Dossiê – Artes, Moda e Cultura Visual
V.16, N.38 — 2023
DOI: E-ISSN 1982-615x
ModaPalavra, Florianópolis, V. 16, N. 38, p. , jan./jun. 2023
Uma escrita ilustrada do vestuário: de
Schwarz a João Affonso
Fernando Hage
Doutor em Artes, Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP - SP / fernandohage@gmail.com
Orcid: 0000-0002-9535-8878 / Lattes
Submissão: 30/06/2022 // Aceito: 11/11/2022
http://dx.doi.org/10.5965/1982615x16382023171
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Uma escrita ilustrada do vestuário: de
Schwarz a João Affonso
RESUMO
Este artigo1 tem como objetivo central apresentar uma cronologia
de obras ilustradas com viés histórico sobre o vestuário, desde
a publicação de Trachtenbuch (1560), de Matthäus Schwarz.
Serão elencados um conjunto de obras consideradas canônicas
por apresentarem aspectos importantes do processo de uso e
circulação de imagens de trajes, divididas nas categorias: livros
de roupas, livros de trajes, livros de gravuras e costumes, grandes
livros ilustrados, livros românticos/historicistas e livros modernos.
Esse mapeamento e classicação, realizado em tese de doutorado
por meio de revisão bibliográca e pesquisa documental, resultou
em 35 obras levantadas e será apresentado nestas páginas um
recorte com 25 exemplares, além do destaque ao livro Três Séculos
de Modas (1923), de João Affonso, obra pioneira do gênero no
Brasil. Essas produções ajudaram a ponderar sobre como se deu
a construção de um imaginário sobre o vestuário presente em
publicações que darão origem ao campo da história do vestuário.
Palavras-chave: História da moda. Ilustração do vestuário. Livros
ilustrados.
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Clothing historical illustration: from
Schwarz to João Affonso
ABSTRACT
This article aims to present a chronology of illustrated works with
a historical bias on clothing, since the publication of Trachtenbuch
(1560), by Matthäus Schwarz. A set of works considered canonical
will be listed because they present important aspects of the process
of use and circulation of costume images, divided into categories:
clothing books, costume books, habits engraving books, great
illustrated books, romantic/historicist books and modern books.
This mapping and classication, carried out in a doctoral thesis
through bibliographic review and documental research, resulted in
35 works surveyed and a clipping with 25 books will be presented
in these pages, in addition to the highlight of the book Três Séculos
de Modas (1923), by João Affonso, a pioneering work of the genre in
Brazil. This production helped us to reect on how the construction
of an imaginary about clothing was present in publications that will
give rise to the eld of clothing history.
Keywords: Fashion history. Clothing illustration. Illustrated books.
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Una escritura ilustrada del vestuario: de
Schwarz a João Affonso
RESUMEN
El objetivo principal de este texto es presentar una cronología de
obras ilustradas con un aspecto histórico sobre la indumentaria,
desde la publicación de Trachtenbuch (1560), de Matthäus Schwarz.
Se listará un conjunto de obras consideradas canónicas porque
presentan aspectos importantes del proceso de uso y circulación
de imágenes de vestuario, divididas en categorías: libros de ropa,
libros de vestuario, libros de costumbres, grandes libros ilustrados,
libros románticos/historicistas y libros modernos. Este mapeo y
clasicación, realizado en una tesis doctoral a través de revisión
bibliográca e investigación documental, resultó en 35 obras
relevadas y un recorte con 25 ejemplares será presentado en estas
páginas, además del destaque del libro Três Séculos de Modas
(1923), de João Affonso, obra pionera del género en Brasil. Esta
producción nos ayudó a reexionar sobre cómo la construcción de un
imaginario sobre la indumentaria estuvo presente en publicaciones
que darán origen al campo de la historia de la indumentaria.
Palabras clave: Historia de la moda. Ilustración de la ropa. Libros
ilustrados.
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1. INTRODUÇÃO
A construção de narrativa por meio de imagens é uma ação
dos seres humanos desde as civilizações mais antigas, quando
produziam pinturas rupestres ou desenhos milenares orientais.
Diante disso, obras plásticas, como também esculturas, gravuras,
entre outros, são responsáveis pela constituição de um material
visual que exemplicará em diversas situações modos de vestir de
determinadas pessoas e também de grupos às quais pertencem.
Esse material visual, com o desenvolvimento de processos e
técnicas, terá o livro como um dos seus principais meios de registro,
muitas vezes com viés de registro histórico.
O vestuário (ou a ausência dele) é um dos componentes
que forma o conjunto do corpo humano em sua representação.
Inegavelmente, a imagem que temos de nós está relacionada às
próprias representações que criamos e que nos ajudam em um
processo de reconhecimento.
Anne Hollander (1993) aborda o vestuário como uma forma
de objeto visual que se estabelece historicamente em um uxo de
imagens, visto que, para ela, a roupa é experimentada, muitas
vezes, socialmente, a partir do campo das imagens, de como é
vista de modo coletivo e de como é traduzida na hora de se vestir
ou representar um ser vestido.
Roland Barthes (2009) delimita que podemos entender a
moda por meio da separação que existe entre seu vestuário real,
praticado diariamente pelas sociedades, e o sistema retórico que
o representa, por meio de imagens (vestuário-imagem) ou pela
forma escrita — dimensões imaginadas que acabam por congurar
o que pode-se compreender como “sistema da moda”.
As imagens são, nesse sentido, operárias do vestuário e
também da indústria da moda e, por conseguinte, de sua constituição
histórica. Elas formam uma iconosfera, “[...] um caudal de imagens
em circulação, cotidianamente alimentado, reapropriado e recriado
pelos agentes sociais” (CARVALHO; LIMA, 2012, p. 57).
O intuito deste artigo é apresentar, por meio de uma
cronologia, considerações sobre a dimensão imaginada que se
construiu do vestuário, a partir do século XVI, dentro de obras
impressas interessadas em capturar aspectos históricos ou sociais
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por meio da ilustração de trajes, o que poderíamos chamar de
histórias ilustradas do vestuário.
Esse tipo de gênero teve sua primeira manifestação no
Brasil em 1923, com Três Séculos de Modas, uma crônica acerca
das mudanças do vestuário desde o século XVII ao início do século
XX, contendo 56 ilustrações produzidas pelo próprio autor, o
maranhense radicado em Belém, João Affonso (1855-1924).
Muito antes disso, desde o século XVI, como no Trachtenbuch
(1560), de Matthäus Schwarz, esse campo de representação do
vestuário já vinha constituindo uma linguagem visual e conceitual
própria. Portanto, buscamos aqui apresentar um percurso, dividido
em categorias, que abrangerá diferentes acepções sobre obras
pioneiras que visavam registrar modos de vestir, entendendo seu
papel na constituição de uma visualidade histórica para o campo
do vestuário.
Nas próximas páginas serão apresentados, de forma
suscinta, alguns aspectos da escrita ilustrada do vestuário, a partir
das seguintes categorias: “livros de roupas”, “livros de trajes”,
“livros de gravuras e costumes”, “livros românticos/historicistas”,
“grandes livros ilustrados” e “livros modernos”, chegando até a obra
Três Séculos de Modas, para compreender suas relações visuais e
conceituais com essa produção histórica.
Essa cronologia é apresentada de forma completa na tese
Imagens na História do Vestuário (HAGE, 2022), sendo criada
a partir de um levantamento bibliográco baseado em obras
consideradas canônicas para a área, como os livros dedicados às
origens de estudos da moda, de Valerie Cumming (2004) e Lou
Taylor (2004), e as análises qualitativas mais pontuais encontradas
em textos de autores como Millia Davenport (1948), Gilles
Lipovetsky ([1989]2009), Aileen Ribeiro (1994), Massimo Baldini
(2005) e Daniela Calanca (2010).
Segundo Teixeira Coelho (2012), dene-se o cânone como
algo que representa um conjunto que agrupa obras reconhecidas
como as mais importantes de uma determinada tradição artística.
Como o autor comenta, “[...] essa operação está longe de revelar-
se cômoda e incontrovertida” (COELHO, 2012, p. 92), mas o
vestuário, enquanto linguagem, possui modelos autônomos que
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devem ser reconhecidos, e busca-se levantar, nesse sentido,
um conjunto de obras consideradas canônicas por apresentarem
aspectos importantes do processo de uso e circulação de imagens
de trajes.
O levantamento apresentado aqui irá elencar um recorte de
25 das 35 obras ilustradas compiladas no estudo, que na referida
tese tiveram suas edições digitalizadas localizadas em acervos
como Internet Archive (archive.org) e Gallica (gallica.bn.fr) e
disponibilizadas em tabelas com links completos de acesso2.
Esse conjunto de obras, que vai do século XVI até as
primeiras décadas do século XX, período da publicação do primeiro
livro brasileiro já comentado, tem o intuito de ajudar a discutir
aspectos sobre o campo das imagens do vestuário e sua escrita
histórica, ao organizar um conteúdo que encontrava-se disperso ou
ainda sem tradução.
No Quadro 1, apresenta-se um conjunto visual com algumas
das obras levantadas que serão discutidas conforme a apresentação
das categorias estabelecidas nas próximas páginas. Por meio de
exemplos de páginas coletadas das publicações digitalizadas, estão
destacadas aqui as obras de Schwarz (1560), inserido como livro
de roupas; Vecellio (1590) como representante dos livros de trajes;
Rétif de La Bretonne (1789) como exemplar de livro de gravuras e
costumes; Planché (1876-79) como autor de uma obra romântico/
historicista; Hottenroth (1896) como representante dos grandes
livros ilustrados; e por m, as obras de Köhler (1956) e Hughes
([1913]2011) como livros modernos.
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Quadro 1. Conjunto de imagens coletadas na pesquisa, retiradas de obras ilustradas do
vestuário
Fonte: Criado pelo autor (2022) a partir de [1.1] SCHWARZ, 1560; [1.2] VECELLIO, 1590;
[1.3] RÉTIF DE LA BRETONNE, 1789; [1.4] PLANCHÉ, 1876-79; [1.5] HOTTENROTH, 1896;
[1.6] HUGHES, 2011; [1.7] KÖHLER, 1956.
Nas próximas páginas, apresenta-se o percurso cronológico
pelas diferentes categorias representadas de forma resumida no
quadro acima, e ao nal, analisa-se o livro Três Séculos de Modas
e suas relações com esta dimensão visual e imaginada do vestuário
que pretendemos atravessar.
2. CATEGORIAS DA ESCRITA HISTÓRICA ILUSTRADA DO
VESTUÁRIO
2.1 Livros de roupas: registros de si
As primeiras imagens em livros com o intuito de registro
histórico são observadas por Lipovetsky (2009) como fruto de um
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processo de curiosidade pelas roupas, envolto pela subjetivação e
necessidade de datação que se organiza na sociedade a partir da
Idade Média.
O mais importante exemplo desse movimento, ganhando a
alcunha de primeiro livro de moda (RUBLACK et al., 2015), é a
publicação Das schwarzsches Trachtenbuch I (1560), de Matthäus
Schwarz ou apenas Trachtenbuch, tradução para o termo “livro
de roupas”, que denomina essa categoria. O livro de Matthäus
apresenta 131 gravuras coloridas de trajes, pintadas à mão, que
ele e seu lho utilizaram ao longo da vida (Figura 1.1), comentadas
numa espécie de biograa narrada por meio das roupas com
informações sobre os elementos e alfaiates que as faziam, assim
como as situações de uso (SCHWARZ; RENNER, 1560).
Nascido em 1497, em Augsburg, na região da Bavaria
(atual Alemanha), ao se tornar chefe de contabilidade dos grandes
comerciantes da época aos 23 anos, Schwarz iniciou essa obra com
o artista Narziss Renner, que pintou durante o período de 40 anos
as pranchas, a partir das instruções da memória e esboços que
eram repassados em encontros realizados entre os dois (RUBLACK
et al., 2015).
O livro de roupas de Schwarz carrega o pioneirismo nesse
tipo de representação de si, junto com Sigmund von Herberstein,
que publicou, em 1566, em Viena, na Áustria, a obra Picturae
variae generosum ac magnicum domi. Siegmund Freiherr von
Herberstein foi um embaixador que viajou entre 1515 e 1553 por
toda a Europa a serviço dos Habsburgos e, em sua obra, ilustra e
descreve trajes que usou para audiência em diferentes locais, como
Moscou, Turquia, Espanha e Polônia (TAYLOR, 2004; HERBERSTEIN,
1566).
Herberstein e Schwarz viram, no emprego de imagens
do vestuário, uma forma de construção de si por meio do
registro histórico. Entenderam, por sua posição de funcionários
prestigiosos, a aparência como um campo de distinção, uma forma
de representar sua honra, reiterada pela importância do vestuário
nessa constituição.
A diferença entre as produções de Schwarz e de Herbenstein
é que, no segundo caso, não se tratava de um livro pintado à mão,
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e sim de uma publicação com seis xilogravuras (blocos de madeira
entalhados que estampavam no papel) e textos em matrizes
tipográcas, técnicas que vinham se disseminando desde o século
XV e geravam mais possibilidades de reprodução.
Desse modo, pode-se ver que conceitos como a representação
de si, a datação e a noção de prestígio, por meio da ilustração
histórica, são elementos circunscritos no surgimento da escrita
ilustrada do vestuário.
2.2 Livros de trajes: o olhar sobre os outros
Os livros de trajes são obras que, para além do registro de
si, fazem parte de um fenômeno do olhar para o outro, o qual se
populariza por meio da difusão das gravuras. Esse termo advém da
conceituação por parte de Larissa Carvalho (2013; 2018), que, no
cômputo de suas pesquisas, faz um apanhado aprofundado sobre
esse tipo de literatura, discorrendo que ainda é uma temática com
produção pouco conhecida.
A primeira obra desse gênero, segundo Carvalho (2018) e
Calanca (2010), pode ser considerada Diversarum gentium nostrae
aetatis habitus, publicada em Veneza por Enea Vico (VICO, 1558).
Tal publicação confere o status pioneiro à Itália, onde, na década
de 1560, estavam sendo disponibilizados livros de gravuras, como
o de Ferdinando Bertelli, Abiti di tutte le genti della nostra época
mai pubblicati prima d’ora, lançado em Veneza (BERTELLI, 1563).
Esse fenômeno também estava em difusão em países como
França, onde a obra de François Desprez — Recueil de la diversité
des habits qui sont de présent usiage — foi publicada em 1562
(DESPREZ, [1562]1567). Na Alemanha, em Nuremberg, Jost
Amman publicou sobre o tema dos trajes, com Habitus praecipuorum
populorum, de 1577, contendo 219 pranchas gravadas (AMMAN,
1577).
Além desses autores, também o amengo Abraham De
Bruyn, que publicou dois catálogos em 1581: Abiti delle diverse
genti del mondo, contendo 67 xilogravuras, que representam 182
indumentárias; e Abiti delle genti di tutta Europa, Asia, Africa e
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America (DE BRUYN, 1581a, 1581b). Em 1589, outro exemplo é do
italiano Pietro Bertelli, em Pádua, que publicou Abiti delle diverse
nazioni (BERTELLI, 1590).
Entre as décadas de 1560 e 1580, surgiram assim alguns dos
autores pioneiros desse segmento, e vemos que um incremento
na quantidade de ilustrações que tais livros comportavam, passando
de 98 pranchas de Enea Vico a 219 pranchas de Jost Amman. Na
década de 1590, surgiu uma obra reconhecida como um dos mais
amplos e famosos livros de trajes, de Cesare Vecellio, intitulada De
gli habiti antichi e moderni di diversi parti del mondo, publicada
em Veneza em 1590 (Ver Figura 1.2), contendo o montante de 499
ilustrações, bem superior a seus antecessores (VECELLIO, 1590).
Os livros de trajes e, principalmente, suas imagens, tinham
poucas barreiras linguísticas e reprodução facilitada pelas matrizes
em madeira e, posteriormente, em metal, tornando-se um modo
de descrição do mundo. Em geral, tais coleções respondiam a
um desejo referente ao período das navegações, quando novos
territórios estavam sendo descobertos pelos europeus.
Nos autores do gênero, como atestado pelos estudos de
Carvalho (2018), houve um procedimento intermediado no qual
os agentes criavam muitas de suas imagens a partir de referências
de terceiros e trabalhos ilustrados já publicados anteriormente.
Com isso, foram desenvolvidos vários modelos de representação
de trajes e culturas, os quais entraram em circulação pela Europa
e por outras regiões do século XVI em diante.
Nesse enquadramento, guras trajadas representavam
nações, sociedades, momentos históricos, prossões etc., por
meio de modelos, tipos, estereótipos. Segundo Vânia Carvalho
e Solange Lima, o tipo “[...] designa um elemento que, por meio
de suas particularidades concretas, representa uma classe de
elementos semelhantes” (2012, p. 57). É preciso levar em conta
que, conforme as referidas autoras, ele “[...] resulta de processos de
seleção, redução, abstração que pouco têm a ver com concretude e
literalidade” (idem), por isso, nesse caso, o tipo possui relação com
uma dada iconosfera. A imagem de tais guras, gradativamente,
é responsável pela composição de um imaginário acessado pelos
próprios gravadores e historiadores, assim como entendido pelo
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público.
Como é delimitado por Carvalho (2013, p. 93), os livros de
trajes “[...] criavam, circulavam e vinculavam esses ‘tipos sociais’”,
e a popularização desse gênero de publicação é demonstrada na
pesquisa de Daniel Roche (2007) por meio de dados coletados por
Jacqueline Tuffal, responsável por inventariar mais de 200 obras
sobre vestuário em toda a Europa, produzidas entre 1510 e 1610.
Aqui, o conjunto de obras apresentadas é exemplo de
uma marca importante pela forma como são lidas as imagens do
vestuário, principalmente quando se pensa na noção de classicação
de tipos. Tal forma de visualidade, que apresenta personagens
centralizados e emoldurados nas matrizes xilográcas, além dos
estereótipos contidos nelas, permeia o imaginário social até os dias
atuais, surgindo como referência quando se pensa o passado mais
distante do vestuário por meio das imagens.
2.3 Livros de gravuras e costumes: difundindo códigos
A popularização gradativa das gravuras e de suas técnicas2
levou à disseminação de imagens que demonstravam modos de
vestir de pessoas da Europa e de regiões mais distantes. Essas
gravuras, que compunham livros e publicações periódicas, muitas
vezes se dispersavam e transitavam individualmente no âmbito das
cidades, o que ocorreu principalmente a partir do Renascimento.
Daniel Roche (2007, p. 27) registra em sua pesquisa que
“[...] imagens soltas aparecem em mais de 50% dos inventários
parisienses do século XVIII”. As gravuras, de muitas categorias
diferentes, entre elas as que podem-se chamar de “gravuras de
moda”, circulavam e cumpriam seu papel de construção de uma
iconosfera do vestuário.
O conceito de gravura de moda pode ser entendido de forma
bem abrangente como imagens que trazem a representação de um
traje. Apesar de carregar o termo “moda”, não necessariamente
todas as gravuras tinham a função de transmitir novos padrões de
vestimenta, mas, sim, o de registrar diferentes modos de vestir.
A função de apresentar lançamentos apareceu, de maneira
mais acentuada, com as chamadas fashion plates, popularizadas
no século XIX e presentes em revistas e jornais com conteúdo
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sobre moda. Elas tiveram seu primeiro embrião no jornal Le
Mercure Galant, editado em Paris entre 1672 e 1674 e 1678 e
1714, exibindo sugestões de trajes para as estações vindouras
(MERCURE GALANT, 1678-1714).
Em análise organizada por Roche (2007) em torno de livros
sobre roupas publicados entre os séculos XVI e XVIII, com destaque
para o âmbito da difusão de gravuras, este cita, como um dos
pontos de destaque o tema Le cris de Paris (os “gritos de Paris”).
Esta temática, recorrente nos gêneros literário e jornalístico do
século XIX, com origem na Idade Média, se destaca pelo registro
de cenas do cotidiano, e é exemplicada com a obra homônima de
Michel Poisson (POISSON, 1774-1775).
Outro exemplo importante é o da obra Monuments du
costume, com ilustrações de Jean-Michel Moreau e de outros artistas
(Figura 1.3), uma publicação de sucesso, que teve cerca de quinze
edições entre 1774 e 1793, algo que despertou o interesse de
muitos livreiros e também falsicadores (RÉTIF DE LA BRETONNE,
1789).
As gravuras, diferentemente das pinturas e esculturas
restritas a ambientes de elite, eram as responsáveis pela circulação
viva de imagens, assumindo o papel de “reforçar os códigos
sociais”, como comenta Larissa Carvalho (2013, p. 38). Essas
imagens sugeriam normas e costumes, em um caráter utilitário
e informativo, ao mesmo tempo em que propagavam sonhos e
inuenciavam a adoção de novidades por meio do uxo de imagens.
Pode-se inferir, aqui, uma questão que relaciona essas
gravuras como parte de um “processo civilizador” nas sociedades
ocidentais, termo utilizado por Norbert Elias (2011). Isso porque,
referem-se a um procedimento de disseminação de uma convenção
da cultura comportamental ocidental de origem europeia, vista
como um padrão civilizado a ser seguido. Esse modelo se difunde
historicamente por meio da representação visual e do suporte
das gravuras e dos livros, promovendo, por meio das imagens do
vestuário, uma imposição e hierarquização de costumes.
2.4 Livros românticos/historicistas: quadros nacionais
e de referência para artistas
Em Costume in England, de 1846, Frederick William Fairholt
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deixou em sua introdução uma mensagem pertinente para o
entendimento do olhar que se instalaria sobre muitas obras
surgidas principalmente no século XIX: a história do vestuário
serviria àquele que não pode falsicar a história e, desse modo,
necessitava de dados de conança (FAIRHOLT, 1846).
Antes disso, no século XVIII, para Cumming (2004), surgiu
o primeiro historiador do vestuário britânico, Joseph Strutt, que
entre 1774 e 1796 publicou volumes que resultaram na obra A
Complete View of the Dress and Habits of the People of England, a
qual possui uma pluralidade de ilustrações (STRUTT, 1799). Ele é
um exemplo pioneiro da tendência de resgatar uma cronologia do
vestuário, acessando aspectos históricos de povos mais antigos,
diferentemente dos livros de traje, que estavam preocupados em
apresentar personagens de distintas localidades geográcas e seus
modos de vestir.
Segundo Cumming (2004), essas obras surgiram em um
contexto —entre o nal do século XVIII e o início do XIX de
formação dos Estados-Nação europeus, fato que estimulou um
estudo histórico do passado e a reconstrução de acontecimentos
emblemáticos que pudessem compor um quadro nacional.
Isso gerou uma necessidade de recenseamento de costumes,
tipos e grandes acontecimentos para a construção de uma
narrativa, até aquele momento, possivelmente dispersa. Segundo
Taylor (2004), isso se alia também à necessidade de criação de
gurinos teatrais acurados e à busca por informações para pinturas
históricas, estimuladas, a partir do século XVII, por um crescente
interesse por objetos e referências sobre a Antiguidade.
No escopo do resgate visual dos trajes dos povos da
Antiguidade, tem-se como exemplo Thomas Hope, na Inglaterra,
que publicou Costume of the Ancients, em 1809, e Michel-François
D’André Bardon, na França, com o livro Costume de Anciens
peuples, publicado em 1772, ambos apresentando desenhos de
afrescos, esculturas e detalhes de vasos como um referencial de
imagens que representavam os costumes da Antiguidade (HOPE,
1809; ANDRÉ-BARDON, 1772).
Também percebe-se na França uma inuência dos estudos
medievalistas, como o de Germain Demay, intitulado Le Costume
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au Moyen Age, d’après les sceaux, de 1880, que tem o cuidado de
trazer redesenhos de artefatos, esculturas e objetos como moedas,
por exemplo, como evidências para informações sobre o vestuário
histórico (DEMAY, 1880).
Pode-se perceber, portanto, que, passados séculos de difusão
de imagens, o material visual criado pela tradição anterior dessa
escrita ilustrada do vestuário e da própria produção imagética
ocidental pôde ser organizado nos livros historicistas do século
XIX. Duas importantes produções são as de James Robinson
Planché, que lançou History of British Costume, em 1834, assim
como Cyclopaedia of Costume, em 1876; e de Jules Quichérat, que
publicou Histoire du Costume in France, em 1875.
A obra de 1876 de Planché é dividida em dois volumes,
sendo o primeiro uma enciclopédia, e o segundo, uma cronologia
histórica também ilustrada (PLANCHÉ, 1876-79). Ela está disponível
até os dias atuais para venda em edições em inglês e conta com
apresentação visual que mistura gravuras grandes (redesenho
de obras artísticas, objetos arqueológicos ou gravuras de moda),
além de pequenos desenhos lineares de detalhes e acessórios,
demonstrando um novo modo de composição de ilustração nas
páginas dos livros de história do vestuário (Figura 1.4).
Quicherat possui um livro comentado por pesquisadores
como Roche (2007) e Lipovetsky (2009), mas sua obra foi reeditada
somente até 1956. Roche diria que o historiador francês era “o
mais renomado autor na matéria no século XIX” e que instituiu um
“efeito Quichérat” em outros autores, com o objetivo de fornecer
informações acuradas para pintores, escultores e gravadores,
utilizando-se de muitas ilustrações de artefatos artísticos, como
pinturas, esculturas, joias, ferramentas e armas, assim como
reproduções de gravuras de moda (ROCHE, 2007, p. 38-40).
Barthes (2005, p. 258) arma que “a História da indumentária
tem origem essencialmente romântica”, e vemos que esse período
deixa marcas importantes na área de estudos. Como comenta a
historiadora Mara Rubia Sant’Anna (2010), a partir dos estudos de
Barthes, as consequências do romantismo na fundação da história
do vestuário trouxeram duas características para a disciplina: a
busca pela representação do pitoresco e o olhar voltado para a
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reconstrução de personagens celebradas, como rainhas e reis,
deixando de lado a roupa de pessoas ditas “comuns”, idealizadas nas
gravuras de séculos anteriores de forma mais latente (SANT’ANNA,
2010).
2.5 Grandes livros ilustrados: popularizando a imagem
do vestuário
Apesar de todo o escopo de obras tratado aqui ser de cunho
ilustrado, destaca-se um conjunto de obras com forte apelo visual,
que, como aponta Taylor (2004), são marcos fundamentais na
história para a área até hoje.
A principal delas surge em 1888 — Le Costume Historique —,
de Auguste Racinet, trazendo um total de 500 pranchas, divididas
em 6 volumes, publicadas em diferentes fascículos, contendo textos
de tom curioso, que dão suporte ao conjunto extenso e detalhado
de ilustrações, as quais possuem como diferencial o fato de serem
coloridas à época (RACINET, 1888). O livro de Auguste Racinet é,
até a presente data, uma obra reeditada pela editora Taschen, em
formato grande, de 636 páginas, totalmente colorido e em edição
trilíngue (inglês, francês e alemão), assim como em formato de
bolso, com 752 páginas.
Racinet ajudou a consolidar os padrões de divisão histórica
presentes em muitos livros do campo, dividindo o chamado Mundo
Antigo (egípcios, assírios, etruscos, gregos, romanos, indo até
bretões e gauleses), seguido dos povos da Europa de Bizâncio até
o século XIX e, em separado, As civilizações arcaicas do século XIX4
e Trajes tradicionais da década de 1880 (RACINET, 1994).
Assim, o autor reforçou a valorização dos costumes europeus
como o modo de parecer que o mundo deveria ter interesse, seja
por meio do vestuário antigo e medieval, do vestuário sob inuência
da moda, seja pelos próprios trajes considerados tradicionais,
colocando os povos de outras nações no registro do arcaico e do
exótico, uma lógica que ajudou no próprio processo de dominação
da moda de origem europeia.
Outro exemplo tão importante dessa produção cou a cargo
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da obra de 1891 do litógrafo Friedrich Hottenroth, lançada em
francês em 1896 com o título Le costume, les armes, les bijoux,
la céramique, les ustensiles, outils, objets mobiliers, etc.: chez
les peuples anciens et modernes5 (HOTTENROTH, 1896). A obra
do ilustrador alemão possui uma parte inicial de texto e imagens
de trajes, assim como objetos arqueológicos, desenhados junto a
moldes. Após isso, é apresentado um conjunto ricamente ilustrado
com 120 pranchas coloridas, de uma beleza reconhecida, com
vestimentas, armaduras e joias (Figura 1.5).
A obra de Racinet também continha um volume com moldes
e informações técnicas, porém estas foram suprimidas nas versões
mais modernas, deixando apenas o aspecto visual em destaque,
como aconteceu também na edição mais recente de Hottenroth,
lançada em 2002 como L’Art du Costume (Parangon, Paris).
Os dois autores popularizaram um modo de apresentação
de pranchas em composições dinâmicas, multicoloridas, com
personagens alinhados, montados em colunas, compondo um
quadro visual do vestuário de cada período com detalhamentos
e peças em destaque. Tal modo de apresentação tornou-se
emblemático na forma de identicar imagens de cunho histórico do
vestuário e inuenciou muitas obras dali em diante. É perceptível,
também, a continuidade do processo de criação de imagens baseado
na iconosfera compartilhada pelos autores.
Carvalho e Lima (2012, p. 63) comentam que “as imagens
participam da lição das coisas”, e os famosos tomos ilustrados de
Racinet e Hottenroth participam, assim, de um processo educativo
que pode ser entendido de diversas maneiras, pois é reexo de
uma cultura de recenseamento e olhar ao passado que envolve
aspectos como o nacionalismo, a dominação da cultura europeia e
as descobertas arqueológicas, ao mesmo tempo em que cria bases
visuais do campo.
Por trás desse contexto, vale lembrar que esses processos
tiveram consequências não tão positivas, fazendo com que essas
civilizações fossem apropriadas e hierarquizadas, como no caso dos
saques generalizados de sítios da Antiguidade, o que gerou reexos
culturais presentes até hoje. Mesmo assim, os livros ilustrados de
história do vestuário foram capazes de denir muitas das formas
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de se ver e perceber a narrativa histórica do vestuário e sua
representação a partir de imagens.
2.6 Livros modernos: novas imagens e metodologias
A história do vestuário é, durante o século XIX e início do
XX, uma área do conhecimento criticada por Barthes (2005) como
pouco focada nas relações, complexidades e signicados culturais
do vestuário, pois voltava sua atenção para os aspectos formais
e sua visualidade. Ao contrário do aspecto crítico, é importante
valorizar os aspectos visuais, ou grácos, na constituição da
representação histórica do vestuário e de sua iconosfera. Percebe-
se essa continuidade nos livros modernos, que surgem no início do
século XX.
Um dos exemplos de como isso se manifesta ocorre na
obra de Talbot Hughes, Dress design – An Account of Costume for
Artists & Dressmakers, publicada originalmente em 1913, que se
apresenta como um banco de referências visuais (HUGHES, 1920).
O livro contém 118 grupos de ilustrações com desenhos lineares,
31 pranchas fotográcas e 68 moldes com medidas, demonstrando
um modo de conguração estabelecido para o campo (Figura
1.6).
Como é possível vericar em obras a partir do século XX, as
pranchas fotográcas começaram a se difundir dentro dos livros,
um reexo de técnica e produção que estava atrelado à ampliação
da qualidade das reproduções nos livros. Uma obra elogiada
pelo uso das imagens é Die Mode, de Max Von Boehn, publicada
primeiramente entre 1907 e 1925, sendo traduzida para o inglês
como Mode and Manners, e em espanhol como La Moda – Historia
del Traje en Europa, pela última vez publicada na década de 1950,
com 12 volumes (BOEHN, 1951).
A obra de Von Behn é louvada tanto pela diversidade
de reproduções e uso de fontes documentais quanto por sua
organização cronológica pela autora Millia Davenport, em The Book
of Costume (1948), obra norte-americana considerada por autores
como Taylor (2004), Cumming (2004) e Laver (1989) como uma das
mais importantes de análise histórica do vestuário já publicadas,
por sua pesquisa iconográca com reproduções de mais de 3.000
obras originais datadas e com fontes.
Nas palavras de Davenport (1948), o livro perfeito do campo
seria aquele que forneceria tantas imagens de documentos originais
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que não seriam necessárias palavras. A autora se mostrava contra
o uso de redesenhos de autores a partir de fontes, mas não
podemos negar a pertinência da cultura visual desenvolvida pelas
reproduções de autores como Racinet, Planché, Quicherat etc.
No caso dos livros modernos, as reproduções fotográcas
são capazes de registrar objetos, esculturas e quadros em
museus, assim como roupas e acessórios, evitando a necessidade
de redesenhos. Um exemplo que reitera essas novas abordagens
em relação às imagens são as obras do alemão Carl Köhler, que
teve dois de seus estudos6 transformados em livro, traduzidos para
o inglês como A History of Costume, em 1930, lançado no Brasil
como História do Vestuário, em 1993 (Companhia das Letras).
Ambos os tratados foram editados por Emma Von Sichart
em um livro único, que teve informações suprimidas e organizadas
como uma primeira parte em legendas minuciosas das imagens e
dos trajes apresentados, contendo medidas de moldes, seguidas
pelos capítulos do livro, intercaladas pela diversidade das imagens
(KÖHLER, 1956). Na obra, os moldes apresentados foram
confeccionados por Emma von Sichart, assim como vestidos em
modelos fotografados, elevando a apresentação dos objetos a um
novo patamar, até então não encontrado em livros dessa biblioteca
(Figura 1.7).
Utilizando a proposição do historiador Giorgio Riello (2011),
podemos entender a formação do campo de estudos da história
do vestuário (no inglês, history of dress ou costume history) como
uma área focada em contextualizar objetos em relação às suas
formas e estilos, relacionando-os a objetos semelhantes no tempo
e no espaço, e a partir da obra de Carl Köhler podemos atestar essa
tendência.
Esse campo de estudos começa a se sistematizar em meados
do século XIX, tendo esse método de manejo investigativo centrado
no objeto (object-based research), predominante no pós-guerra,
com foco em objetos artísticos e arqueológicos como fontes de
dados a serem coletados, com o intuito de prestar informações
técnicas que permitam a reprodução de trajes.
Esse olhar macro, que visa mostrar muitos exemplos,
que, por vezes, cam descontextualizados e pouco interessados
nas relações humanas que regiam o uso desses objetos, gerou
críticas ao campo da história do vestuário, abrindo caminhos para
novos métodos de estudos (como os chamados fashion studies).
Isso revela um modo de conguração do campo, onde uma
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pertinência pelo visual que deve ser levada em conta, construída
com um imaginário formado por obras como as apresentadas até
aqui, e que chegou até a primeira obra brasileira da história do
vestuário.
3. TRÊS SÉCULOS DE MODAS E A ESCRITA ILUSTRADA
O livro Três Séculos de Modas fez parte de um conjunto de
ações culturais de uma elite formada por intelectuais capitaneados
pelo pintor Theodoro Braga (1872-195) para a efeméride do
Tricentenário da cidade de Belém, por isso seu nome e datação
do estudo, de 1616 a 1916. O livro foi lançado atrasado à data de
comemoração, apenas em 1923, mas todo o seu conteúdo, segundo
o autor, João Affonso, foi produzido até 1916, e suas ilustrações,
que compunham um conjunto de 56 gravuras, foram exibidas em
uma mostra artística em 1917 em obras em nanquim, sépia, água-
forte e aquarelas (HAGE, 2020).
A obra é considerada pioneira no Brasil dentro do contexto de
histórias ilustradas do vestuário que abordamos aqui. Tecendo um
olhar para as obras que foram levantadas, Três Séculos pode ser
inserido dentro de algumas inuências. Dentre as categorias criadas
para o percurso histórico anterior, o autor brasileiro poderia ser
considerado inserido no gênero dos livros românticos/historicistas
que buscavam inventariar o mundo, com viés elitista e com vistas
a criar um quadro nacional, nesse caso, de elegância internacional,
para curiosos e prossionais do campo das artes e do teatro.
João Affonso não cita uma extensa bibliograa, mas
temos nas referências a obra de Ary Renan, lançada em 1879,
Le Costume in France, seguidora dos preceitos de Quicherat, já
que são encontradas 35 citações ao autor francês nessa obra
(RENAN, 1890). A obra de Affonso possui um aspecto de crônica,
apresentando guras e fatos mais notáveis, a seu ver, no percurso
histórico, com muitos detalhamentos técnicos sobre cores, trajes,
tecidos e referências a artistas dos períodos.
Existe um olhar na obra, ao se analisar os costumes europeus
como o padrão de civilidade responsável por compor a imagem
histórica do dito traje que inuencou a moda no Pará, que remete
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ao nacionalismo europeu em voga nos livros do século XIX.
Esse mesmo movimento inuenciou a adoção de estudos de trajes
regionais, que aparece na obra de João Affonso em seu último
capítulo, quando apresenta a Mulata Paraense, a Preta Mina
e Crioula do Maranhão, tipos regionais que transitavam na rua.
É possível constatar, então, essa questão de tipos e costumes
particularmente identicada quando ele apresenta suas imagens
nais, em que podem ser vericados traços dessa mentalidade.
A obra brasileira se aproxima dos livros de gravura do século
XVIII, em seu uxo gráco, pois apresenta um conjunto de imagens
com uma visão do autor traduzida de uma iconosfera que ele
acessa sobre os costumes estrangeiros a serem conhecidos como
exemplos de elegância, isto é, que constroem uma idealização ao
mesmo tempo que educam visualmente o leitor.
Affonso pensou em 56 tipos, reduções de características
importantes, que pudessem representar determinados períodos
históricos, ilustrando períodos de, em média, 20 em 20 anos. A obra
difere dos exemplos de autores contemporâneos a ela, pois aciona
um arcabouço visual do processo de cópia e redesenho de gravuras
que dominou a área até o século XIX. Esse acesso à iconosfera
do vesturário se deu, por exemplo6, pelo contato informado na
bibliograa com a obra Un Siécle de Modes Féminines (1794-1894),
de G. Charpentier et E. Fasquelle, que apresenta reproduções de
400 gravuras previamente publicadas em revistas e coleções.
Como informado por Affonso na segunda capa de seu livro,
seus desenhos foram “[...] todos copiados pelo autor, de documentos
que possui” (1923, n.p), mas em nenhum lugar são citados quais
documentos seriam esses e, portanto, não temos contato com as
obras que inspiraram as imagens que ali são apresentadas, o que,
talvez, não seja o mais importante.
O fato de as imagens de Três Séculos de Modas serem
intituladas como “cópias” poderia, de certa forma, desmerecer o
trabalho de ilustração de Affonso aos olhos leigos, mas vale ampliar
o campo de visão sobre essas imagens, entendendo-as como um
resultado de um uxo de imagens do vestuário, como conceitou
Hollander (1993). Essas gravuras estão embrenhadas pelas
percepções e ideologias do autor, assim como pelas convenções
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construídas historicamente, pelos procedimentos de circulação de
imagens de moda e construção de seu imaginário.
Pode-se atestar o contato do autor com essa iconosfera
quando colocamos suas imagens em paralelo com a iconosfera
ilustrada do vestuário. Como vê-se no Quadro 2, as imagens à
esquerda de Affonso estabelecem relações com outras imagens,
seja quando comparamos o gestual do véu feminino presente na
gura de 1700 com as imagens do nal do ano de 1500, de Pietro
Bertelli (1589-1596), seja quando é realizada a representação das
guras masculinas nobres em sua postura de poder com cotovelos
armados e pés apontando em direções diferentes, encontrada na
imagem de 1660 e nas gravuras de moda de Quicherat (1877).
Quadro 2. Quadro com imagens de Três Séculos de Modas em comparação com obras
ilustradas do vestuário.
Fonte: Criado pelo autor (2022) a partir de AFFONSO, 1923; BERTELLI,
1590 e QUICHERAT, 1877.
Tais exemplos demonstram como as imagens que se
propuseram registrar historicamente o vestuário possuem um
uxo de sentidos criado por uma tradição anterior, o que reforça
a participação de João Affonso nesse processo de tradução da
iconosfera em território brasileiro.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como viu-se no percurso empreendido nestas páginas, as
imagens do vestuário em livros com viés de registro histórico e
social apresentam-se em uma cronologia que pode ser destacada
por meio de categorias que demonstram aspectos formativos do
campo da escrita ilustrada do vestuário. A partir de uma produção
vasta e organizada por meio da leitura de obras que abordam
aspectos do campo, foram apresentadas aqui 25 obras e discorrido
sobre suas características, elencando, ao nal, as relações entre
essas produções e o primeiro exemplar produzido no Brasil desse
tipo de bibliograa.
Vericou-se que os primeiros exemplares desse campo,
surgidos no século XVI, os livros de roupas, visavam ao registro
de trajes de seus próprios autores, destacando o vestuário e a
representação como forma de distinção. No mesmo século, com
a popularização das gravuras, surgem os livros de trajes e estes
começam a demonstrar o mundo por meio dos tipos, personagens
que representam e vestem roupas que visam informar seus locais
de origem, mesmo que de forma equivocada. Esse poder da
gravura, que se difunde em livros ilustrados com mais força a partir
do século XVIII, foi responsável pela hierarquização e dominação
cultural de algumas nações perante outras, uma lógica que ajudou
no próprio processo de dominação da moda de origem europeia.
A partir do século XIX, uma cultura de recenseamento e
olhar para o passado envolvendo aspectos como nacionalismo,
dominação da cultura europeia, descobertas arqueológicas, fez
com que as nações buscassem reconstruir o passado em imagens,
dando origem aos livros românticos/historicistas, considerados por
Barthes como o momento do real surgimento do campo da história
do vestuário.
Nos livros ilustrados mais emblemáticos do século XIX, os
autores criaram modos de apresentação que se tornaram simbólicos
na forma de identicar imagens de cunho histórico do vestuário, e,
mais à frente, com os livros modernos a partir do século XX, foram
estabelecidas metodologias que tratam de objetos históricos e suas
representações de forma contextualizada.
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Todos esses contextos foram responsáveis por alimentar
uma iconosfera de imagens que criou as bases para a nossa
percepção sobre a história do corpo humano vestido, demonstrando
a pertinência do aspecto visual dentro do campo da história do
vestuário. Essa iconosfera, apontada pelas obras levantadas no
cômputo deste artigo, pôde ser notada, em diversos sentidos,
como uma inuência para a obra Três Séculos de Modas, em
termos conceituais e imagéticos, seja pelos conceitos atrelados ao
nacionalismo e à dominação europeia, seja pelo atravessamento
da cultura visual no processo de construção das imagens do livro.
A pertinência do visual dentro da área de estudos da história
do vestuário se apresenta em obras renomadas, como Costume and
Fashion (1989), de James Laver, ou Histoire du Costume (1967),
de François Boucher — duas importantes publicações difundidas no
Brasil com traduções. Esta relevância do imaginário visual dentro
da constituição desse universo levanta questões que ainda abrem
um campo para novas e interessantes descobertas, principalmente
quando se trata de tentar compreender as nuances de uma cultura
visual do vestuário e da moda, e principalmente de sua história,
construída por meio dos livros que versam sobre ela.
Deixa-se, aqui, uma compilação de obras que podem servir
como referência a outros pesquisadores, bem como instigar
questionamentos sobre a escrita ilustrada do vestuário.
Notas de m de texto
1 Este artigo resulta em partes de minha tese de Doutorado em Artes,
intitulada “Imagens na História do Vestuário: cânones e sintomas na
obra Três Séculos de Modas”, defendida na Universidade Federal do Pará,
Instituto de Ciências da Artes, sob orientação de Benedita Afonso Martins
e coorientação de Maria Claudia Bonadio, em 2022.
2 Nas referências indicadas no artigo, são citadas as datas das publicações
disponíveis em acervos digitais, que podem ser diferentes da data da
primeira edição da obra. Na bibliograa, ao nal, as obras tiveram
indicação em parênteses dos acervos digitais onde foram localizadas e
catalogadas na tese. Para ter acesso à descrição completa com link de
acesso, ver Hage (2022).
3 As duas principais técnicas de gravuras de estampas são sobre matrizes
de madeira e de metal. O século XVII trouxe desenvolvimentos, como o
surgimento da técnica de água-forte ou a impressão em cores intitulada
aquatint, ou água-tinta. Além do desenvolvimento na impressão, a
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papelaria ganhou edições em folio-sized, e outro grande desenvolvimento
chegou no século XIX, com a popularização dos processos litográcos,
aumentando, assim, a facilidade dos processos de criação e reprodução
de imagens.
4 Este título foi alterado para O Século 19 além das fronteiras da Europa,
na versão mais atual do livro, a partir de 2003, retirando o caráter
discriminatório contido no termo usado, mas que não exclui, por total,
a divisão que o autor faz entre os povos de locais como África, Oceania,
América Latina, Índia, Japão ou Turquia, para citar alguns, e os povos do
mundo Antigo e da Europa.
5 O nome original da obra é Trachten Haus- Feld- und Kriegsgeräthschaften
der Völker und neuer Zeit (Trajes, equipamentos domésticos, de campo e
de guerra dos povos e dos tempos modernos).
6 Köhler escreveu esses tratados na década de 1870, e um deles se
chamava Die Trachten der Volker in Bild und Schnitt (1871), traduzido
como “os trajes dos povos em pinturas e gravuras”, o que demonstrou
a importância das referências na imagem da arte como base para os
estudos do vestuário. O outro se chamou Die Entwicking der Tracht in
Deutschland wärend des Mittelaters und der Neuzeit, que, na tradução,
seria “o desenvolvimento de trajes tradicionais na Alemanha durante a
Idade Média e os tempos modernos”.
7 Foi identicado acesso também à obra de Friedrich Hottenroth por parte
de João Affonso, que o cita como referência no artigo As mulheres de
calções através da Geograa e da História, publicado em 1911 no periódico
Folha do Norte (HAGE, 2020).
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DOI: E-ISSN 1982-615x
ModaPalavra, Florianópolis, V. 16, N. 38, p. , jan./jun. 2023
Clothing historical
illustration: from Schwarz
to João Affonso
Fernando Hage
PhD, Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP - SP / fernandohage@gmail.com
Orcid: 0000-0002-9535-8878 / Lattes
Submission: 06/30/2022 // Accepted: 11/11/2022
http://dx.doi.org/10.5965/1982615x16382023171
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Clothing historical illustration: from
Schwarz to João Affonso
ABSTRACT
This article aims to present a chronology of illustrated works with
a historical bias on clothing, since the publication of Trachtenbuch
(1560), by Matthäus Schwarz. A set of works considered canonical
will be listed because they present important aspects of the process
of use and circulation of costume images, divided into categories:
clothes books, costume books, habits engravings books, great
illustrated books, romantic/historicist books and modern books.
This mapping and classication, carried out in a doctoral thesis
through bibliographic review and documental research, resulted in
35 works surveyed and a clipping with 25 books will be presented in
these pages, in addition to the highlight of the book Três Séculos de
Modas (1923), by João Affonso, a pioneering work of the genre in
Brazil. This production helped us to reect on how the construction
of an imaginary about clothing was present in publications that will
give rise to the eld of clothing history.
Keywords: Fashion history. Clothing illustration. Illustrated books.
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Uma escrita ilustrada do vestuário: de
Schwarz a João Affonso
RESUMO
Este artigo tem como objetivo central apresentar uma cronologia
de obras ilustradas com viés histórico sobre o vestuário, desde
a publicação de Trachtenbuch (1560), de Matthäus Schwarz.
Serão elencados um conjunto de obras consideradas canônicas
por apresentarem aspectos importantes do processo de uso e
circulação de imagens de trajes, divididas nas categorias: livros
de roupas, livros de trajes, livros de gravuras e costumes, grandes
livros ilustrados, livros românticos/historicistas e livros modernos.
Esse mapeamento e classicação, realizado em tese de doutorado
por meio de revisão bibliográca e pesquisa documental, resultou
em 35 obras levantadas e será apresentado nestas páginas um
recorte com 25 exemplares, além do destaque ao livro Três Séculos
de Modas (1923), de João Affonso, obra pioneira do gênero no
Brasil. Essas produções nos ajudaram a ponderar sobre como se
deu a construção de um imaginário sobre o vestuário presente em
publicações que darão origem ao campo da história do vestuário.
Palavras-chave: História da moda. Ilustração do vestuário. Livros
ilustrados.
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Una escritura ilustrada del vestuario: de
Schwarz a João Affonso
RESUMEN
El objetivo principal de este texto es presentar una cronología de
obras ilustradas con un aspecto histórico sobre la indumentaria,
desde la publicación de Trachtenbuch (1560), de Matthäus Schwarz.
Se listará un conjunto de obras consideradas canónicas porque
presentan aspectos importantes del proceso de uso y circulación
de imágenes de vestuario, divididas en categorías: libros de ropa,
libros de vestuario, libros de costumbres, grandes libros ilustrados,
libros románticos/historicistas y libros modernos. Este mapeo y
clasicación, realizado en una tesis doctoral a través de revisión
bibliográca e investigación documental, resultó en 35 obras
relevadas y un recorte con 25 ejemplares será presentado en estas
páginas, además del destaque del libro Três Séculos de Modas
(1923 ), de João Affonso, obra pionera del género en Brasil. Esta
producción nos ayudó a reexionar sobre cómo la construcción de un
imaginario sobre la indumentaria estuvo presente en publicaciones
que darán origen al campo de la historia de la indumentaria.
Palabras clave: Historia de la moda. Ilustración de la ropa. Libros
ilustrados.
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1. INTRODUCTION
The development of narratives through images is a human
action since the oldest civilizations, when those people used
to make cave paintings or millennium-old eastern drawings.
Hereupon, plastic arts as well as sculptures, engravings and many
others are responsible for the constitution of a visual material
responsible for exemplifying in distinct situations the ways of
dressing of certain people and, of course, of groups to which they
belong. The aforementioned visual material will, then, through the
improvement of processes and techniques, have the book as one
of the pre-eminent means of documentation, often times with a
historical recording bias.
Clothing (or the absence of it) is one of the components that
form the whole of the human body in its representation. Undeniably,
the image each of us have of ourselves its connected to the depiction
we create and that help us in our process of acknowledgement.
Anne Hollander (1993) approaches clothing as a form of
visual art that establishes itself historically in a ow of pictures,
considering that, in her view, clothing is often tried on socially
through three elds: the one of images, how it is seen collectively
and how it is translated when dressing or representing a dressed
being.
Roland Barthes (2009) marks off that we are able to perceive
fashion through the partition that exists between its real clothing,
practised daily by societies, and the rhetorical system that represents
it through images (clothing-image) or writing — conceptualized
dimensions that end up conguring what we understand as the so-
called “fashion system”.
Images are, in that sense, workers of both clothing, the fashion
industry and, of course, of its historical construction. Thus, they
create an iconosphere, “[…] a ow of pictures in circulation, daily
fed, re appropriated and recreated by social agents” (CARVALHO;
LIMA, 2012, p. 57).
The purpose of this article is to present, by virtue of
chronology, considerations about those conceptualized dimensions
developed in clothing, from the 16th century onwards, inside printed
works whose objective is to capture historical or social aspects by
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means of costume portraits, which we could call illustrated
stories of clothing.
This kind of genre had its rst Brazilian manifestation in
1923, with Três Séculos de Modas/Three Centuries of Fashions, an
account related to clothing changes in place from the 17th century
all the way through the 20th century, with 56 pictures produced by
the author himself, João Affonso (1855-1924), who was born in
the state of Maranhão but lived in Belém, capital city of the state
of Pará.
Before that, though, since the 16th century, as in the
Trachtenbuch (1560), from Matthäus Schwarz, this eld of
clothing representation was already establishing its own visual and
conceptual language. Therefore, we strive here to show a course,
fragmented in various sections, responsible of comprising different
meanings of pioneering works that aimed at the registration of
ways of dressing and understanding their role in the constitution of
a historical visualness for the eld of clothing.
In the next pages it will be presented, in a concise form, some
aspects of the illustrated writing of clothing, from the following
categories: “clothes books”, “costumes books”, “habits engravings
books”, “romantic/historicist books”, “great illustrated books” and
“modern books”, nally getting to Três Séculos de Modas, as to
comprehend its visual and conceptual relations with that historical
production.
This chronology is fully presented in the thesis Imagens na
História do Vestuário (HAGE, 2022), developed from a bibliographic
survey based on works considered canonical for the area, such
as books dedicated to the origins of fashion studies, from Valerie
Cumming (2004) and Lou Taylor (2004), and more precise analysis
found in the works of authors like Millia Davenport (1948), Gilles
Lipovetsky ([1989] 2009), Aileen Ribeiro (1994), Massimo Baldini
(2005) and Daniela Calanca (2010).
According to Teixeira Coelho (2012), canon can be dened
as something that represents a group of works recognized as
the most important from a determined artistic tradition. As the
author afrms, “[...] this operation is far from being comfortable
and incontrovertible” (COELHO, 2012, p. 92), but apparel, as a
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language, has autonomous models that must be recognized; in
that sense, we aim to raise a group of works considered canonic
for presenting crucial characteristics of the process of use and
circulation of costume images.
The assess presented here will list a selection of 25 of the 35
illustrated works compiled in the study, which, in the thesis, had
their digitized editions located in compilations such as the Internet
Archive (archive.org) and Gallica (gallica.bn.fr) and made available
in tables with full access links2.
This set of works, going from the 16th century to the rst
decades of the 20th century publishing period of the rst Brazilian
book already mentioned —, have the purpose of helping us discuss
aspects about the eld of clothing images and its historical writing
while organizing contents that, in our view, was disperse or without
translation.
In Figure 1, presented below, its possible to see a visual
set with some of the works evaluated that will be discussed
according to the presentation of the categories established in the
next few pages. Through examples of pages collected from online
publications, the works of Schwarz (1560) are highlighted as a
clothing book; Vecellio (1590) as a representative of the costume
books; Rétif de la Bretonne (1789) as a copy of a habits engraving
book; Planché (1876-79) as the author of a romantic/historicist
work; Hottenroth (1896) as a representative of the great picture
books; and, nally, the works of Kohler (1956) and Hughes ([1913]
2011) as modern books.
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Figure 1. Set of images collected in the research, taken from illustrated works of
clothing.
Source: Created by the author (20220 using [1.1] SCHWARZ, 1560; [1.2] VECELLIO, 1590;
[1.3] RÉTIF DE LA BRETONNE, 1789; [1.4] PLANCHÉ, 1876-79; [1.5] HOTTENROTH, 1896;
[1.6] HUGHES, 2011; [1.7] KÖHLER, 1956.
In the next few pages, we show the chronological course
through the different categories briey represented in the table
above; at the end, we analyse the book Três Séculos de Modas and
its relations with the visual and conceptual clothing dimension we
aim to traverse.
2. CATEGORIES OF CLOTHING’S HISTORICAL WRITING
2.1 Clothes books: records of the self
The rst book images aiming to historically record are
accounted by Lipovetsky (2009) as consequence of a curiosity
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process involving clothes, cloaked by subjectivation and the need
to document dates emerged in societies from the Middle Ages.
The most meaningful example of this movement — which
earned the title of the rst fashion book (RUBLACK et al., 2015) is
Das schwarzsches Trachtenbuch I (1560), or simply Trachtenbuch,
translation of “clothes books”, which denes the category, by
Matthäus Schwarz. Matthäus book displays 131 hand painted
colorful engravings of costumes that he and his son used in their
lives (Figure 1.1), mentioned on in some kind of biography narrated
by those clothes, with information on the elements and tailors that
made them, as well as their situations of use (SCHWARZ; RENNER,
1560).
Born in 1497, in Augsburg, in the region of Bavaria (present
day Germany), when he became chief accountant in service of the
great merchants at the age of 23, Schwarz began his work with
artist Narziss Renner, who painted for over 40 years all the boards
using memory instructions and sketches that were passed on in
meetings held between the two (RUBLACK et al., 2015).
The clothes book from Schwarz is the pioneer in this type
of representing the self along with Sigmund von Herberstein, who
published, in Austria, in 1566, the work Picturae variae generosum
ac magnicum domi. Siegmund Freiherr von Herberstein was
an ambassador that travelled all of Europe from 1515 to 1553
in the service of the Habsburgs. He illustrates and describes in
his work the garments he wore in different locations for different
audiences, such as Moscow, Turkey, Spain and Poland (TAYLOR,
2004; HERBERSTEIN, 1566).
Both Herberstein and Schwarz saw, when using clothing
images, a form of self construction through historical record. They
understood, through their positions as high ranking ofcers, that
apparel was a eld of distinction, a way to represent their honor,
reiterated by the importance of clothing in their constitution.
The disparity in the works of both Schwarz and Herberstein
is that, in the case of Herberstein, his work wasn’t a hand painted
book, but a simpler publication with six woodcuts (carved wooden
blocks that stamped the paper) and texts in typographic matrices.
Both techniques were spreading since the 15th century and offered
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a wider range of reproduction.
In this manner, we can see that concepts such as self-
representation, dating and the notion of prestige, through historical
illustration, are circumscribed elements in the emergence of clothing
historical illustration.
2.2 Costume books: looking at others
Costume books are works that, despite the registry of the
self, are part of a phenomenon of looking at others as well, which
was popularized by the diffusion of engravings. This term comes
from the conceptualization by Larissa Carvalho (2013; 2018)
who, in the sum of her research, develops an in depth overview
of this type of literature, arguing that this theme is still very much
unknown production-wise.
The rst work of this genre, according to Carvalho (2018) and
Calanca (2010), can be considered Diversarum gentium nostrae
aetatis habitus, published in Veneza by Enea Vico (VICO, 1558).
That work grants a pioneering status to Italy, where, in the decade
of 1560, engravings books were made available, like the one from
Ferdinando Bertelli, Abiti di tutte le genti della nostra época mai
pubblicati prima d’ora, also published in Veneza (BERTELLI, 1563).
This phenomenon was also spreading through other
countries, like France, where the work of François Desprez was
published in 1562 — Recueil de la diversité des habits qui sont de
présent usiage (DESPREZ, [1562] 1567). Meanwhile, in Germany, in
Nuremberg, Jost Amman was printing about costumes with Habitus
praecipuorum populorum in 1577, a book with 219 engraved boards
(AMMAN, 1577).
Besides those already listed here, there were also the
emish Abraham De Bruyn, who published two catalogues in 1581:
Abiti delle diverse genti del mondo, with 67 woodcuts representing
182 clothes; and Abiti delle genti di tutta Europa, Asia, Africa e
America (DE BRUYN, 1581a, 1581b). Another example is the italian
Pietro Bertelli, responsible for publishing Abiti delle diverse nazioni
(BERTELLI, 1590) in Padua, in 1589.
In between the decades of 1560 and 1580, various pioneering
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authors of the fashion segment emerged; thus, we can see an
increase in the amount of illustrations in each book, going from
only 98 boards of Enea Vico to 219 boards of Jost Amman. By
the decade of 1590, one of broadest and most famous works in
costume books was published in Veneza, in 1590 (Figure 1.2): De
gli habiti antichi e moderni di diversi parti del mondo, from Cesare
Vecellio, with nothing less than 499 illustrations, far surpassing the
amount of its predecessors (VECELLIO, 1590).
Costume books and, primarily, its images, had few linguistic
barriers. Together with that, its reproduction was facilitated by
its wooden matrices in its initial stages and, after, by its metal
constitution, becoming an interesting way of describing the world.
In general, these collections responded to a desire referring to a
period where navigation enabled the discovery of new territories by
the Europeans.
In authors of the genre, as attested in studies by Carvalho
(2018), there was an intermediated procedure where the agents
created many of their images from third-party references and
illustrated works previously published. With that in mind, several
models of representation of costumes and cultures were developed
and started to ow through Europe and other regions from the 16th
century onwards.
In this background, clothed gures characterized nations,
societies, historical moments, professions and more through
shapes, styles, types and stereotypes. According to Vânia Carvalho
and Solange Lima, the type “[...] designates an element that, as
a consequence of its concrete particularities, represents a class of
similar elements” (2012, p. 57). It’s also necessary to consider,
according to the aforementioned authors, that he (the element) “is
the product of selection, reduction and abstraction processes with
little relation to concreteness and literality” (idem), which is why, in
this case, the type has a connection with a specic iconosphere. The
image of such gures is gradually responsible for the composition
of an abstraction accessed by it’s own recorders and historians, as
well as understood by the public.
As outlined by Carvalho (2013, p. 93), costume books
“[...] created, circulated, and linked these ‘social types’”, and the
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popularization of this publishing genre is shown in the research of
Daniel Roche (2007) through data collected by Jacqueline Tuffal,
the one who listed in detail more than 200 works about clothing in
Europe, ranging from 1510 to 1610.
Here, the presented set of works is an example of an important
mark due to the way in which clothing images are read, especially
when thinking about the type classication. Such visuality, which
features centralized and framed characters in woodcut matrices,
in addition to the stereotypes contained therein, permeates the
social imaginary to the present day, emerging as a reference when
thinking about the most distant past of clothing through images.
2.3 Habits engravings books: spreading codes
The gradual popularization of engravings and their techniques
led to the spread of images that demonstrated the ways of dressing
of people from Europe and more distant regions. These engravings,
that made up books and periodical publications, often dispersed
and travelled on their own within cities, which happened mainly
from the Renaissance onwards.
Daniel Roche (2007, p. 27) records in his research that “[...]
loose images appear in more than 50% of 18th century Parisian
inventories”. Engravings, from many different categories, and
among them the ones we call fashion engravings circulated and
fullled their role in building an iconosphere of clothing.
The concept of fashion engraving might be understood in
a very comprehensive way: images that bring the representation
of a costume. Despite carrying the term “fashion”, not all prints
necessarily had the function of transmitting new clothing patterns,
but rather, recording different ways of dressing.
The function to introduce clothing releases appeared, in a
more direct way, with the so called fashion plates popularized in the
19th century and present in newspapers and magazines dedicated
to fashion. They had their rst embryo in the newspaper Le Mercure
Galant, edited in Paris in between 1672 and 1674 and 1678 and
1714, showing suggestions of costumes to the forthcoming seasons
(MERCURE GALANT, 1678-1714).
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In an analysis organized by Roche (2007) around books on
clothing published between the 16th and 18th centuries, focusing
primarily in the diffusion of engravings, Roche mentions as one of
the highlights the theme Le cris de Paris (the “screams of paris”).
This theme, recurring in the literary and journalistic genres of the
19th century, originated in the Middle Ages, stands out through the
record of daily scenes and is exemplied with the homonymous
work of Michel Poisson (POISSON, 1774-1775).
Other crucial example is the work Monuments du costume,
with illustrations by various artists, like Jean-Michel Moreau and
many others (Figure 1.3). It was a successful publication, with
around 15 editions between 1774 and 1793, something that piqued
the interest of many booksellers and also counterfeiters (RÉTIF DE
LA BRETONNE, 1789).
Engravings, unlike paintings and sculptures restricted to elite
environments, were responsible for the living circulation of images,
assuming the role of “reinforcing social codes”, as comments
Larissa Carvalho (2013, p. 38). Those images suggested norms
and behavior, in a utilitarian and informative way, while, at the
same time, disseminated dreams and inuenced the adoption of
exciting news related to the fashion world.
Thus, we can infer a question that links these engravings
as part of a “civilizing process” in Western societies, a term used
by Norbert Elias (2011). This is because they refer to a procedure
for disseminating a convention of a Western behavioral culture of
European origin, seen as a civilized standard to be followed. This
model spreads historically through visual representation and with
support from engravings and books, promoting, through clothing
images, impositions and hierarchization.
2.4 Romantic/historicist books: national and reference
frames for artists
In Costume in England, from 1846, Frederick Wiliam Fairholt
left in the introduction a pertinent message for understanding what
kind of look would install itself upon many works of art created,
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mainly, in the 19th century: the history of clothing would serve
those who couldn’t falsify history, thus, would need trustful data
(FAIRHOLT, 1846).
Before that, though, in the 18th century, according to Cumming
(2004), came the rst british clothing historian, named Joseph
Strutt. He published, between 1774 and 1796, some volumes that
resulted in the work, A Complete View of the Dress and Habits of
the People of England, which has a vast plurality of illustrations
(STRUTT, 1799). He is a pioneer example of the tendency to rescue
a chronology of clothing, analysing historical aspects from older
civilizations, unlike the books of costume, which were worried in
showing characters from various places and their ways of dressing.
Cumming (2004) says that these works emerged in a context
— between the end of the 18th century and the start of the 19th
century — of shaping of European nation-states, which encouraged
a historical study of the past and the reconstruction of key events
that could, then, build a national frame.
This created a need for a census of costumes, types and
major events for the construction of a narrative that, until that
moment, was likely dispersed. According to Taylor (2004), this is
also linked to the need to create accurate theatrical costumes and
the search for information related to historical paintings, stimulated,
from the 17th century onwards, by a growing interest in objects
and references to Antiquity.
On the subject of the visual rescue of the habits of ancient
people, there is the example of Thomas Hope, in England, who
published Costume of the Ancients, in 1809, and Michel-François
D’André Bardon, in France, with the book Costume de Anciens
peuples, published in 1772, both featuring fresco drawings,
sculptures and details of vases as reference for images that
represented the costumes of Antiquity (HOPE, 1809; ANDRÉ-
BARDON, 1772).
It’s also perceived in France an inuence of medievalist
studies, such as that of Germain Demay, entitled Le Costume au
Moyen Age, d’après les sceaux, from 1880, which is careful to
bring redesigns of artifacts, sculptures and objects such as coins,
for example, as evidence for information about historical clothing
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(DEMAY, 1880).
With that said, we can see that after centuries of diffusion
of images, the visual material created by the predecessor tradition
of this clothing historical illustration and of the very own Western
imagery production would soon be organized in historicist books
of the 19th century. Two relevant productions are the ones from
James Robinson Planché: History of British Costume, in 1834, and
Cyclopaedia of Costume, in 1876; another one as well is Jules
Quichérat Histoire du Costume in France, from 1875.
Planché’s 1876 work is divided into two volumes, the rst
being an encyclopaedia and the second a historical chronology,
which is also illustrated (PLANCHÉ, 1876-79). It is still available
for sale in english editions and has a visual presentation that
mixes large engravings (redrawing of artistic works, archaeological
objects or fashion engravings), in addition to small linear drawings
of details and accessories, demonstrating a new way of illustration
composition in the pages of clothing history books (Figure 1.4).
Quicherat, on the other hand, has a book commented on
by researchers such as Roche (2007) and Lipovetsky (2009), but
his work was only reissued until 1956. Roche would say that the
French historian was “the most renowned author on the subject in
the 19th century” and that he established a “Quichérat effect” in
other authors, with the objective of providing accurate information
for painters, sculptors and engravers, using many illustrations of
artistic artifacts, such as paintings, sculptures, jewelry, tools and
weapons, as well as reproductions of fashion prints (ROCHE, 2007,
p. 38-40).
Barthes (2005, p. 258) states that “the history of clothing
has an essentially romantic origin”, and we see that this period
leaves important marks in the eld of studies. As the historian
Mara Rubia Sant’Anna (2010) comments, based on Barthes
studies, the consequences of romanticism in the foundation of the
history of clothing brought two characteristics to the discipline: the
search for the representation of the picturesque and the focus on
the reconstruction of celebrated characters, such as queens and
kings, leaving aside the clothes of the so-called “ordinary” people,
idealized in engravings from previous centuries in more latent
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ways. (SANT’ANNA, 2010).
2.5 Great illustrated books: popularizing the image of
clothing
Despite the entire scope of works discussed here being of
an illustrated nature, we highlight a set of works with a strong
visual appeal, which, as Taylor (2004) points out, are fundamental
milestones in the history of the area until today.
The outstanding one emerges in 1888 — Le Costume
Historique —, from Auguste Racinet, bringing a total of 500 boards,
divided in 6 volumes, published in different installments and with
curious toned texts, which support the long and detailed set of
illustrations, themselves very distinct for being colorful in a time
where this was not the norm (RACINET, 1888). The book from
Racinet is, until now, a work reissued by the publishing company
Taschen, being big, with 636 pages, totally colored and trilingual
(English, French and German); it is also available in a pocket edition
with 752 pages.
Racinet helped consolidate the patterns of historical division
present in many books in the eld, dividing the so-called Ancient
World (Egyptians, Assyrians, Etruscans, Greeks, Romans, even
Britons and Gauls), followed by the people of Byzantine Europe to
the 19th century and, separately, 19th Century Antique Civilizations4
and Traditional Costumes of the 1880’s (RACINET, 1988).
Thus, the author reinforced the appreciation of European
manners as a way of seeming that the world should be interested,
whether through ancient and medieval clothing, clothing under the
inuence of fashion, or through the costumes considered traditional,
considering people from other nations as archaic and exotic, a logic
that helped in the process of European fashion domination.
Other important sample from this production is the 1891
work of lithographer Friedrich Hottenroth, published in French in
1896 entitled Le costume, les armes, les bijoux, la céramique, les
ustensiles, outils, objets mobiliers, etc.: chez les peuples anciens
et modernes5 (HOTTENROTH, 1896). The work of the German
illustrator has an initial part of text and images of costumes, as
well as archaeological objects, drawn together with patterns. After
that, a richly illustrated set with 120 colored plates, of recognized
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beauty, with clothing, armor and jewelry (Figure 1.5).
Racinet’s work also contained a volume of patterns and
technical data, but those were supressed in more recent versions,
leaving only the visual aspect highlighted. The same happened to
the most recent edition of Hottenroth, published in 2002 as L’Art
du Costume (Parangon, Paris).
Both authors popularized a form of presentation in which
boards are placed in dynamic compositions, are multicolored, with
aligned characters, placed in columns as to create a visual frame
of clothing of each period with emphasis on specic parts. Such
a form became emblematic in its use to identify historical images
related to clothing and inuenced many works. Its also notable
the continuity of the process of creating images based on the
iconosphere shared by the authors.
Carvalho and Lima (2012, p. 63) comment that “the images
participate in the lesson of things”, and the famous illustrated
tomes from Racinet and Hottenroth participate of an educative
process that might be understood in various ways, because it’s
the reection of a culture of census and of looking at the past that
deals with things such as nationalism, European culture domination
and archaeological discoveries at the same time it creates visual
bases for the fashion eld.
Behind this context, it is worth remembering that these
processes had not so positive consequences, making some
civilizations appropriated and hierarchical, as in the case of the
generalized looting of ancient sites, which generated cultural
reexes seen to this day. Even so, the illustrated books on the history
of clothing were able to dene many of the ways of seeing and
perceiving the historical narrative of clothing and its representation
based on images.
2.6 Modern books: new images and methodologies
The history of clothing is, during the 19th and early 20th centuries,
an area of knowledge criticized by Barthes (2005) as not focused on
the relationships, complexities and cultural meanings of clothing,
as it turned its attention to formal aspects and its visuality.
Unlike the critical aspect, it is important to value the visual or
graphic aspects in the constitution of the historical representation
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of clothing and its iconosphere. We will see this continuity in modern
books, which appear in the early twentieth century.
One of the examples of how this manifests itself occurs in
the work of Talbot Hughes, Dress design – An Account of Costume
for Artists & Dressmakers, originally published in 1913, which
presents itself as a bank of visual references (HUGHES, 1920).
The book contains 118 groups of illustrations with linear drawings,
31 photographic plates and 68 patterns with measurements,
demonstrating an already established conguration mode for the
eld (Figure 1.6).
As can be seen in works from the 20th century onwards,
photographic plates began to spread inside books, a reection of
technique and production that was linked to the expansion of the
quality of reproductions in books. A work praised for its use of
images is Die Mode, by Max Von Boehn, rst published between
1907 and 1925, being translated into English as Mode and Manners,
and into Spanish as La Moda – Historia del Traje en Europa, for the
last time published in the 1950s, with 12 volumes (BOEHN, 1951).
Von Boehn’s work is praised both for the diversity of
reproductions and use of documentary sources as well as for its
chronological organization by author Millia Davenport, in The Book
of Costume (1948), an American work considered by authors such
as Taylor (2004), Cumming (2004) and Laver (1989) as one of the
most important historical analysis of clothing ever published, for its
iconographic research with reproductions of more than 3,000 dated
and sourced original works.
In the words of Davenport (1948), the perfect fashion eld
book would be one that would provide so many images of original
documents that words wouldn’t be necessary. The author was
against the use of redrawings of authors based on sources, but we
cannot deny the pertinence of the visual culture developed by the
reproductions of authors such as Racinet, Planché, Quicherat etc.
In the case of modern books, photographic reproductions
are already capable of registering objects, sculptures and paintings
in museums, as well as clothing and accessories, avoiding the need
for redesigns. An example that reiterates these new approaches
are the works of the German Carl Köhler, who had two of his
studies6 turned into a book, translated into English as A History of
Costume, in 1930, released in Brazil as História do Vestuário, in
1993 (Companhia das Letras).
Both treatises were edited by Emma Von Sichart in a single
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book, which had information suppressed and organized as a rst
part in detailed captions of the images and costumes presented,
containing measurements of patterns, followed by chapters of the
book, interspersed by the diversity of images (KÖHLER, 1956). In
the work, the patterns shown were made by Emma von Sichart, as
well as dressed in photographed models, raising the presentation
of objects to a new level, hitherto not found in books of this eld
(Figure 1.7).
Using the proposition of historian Giorgio Riello (2011), we
can understand the formation of the eld of history of dress and
costume as an area focused on contextualizing objects in relation
to their shapes and styles, relating them to similar objects in time
and space, and from the work of Carl Köhler we can attest to this
tendency.
This eld of study begins to be systematized in the mid-
nineteenth century, with this method of investigative management
centered on the object (object-based research), predominant in the
post-war period, focusing on artistic and archaeological objects as
sources of data to be collected, with the aim of providing technical
information that allows the reproduction of costumes.
This macro look, which aims to show many examples,
which, sometimes, are out of context and little interested in the
human relations that governed the use of these objects, generated
criticisms of the eld of clothing history, opening the way for new
study methods (such as the so-called fashion studies). This reveals
a way of setting up the eld, where there is a pertinence for the
visual scope that must be taken into account, built with an imaginary
formed by works such as those presented here, and which reached
the rst Brazilian work in the history of clothing.
3. TRÊS SÉCULOS DE MODAS AND THE HISTORICAL
ILLUSTRATION
The book Três Séculos de Modas was part of a set of cultural
actions by an elite formed by intellectuals led by the painter Theodoro
Braga (1872-195) for the ephemeris of the Tricentennial of the city
of Belém, hence its name and dating of the study, from 1616 to
1916. The book was released late to the commemoration date,
only in 1923, but its entire content, according to the author, João
Affonso, was produced until 1916, and its illustrations, which made
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up a set of 56 engravings, were exhibited in an artistic exhibition in
1917 in works in nankin, sepia, aquafortis and watercolours (HAGE,
2020).
The work is considered a pioneer in Brazil within the context
of illustrated historical clothing that we discuss here. Weaving a
look at the works that were raised, Três Séculos can be inserted
within some inuences. Among the categories created for the
previous historical journey, the Brazilian author could be inserted
in the genre of romantic/historicist books that sought to inventory
the world, with an elitist bias and with a view to creating a national
framework, in this case, of international elegance, to onlookers and
professionals in the eld of arts and theatre.
João Affonso does not cite an extensive bibliography, but we
have in the references the work of Ary Renan, published in 1879,
Le Costume in France, follower of the precepts of Quicherat, since
35 citations to the French author are found in this work (RENAN,
1890). Affonso’s work has a chronicle aspect, presenting the most
notable gures and facts, in his view, in the historical course, with
many technical details on colours, costumes, fabrics and references
to artists of the periods.
There is a kind of look in the work, when analysing European
habits as the standard of civility responsible for composing the
historical image of the said costume that inuenced fashion in
Pará, which refers to European nationalism – in vogue in books of
the 19th century. This same movement inuenced the adoption of
studies of regional costumes, which appears in João Affonso’s work
in its last chapter, when he presents the Mulata Paraense, the Preta
Mina and the Crioula from Maranhão, regional types that passed
through the streets. It is possible to verify, then, this question of
types and manners particularly identied when he presents his nal
images, in which traces of this mentality can be veried.
The Brazilian work is similar to the engraving books of the
18th century in its graphic ow, as it presents a set of images with
the authors vision translated from an iconosphere that he accesses
about foreign costumes to be known as examples of elegance, or,
better said, which build an idealization while visually educating the
reader.
Affonso thought of 56 types, reductions of important
characteristics, which could represent certain historical periods,
illustrating periods of, on average, 20 to 20 years. The work
differs from examples by contemporary authors, as it uses a
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visual framework of the process of copying and redrawing prints
that dominated the area until the 19th century. This access to the
clothing iconosphere was given, for example7, by contact informed
in the bibliography with the work Un Siécle de Modes Féminines
(1794-1894), by G. Charpentier et E. Fasquelle, which presents
reproductions of 400 engravings previously published in magazines
and collections.
As informed by Affonso on the back cover of his book, his
drawings were “[...] all copied by the author, from documents he
has” (1923, n.p), but it is not mentioned which documents these
would be and, therefore, we have no contact with the works that
inspired those images, which, perhaps, is not the most important
thing.
The fact that the images from Três Séculos de Modas are
titled as “copies” could, in a way, detract Affonso’s illustration work
to ordinary eyes, but it is worth expanding the eld of view on these
images and understanding them as a result of a ow of clothing
images, as conceptualized by Hollander (1993). These prints are
permeated by the authors perceptions and ideologies, as well
as by historically constructed conventions, by the procedures for
circulating fashion images and building his imaginary.
We can certify the author’s contact with this iconosphere
when we place his images in parallel with the illustrated iconosphere
of clothing. As we see in Figure 2, the images on the left of Affonso
establish relationships with other images, whether when we compare
the gesture of the female veil present in the gure from 1700 with
the images from the end of the year 1500, by Pietro Bertelli (1589-
1596), or when the representation of noble male gures in their
posture of power with cocked elbows and feet pointing in different
directions is performed, found in the 1660 image and in the fashion
engravings of Quicherat (1877).
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Figure 2. Figure with images of Três Séculos de Modas in comparison with illustrated
works of clothing
Source: Created by the author (2022) through AFFONSO, 1923;
BERTELLI, 1590 and QUICHERAT, 1877.
Such samples demonstrate how the images that set out to
historically record clothing have a ow of meanings created by a
previous tradition, which reinforces João Affonso’s participation in
this process of translating the iconosphere into Brazilian territory.
4. FINAL CONSIDERATIONS
As we have seen throughout these pages, the clothing images
on books with a historical and social record bias are presented
in a chronology that can be highlighted through categories,
demonstrating formative aspects of the eld of the illustrated
writing of clothing. Starting from a vast production, organized
by reading works that accost aspects of the eld, 25 works were
presented, and their characteristics were discussed, listing, at the
ending, the relationships between these productions and the rst
copy of this type of bibliography produced in Brazil.
We found that the rst examples on the eld, which appeared
in the 16th century, the clothing books, aimed at recording
the costumes of their own authors, highlighted clothing and
representation as a form of dissimilarity. Still in the same century,
with the popularization of engravings, costume books appeared
and began to demonstrate the world through types, through
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characters that represented it, then to wear clothes that aim to
inform their places of origin, even if by mistake. This power of
engraving, spreading strongly in illustrated books from the 18th
century onwards, was responsible for hierarchizing and also for the
cultural domination of certain nations, a logic that helped in the
very process of the domination of fashion originated in Europe.
In the 19th century, a culture of census — looking at the past
involving aspects such as nationalism, domination of European
culture and archaeological discoveries —, made nations seek to
reconstruct the past through images, originating romantic and
historicist books, considered by Barthes (2005) as the moment of
the real emergence on the eld of clothing history.
In the most emblematic illustrated books of the 19th century,
authors created presentation methods that became symbolic in
the way of identifying historical images of clothing. Later on, with
modern books from the 20th century onwards, methodologies were
established that deal with historical objects and their representations
in a contextualized way.
All these contexts were responsible for feeding an iconosphere
of images that created the bases for our perception of the dressed
human body history, demonstrating the pertinence of the visual
aspect within the eld of the clothing history.
This iconosphere, pointed out by the works investigated
in this article, could be noted, in several ways, as an inuence
for the work Três Séculos de Modas in conceptual and imagetic
terms, either by the concepts linked to nationalism and European
domination, or crossing visual culture in the process of constructing
the book’s images.
The pertinence of the visual within the area of clothing history
studies is presented in renowned works, such as Costume and
Fashion (1989), by James Laver, or Histoire du Costume (1967),
by François Boucher — two important publications, circulating in
Brazil with translations. The relevance of the visual imagery within
the constitution of this universe raises questions that still open up
a new eld for interesting discoveries, especially when trying to
understand the nuances of a visual culture of clothing and fashion,
and especially its history, built through books that talk about it.
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Here is a compilation of works that function as a reference
for other researchers, as well as they could instigate questions
about the illustrated writing of clothing.
End Notes
1 This article results from parts of my PhD in Arts, entitled “Images in the
History of Clothing: canons and symptoms in the work Três Séculos de
Modas”, defended at the Federal University of Pará, Instituto de Ciências
da Artes, under the guidance of Benedita Afonso Martins and co-guidance
of Maria Claudia Bonadio, in 2022.
2 In the references pointed out in the article, there are mentions to the
dates of publications available in digital collections, which may differ from
the date of its rst edition. In the bibliography, at the ending, the works
had an indication in parentheses for the digital collections where they
were located and catalogued in the thesis. For full description with access
link, see Hage (2022).
3 The two main engraving prints techniques are on wood and metal
matrices. The 17th century brought developments, such as the etching
technique, or the printing in colors called aquatint, or just aquatint. In
addition to the development in printing, stationery gained folio-sized
editions, and another major development came in the 19th century, with
the popularization of the lithographic, easing the processes for image
creation and reproduction.
4 The title was changed to The 19th century beyond the borders of Europe,
in the most current version of the book, from 2003, removing the
discriminatory character contained in the use of the word “antique”, which
does not completely exclude the division that the author makes between
the people of places like Africa, Oceania, Latin America, India, Japan or
Turkey, to name a few, and the peoples of the Ancient World and Europe.
5
The work’s original name is Trachten Haus- Feld- und Kriegsgeräthschaften
der Völker und neuer Zeit (Costumes, domestic, eld and war equipment
of peoples and modern times).
6 Köhler wrote these treatises in the 1870s, and one of them was called
Die Trachten der Volker in Bild und Schnitt (1871), translated as “the
costumes of the people in paintings and engravings”, which demonstrated
the importance of references in the image of art, as a basis for clothing
studies. The other one was Die Entwicking der Tracht in Deutschland
wärend des Mittelaters und der Neuzeit, which translated would be “the
development of traditional costumes in Germany during the Middle Ages
and modern times”.
7 Access to the work of Friedrich Hottenroth was also identied by João
Affonso, who cited him as a reference in the article As mulheres de calções
através da Geograa e da História, published in 1911, in the newspaper
Folha do Norte (HAGE, 2020).
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