an active voice on social media platforms and a strong influence, makes use of these structures, spreading her political ideals together with elements of fashion, thus allowing her communication to be spread more quickly through fashion and its apparatus. Again, for Simmel (2008), the way in which society expresses and conceives itself is continually being reshaped through fashion, which is made up of upper and lower layers, layers that Erika proposes to bring closer together through her editorial, as will be seen below.

Gomes (2010), influenced by Simmel’s studies, aims to identify the relevant role that the magazine plays as a media apparatus in the world of fashion. Suggesting that the fashion magazine should be understood as a manual that dictates trends, the author argues that “[...] the study of fashion communication presents itself as a modern necessity for understanding the individual and their lifestyle” (Gomes, 2010, p. 12). The author also points out that there is a problem in the fashion system and that it is more than design and styling:

It functions as a reflection of our society, mentality, norms and values, and aesthetic sense at a given moment in our history and culture. In this way, the role of the media gains importance as a way of disseminating information and fashion standards (Gomes, 2010, p. 11).

In the case of the issue under analysis, it should be noted that the figure of Erika Hilton promotes discussions around the very concept of “woman” and how parliamentarians are framed in magazines, circulating in environments where dress tends to mimic masculine modes of presentation to strengthen the association with credibility and other moral values. In this sense, Cotta and Farage (2021) question the rigid structures that determine what women should and shouldn’t wear, especially in spaces of power.

The authors investigate women’s relationship with their work clothes and what lies behind the daily choices they make in front of the mirror. They point out, as Simmel (2008) had already proposed, that clothing, from the outset, has one of its functions to differentiate: “Dressing is political. Nothing we wear is random, neutral or purely pragmatic. Through fashion we can understand, explain and even transform society” (Cotta; Farage, 2021. p. 87). In the book, the authors make a historical survey of the origin of clothing choices for women’s closets, and the study serves to form a repertoire that aims to break with the established logic of standards imposed to imprison women.

In this way, we can see that fashion studies are already pointing to possible ways of looking at things intersectionally, indicating the need to overcome a modern view of fashion, without limiting ourselves to the binary dimensions of male/female, delicate/grotesque, thin/fat, ugly/beautiful, hetero/homo, and proposing more in-depth and complex readings of the framings (Goffman, 2012) of fashion magazines.

To operationalize this view, the contributions of Erving Goffman (2012) are used: the author refers to the way in which social interactions are structured and interpreted by individuals based on specific cultural and social contexts. For Goffman (2012), the notion of framing refers to a situation in which individuals are interacting, and it is possible to answer the question: “what is happening here?”. Thus, the motivating question is: “what is happening when a trans woman and federal deputy occupies the cover of a fashion magazine in honor of Women’s Day?”.

3. METHODOLOGY

The case study presented here consists of a qualitative analysis of Erika Hilton’s interview with O Globos Ela magazine (formerly Caderno), through the lens of intersectionality, a method which consists of making visible the harmful process of fractures in social identities, according to Carrera (2020). The author proposes “intersectional roulette”, admitting that observing the matrices of oppression that run through bodies and subjects is fundamental to understanding the communicational effects they engender, proposing a look that goes beyond the differences that make up individuals, directing this look at how these differences are established (Carrera, 2020, p. 1). With the fictional metaphor of a roulette wheel, the author illustrates how these markers do not act in isolation, but simultaneously and interdependently, shaping the opportunities, oppressions and privileges experienced by people. The idea is that the roulette wheel spins and, as it spins, depending on where it stops, different combinations of identities and experiences emerge, highlighting the complexity of intersections and social markers.

According to Carrera (2021, p. 6), “[...] media spaces, as well as interactional and conversational environments, are emblematic places for debate on oppressive matrices and discriminatory dynamics”. Thus, fashion magazines can be understood as a place where power dynamics are revealed, standards are reinforced, and they have the capacity to amplify voices or even reinforce stereotypes that are harmful to certain groups.

The analysis turns to Erika’s interview and editorial, with the aim of identifying how the congresswoman broadens her discourse, discusses issues related to inclusion and diversity while at the same time using fashion elements and languages in the editorial. It also seeks to identify, based on Goffman’s (2012) frames of meaning, how Erika is framed in the magazine.

In Goffman’s (2012) analysis, the theatrical metaphor, in which social life can be understood as a play, is of great value for analyzing individuals who hold political office. From this perspective, the author brings up different concepts that can be applied to this analysis, such as “stage”, “façade” and “scenery”. In the case of Erika Hilton, we investigate how these frames of meaning are presented in the interview available in O Globo’s Ela magazine, from an intersectional perspective.

The aim is to identify which symbolic frameworks Erika falls into, based on Goffman (2012). Based on face-to-face interactions and the concepts of this author, we understand how interactions are not simple or spontaneous, as they are complex to the extent that, in front of others, individuals represent pre-established social roles and try to manage their self-presentation to others, creating two forms of expression: that which is transmitted and that which is emitted (Goffman, 2012). França and Simões (2012), in their studies of Goffman’s work, add that, when playing roles, or characters, individuals are actors, and interactions are small plays, staged on different stages:

Roles are defined socially (individuals invest themselves in roles constructed by society), and in managing their performance in front of an audience, there is even a distinction between the “façade” (what we want to show, the front of the stage) and the “background” (aspects that we don’t want to show in certain situations) (França; Simões, 2012, p. 105).

Based on Goffman’s (2012) conceptions, we can consider the magazine for which Erika gave the interview and took part in the editorial as the “stage” for this symbolic interaction. For the author, this space is where the dramatic play takes place. Thus, one could define the magazine Ela of O Globo as the “stage”, the media that would be serving as a social actor. For Carvalho (2023), thinking of journalism as a social actor “[...] allows cultural, economic, ideological, behavioral and other indispensable variables to be brought into play” (Carvalho, 2023, p.26) - dimensions in which Erika Hilton is framed, and the space in which she presents herself as a transwoman, travesti1, congresswoman, and LGBTPQIAPN+ rights activist, using fashion as a conduit for political communication and expression of her identity and political ideals.

For Goffman (2012), interaction is about how individuals mutually influence their actions when they are in immediate physical presence. Applying this perspective to the analysis of Erika Hilton in O Globo’s Ela magazine, we can explore how these interactions manifest themselves in the context of the fashion editorial and the interview. Goffman (2012, p. 34) conceptualizes “frames” as “[...] definitions of a situation that are elaborated according to the principles of organization that govern events, at least social ones and our purpose in them”. In other words, frames in this situation are understood as the set of elements that allow the individuals involved in the situation to interpret and respond to certain situations present there.

For França and Simões (2012), Goffman’s interest is directed towards the machinated and maneuvered aspect of interpersonal relationships, arguing that social interaction is a staged game, and the actors involved are players who most of the time want to win. Looking at Erika’s interview through the lens of intersectionality, together with the framework of meanings proposed by Goffman (2012), is an opportunity to observe how relationships are organized in the spheres of social actors such as magazines, which are always involved in power games and disputes over meanings, according to Carvalho (2023).

By presenting herself to the public in these spaces, Erika also “wants to win” the political, media and fashion differentiation game. We can then reflect on and understand how identity avenues intersect, making the figure of Erika Hilton, a black trans congresswoman, travesti, be on the cover of a fashion magazine, in a prominent position, on Women’s Day.

4. RESULTS AND DISCUSSION

As the first transgender woman to lead the PSOL caucus in the Chamber of Deputies, a position she reached in 2024, Erika discusses aspects of this achievement in the interview, as well as her childhood, personal life and her relationship with photographer Daniel Zeza. The congresswoman mentions different forms of oppression and discrimination she faces as a black and transgender woman in politics, talks about her political ambitions and the difficulties of serving in the House of Representatives, emphasizing the joint struggle between women, but taking women in a universal sense. As Carrera (2020) warns, the constitution of the subalternized subject, crossed by various avenues of oppression, makes us understand that, in womanhood, there are categories such as race, color, identity, among others, that cannot be forgotten in the struggle for rights. In this way, the universalization of the category woman can be read both as a weakness in Erika’s discourse and as an attempt to dialogue with a heterogeneous audience, on a date when women are being activated by their collective struggles.

In the divisions of power, both in magazines and in fashion, it is not common to see a focus on people with black skin and transgender subjects, either because of the dehumanization of these bodies or because of the policies of exclusion that place them in subcategories which, according to Preciado (2022), make them abject bodies, susceptible to violence, who are seen in a certain way as “monsters” for crossing over (transgenderism) and subverting the notions of binarity: “One whose face, body and practices cannot yet be considered true in a regime of determined knowledge and power” (Preciado, 2022, p. 297).

It is worth noting that Brazil is the country among the nations that make this count that has the highest transgender death rates in the world for the 14th consecutive year, according to a report by ANTRA. Erika, as a black transgender woman on the cover and pages of a Sunday magazine in the corporate media, causes fissures when appearing on the cover. It’s interesting to see how Erika’s figure is guided by these crossings, and how fashion does or doesn’t interact with her work.

In the editorial accompanying the article, various objects and clothes are presented that are of high value and exclusivity, such as the Swarovski necklace and earrings used on the cover of the magazine and the clothes from luxury brands that make up Erika’s style. Looking at these intersections through an intersectional lens, we can identify contradictions in this intersection between fashion and politics in Erika’s communication. In the editorial and in the interview, Erika wears luxury pieces, such as the photograph consisting of an all-red look in which she wears clothes by the Italian brand Dolce & Gabbana (Figure 1).

Figure 1: Erika Hilton wearing Dolce & Gabbana in an editorial for Ela magazine

Source: Reproduction / Ela magazine (2024).

Fundamental markers for analysis, such as gender, sexuality and class, can be seen in the editorial photos. Founded by Domenico Dolce and Stefano Gabbana, both openly gay men, the Dolce & Gabbana label presents itself with an image associated with sensuality and glamor, aimed at an elite public. The duo who run the label have been involved in numerous controversies for advertising campaigns considered racist and for prejudiced statements. One notorious example is the 2018 campaign in China, in which the brand was accused of perpetuating racist stereotypes. The reaction was one of great repudiation, with many consumers boycotting the brand and the cancellation of a fashion show that was to be held in the country.

As well as Dolce & Gabbana, used as an example to expose the dualities that are present in the fact that Erika Hilton defends agendas in the opposite direction to the brand’s controversies, it can be said that these brands are aligned with other fashion houses (Mugler, Prada, Mounf Off, Area, Salvatore Ferragamo, Fendi and Swarovski) used in the editorial (Figures 2 and 3).

Figure 2: Erika Hilton in Area dress at Farfetch, Mounf Off gloves, Swarovski jewelry

Source: Reproduction / Ela magazine (2024).

Figure 3: Erika wears Salvatore Ferragamo, Intimissimi bra, Fendi boots and earrings

Source: Reproduction / Ela magazine (2024).

They are part of the same hegemony, foreign and luxury fashion, which, by definition, is exclusive and inaccessible to the majority. These products are aimed at a specific elite audience and, most of the time, they determine which bodies are able to wear these garments, which leads us to think about who really access to this fashion in evidence and which audience has this media product is aimed at. According to Simmel (2008), this is the essence of fashion, in which only a small part has access, while the whole is on its way.

It’s important to emphasize the importance of clothing as a pillar for communicating groups and their respective identity traits. Thus, it can be understood that, even though fashion and its elements are present and serve as conduits for Erika’s expression in the interview and in politics, the choice of outfits for the editorial, which are not necessarily chosen by the congresswoman, but by an entire production team, causes shifts both in relation to what is expected of a parliamentarian’s clothing (such as suits and tailleur) and the class axis that is linked to the agendas defended by Erika.

For Simmel (2008, p.25), fashion can often act as a “product of class division and behave like many other configurations, above all like honor, whose dual function is to form a closed social circle and at the same time isolate it from others”. Thus, it is understood that fashion and the artifacts present serve as an element of authenticity and valorization of the position of the Member, placing her in a prominent place, and can act as a dualistic product of union or differentiation, according to the image constructed (Figures 2 and 3).

Using Goffman’s (2012) conceptions, we can conceptualize the “stage” where Erika Hilton finds herself: her choice of clothing is not exactly in line with the political venues she has been occupying as a parliamentarian (suits, men’s clothing), but it strengthens her image as a political subject of a different order, who wants to bring a new perception about the existence of transvestite bodies in Brazilian society and politics. This metaphorical stage gains materiality in the magazine in the sense that it is a social, cultural and power struggle space where the MP’s image and message are projected and interpreted by the public, signaling how Erika wants to be read in this space which, for a long time, was only intended for women who share normative cisgenderism: there is sensuality, transparency, skin on display, hair blowing in the wind, jewels and glamour.

Erika Hilton, being a black woman and a travesti, brings, in particular, identity markers that challenge the traditional norms of society, especially within the media, political and fashion context, which has historically privileged cisgender and white women.

It can be deduced that Erika’s presence in this space serves as an “intersectional representation”, bringing a new look at gender representations that go beyond the cis body. Erika is a new actor on a cisheteronormative stage, who occupies this space with the dualities and contradictions that are possible in the spaces of fashion and journalism. In this sense, and quoting Carrera again (2020), communication can reveal structures and policies that expose avenues of oppression:

The cultural construction and marginalizing meanings that circulate about these subjects. These meanings even transcend the media field and operate in the sphere of social relations, even academic ones, which also tend to be objects of study in communication (Carrera, 2020, p. 6).

These cultural constructions exclude trans women and travestis from various spheres of society, from family life, school, work environments and representation in politics. Erika, along with Congresswoman Duda Salabert (PDT-MG), are examples of this systemic exclusion: both are the first and, so far, only trans/travesti women as parliamentarians in the National Congress in the entire history of Brazil. Therefore, the presence and frames in which Erika is placed offer us opportunities for new stories to be told, while at the same time revealing that, for these stories to be told, it is still necessary to be part of certain frames, which can sometimes reveal oppression and violence, while also perpetuating the maintenance of others that exclude and erase.

According to Goffman (2012), the “façade” can be understood as the elements used by people during interaction. The author argues that the façade is made up of two elements: your personal façade, which is your expressions, appearance, tone of voice and manner of speaking, and the setting that accompanies this façade. The setting can be defined as the physical and symbolic elements that make up the scene (Goffman, 2012).

The magazine identifies how Erika’s personal façade and the setting manifest themselves. She uses designer clothes, model poses, make-up, well-produced hair and luxury accessories as part of her personal façade, emphasizing how she wants to be read socially. It is understood that these elements are chosen to communicate not only her personal style, but also her intersectional identity as a trans black congresswoman (Figure 4).

Figure 4: Cover of Ela magazine 2024, Erika wears necklace and earrings by Swarovski jewelers

Source: Ela magazine, 2024.

Erika’s fashion and communication choices have the function of conveying her values, political identity and a new perception of bodies that don’t fit the “standards” in a mostly male and heteronormative place like politics.

In addition, the setting where this façade is projected functions as a stage, the definition of which we mentioned above, and which can operate as a mechanism that amplifies and shapes its image in society. The magazine, with its visual and editorial elements, including the photographs, cover (Figure 5), design and textual narratives, can help construct and convey Erika’s image to the public. On the cover, for example, the featured image of luxury is contrasted with the words “A single struggle”, an attempt to unite women while signaling a differentiation through fashion.

Looking at the textual content of the interview, it is possible to see that agendas such as homelessness, the environment, the fight against hunger and unity among women are presented, as in the passage: “Anyone who is a solo mother in the periphery knows how the rains cause absurd crises” (Vanini, 2024), in which Erika exemplifies how the feminine can be plural depending on social class, where you live and the color of your skin. By bringing such identity markers to the fore in a mediatized space, which plays a role in dividing and maintaining powers as magazines do, layers of violence can emerge, as Carrera (2020, p. 6) defines:

Mediatized spaces, as well as interactional and conversational environments, constantly placed under the spotlight of Communication research, are emblematic places for the debate on matrices of oppression and discriminatory dynamics.

In addition, fashion, in the context of politics and the media, can be used as a visual communication tool that conveys messages about identity, power and status. In the case of the congresswoman, posing for an editorial wearing such brands, in images associated with luxury and power through class status, can not only reinforce her position of prestige, but also subvert established stereotypes of who can or cannot have access to these spaces, depending on the intersectional reading that is made. This allows us to infer that there is an attempt to use fashion as a form of symbolic inclusion, allowing her to claim a space of power traditionally denied to marginalized groups, to which she belongs, mobilizing the magazine as a stage for her agendas, proposing possible new frameworks in this space.

In all the topics covered in the interview, she sees women as the central figure, since they are the most affected by social struggles. Erika emphasizes the scope of the oppressions and inequalities that affect women, especially those in situations of vulnerability. According to her, women are plural, but there is a common thread between all women, regardless of class or gender: violence, as in the passage in which she says: “All women are affected by hatred, by not having the right to occupy dignified spaces. And this is what unites us. We should be clear about this and put our differences aside” (Vanini, 2024).

However, if we look at the composition of the team, from journalist, photographer, assistant, make-up artist, etc., in the issue featuring Erika Hilton on the cover, we see that the MP was the only woman involved in the entire production process of the magazine and that, even though some of the men present share homosexuality as an identity marker, cisgenderity prevails, which reflects not only on fashion, but on a structural problemii.

In a survey carried out by the news portal G1 in 2024, with approximately 300 companies in the country, with 1.5 million workers, the share of employees from the LGBTQIAPN+ community in general occupies only 4.5% of jobs in companies. The study also reveals that for trans people, the situation is even worse: the figures don’t even reach 0.5%, which corresponds to (0.38%) of all employees.

As a result, there are cracks that lead us to question that, even if we have a black travesty congresswoman on the cover of a Sunday magazine, which is accessible to a certain audience depending on their social class, there is still a long way to go, especially in terms of which bodies journalism aims to highlight on the cover of a fashion magazine. Journalism and the modus operandi present in the media follow the same specificities, following patriarchal and sexist norms, also placing a gaze on Erika that objectifies her.

Carvalho (2023) points out that, when we talk about journalism as a social actor, we need to be aware of a naive tendency when dealing with it:

There is a naive tendency in dealing with the notion of social actors, which is to consider that we are dealing with agents homogenized by common struggles for human rights, freedom and other egalitarian premises, hindering the perception of cleavages, contradictions, power games and disputes of meaning within groups that, in principle, would fight for the same cause (Carvalho, 2023, p. 36).

The interview, through the lens of intersectionality, reveals dualisms between what appears in the text and what is presented in the editorial, meaning that even though the fashion present is an instrument for including Erika in this universe, it can also highlight layers of class exclusion, differentiation through luxury and the maintenance of structures that perpetuate exclusionary practices depending on gender, race, sexuality and/or social status. This means that the fashion featured in the editorial can create an image of exclusivity and elitism that doesn’t completely align with the struggles for social equality defended by Erika, leading to contradictions in her figure presented in the magazine. To an audience less accustomed to her figure, these contradictions may serve to foment criticism based on the inconsistencies that are manifested in the magazine, but they don’t necessarily prevent Erika from doing parliamentary work in line with her values.

Even so, it is these dualisms that make Erika’s figure in this space of great value and gain for society, making it possible to see new possibilities for existence and identity when talking about women, and especially women on magazine covers. Cotta and Farage (2021), in one of the many issues debated in their work, discuss why women’s relationship with work clothes is so complicated, and always returns in some way to the debate: “we start from the premise that the trinomial woman-clothes-work is never just a matter for the fashion world, but for the political sphere in fact” (Cotta; Farage, 2021, p. 11).

Therefore, appearing in Ela magazine on Women’s Day is also a way of overcoming the barriers to which trans women are subjected. Having a personality like Erika Hilton, with all her identity and social markers, in a space considered to be cisnormative and white, on the cover of a magazine that since its creation has proposed a certain way of being a woman, is power amid contradiction. Erika, by claiming a joint struggle between women, taking “woman” in the sense of various possible identities, and by fitting into the apparatus proposed by the magazine, as a “pop diva”, opens horizons and creates new possibilities in the social and political imaginary. When imagining a transvestite identity through the magazine, this existence is not only associated with violence and negative stereotypes, which brings us back to the notions of Goffman (2012) - who, when mentioning the audience, talks about the spectators’ ability to absorb what is emitted by the “author” through the “stage”:

[...] the extraordinary capacity of spectators to allow themselves to be absorbed in a transcription that departs radically and systematically from an imaginable original. An automatic and systematic correction is produced and seems to occur without the authors consciously realizing the conventions of transformation they have employed (Goffman, 2012, p. 188).

These conventions and transformations proposed by the author are precisely what the MP proposes. Therefore, Erika’s presence in this space provides rich material for analysis and new ways of understanding the world as a space in which new narratives about trans people and transvestites emerge and mobilize different social actors, such as journalism and fashion.

5. FINAL CONSIDERATIONS

In view of the results presented here, it can be concluded that by covering an issue of a magazine aimed at women on a date like International Women’s Day, talking about her career, challenges and discrimination faced as a woman, Erika Hilton signals the diversity of identities that exist, and brings up problems experienced by all women, regardless of the identity with which they identify.

However, in the proposed links between fashion and politics, there was a certain distance between the choice of fashion objects and artifacts and the agendas proposed in the article. It is worth noting that this is not a value judgment in relation to the use of luxury brands by a black, transvestite or transsexual parliamentarian. Erika’s aesthetic and style choices are in line with the way she wants to be seen and interpreted in society: as a diva, and as a voice that occupies the stage to bring her social themes into debate. This intersection between fashion and politics presented by Erika Hilton influences the way she is framed, exercises her mandate and presents herself in magazines.

In view of this, it was possible to observe how fashion operates with dualities: at the same time as it can serve as a conduit to reveal oppressions faced by certain groups, it provides inclusion in spaces that can traditionally exclude and provide differentiation. By using fashion as a way of communicating through magazines, Erika Hilton not only reaffirms her identity as a woman belonging to this space, but also promotes a more inclusive, broad and diverse view of politics and society.

ACKNOWLEDGEMENTS

We would like to thank the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (CAPES) for its financial support and for granting me a scholarship, which was fundamental to the completion of this work.

END OF TEXT NOTES

i The brand posted a video of a model trying to eat Italian food with chopsticks. The post suffered from negative comments and was taken down in less than 24 hours. Available at: https://ffw.uol.com.br/noticias/moda/dolce-gabbana-cancela-desfile-em-xangai-apos-ser-acusada-de-racismo. Accessed on July 17, 2024.

ii Study reveals that only 0.38% of jobs in Brazil are held by trans people. Available at: https://g1.globo.com/globonews/jornal-das-dez/noticia/2024/05/15/estudo-revela-que-038percent-dos-postos-de-trabalho-no-pais-sao-ocupados-por-pessoas-trans.ghtml. Acessed on October 20, 2024.

REFERENCES

BENEVIDES, Bruna G.; NOGUEIRA, Sayonara Naider Bonfim. Dossier of murders against Brazilian transvestites and transsexuals in 2019. São Paulo: Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2020. Available at: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2020/01/dossic3aa-dos-assassinatos-e-da-violc3aancia-contra-pessoas-trans-em-2019.pdf. Accessed on: April 20, 2024.

CARRERA, F. Intersectional roulette: a methodological proposal for analysis in Communication. E Compós, [S. l.], v. 24, 2021. DOI:10.30962/ec.2198. Available at: https://www.e compos.org.br/e-compos/article/view/2198. Accessed on: April 18, 2024.

CARVALHO, Carlos Alberto de. Journalism, social actor, colonized and colonizer. Curitiba: CRV, 2023. Available at: https://drive.google.com/file/d/1A3YGMC3K8bhB2Hgs4n9oKjZKen73OqpW/view?pli=1https://drive.google.com/file/d/1A3YGMC3K8bhB2Hgs4n9oKjZKen73OqpW/view?pli=1. Accessed on: July 20, 2024.

COLLINS, P. H.; BILGES, S. Intersectionality. Translation by Rene Souza. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2020.

COTTA, M; FARAGE, T. Mulher, roupa, trabalho: como se vestir a desigualdade de gênero. 1. ed. São Paulo: Paralela, 2021.

CRENSHAW, Kimberlé. Document for the meeting of experts on gender aspects of racial discrimination. Journal of Feminist Studies, 2002.

DALBONI, Melina. She celebrates 60 years reflecting the desires and ambitions of the modern woman over the decades. O Globo, 2024. Available at: https://oglobo.globo.com/ela/noticia/2023/12/11/ela-celebra-60-anos-refletindo-desejos-e-ambicoes-da-mulher-moderna-ao-longo-das-decadas.ghtml. Accessed on: July 22, 2024.

FABRIS, Ligia; GIUSTI, Victor; SAAB, Beatriz. Disinformation, conservatism and transphobic narratives guide bills with anti-trans content between 2019 and 2023. FGV ECMI, 2023. Available at: https://midiademocracia.fgv.br/node/103. Accessed on: July 26, 2024.

GOFFMAN, Erving. The frames of social experience: an analytical perspective / Erving Goffman; foreword by Bennet M. Berger; translation by Gentil A. Titton. Petrópolis: Vozes, 2012.

GOMES, Nelson, Pinheiro. O marketing da aparência: Comunicação e imagem nas publicações periódicas de moda. 2010. Dissertation (Master’s in Cultural Sciences) - University of Lisbon Faculty of Letters, Lisbon, 2010. Available at: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/1935/1/ulfl072331_tm.pdf. Accessed on: July 29, 2024.

MENDONÇA, Carla Maria Camargos. A look at paper women: Tyranny and pleasure in Vogue magazines. 2010. Thesis (Doctorate in Communication) - Federal University of Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. Available at: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/FAFI-8U5J6E/1/tesecarlacomp.pdf. Accessed on: July 29, 2024

MENDONÇA, Ricardo Fabrino; GUIMARÃES, Simões, Paula. Framing. Different analytical operationalizations of a concept. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 27, núm. 79, jun. 2012, pp. 187-201.

O GLOBO. On January 4, 1964, Ela, Globo’s most charming section, was born. Available at: https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/no-dia-4-de-janeiro-de-1964-nascia-ela-caderno-mais-charmoso-do-globo-11208952. Accessed on: July 22, 2024.

PRECIADO, Paul B. Eu sou o monstro que vos fala: Relatório para uma academia de psicanalistas. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2022.

SIMMEL, Georg. Philosophy of Fashion. Lisbon: Edições Texto e Grafia, 2008.

SOUZA, Valdete Vazzoler de; CUSTÓDIO, José de Arimathéia Cordeiro. Photography: medium and language within fashion. Discursos Fotográficos, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 231-251, 2005. Available at:https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/article/view/1474. Accessed on: July 26, 2024.

VANINI, Eduardo. Erika Hilton talks about dating and fame: “We try to maintain moments of intimacy, but it doesn’t last long”. O Globo, 2024. Available at: https://oglobo.globo.com/ela/gente/noticia/2024/03/03/erika-hilton-fala-sobre-namoro-e-fama tentamos-manterentos-de-intimidade-but-nao-dura-muito.ghtml . Accessed on: July 20, 2024.


  1. 1