O discurso médico e higienista sobre a infância na formação de professores nas primeiras décadas do século XX em Santa Catarina
DOI:
https://doi.org/10.5965/1984723823532022112Palavras-chave:
educação, infância, higiene, formação de professoresResumo
Compreender como a infância é tratada no discurso médico e higienista em uma escola de formação de professores no estado de Santa Catarina, nas primeiras décadas do século XX, é o foco do artigo em pauta. Para tanto, são analisados os programas da disciplina de Higiene da Escola Normal, no período de 1919 a 1937. Em 1935, a escola Normal passa a denominar-se Instituto de Educação. Além dos programas, também são analisados os artigos publicados na revista Estudos Educacionais, periódico vinculado ao Instituto de Educação, e que contou com seis edições entre os anos de 1941 e 1946, de autoria de estudantes e professores da instituição. As conclusões do estudo indicam que o ensino da Higiene não se restringia aos cuidados com o corpo, mas estava amalgamado a um projeto para civilizar e moralizar do povo catarinense pela via da Educação. Assim, os conteúdos ensinados na Escola Normal deveriam ser transmitidos na escola primária às crianças, aos pais e à comunidade da qual o grupo escolar fazia parte. Nos primeiros anos, o ensino da Higiene estava muito vinculado à disseminação de orientações acerca da higiene corporal, familiar, bem como à profilaxia de doenças. Paulatinamente, os conteúdos do discurso médico-higienista centraram-se no acompanhamento do desenvolvimento biológico da criança. As análises realizadas confirmam a ideia de que a infância se constituía em objeto de intervenção higiênica e disciplinar, tendo como fundamento os conhecimentos científicos proporcionados pelas Ciências da Educação, particularmente a Biologia.
Downloads
Referências
ANDRADA, F. Caldeira de. Educação física. Estudos educacionais, Florianópolis: Curso Normal do Instituto de Educação, ano I, n. 1, p. 71-77, ago. 1941.
BASTOS, M. H. C. A imprensa periódica educacional no Brasil (1808 - 1944). In: CATANI, D. B.; BASTOS, M. H. C. (orgs.). Educação em revista: A imprensa periódica e a história da educação. São Paulo: Escrituras, 1997. p. 173-187.
CARDOSO. O. F. Importância de uma boa audição escolar. Estudos Educacionais, Florianópolis: Curso Normal do Instituto de Educação, ano I, n. 1, p. 79-82, ago. 1941.
CARVALHO, M. M. C. de. Quando a história da educação é a história da disciplina e da higienização das pessoas. In: FREITAS, M. C. (org.). História social da infância no Brasil. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999. p. 269-287.
CARVALHO, D. C. de; DAROS, M. das. D.; SGANDERLA, A. P. Uma abordagem histórica da psicologia nos cursos de formação de professores: em foco os programas da disciplina em uma escola catarinense na década de 1930. Rev. Bras. Educ. [online], [S.l], v. 17, n. 51, p. 675-692, 2012.
COSTA, J. F. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
FAISCA, A. Os desvios da coluna vertebral nos escolares. Estudos Educacionais, Florianópolis: Curso Normal do Instituto de Educação, ano II, n. 3, p. 58-61, nov. 1942.
FARACO, B. Sífilis e exame pré-nupcial. Estudos Educacionais, Florianópolis: Curso Normal do Instituto de Educação, ano V, n. 6, p. 3-6, mar. 1946.
FERREIRA, A. G. Higiene e o investimento médico na educação da infância. In: GONDRA, J. G. (org.). História, infância e escolarização. 1. ed. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002.
GONDRA, J. G. A sementeira do porvir: higiene e infância no século XIX. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 99-117, jan./jun. 2000.
GONDRA, J. G. (org.). História, infância e escolarização. 1. ed. Rio de Janeiro: 7 Letras. 2002a.
GONDRA, J. G. Higienização da infância no Brasil. In: GONDRA, J. G. (org.). História, infância e escolarização. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002b. p. 107-130.
GONDRA, J. G. Homo hygienicus: educação, higiene e a reinvenção do homem. Cadernos Cedes, Campinas, v. 23, n. 59, p. 25-38, abr. 2003.
GONDRA, J. G. Artes de civilizar: medicina, higiene e educação escolar na Corte Imperial. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2004.
HOELLER, S. A. de O. Escolarização da infância catarinense: a normatização do ensino público primário (1910-1935). 2009. 210f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.
HOELLER, S. A. O. As conferências educacionais: projetos para a nação e modernidade pedagógica nos anos de 1920 - Brasil. 480 f. Tese (Doutorado em Educação) − Universidade Federal de Santa Catarina, 2014.
MAGALDI, A. M. B. de Mello. Cera a modelar ou riqueza a preservar: a infância nos debates educacionais brasileiros (anos 1920-30). In: GONDRA, J. G. (Org.). História, infância e escolarização. 1. ed. Rio de Janeiro: 7 Letras. 2002. p. 60-80.
NAGLE, J. Educação e sociedade na Primeira República. São Paulo: EPU, 1974.
NUNES, A. J. O valor moral e físico do esporte. Estudos Educacionais, Florianópolis: Curso Normal do Instituto de Educação, ano III, n. 5, p. 65-66, mar. 1943.
PYCOSZ, L. C.; TABORDA DE OLIVEIRA, M. A. A higiene como tempo e lugar da educação do corpo: preceitos higiênicos no currículo dos grupos escolares do Estado do Paraná. Currículo sem Fronteiras, Cidade, v. 9, p. 135-158, 2009.
ROCHA, H. H. P. Cultura escolar e práticas de higienização da infância na escola primária paulista. In: VIDAL, D. G.; SCHWART, C. M. (orgs.). História das culturas escolares no Brasil. Vitória: Edufes, 2010a. p. 159-195.
SAMY, P. Educação Física, base da intelectual. Estudos Educacionais, Florianópolis: Curso Normal do Instituto de Educação, ano V, n. 6, p. 33-36, mar. 1946.
SANTA CATARINA. Programa da Escola Normal. Decreto no1205 de 19 de fevereiro de 1919. Florianópolis: Oficinas da Imprensa Oficial, 1919.
SANTA CATARINA. Programa de Ensino da Escola Normal. Aprovado pelo Decreto nº 2.218 de 24 de outubro de 1928. Florianópolis: Livraria Moderna, 1928. p. 24.
SANTA CATARINA. Decreto n. 217 de 9 de março de 1937 – organização dos programas, a título provisório, das disciplinas ministradas na Escola Normal Superior Vocacional. Diário Oficial doEstado de Santa Catarina, Florianópolis, ano IV, n. 877, 12 mar. 1937.
SCHAFFRATH, M. dos A. S. A Escola Normal Catharinense de 1892: profissão e ornamento. 1999. 146f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1999.
SGANDERLA, A. P. O ensino de Psicologia na escola Normal em Santa Catarina. 2015. 271f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.
TAVARES, A. Importância do aleitamento materno. Estudos Educacionais, Florianópolis: Curso Normal do Instituto de Educação, ano I, n. 1, p. 33-38, ago. 1941a.
TAVARES, A. Sôbre o recém-nascido. Estudos Educacionais, Florianópolis: Curso Normal do Instituto de Educação, ano I, n. 2, p. 08-11, nov. 1941b.
TAVARES, A. Professora, a difteria é um poderoso inimigo do teu pequenino aluno! Estudos Educacionais, Florianópolis: Curso Normal do Instituto de Educação, ano II, n. 3, p. 74-77, nov. 1942.
TEIVE, G. M. G. Uma vez normalista, sempre normalista: cultura escolar e produção de um habitus pedagógico (Escola Normal Catarinense – 1911/1935). Florianópolis: Insular, 2008.
TEIVE G. M. G.; OLIVEIRA, J. V. T. Higienizando corpos, mentes e hábitos: análise comparativa da disciplina higiene nos grupos escolares catarinenses nas reformas Orestes Guimarães (1911-1935) e Elpídio Barbosa (1946-1969). Atos de Pesquisa em Educação, [S.l.], v. 9, n. 2, p. 548-570, maio/ago. 2014.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Revista Linhas
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Os artigos publicados pela revista são de uso gratuito, destinados a aplicações educacionais e não comerciais. Os direitos autorais são todos cedidos à revista. Os artigos cujos autores são identificados representam a expressão do ponto de vista de seus autores e não a posição oficial da Revista Linhas ou do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina.
A Revista Linhas está licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.