Livros ilustrados desafiadores e controversos: Cuidado com a raposa! Emoção e trapaça em Raposa, de Margareth Wild e Ron Brooks

Autores

  • Bettina Kümmerling-Meibauer University of Tübingen image/svg+xml
  • Jörg Meibauer University of Mainz

DOI:

https://doi.org/10.5965/1984723826622025109

Palavras-chave:

livro ilustrado, leitura de crianças de 3 a 6 anos, crossover

Resumo

Da perspectiva de um leitor adulto, Raposa, de Margareth Wild e Ron Brooks, é certamente um livro ilustrado desafiador. Basicamente, trata-se de um triângulo amoroso entre um cão meio-cego, uma gralha de asas machucadas e uma raposa. Nessa relação a três, a raposa seduz a gralha para afastá-la do cão por meio de uma trapaça. Junto ao texto verbal, as ilustrações estimulam as emoções e suscitam o desespero. Para reconstruir uma interpretação possível dessa relação entre texto e ilustração, em particular do ponto de vista de uma criança leitora, analisamos a raposa como um personagem literário específico; discutimos as noções de trapaça e sedução (tomando como referência o desenvolvimento emergente das habilidades de leitura da criança); perguntamos como a empatia com personagens literários contribui para a compreensão do tema moral pela criança e incluímos aspectos emocionais das ilustrações (especialmente aqueles desencadeados pelas cores). A análise geral mostra que Raposa pode ser lido de muitas formas, qualificando, assim, o status de um livro genuinamente representativo do fenômeno crossover[1]. Com relação à metodologia, este capítulo mostra como a teoria do livro ilustrado pode contribuir, a partir de uma análise profunda de uma obra, para a compreensão de aspectos cognitivos mobilizados por ela.

 

[1] NdT: A chamada literatura crossover refere-se ao alcance plural do texto ficcional em relação ao público a que se destina. Trata-se da ficção que cruza as fronteiras do texto para crianças, para adolescentes e para adultos, constituindo, assim, uma ampla audiência. Pelas características do texto, tanto adultos quanto jovens ou crianças compartilham de maneiras diferentes a mesma experiência de leitura. São livros complexos, com múltiplas possibilidades de leitura, que transcendem oposições binárias tradicionais entre bons e maus, que possuem finais abertos e muitas vezes ambíguos e linguagem cuidadosa do ponto de vista literário (Ramos; Navas, 2015).

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BRETHERTON, I.; FRITZ, J.; RIDGEWAY, D.; ZAHN-WAXLER, C. Learning to talk about emotions: a functionalist perspective. Child Development, v. 57, p. 529–547, 1986.

EDER, J.; JANNIDIS, F.; SCHNEIDER, R. (Ed.). Characters in fictional worlds: understanding imaginary beings in literature, film, and other media. Berlin: De Gruyter, 2010.

FRIJDA, N. H. The laws of emotion. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum, 2007.

GEIDER, T. Trickster. In: BREDNICH, R. W. (Ed.). Enzyklopädie des Märchens. v. 13. Berlin: De Gruyter, 2012. p. 913–923.

GRICE, P. Logic and conversation. In: GRICE, P. Studies in the way of words. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1989.

HASTINGS, P. D.; ZAHN-WAXLER, C.; MCSHANE, K. We are, by nature, moral creatures: biological bases of concern for others. In: KILLEN, L. M.; SMETANA, J. G. (Ed.). Handbook of moral development. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum, 2006. p. 483–516.

JANNIDIS, F. Character. In: HÜHN, P. et al. (Ed.). Handbook of narratology. Berlin: De Gruyter, 2009. p. 14–29.

KÜMMERLING-MEIBAUER, B. Emotional connection: representations of emotions in young adult literature. In: HILTON, M.; NIKOLAJEVA, M. (Ed.). Contemporary adolescent literature and culture: the emergent adult. Farnham: Ashgate, 2012. p. 127–138.

KÜMMERLING-MEIBAUER, B.; MEIBAUER, J. Lügenerwerb und Geschichten vom Lügen. LiLi. Zeitschrift für Literaturwissenschaft und Linguistik, n. 162, p. 118–138, 2011a.

KÜMMERLING-MEIBAUER, B.; MEIBAUER, J. On the strangeness of Pop Art picturebooks: pictures, texts, paratexts. New Review of Children’s Literature and Librarianship, v. 17, p. 103–121, 2011b.

KÜMMERLING-MEIBAUER, B.; MEIBAUER, J. Towards a cognitive theory of picturebooks. International Research in Children’s Literature, v. 6, n. 2, p. 143–160, 2013.

KÜMMERLING-MEIBAUER, B.; MEIBAUER, J.; NACHTIGÄLLER, K.; ROHLFING, K. (Org.). Learning from picturebooks: perspectives from child development and literacy studies. New York: Routledge, 2015.

LEE, K. Little liars: development of verbal deception in children. Child Development Perspectives, v. 7, n. 2, p. 91–96, 2013.

LEE, K.; TALWAR, V. Children and lying: a century of scientific research. New York: Wiley-Blackwell, 2014.

LEEKAM, S. Jokes and lies: children’s understanding of intentional falsehood. In: WHITEN, A. (Ed.). Natural theories of mind. Oxford: Blackwell, 1991. p. 159–174.

MALLAN, K. Secrets, lies and children’s fictions. Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2013.

MARGOLIN, U. Character. In: HERMANN, D. (Ed.). The Cambridge companion to narrative. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. p. 66–79.

MASCARO, O.; SPERBER, D. The moral, epistemic, and mindreading components of children’s vigilance towards deception. Cognition, v. 112, n. 3, p. 367–380, 2009.

MEIBAUER, J. Lying at the semantics-pragmatics interface. Berlin: De Gruyter Mouton, 2014.

NARVAEZ, D. et al. Moral theme comprehension in children. Journal of Educational Psychology, v. 91, p. 477–487, 1999.

NIKOLAJEVA, M. The rhetoric of character in children’s literature. Lanham, MD: Scarecrow, 2002.

NIKOLAJEVA, M. Reading for learning: cognitive approaches to children’s literature. Amsterdam: John Benjamins, 2014.

NIKOLAJEVA, M.; SCOTT, C. How picturebooks work. New York: Garland, 2001.

OBERMAIER, S. (Ed.). Tiere und Fabelwesen im Mittelalter. Berlin: De Gruyter, 2009.

PAINTER, C.; MARTIN, J. R.; UNSWORTH, L. Reading visual narratives: image analysis of children’s picture books. Sheffield: Equinox, 2013.

RINGROSE, C. Lying in children’s fiction: morality and the imagination. Children’s Literature in Education, v. 37, p. 229–236, 2006.

SPERBER, D. et al. Epistemic vigilance. Mind & Language, v. 25, n. 4, p. 359–393, 2010.

THOMPSON, R. A.; LAGATTUTA, K. Feeling and understanding: early emotional development. In: MCCARTNEY, K.; PHILLIPS, D. (Ed.). Blackwell handbook of early childhood development. Oxford: Blackwell, 2006. p. 317–337.

UTHER, H.-J. Fuchs. In: BREDNICH, R. W. (Ed.). Enzyklopädie des Märchens. v. 5. Berlin: De Gruyter, 1987. p. 447–478.

VANDERBILT, K.; LIU, D.; HEYMAN, G. The development of distrust. Child Development, v. 82, n. 5, p. 1372–1380, 2011.

VERMEULE, B. Why do we care about literary characters? Baltimore, MD: Johns Hopkins University Press, 2010.

WILD, M.; BROOKS, R. Fox. St Leonards, NSW: Allen & Unwin, 2000.

Referências das tradutoras

RAMOS, A. M.; NAVAS, D. Narrativas juvenis: o fenômeno crossover nas literaturas portuguesa e brasileira. Elos – Revista de Literatura Infantil e Xuvenil, v. 2, p. 233–256, 2015. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/287922604_Narrativas_juvenis_o_fenomeno_crossover_na_literatura_portuguesa_e_brasileira Acesso em: 02 nov. 2025.

WILD, Margaret. Raposa. Ilustrações de Ron Brooks. São Paulo: Brinque-Book, 2005.

Downloads

Publicado

16-12-2025

Como Citar

KÜMMERLING-MEIBAUER, Bettina; MEIBAUER , Jörg. Livros ilustrados desafiadores e controversos: Cuidado com a raposa! Emoção e trapaça em Raposa, de Margareth Wild e Ron Brooks. Revista Linhas, Florianópolis, v. 26, n. 62, p. 109–131, 2025. DOI: 10.5965/1984723826622025109. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/linhas/article/view/28273. Acesso em: 17 dez. 2025.