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Florianópolis, v. 8, n. 1, e4731, p. 1 - 18 , Fev. – Mai. 2024
Cento e doze linhas: sobre desenho e processo
retorna, assume outros ritmos. Às vezes o papel apresenta marcas do processo:
um risco do esboço inicial que fica, uma linha apagada que se torna uma linha
marcada, quase tridimensional no papel, um traço “errado” que é absorvido pelo
resto e se torna parte fundamental do desenho.
Então me pergunto como escrever sobre desenho. Ou como desenhar
a escrita? Como escrever sobre processo em processo? Aliás, o que é estar em
processo, de uma obra aberta, de um pensamento por imagem do desenho?
Em um texto intitulado Some Kinds of Duration: the Temporality of
Drawing as Process Art (1999)
, Pamela Lee retoma uma citação icônica de
Richard Serra em que o artista afirma que “there is no way to make a drawing -
there is only drawing”
, e inicia uma reflexão afirmando que pensar o desenho
como o processo é quase tautológico, uma vez que ambos são questões
intrínsecas e combinadas. Falar de desenho é falar de processo. A autora insiste
que existe na afirmação de Serra um desejo de superar dicotomias tradicionais
relativas aos meios e fins, uma vez que meios e fins estão inseparavelmente
entrelaçados, o que fica evidente na duração do fazer. Assim, Lee conclui que o
Catálogo da exposição Afterimage: Drawing Through Process, organizado por Cornelia H. Butler, que
aconteceu entre 11 de abril e 22 de agosto de 1999 no The Museum of Contemporary Art de Los Angeles
e que contou com mais de 160 obras em desenho, da produção de diferentes artistas entre 1966 e 1974.
Não existe uma maneira de fazer um desenho, existe apenas o desenho/existe apenas desenhando
(tradução minha). Na língua inglesa a palavra desenho é a mesma que o verbo no gerúndio “desenhando”,
trata-se de um jogo de palavras com o substantivo e o verbo, o objeto e ação.