Engajamento estético e cidadania cultural: que desafios enfrentamos hoje?

Resumo

O respeito à cidadania cultural é uma das virtudes cardeais a serem promovidas para garantir o exercício dos direitos culturais do indivíduo, vistos como fundamento da paz universal. Para isso, é necessário questionar as fronteiras tradicionais existentes entre arte e sociedade, permitindo assim uma reflexão mais profunda sobre o papel social da arte (Berleant, 2022). A essa ideia soma-se outro elemento fundamental: a “disponibilidade” cidadã, ou seja, o desejo de “dar tempo” à apreciação das práticas artísticas atuais, caracterizadas por uma incessante novidade. Trata-se de envolver – num ambiente onde o ritmo de vida é sem precedentes – “o investimento do receptor”, ou seja, “colocar a própria energia psíquica na atividade de receber uma obra de arte” (Everaert-Desmedt, 2012). Como então podemos conciliar essas preocupações em uma era como a nossa, marcada pela sensação de aceleração cada vez maior? Na tentativa de responder a esta questão, este artigo explora os fundamentos teóricos do “engajamento estético” (Berleant, 2022), antes de examinar os limites desse engajamento em um contexto de “crise de tempo” (Revault d’Allonnes, 2013), bem como a capacidade do indivíduo de “dar tempo a si mesmo” (Adrianssens e Montjotin, 2024) como uma decisão pessoal essencial para o advento do “cidadão cultural”. Por fim, o texto tenta esclarecer como essa abordagem promove a dinâmica social, com ênfase particular em suas implicações educacionais.