Dossiê – Artes, Moda e Cultura Visual
V.16, N.38 — 2023
DOI: E-ISSN 1982-615x
ModaPalavra, Florianópolis, V. 16, N. 38, p. , jan./jun. 2023
Feminilidades e relações intertextuais:
uma experiência de leitura de imagens
a partir da revista Vogue US
Káritha Bernardo de Macedo
Doutora, Instituto Federal de Santa Catarina - IFSC, Campus Gaspar, karitha.macedo@ifsc.edu.br
Orcid: 0000-0002-9583-5590 / Lattes
Submissão: 01/08/2022 // Aceito: 03/11/2022
http://dx.doi.org/10.5965/1982615x16382023289
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Feminilidades e relações intertextuais:
uma experiência de leitura de imagens a
partir da revista Vogue US
RESUMO
O presente artigo é um relato de uma experiência pedagógica
não formal, que propôs a leitura de três imagens a um grupo de
5 pessoas de gêneros e idades diversas. As imagens analisadas
foram escolhidas por remeteram à capa da Revista Vogue US com
Beyoncé, na edição de setembro de 2018. A intenção foi investigar
se é possível promover uma discussão sobre imagens de moda e
uma ampliação da percepção sobre a cultura visual, por meio do
exercício da leitura de imagens. A proposta foi sistematizada em
três momentos pedagógicos e a leitura de imagens baseou-se em
Oliveira (2006). Como resultado, notou-se um aprofundamento no
olhar dos participantes e a abertura de discussões signicativas
sobre modelos de feminilidade e relações intertextuais em torno da
temática das representações das baianas.
Palavras-chave: Leitura de imagens. Intertextualidade. Vogue.
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Femininities and intertextual relations: an
experience of reading images from the
American Vogue magazine
ABSTRACT
This article is an account of a non-formal pedagogical experience
that proposed the reading of 3 images to a group of 5 people of
different genders and ages. The analyzed images were chosen be-
cause they referred to the cover of the September 2018 issue of
the American Vogue Magazine with Beyoncé. The intention was to
investigate whether it would be possible to promote a discussion
about fashion images and increase the perception of visual culture,
through the exercise of image reading. The proposal was system-
atized in three pedagogical moments and the image reading was
based on Oliveira (2006). As a result, the participants´ view was
deepened and meaningful discussions were initiated on models of
femininity and the intertextual relations surrounding the theme of
representations of Bahian women.
Keywords: Image reading. Intertextuality. Vogue.
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Feminidades y relaciones intertextuales:
una experiencia de lectura de imágenes
de la revista Vogue US
RESUMEN
Este artículo es el relato de una experiencia pedagógica no formal,
que propuso la lectura de tres imágenes a un grupo de 5 personas
de diferentes géneros y edades. Las imágenes analizadas fueron
escogidas porque aparecieron en la portada de la revista Vogue US
con Beyoncé, en la edición de septiembre de 2018. La intención
fue investigar si es posible promover una discusión sobre las imá-
genes de moda y una expansión de la percepción sobre la cultura
visual, a través del ejercicio de lectura de imágenes. La propuesta
fue sistematizada en tres momentos pedagógicos y la lectura de
imágenes se basó en Oliveira (2006). Como resultado, hubo una
profundización en la perspectiva de las participantes y la apertura
de discusiones signicativas sobre modelos de feminidad y relacio-
nes intertextuales en torno al tema de las representaciones de las
mujeres bahianas.
Palabras clave: Lectura de imágenes. Intertextualidad. Vogue.
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1. INTRODUÇÃO
Esse artigo relata uma experiência pedagógica não formal,
vivenciada em 2018, cujo objetivo foi o de convidar um grupo de
pessoas a fazer uma leitura de imagens em torno da temática das
representações das baianas para discutir as possíveis relações
entre elas, buscando estabelecer intertextualidades e utilizando
como parâmetro o roteiro de Oliveira (2006). Para este m, foram
convidadas a participar um grupo de cinco pessoas com idades
bastante heterogêneas. Do mesmo modo, as imagens selecionadas
para a discussão, apresentadas nas guras 1, 2 e 3, também são
de períodos muito distintos: 2018, 1941 e cerca de 1885.
Figura 1- Beyoncé na Capa da Revista Vogue US,
fotógrafo Tyler Mitchell, edição de setembro de 2018
Fonte: https://www.vogue.com/article/beyonce-september-issue
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Figura 2 - Carmen Miranda no lme “Uma noite no Rio”
(That night in Rio, 20th Century Fox), 1941.
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/de_dentro_da_cartola/2013/08/
carmen-miranda-o-mundo-conhece-o-que-e-que-a-baiana-tem.html.
Figura 3- Fotograa de Marc Ferrez. Negra da Bahia, c. 1885.
Salvador, Bahia, acervo Instituto Moreira Salles- IMS.
Fonte: http://brasilianafotograca.bn.br/?p=7057
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A articulação dessa proposta e a seleção dessas imagens
em particular, tiveram como propósito central questionar se é
possível realizar uma discussão crítica de imagens contemporâneas
de moda a partir da imagem da capa da Revista Vogue US de
setembro de 2018 e das representações ali contidas, por meio de
uma experiência de educação não formal pautada pela prática da
leitura de imagens sustentada por relações intertextuais.
O relato desenvolvido espera aguçar a percepção dos leitores
em relação às imagens, à cultura visual que nos cerca e indagar
quais são as representações que as mesmas performatizam, a m
de tomarmos um posicionamento mais crítico e reexivo sobre seus
discursos e efeitos de sentido, sobretudo, em relação ao consumo
de imagens de moda e de seus discursos subjacentes.
Embora não seja o objetivo deste artigo propor a análise de
imagens e sim sua recepção, há um amplo arcabouço de teorias
pós-coloniais que poderia ser incorporado à esta discussão. Por
seu turno, enfatiza-se que essa linha de pensamento foi a grande
motivadora para a construção desta experiência. Portanto, é
fundamental destacar que a imagem da Revista Vogue US, assim
como as demais, é atravessada por um olhar estadunidense em
relação ao corpo feminino, negro e ao imaginário exótico em relação
ao Brasil. Tal perspectiva é permeada por conturbadas noções de
superioridade branca, estadunidense e masculina.
A partir desta exposição, busca-se expandir os resultados
obtidos e instigar novas práticas.
2. A EDIÇÃO DE SETEMBRO DA VOGUE US, MOTIVAÇÕES
DA ESCOLHA DAS IMAGENS
Depois de alguns anos pesquisando Carmen Miranda e
sua representação de uma “baiana” estilizada, o olhar da autora
tornou-se atento a gestos, formas, cores, texturas e composições
que pudessem remeter a sua visualidade e performance. Por
meio das interpretações dessa personagem é possível discutir
raça, gênero, classe, identidade cultural, colonização, dominação,
política internacional, indústria cultural, cinema, moda e mais
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uma innidade de assuntos tão extensos quanto a criatividade e a
curiosidade de cada pessoa puderem alcançar.
Dessa forma, foi por conta das conexões visuais com Carmen
Miranda, que a imagem da cantora Beyoncé na capa da Revista
Vogue US, na edição de setembro de 2018, despertou o interesse.
Além da performatividade e da composição apresentadas, também
se considerou relevante ter uma mulher afrodescendente em um
dos principais veículos de informação de moda mundial, na edição
mais importante do ano e na primeira capa da história da revista
a ser fotografada por uma pessoa, também, afrodescendente. A
partir disso, as demais imagens a serem trabalhadas com o grupo
foram escolhidas como relações intertextuais em relação à primeira.
Quando se trata as imagens da revista como um documento
a ser analisado, é preciso entender que os sentidos são construídos
por meio de uma pluralidade de aportes. Como Novelli (2009, p.
80) enfatiza, é essencial considerar inclusive a “diversidade de
elementos tipográcos e de ilustração, bem como a ênfase em
certos temas, a linguagem e a natureza do conteúdo”, os quais não
se separam do público que a revista pretende atingir. Além disso,
a revista enquanto um projeto coletivo, agrega valores, crenças e
ideias que nem sempre são uniformes. Principalmente, porque as
publicações lidam simultaneamente com diferentes interesses, tais
como nanceiros, de grupos publicitários, instituições públicas e
privadas, empresas, entre outros (NOVELLI, 2009, p. 81). Desta
forma, é necessário conhecer o contexto editorial de produção
da imagem, para que se possa situar o discurso imagético que é
produzido (VIANNA, 2000, apud NOVELLI, 2009, p. 85).
Nesse universo, a edição de setembro da Vogue US tem sua
particular importância, sendo uma das publicações de mais prestígio
no mundo da moda. Esse é o número que dá os direcionamentos
da moda para o ano seguinte consoante os principais desles,
lançamentos da Alta-Costura e do prêt-à-porter da alta moda,
apresentando uma variedade de novas inuências. No hemisfério
norte é o período da mudança das coleções primavera/verão para
outono/inverno (Spring/Summer - Fall/Winter), sendo percebido
por muitos como um tempo de mudanças e para se reinventar.
A edição de setembro é o equivalente ao ano novo para todas as
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publicações de moda, é a maior em tamanho tanto de editoriais
de moda, como de publicidades que querem ser vistas nesses
“cenários”. É também a mais inuente, com o conteúdo de moda
mais potente e com o maior número de vendas (ALEXANDER, 1
ago. 2016). De acordo com a própria Vogue US, essa edição é “a
mais brilhosa, a mais pesada, a mais rica em conteúdo do ano, é
a própria denição de livro sonhos” (BORRELLI-PERSSON, 6 ago.
2018, tradução nossa).
Em vista da relevância do veículo de comunicação e da
própria edição, é simultaneamente notável e espantoso, que com
essas imagens o fotógrafo Tyler Mitchell, um jovem de vinte e três
anos, tenha se tornado o primeiro fotógrafo afrodescendente a
fazer uma capa da Vogue US em cento e vinte e seis anos de sua
existência (VOGUE BRASIL, 06 ago. 2018). A omissão do corpo
editorial sobressai, quando se contabiliza que nesse período foram
publicadas mil quinhentas e doze (1.512) edições da Vogue US,
com mais de duas mil e oitocentas capas (2.800) fotografadas por
um grupo seleto de cerca de sessenta pessoas (STREET, 13 ago.
2018).
Essa foi a quarta capa de Beyoncé na Vogue US e a segunda
em que protagonizou uma edição de setembro (GRADY, 06 ago.
2018). Desta vez, quem escolheu o fotógrafo foi a própria Beyoncé,
prerrogativa provavelmente proporcionada por sua popularidade e
poder de inuência na cultura pop. Essa escolha vai ao encontro das
próprias bandeiras que a cantora tem levantado de valorização das
mulheres, de pessoas afrodescendentes e de suas manifestações
culturais. Portanto, essa é uma edição histórica da revista. Dentro
de um longo depoimento para a edição de setembro de 2018 da
Vogue US (HOPE, 6 ago. 2018), Beyoncé explica a escolha do
fotógrafo, a reforça como um manifesto em favor da diversidade e
evoca a necessidade de mais oportunidades para as minorias étnicas
(HOPE, 6 ago. 2018). Em sua fala, de certa forma, a cantora fez
uma crítica ao racismo estrutural perpetuado pelo modus operandi
da revista.
Anna Wintour (apud VOGUE BRASIL, 06 ago. 2018), a diretora
artística do grupo editorial Condé Nast, que detém a revista Vogue,
conta a história de outra forma. Em entrevista, ela deixou claro que
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Beyoncé escolheu Tyler Mitchell a partir de uma lista oferecida pela
editora, sendo que “o conceito e [sugestão de] fotógrafo foram
completamente da Vogue, especicamente do Raul [Martinez]”,
diretor criativo da Condé Nast. Nessa esteira, percebe-se que o
styling do editorial por Tonne Goodman continua reforçando as
narrativas internas da revista, pois a cantora se veste com Louis
Vuitton, Valentino, Gucci, Alexander McQueen e Dior, consagradas
marcas europeias. A “única representação da Vogue de um talento
da diáspora africana é um traje de Wales Bonner, um designer
bi racial de Londres” (TRACY, 06 ago. 2018, tradução nossa). A
questão possivelmente teria passado despercebida se o assunto
em pauta na própria edição não fosse a diversidade na moda.
Assim, mesmo que Beyoncé e seu time criativo tenham colaborado
com o conceito e a execução do editorial, o que Anna Wintour
enfatiza é que o controle criativo e os sentidos ali embutidos foram
orquestrados pela equipe da Vogue US.
A edição conta com um depoimento em primeira pessoa
de Beyoncé, o que efetivamente gera uma sensação de mais
credibilidade para as narrativas visuais e ao que está escrito na
matéria, mas que foi assessorado pela jornalista da revista Clover
Hope. Essa intervenção pode ser pensada como uma forma de
garantir um conteúdo que dialogue com os interesses da publicação.
Portanto, se há um julgamento velado às práticas passadas,
é dentro de um discurso já aprovado e incorporado pela revista
(STREET, 13 ago. 2018).
Apesar de todas as discussões recentes sobre o racismo,
ele ainda é muito presente na moda e, por isso mesmo, a capa
chama a atenção. A revelação desse jejum da Vogue US causou um
choque, ensejando discussão em vários canais da mídia. O impacto
da edição pode ser apreciado pelos altos números identicados
em uma simples busca no site google.com.br (Brasil) em 20 de
janeiro de 2021. A busca pelos termos agrupados “Beyoncé capa
edição de setembro Vogue 2018”, gerou aproximadamente 168 mil
resultados; e a mesma frase em inglês, Beyoncé cover September
issue Vogue 2018, apresentou aproximadamente 7 milhões e 480
mil resultados.
No Brasil, a versão online do jornal “O Estado de São Paulo”,
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“O Estadão”, publicou matéria com o seguinte título: “Com Beyoncé,
‘Vogue’ tem sua primeira capa fotografada por um negro” (O ESTADO
DE SÃO PAULO, 06 ago. 2018). Nos Estados Unidos, a CNN online
(STREET, 13 ago. 2018) fez uma discussão ampla sobre quem são
os fotógrafos da capa e da própria revista Vogue US, denunciando
que as restrições impostas são questões de raça e de gênero, pois
além do ineditismo de um fotógrafo afrodescendente para a capa,
pouquíssimas mulheres fotógrafas compõem esse time. A própria
edição online da Vogue Brasil (06 ago. 2018) é quem apresenta
essa informação, mostrando uma espécie de mea-culpa” quando
escreve “[...] o primeiro – acredite afro americano a assinar uma
capa da publicação”. Contudo, a maior parte das notícias e matérias
encontradas, limita-se a apenas mencionar essa questão e se foca
em enaltecer trechos de autoarmação do depoimento de Beyoncé.
Assim, parece faltar uma análise mais profunda dessas
imagens, a m de questionar quais mensagens estão sendo
veiculadas. Será que os efeitos de sentido da capa caminham
apenas para o empoderamento da mulher afrodescendente
personicada pela cantora? Será que as frases escritas na capa,
“todas as vozes contam” e “Beyoncé por suas próprias palavras”,
encontram respaldo ou ressoam na imagem? (ver HOPE, 6 ago.
2018, tradução nossa). Ou será que o discurso colonial e de um
racismo estrutural ainda está presente nas entrelinhas?
O editorial completo proporciona um rico manancial para
reexão. Todavia, como foi a capa que causou maior impacto à
autora, é com ela que se inicia essa discussão, interrogando que
sentidos podem ser atribuídos a essa imagem e como se pode
pensar em relações de intertextualidade a partir dela.
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Figura 4. As duas versões de Capa da Revista Vogue US com Beyoncé, fotógrafo Tyler
Mitchell, edição de setembro de 2018 (ver HOPE, 6 ago. 2018)
Fonte: https://www.vogue.com/article/beyonce-september-issue-2018
Essa edição da revista contou com duas versões de capa
protagonizadas por Beyoncé (ver Figura 4), ambas nos provocaram
profundamente e incitaram associações e conexões imagéticas
similares. Contudo, optou-se por trabalhar com a capa em que
a cantora está sentada, tem um arranjo de ores na cabeça da
marca Rebel Rebel junto com uma tiara de Lynn Ban, está trajada
com um vestido branco de babados da Gucci, que remete ao
estilo do século XIX ou a um passado colonial, tem as pernas à
mostra desde a metade das coxas, as mãos apoiadas entre os
joelhos e há um pano branco estendido ao fundo com sua sombra
projetada, o qual se assemelha a um lençol estendido, talvez
em conexão com a imagem da outra capa. O grande arranjo na
cabeça, o volume das mangas e os babados, poderiam aludir à
Maria Antonieta (século XVIII). Porém, para esta autora, remeteu
imediatamente à Carmen Miranda, ricamente trajada e paramentada
em suas performances hollywoodianas e, consequentemente,
a outras baianas, as mulheres brasileiras e afrodescendentes
de tempos passados que povoam a história pictórica do Brasil
desde os registros de Debret e de viajantes do período colonial.
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Em vista dessas questões, a leitura de imagens mediada por
uma intenção pedagógica apresenta-se como uma possibilidade
de explorar os diálogos e os efeitos de sentido produzidos pela
capa da Vogue US (set., 2018). Com o objetivo de aprofundar a
experiência e potencializar o processo de reexão, considerou-
se que seria interessante trazer outras imagens selecionadas por
critérios de relação intertextual. Dessa forma, optou-se por abordar
a baiana estilizada performatizada por Carmen Miranda em 1941 e
a fotograa de uma mulher negra da Bahia de 1885.
2.1 PARA UMA POSSÍVEL LEITURA DE IMAGENS
Há uma variedade de teorias que sustentam a leitura de
imagens e, entre elas, nota-se um consenso de que não existe
apenas uma possibilidade de interpretação. Por conseguinte,
é importante destacar a pluralidade de caminhos que se abrem
diante de um olhar mais atento e metodologicamente orientado.
O processo de leitura de imagens encaminhado nesta experiência
pedagógica toma como base teórica a proposta de Oliveira (2006).
A autora sustenta que para compreender uma imagem é preciso
desconstruí-la em um processo analítico (OLIVEIRA, 2006, p. 212).
Oliveira (2006) entende as imagens como uma linguagem visual
ou como um texto visual. Diante disso, apropria-se da teoria do
linguista Louis Hjelmslev para estabelecer que a signicação nos
textos visuais é resultante da conjugação entre plano de expressão
e plano de conteúdo, sem que haja uma hierarquia entre eles, mas
uma solidariedade, uma interdependência e uma reciprocidade
(OLIVEIRA, 2006, p. 214-215).
Hjelmslev (1975, p. 53) criou uma teoria linguística que
chama de Glossemática, em que compreende a língua como um
sistema de relações combinatórias, sendo dessas combinações que
se originam os efeitos de sentido. O autor entende que o signo é
um todo formado por uma expressão e por um conteúdo. “Uma
expressão só é expressão porque é a expressão de um conteúdo, e
um conteúdo é conteúdo porque é conteúdo de uma expressão”
(HJELMSLEV, 1975, p. 54). Para ele, a substância depende da
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forma e não pode existir sozinha. Interpretando o pensamento de
Hjelmslev (ver 1975, p. 55-56), pode-se pensar que os sentidos
são articulados e ordenados conforme as características de cada
linguagem, de modo que é preciso considerar as especicidades
dos componentes que formam o plano de expressão das imagens.
Nesse sentido, é da relação entre plano de expressão e plano
de conteúdo, ou seja, desses elementos constitutivos, que surgem
os efeitos de sentido das imagens ou textos visuais. O plano da
expressão é relativo à estrutura e elementos básicos constitutivos
da imagem; e o plano de conteúdo está ligado à estruturação dos
efeitos de sentido, da signicação enlevada a partir da articulação
dos elementos.
Para Saussure a língua é um sistema de signos”, mas para
Hjelmslev, esta é um sistema de guras (não-signos), que, ao se
combinarem, produzem signos” (CAÑIZAL; LOPES, 1875, p. IX).
Desse modo, a perspectiva de Hjelmslev reconhece, portanto, a
existência de “mecanismos subjacentes dinâmicos” (CAÑIZAL;
LOPES, 1875, p. IX), ou seja, de forças culturais, políticas e
históricas que movimentam os sentidos e inuenciam a percepção
dos sujeitos sobre as representações do mundo. Como arma
Oliveira (2006, p. 216), cada texto registra um discurso e uma visão
de mundo especíca de quem o criou, demonstrando relações com
seu contexto, mas além disso, na imagem há também a capacidade
de manipulação de seus próprios códigos. Nesse universo, uma
análise inicial de um objeto geralmente começa com sua divisão
dele em partes. Nessa ótica, a totalidade do objeto se compõe
das dependências de suas partes e seus sentidos provêm dos
relacionamentos internos e externos (HJELMSLEV, 1975, p. 28).
Em vista do exposto, Oliveira (2006) apresenta didaticamente
um roteiro de leitura de imagens dividido em sete etapas (OLIVEIRA,
2006, p. 214). O roteiro é uma sugestão de procedimentos, mas se
ressalta que existem várias outras metodologias e que os resultados
podem ser os mais diversos, dependendo de quem está fazendo
a leitura, do olhar do espectador, de seu repertório, contexto e
subjetividade. A análise do objeto deve começar pela divisão entre
plano de expressão e plano de conteúdo, desdobrando-se conforme
o Quadro 1, adaptado de Oliveira (2006).
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Quadro 1. Leitura de imagens a partir do roteiro de Oliveira (2006, p. 212-218).
Plano de
expressão
I – Escaneamento
visual, buscando
a estrutura básica
da composição.
“Denir a linha ou as linhas que determinam a macroestrutura
da imagem visual, a qual pode ser chamada de estrutura
básica, que é a sua síntese. E uma diagonal? E um eixo
vertical? Diagonais que se cruzam, horizontais paralelas, guras
geométricas, ângulos ou um ponto central?” (OLIVEIRA, 2006,
p. 212).
II –
Desconstrução
com destaque às
linhas, elaborando
esquemas visuais.
“Colocar sabre a imagem em questão um papel transparente
e copiar as linhas principais que contornam as guras que
compõem a imagem.” (OLIVEIRA, 2006, p. 213).
III – Redenição
dos elementos
básicos
constitutivos.
Identicação dos elementos constituintes do texto visual: linhas,
pontos, cores, planos, formas, cor, luz, dimensão, volume,
textura, materiais (OLIVEIRA, 2006, p. 213).
Identicação dos elementos signicantes: “Como se apresentam
outros elementos, que não podem ser chamados de constitutivos,
porque não compõem a imagem, mas que geram efeitos de
sentido, como o suporte, o recorte e a moldura (lembrando que
aqui, quando falamos em ‘moldura’, é no sentido amplo, não só
aquela madeira ou metal, decorado ou pintado, mas tudo o que
dialoga com a obra)” (OLIVEIRA, 2006, p. 214).
IV – Busca dos
procedimentos
relacionais entre
os elementos.
Os procedimentos relacionais são formas de articular os
elementos constitutivos (OLIVEIRA, 2006, p. 215). Exemplos:
repetição- contraste; complexidade- simplicidade; equilíbrio-
desequilíbrio; dispersão – concentração; clareza- ambiguidade;
ousadia- timidez; simetria- assimetria; ênfase- anulação;
naturalidade- articialidade; harmonia- desarmonia; nitidez-
nebulosidade; ritmo regular- irregular; obviedade- sutileza;
movimento estaticidade; ousadia timidez; transparência
opacidade.
Plano de
conteúdo
V – Reconstrução
dos efeitos
de sentido,
com base nos
procedimentos.
Estabelece-se regras de combinação e articulação.
Os efeitos de sentido, por excelência, são próprios de cada
imagem/ objeto.
VI – Trânsito
incansável entre
elementos,
procedimentos,
bloco de
elementos, todos
e partes, esquema
visual e imagem.
“Munida de seus sentidos e de sua capacidade cognitiva, segue
o leitor no desvelamento de novos conhecimentos, através
de renovadas signicações que encontra, transitando das
partes para o todo e do conjunto do texto estético para seus
componentes. São as inúmeras trilhas que se entrecruzam no
visível da imagem (plano de expressão) ao mesmo tempo em
que tecem a signicação (plano do conteúdo); a necessidade
de observar minuciosamente a imagem, resgatando pontos
relevantes para, a partir deles, recriar, traduzindo a teia de
elementos e procedimentos signicantes.” (OLIVEIRA, 2006, p.
217).
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VII – Dados de
identicação da
imagem.
“Os dados de identicação da imagem podem, é claro, consistir
no primeiro item a ser objetivado quando de um estudo. Todavia,
dados empíricos têm demonstrado que esses dados ‘contagiam’
a análise, como que tomando do leitor a sua própria capacidade
de compreender as formas e cores diante de si. (OLIVEIRA,
2006, p. 218). Podem ser observados: Título (homônimo);
Temática (não homônimo); Técnica (fatura, aquarela, óleo,
gravura, litograa, xilogravura, etc.); Gênero (panorama ou
paisagem, retrato, natureza morta, nu, madona, trompe l´oeil,
ícones ortodoxos, marina, etc.); Autoria (atelier, coletivo,
períodos diferentes de trabalho do artista); Movimento, etc.
Fonte: Adaptado pela autora (2022) de Oliveira (2006, p. 212-218).
Partindo desse roteiro e referencial teórico, elaborou-se uma
metodologia para a aplicação da experiência de leitura de imagens
pautada por relações de intertextualidade.
3. MATERIAIS E MÉTODOS: UMA PROPOSTA EM TRÊS
MOMENTOS PEDAGÓGICOS
A proposta de experiência de leitura de imagens pautada por
relações de intertextualidade foi estruturada para ser aplicada em
um período médio de duas horas e sustentada por três momentos
pedagógicos (ver Quadro 2).
Quadro 2. Metodologia da aplicação da experiência, em três momentos pedagógicos.
1º momento:
Explicações
1. Explicação sobre a proposta da atividade.
2. Explicação sobre o que é plano de expressão e plano de conteúdo.
3. Explicação do modelo de leitura de imagens a partir do roteiro de
Oliveira (2006), em “Imagem também se lê”.
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2º momento: Análise
de imagens e busca
de intertextualidades
4. Apresentação de cada uma das imagens separadamente, seguida
de sua leitura (uma de cada vez) orientada por questionamentos.
a) O que você vê no plano de expressão?
Com o papel vegetal por cima da imagem, tente identicar:
- Estrutura básica da composição: Colocar as linhas mais simples
- Procure o contorno das imagens / guras.
- Elementos constituintes: linhas, pontos, cores, planos, formas,
cor, luz, dimensão, volume, textura, materiais.
b) O que você vê no plano de conteúdo?
Como você interpreta ou entende a estrutura identicada no
plano de expressão?
Observando todos os detalhes da imagem, o que você percebe?
c) O que você vê na imagem em relação à ... (indicar questão para
debater).
A roupa, tecidos, volumes, mangas;
Posição;
Adereço do cabelo e acessórios;
Partes da pele que cam à mostra;
Expressão facial e corporal;
Modelo de feminilidade apresentado;
Fundo da imagem, lençol estendido atrás.
5. Buscar semelhanças e diferenças. Como existem coisas semelhantes
no plano de conteúdo e que são apresentadas de forma diferente no
plano de expressão.
3º momento: Avaliação
e registro individual
da experiência
6. Escrita: Pedir que os participantes escrevam um parágrafo sobre a
experiência, estabelecendo relações entre as imagens apresentadas.
7. Avaliação da experiência:
a) A experiência acrescentou algo para vocês?
b) que acharam da experiência?
c) O que você sentiu?
d) Houve algum bloqueio? Qual?
Fonte: A autora (2022).
Para orientar o desenvolvimento da experiência e apresentar
uma maior variedade e qualidade de imagens, preparou-se uma
apresentação em slides dos conteúdos e atividades que se pretendia
realizar. Outros materiais utilizados foram: as imagens impressas
que seriam analisadas, folhas brancas tamanho A4, folhas de
papel manteiga (ou com transparência), canetas coloridas, lápis,
borracha, mesa ampla e cadeiras, gravador e câmera fotográca
para registrar a experiência.
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3.1 O QUE FICOU: IMPRESSÕES E INFERÊNCIAS
A realização da experiência pedagógica transcorreu durante
cerca de duas horas. O grupo de pessoas foi formado por pers
bastante heterogêneos: Participante A- um homem de 31 anos,
professor, com formação em música e cursando doutorado na mesma
área; Participante B- uma mulher de 56 anos, microempreendedora
individual, com formação e especialização em geograa, sem
atuação na área; Participante C- uma mulher de 31 anos, com
formação em mídia eletrônica; e Participantes D e E- duas meninas
de 11 anos de idade, cursando ensino fundamental. Considera-
se signicativo, o potencial enxergado pelo Participante A de que
essa prática possa fornecer ferramentas para interpretar o mundo
e enriquecer seu envolvimento com as imagens, em suas palavras:
A análise guiada, quando há um roteiro para
seguir, ela faz com que você se aprofunde
na imagem e incentiva a buscar relações
que não se buscaria antes [...]. para
ver a relação entre a forma e o conteúdo,
como o signicado está relacionado a
forma, quando se faz as coisas separados
é possível perceber isso. E a gente não
tem consciência delas. Então é isso que é
análise, é dissecar as coisas. (Participante
A, 2018).
Além de ter apreciado as imagens, foi importante para a
Participante B (2018) começar a perceber coisas que geralmente
não percebia, principalmente as linhas, as cores, as expressões. A
experiência lhe serviu como um convite a olhar outras imagens de
forma diferente. Sobretudo, seu principal aprendizado foi: “Cada um
enxerga de uma forma diferente, mas ao longo da experiência fomos
descobrindo o que olhar também, o que perceber” (Participante B,
2018). Para a Participante C, o que mais lhe tocou foi a liberdade
de pensar por imagens:
[...] temos a liberdade de alcançar mais
coisas, de compreender e pensar o que
é. [...] Foi interessante ver a forma como
cada um enxerga diferente” (Participante
C, 2018).
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Apesar das diculdades iniciais por ser uma atividade
completamente nova, as Participante D e E (2018) gostaram da
experiência, armam que certamente irão olhar as imagens de
outra forma e acreditam que isso as ajudará na escola, pois vão
perceber outras coisas que não percebiam. A Participante D (2018)
descobriu “que tem muito mais informações na imagem do que
ver um texto escrito”. E a Participante E (2018) percebe, a
seu modo, a necessidade de se discutir sobre as imagens para se
mergulhar nesses potenciais sentidos: “Tem mais informações na
imagem, mas muitas vezes a gente vê uma foto e não fala nada
sobre ela [...]. Aprendi várias coisas”.
As imagens a serem lidas e analisadas foram apresentadas
na seguinte ordem: imagem 1 - Beyoncé na Capa da Revista Vogue
US, fotógrafo Tyler Mitchell, edição de setembro de 2018 (Figura
1); imagem 2 - Carmen Miranda no lme “Uma noite no Rio”
(That Night in Rio, 20th Century Fox), 1941 (Figura 2); imagem 3-
Fotograa de Marc Ferrez. Negra da Bahia, cerca 1885, Salvador,
Bahia, acervo Instituto Moreira Salles - IMS (Figura 3).
Por meio da linha histórica das imagens, o Participante A
(2018) destacou como cada uma delas representa um certo modelo
de feminilidade que circulava em sua temporalidade e como elas
se alteraram ao longo do tempo. Ele armou que a relação entre
a forma e o conteúdo auxilia a explorar esses sentidos, como no
caso da sinuosidade presente na imagem de Carmen Miranda que
indica uma noção de sensualidade. O mesmo constatou que a maior
semelhança entre as imagens estava na temática e não na estrutura
das composições, que apontavam para representações da gura da
baiana, marcadas principalmente por roupas e acessórios.
Todavia, ressaltou o quanto a baiana “autêntica”, assim
nomeada por ser a mais antiga, cerca de 1885 (imagem 3), destoava
das demais, demonstrando que essa gura “foi teatralizada
e espetacularizada pela mídia à serviço de uma estrutura de
patriarcado” (Participante A, 2018). Por isso, para ele, a imagem
3 é a mais natural e até mesmo a mais amadora, a única que não
lhe parece alegórica nos trajes e que não “representa sensualidade
numa perspectiva atual, talvez na época dela fosse” (Participante
A, 2018). Sua postura e expressão lembram-lhe uma chefe de
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família que está observando alguém na casa, quem sabe os lhos
talvez (Participante A, 2018).
Em sua leitura, o Participante A (2018) observou o quanto
as ores presentes nas imagens fazem parte “da criação de uma
imagem consciente de feminilidade” e que associá-las à mulher
reforça um simbolismo tradicional de beleza e da delicadeza”. Na
imagem 1, para o Participante A (2018) o plano do fundo se confunde
com o vestido da mulher, porque ambos são brancos, então há um
jogo em que sobra a pele, o chapéu de ores e a sombra. Nessa
leitura, o plano de fundo tem a função de destacar certas partes do
corpo da mulher, enfatizando suas pernas, o olhar que considera
de femme fatale e as ores do cabelo, os quais conjuntamente
compõem uma imagem comercial clássica de sedução. Em sua
percepção, a capa da Vogue US capturou um modelo tradicional de
feminilidade, típico de publicidade de moda.
Enquanto o Participante A enxergou uma expressão de
poder no olhar e postura de Beyoncé na imagem 1, a Participante
B (2018) percebeu incômodo e submissão: “O desconforto lembra
uma escrava moderna”. Por outro lado, entendeu que a baiana
da imagem 3 apresentava um certo poder adquirido, mas toda
a sua elegância a fez questionar como a mulher teria ascendido
socialmente: “Que chique ela! [...] parece que tem um certo poder
adquirido. Ela conquistou, mas ela é triste. Será que ela casou com
um rico?” (Participante B, 2018). A mesma enfatizou que todas
eram imagens produzidas, longe de uma naturalidade, mas que a
primeira e a terceira (Beyoncé e Baiana) tinham conotação mais
comercial. Em seu entendimento, a expressão que transmitiam
indicava que tinham sido “obrigadas a estar ali”, logo, que estavam
“sendo expostas” como em uma vitrine (Participante B, 2018).
A mulher na imagem 2, Carmen Miranda, pareceu-lhe “mais
confortável, porque está ali por vontade própria. (Participante
B, 2018). A sinuosidade, o movimento, o olhar lateral expressivo
e a sensualidade, foram características apontadas por todos os
participantes na imagem 2. Todavia, se para o Participante A
(2018) essa construção imagética é representativa de um modelo
tradicional de feminilidade sensual que objetica a mulher, a
Participante B (2018) pensou o seguinte: “Parece que ela diz: Não
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mexa comigo! [...] É uma mulher além de seu tempo.
A Participante C (2018) também fez a associação com a
escravidão na imagem 1 e percebeu similaridades no semblante
da primeira e da terceira imagem (Beyoncé e Baiana), os quais
considerou articiais, sérios e forjados para as fotos. Apesar de
interpretar que a mulher da imagem 1 pareça um bouquet em
exposição, entendeu que ela apresenta um pouco mais de conança
e liberdade por estar expondo suas pernas. Assim como as demais
participantes mulheres, a Participante C (2018) concordou que
a imagem 2 apresentava uma protagonista mais livre (Carmen
Miranda). Para ela, “a única mulher em posição de liberdade e
conante na sua posição e acessórios” (Participante C, 2018).
Quando se tratou da imagem 3 (baiana), achou as roupas muito
elaboradas, com volume e tantos detalhes que lhe soou articial,
“porque ela não deve se vestir assim o tempo todo, ela se montou
para a foto. [...] Está posando muito concentrada” (Participante C,
2018).
A Participante D (2018) começou por um caminho diferente
ao analisar a imagem 1 (Beyoncé): “Eu acho que ela parece um
cadáver. Essas ores parecem de caixão. [...] Parece que ela vai
cair durinha [...] que ela está morrendo e que ela vai vir aqui me
matar com esses olhos”. Entretanto, chegou a conclusões similares
aos demais participantes: “[...] Parece que ela não está gostando
de nada” (Participante D, 2018). Sobre a imagem 1, a Participante
E (2018) seguiu a mesma linha de impressões: “Ela está reta,
estática, ela está desconfortável. [...] Ela está com cara de morta
e morto não é nada”.
Ao discutirem a imagem 2 (Carmen Miranda), as meninas
mais novas criaram enredos para a protagonista da imagem, que
corroboram com a noção de liberdade sugerida pelas mulheres
adultas. A Participante D (2018) disse: “Parece que ela vai piscar
(para mim). [...] Está contente. Parece que depois vai para uma
festa”. A Participante E (2018) também achou que Carmen Miranda
(imagem 2) era uma mulher festeira: “Parece que vai sair para
tomar um cafezinho. Acho que a mensagem que ela está passando
é: hoje é festa! [...] Está muito periguete”.
A leitura da mulher presente na imagem 2, foi muito
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construída pela postura, expressão facial e especialmente pelo
vestuário. A Participante D (2028) achou que a roupa de Carmen
Miranda era impactante e estava na moda, embora não fosse desse
tempo e os acessórios fossem antigos. A sensualidade que percebeu
pela barriga, ombros e braços à mostra, transmitiu à Participante D
uma ideia de modernidade, anal: “Ela mostra a barriga porque ela
quer!(Participante D, 2018). Com o mesmo efeito, a Participante
C (2018) salientou que era visivelmente uma roupa antiga, mas
que não saiu de moda.
As interpretações e as inferências que surgiram sobre as
imagens tiveram várias convergências. Por sua vez, as diferenças
nas percepções e o grau de aprofundamento do olhar pareceram
estar muito conectados ao nível de instrução, à idade e ao gênero
dos participantes. O olhar mais detalhado veio do jovem acadêmico
(Participante A), já mais acostumado às práticas de análise,
compreendeu que nas relações intertextuais havia uma discussão
de modelos de feminilidade. As reexões da Participante B (mulher
mais velha) e Participante C (jovem mulher) permearam questões
acerca de relações de poder, de classe social, de liberdade ou falta
dela na conduta das mulheres e da própria comercialização do
corpo feminino, demonstrando conexões com o tempo histórico.
As participantes mais jovens (D e E) contemplaram as imagens de
modo mais imaginativo, criando cenários vívidos e um enredo que
trazia cada personagem para seu cotidiano. Não obstante, pelos
entremeios das biograas e rotinas imaginadas, foi possível pensar
em noções de modernidade, antiguidade, liberdade e diferentes
papéis vivenciados pelas mulheres.
Nesse contexto, é preciso lembrar que os participantes
foram orientados por uma série de questionamentos na proposição
da experiência, sobre o que viam nas imagens em relação à: a)
Roupas, tecidos, volumes, mangas, etc.; b) posição do corpo; c)
Adereço do cabelo e acessórios; d) Partes da pele que cam à
mostra; e) Expressão facial e corporal; f) Modelo de feminilidade
apresentado; g) Fundo da imagem, lençol estendido atrás.
Assim, a partir de uma intencionalidade pedagógica,
instigou-se uma análise das feminilidades presentes nas imagens
com base em três categorias: a) Roupas e acessórios; b) Postura,
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expressão e olhar; e c) Exposição do corpo e de pele. Diante das
diferentes impressões dos participantes, identicou-se em suas
falas que essas construções discursivas passavam por quatro
questões principais, as quais se desdobraram em subcategorias: 1)
Finalidade da imagem, 1.1) comercial e articial ou 1.2) cotidiana
e natural; 2) Modelos de feminilidade, 2.1) recatada ou 2.2.)
sensual; 3) Atitude, 3.1) submissão ou 3.2) liberdade, poder; 4)
Temporalidade, 4.1) antigo ou 4.2) moderno (Figura 5).
Figura 5. Categorias extraídas da análise das impressões dos participantes
Fonte: A autora (2022).
Algo muito relevante foi a conotação de sensualidade e
submissão que as imagens consideradas mais comerciais evocaram
aos participantes. Nesse sentido, na fala de todos a noção de
sensualidade emergiu da exposição de partes do corpo das mulheres.
Por outro lado, é interessante notar que a mesma foi entendida tanto
como expressão de liberdade e poder, quanto de submissão, mas
em todos os casos, simbolizando ares de modernidade. O modelo de
feminilidade recatado também apresentou uma ambivalência entre
a submissão e poder. Entretanto, foi associado principalmente ao
cenário doméstico e completamente ligado a uma temporalidade
antiga.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse relato, procurou-se apresentar uma proposta inicial
de experiência pedagógica não formal, realizado com pessoas de
idades variadas, voltado à leitura de imagens e à busca de relações
intertextuais entre elas. A proposta sustentou-se metodologicamente
em uma adaptação do roteiro de leitura de imagens de Oliveira
(2006). A partir da primeira aplicação da proposta pode-se perceber
que ela é praticável para diferentes faixas etárias e certamente
possibilita aguçar a percepção dos participantes em relação às
imagens. Entendeu-se que a aplicação do roteiro adaptado é viável,
entretanto, terá um melhor desempenho para o ensino não formal
com alguns ajustes e limitações que promovam uma maior uidez
à experiência.
De modo geral, todos destacaram a importância das
explicações iniciais, do roteiro e de uma metodologia de leitura,
como um conjunto de ferramentas que ajudou a olhar com mais
profundidade e focar em detalhes que eram ignorados. Desdobrando
os depoimentos, pode-se perceber que esse processo se abriu para
o grupo como uma nova forma de interpretar a cultura visual que
os cerca e de se relacionar com as imagens. Todos sentiram que
a prática realizada inuenciará sua rotina no futuro. Impactou a
percepção de que há um grande potencial de se pensar por meio
de imagens e da necessidade de não apenas olharmos, mas de
discutirmos as imagens. Uma vez que os participantes apreciaram
a experiência e sentiram um aprendizado consolidado de maneira
informal, considera-se que a experiência pedagógica contribuiu
efetivamente.
Inicialmente, havia uma preocupação em fazer as leituras
de forma errada ou não saber como fazer. Recorrentemente, as
participantes buscavam encontrar respostas na propositora da
experiência, sobre o que seria o olhar “certo”, a linha ou o contorno
correto etc. Com a orientação de que cada pessoa poderia ver
uma coisa diferente e que não há respostas certas ou erradas, os
participantes se sentiram mais à vontade e passaram a considerar
interessante as diferentes perspectivas que surgiram sobre as
mesmas imagens. Este processo de partilha gerou um rico diálogo
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no grupo, promovendo a troca de ideias sobre os sentidos que
identicam nas imagens. Assim, a experiência funcionou para esse
grupo como uma forma de valorizar as diferenças de percepções,
além das suas próprias. A Participante C comentou: “Eu gostei de
ver que tu és completamente diferente de mim”.
Notou-se que a partir da proposição da segunda imagem,
os participantes já começaram a buscar relações intertextuais e
comparar as imagens. Embora a relação entre as imagens escolhidas
tivesse um propósito pedagógico, a prática acabou se tornando
muito longa para o público. Nesse sentido, dependendo dos objetivos
traçados, algumas estratégias podem ser revistas, como o número
de imagens, a quantidade de questões que direcionam a análise
e a necessidade de escrever as impressões individuais. Diante
da presença de crianças, percebeu-se a necessidade de adaptar
a linguagem e de discutir algumas noções como “feminilidade”,
que não lhe eram familiares. A escrita também colaborou com a
fadiga e trouxe um desao extra para os participantes. Em certo
ponto, a Participante B se questionou: “Como eu posso escrever
isso?”, demonstrando a diculdade que existe de colocar ideias em
texto. De certa forma, isso pode ter atuado como um limitador da
expressão de seus pensamentos.
Ficou evidente que as crianças têm uma forma particular de
olhar, viam detalhes que não eram notados pelos adultos e lançavam
comentários mais espontâneos, sem tanto receio de errar. Por seu
turno, com sentidos bastante signicativos que agregaram uma
nova perspectiva sobre os modelos de feminilidade apresentados,
principalmente, sobre a capa da revista Vogue US. Contrariamente
ao glamour e sosticação que geralmente são associados às capas
das revistas de moda, em especial as que têm celebridades da
cultura pop, as meninas perceberam uma passividade, estaticidade,
desconforto e uma composição que vincularam à morte. A essa
perspectiva, cabe somar a relação entre as três imagens tecida
pela Participante B: “Para mim elas estão todas muito produzidas.
Elas não parecem naturais”. Esse rico olhar dos participantes pode
levar a uma reexão sobre a nossa própria postura diante das
imagens de moda e como esses modelos de comportamento são
consumidos. De modo que, muitas vezes, age-se como um espelho
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de Beyoncé na Vogue US, de forma passiva, estática, articial (ou
não natural) e desconfortável com o que se é ou sobre como se
está. Talvez, como uma sombra de si própria, tão marcada quanto
aquela presente na imagem da cantora.
Por enquanto, é possível atestar que a imagem inicial da
capa da revista Vogue US propõe muitos outros sentidos além
dos verbalizados por Beyoncé em seu depoimento. Desse modo,
partindo da experiência apresentada, entende-se que a proposta
de leitura de imagens apoiada por relações de intertextualidade
pode funcionar como um recurso para instigar um pensamento
mais reexivo e crítico das imagens. Espera-se que esse relato
possa servir como um incentivo para novas experiências individuais
de se olhar para as imagens, assim como para a criação de novas
propostas pedagógicas, formais ou não.
Notas de m de texto
1 Ver: MACEDO, Káritha Bernardo de. Carmen Miranda em Hollywood:
lmes para uma boa vizinhança. 244 p. Dissertação (Mestrado) -
Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Humanas
e da Educação, Mestrado em História, Florianópolis, 2014. MACEDO,
Káritha Bernardo de. Pers de Carmen Miranda: diferentes contextos
de uma imagem apropriada (1939 e 2011). 2011 142 p. TCC (Graduação)
- Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Artes, Curso de
Moda, Florianópolis, 2011 Disponível em: http://sistemabu.udesc.br/
pergamumweb/vinculos/000000/000000000012/000012BA.pdf .
2 Ver: Idem.
3 The glossiest, heaviest, most content-rich of the year, its the very
denition of a dream book” (BORRELLI-PERSSON, 6 ago. 2018).
4 Texto original disponível em: https://www.vogue.com/article/beyonce-
september-issue-2018 .
5 “Vogue’s only representation of talent from the African diaspora is a
suit by Wales Bonner, a biracial designer from London(TRACY, 06 ago.
2018).
6 As considerações particulares dos participantes do experimento
pedagógico estão organizadas no apêndice deste artigo.
REFERÊNCIAS
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Glamour Magazine [online], 1 ago. 2016. Disponível em: <https://www.
glamourmagazine.co.uk/article/why-the-september-issue-is-important-
in-fashion>. Acesso em: 08 nov. 2018.
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BORRELLI-PERSSON, Laird. Plus One: Subscribe to Vogue and Receive
the Much-Anticipated September Issue and a Limited-Edition Tote.
VOGUE, Magazine [online], 6 ago. 2018. Disponível em: < https://
www.vogue.com/article/vogue-2018-september-issue-exclusive-tote-
for-subscribers-artwork-by-george-lepape>. Acesso em: 08 nov. 2018.
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289-339
Dossiê – Artes, Moda e Cultura Visual
V.16, N.38 — 2023
DOI: E-ISSN 1982-615x
ModaPalavra, Florianópolis, V. 16, N. 38, p. , jan./jun. 2023
Femininities and intertextual relations: an
experience of reading images from the
American Vogue magazine
Káritha Bernardo de Macedo
PhD, Instituto Federal of Santa Catarina- IFSC, Campus Gaspar,karitha.macedo@ifsc.edu.br
Orcid: 0000-0002-9583-5590 / Lattes
Submission: 08/01/2022 // Accepted: 11/03/2022
http://dx.doi.org/10.5965/1982615x16382023289
289-339
ModaPalavra, Florianópolis, V. 16, N. 38, p. , jan./jun. 2023
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ModaPalavra e-periódico / Dossiê Artes, Moda e Cultura Visual
Femininities and intertextual relations: an
experience of reading images from the
American Vogue magazine
ABSTRACT
This article is an account of a non-formal pedagogical experience
that proposed the reading of 3 images to a group of 5 people of
different genders and ages. The analyzed images were chosen
because they referred to the cover of the September 2018 issue of
the American Vogue Magazine with Beyoncé. The intention was to
investigate whether it would be possible to promote a discussion
about fashion images and increase the perception of visual
culture, through the exercise of image reading. The proposal was
systematized in three pedagogical moments and the image reading
was based on Oliveira (2006). As a result, the participants´ view
was deepened and meaningful discussions were initiated on models
of femininity and the intertextual relations surrounding the theme
of representations of Bahian women.
Keywords: Image reading. Intertextuality. Vogue.
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ModaPalavra, Florianópolis, V. 16, N. 38, p. , jan./jun. 2023
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ModaPalavra e-periódico / Dossiê Artes, Moda e Cultura Visual
Feminilidades e relações intertextuais:
uma experiência de leitura de imagens a
partir da revista Vogue US
RESUMO
O presente artigo é um relato de uma experiência pedagógica
não formal, que propôs a leitura de três imagens a um grupo de
5 pessoas de gêneros e idades diversas. As imagens analisadas
foram escolhidas por remeteram à capa da Revista Vogue US com
Beyoncé, na edição de setembro de 2018. A intenção foi investigar
se é possível promover uma discussão sobre imagens de moda e
uma ampliação da percepção sobre a cultura visual, por meio do
exercício da leitura de imagens. A proposta foi sistematizada em
três momentos pedagógicos e a leitura de imagens baseou-se em
Oliveira (2006). Como resultado, notou-se um aprofundamento no
olhar dos participantes e a abertura de discussões signicativas
sobre modelos de feminilidade e relações intertextuais em torno da
temática das representações das baianas.
Palavras-chave: Leitura de imagens. Intertextualidade. Vogue.
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ModaPalavra e-periódico / Dossiê Artes, Moda e Cultura Visual
Feminidades y relaciones intertextuales:
una experiencia de lectura de imágenes
de la revista Vogue US
RESUMEN
Este artículo es el relato de una experiencia pedagógica no formal,
que propuso la lectura de tres imágenes a un grupo de 5 personas
de diferentes géneros y edades. Las imágenes analizadas fueron
escogidas porque aparecieron en la portada de la revista Vogue US
con Beyoncé, en la edición de septiembre de 2018. La intención
fue investigar si es posible promover una discusión sobre las
imágenes de moda y una expansión de la percepción sobre la
cultura visual, a través del ejercicio de lectura de imágenes. La
propuesta fue sistematizada en tres momentos pedagógicos y la
lectura de imágenes se basó en Oliveira (2006). Como resultado,
hubo una profundización en la perspectiva de las participantes y la
apertura de discusiones signicativas sobre modelos de feminidad
y relaciones intertextuales en torno al tema de las representaciones
de las mujeres bahianas.
Palabras clave: Lectura de imágenes. Intertextualidad. Vogue.
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1. INTRODUCTION
This article reports a non-formal pedagogical experience,
carried out in 2018, the aim of which was to invite a group of people
to read images around the theme of representations of Bahian
women to discuss the possible relationships between them, seeking
to establish intertextualities, using Oliveira’s script (2006) as a
parameter. For this, a group of ve people with very heterogeneous
ages were invited to participate. Likewise, the images selected for
discussion, presented in gures 1, 2 and 3, are also from very
different periods: 2018, 1941 and circa 1885.
Figure 1. Beyoncé on the Cover of the American Vogue Magazine, photographer
Tyler Mitchell, September 2018 issue.
Source: https://www.vogue.com/article/beyonce-september-issue-2018.
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