Entrevista: O contexto das pesquisas de tendências para marcas de moda

Interview: The context of trends researches for fashion brands

Gabriela Costa Oliva

Mestranda em Design do Vestuário e Moda pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) – gaboliva@gmail.com – http://orcid.org/0000-0002-4902-5335

Sandra Regina Rech

Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) – sandra.rech@udesc.br – http://orcid.org/0000-0002-0062-6914

Icleia Silveira

Doutora em Design pela Pontífice Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RIO). Professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) – icleiasilveira@gmail.com – http://orcid.org/0000-0003-4493-9768


 

 

 

Resumo

Entrevista com a Jornalista, professora e pesquisadora Andrea Greca Krueger, realizada em outubro de 2017, por e-mail. A pesquisadora fala sobre sua trajetória, seu trabalho com a empresa de pesquisas de sua propriedade, a Berlin, da popularidade da profissão de coolhunter e da importância das pesquisas de tendências para marcas de moda, seu contexto e evolução, abordando ainda a pesquisa de estilo de vida e sua utilidade.

Palavras-chave: Tendência de moda. Marcas de moda. Estilo de vida. Entrevista.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Abstract

Interview with the journalist, professor and researcher Andrea Greca Krueger, held on October 2017, by e-mail. The researcher talks about her career, her work with the research company she owns, Berlin, the popularity of the coolhunter profession and the importance of trends research for fashion brands, its context and evolution, while still addressing lifestyle research and its usefulness.

Keywords: Fashion trend. Fashion brands. Lifestyle. Interview.

 

 

 

 

 

 

 

 

Recebido em: 14/06/2018

Aceito em: 20/12/2018

 



 

1 APRESENTAÇÃO

Parte do processo de criação e desenvolvimento de produtos de moda. Engloba a pesquisa de tendências, uma das etapas chave no desenvolvimento de produtos e serviços. A pesquisa funciona como um conjunto de informações estratégicas, atuando como uma ferramenta de inovação ao mesmo tempo como um instrumento de conexão entre os desejos do mercado e os conteúdos expressos nos produtos. Como recurso, ela aproxima o produto de seus consumidores e de seu universo e estimula o constante processo de diferenciação entre concorrentes no mercado. Dentro do exposto, Rech e Gomes (2016, p. 3), consideram que “as tendências identificam padrões emergentes e mudanças nas mentalidades, nas representações e nas práticas” e Levinbook e Navalon (2011, p. 324), afirmam que observar e compreender o “espírito do consumidor/público-alvo/usuário, significa considerar os aspectos psicológicos, econômicos, culturais, morais e sociais que norteiam os seus valores e também suas decisões de uso e consumo”.

 

Figura 1 - Andrea Greca.

Fonte: arquivo pessoal (2014).

 

A jornalista, professora e pesquisadora Andrea Greca Krueger é pós-graduada em Coolhunting em Investigação Qualitativa de Tendências pela Universidade Ramón Llull, em Barcelona. Estudou mídia e jornalismo de moda nas renomadas London College of Fashion e Central Saint Martins College of Arts & Design (Londres) e na Universidad de Palermo (Buenos Aires), atua profissionalmente como pesquisadora de tendências em sua empresa, a Berlin, desde 2009. E é professora convidada de pós-graduação em instituições de ensino do sul e sudeste do país além de lecionar na Perestroika e na Redhook School.

Nesta entrevista, a pesquisadora conta sua trajetória e responde perguntas sobre seu trabalho com a Berlin, o perfil de seus clientes e a profissão coolhunter. Explica como essas mudanças sociais e comportamentais se desenvolvem e porque algumas marcas insistem em dizer que não as utilizam.

Andrea também aborda a importância do uso de tais paradigmas para marcas de moda e do entendimento do grande público do que exatamente são as tendências. Por fim, a pesquisadora comenta as pesquisas de estilo de vida e sua complementariedade no uso destes direcionadores de desejos da população consumidora.

2 ENTREVISTA

a.    Como começou o seu interesse pelo trabalho com pesquisa de tendências?

Começou em 2007 quando eu morava em Barcelona. Acidentalmente, navegando na internet de madrugada, achei a pós da Universidad Ramón Llull em Coolhunting e Investigação Qualitativa de Tendências. Li a ementa, me apaixonei e me inscrevi. 

b.    Como funciona o trabalho da Berlin? De que forma seu trabalho cria embasamento para estratégias de inovação?

Atuamos em três frentes dentro da pesquisa de mercado/ análise de tendências: pesquisa de campo, desk research e cursos. Nossa abordagem é primordialmente qualitativa. Unindo o campo e a desk conseguimos colher uma imensa quantidade de dados que, devidamente analisados e interpretados, entregam padrões de comportamentos que influenciam e moldam gostos e hábitos de consumo. São esses padrões que, associados e alinhados à realidade e expectativas do cliente, embasam as estratégias de inovação.

c.    Qual é o seu principal perfil de cliente? Você tem clientes de moda?

Tenho orgulho de dizer que não temos um perfil principal de cliente. Atendemos todos os tipos de empresa, de familiares a multinacionais, dos mais variados setores da economia: de alimentação a beleza passando por moto peças, educação, joalherias, ONGs, montadoras de carro e, claro, moda - embora esta última não seja a categoria que mais nos contrata. Gostaria de trabalhar mais com moda, pois é um mercado que eu acompanho de perto e pelo qual sou apaixonada desde adolescente. Os setores que mais nos contratam atualmente são higiene & beleza e, em seguida, alimentação & bebida.

d.    A pesquisa de tendências está mudando?

Tudo está em constante mudança. Mas a meu ver a pesquisa de tendências ainda está se estruturando, se fortalecendo e comprovando sua relevância. É uma disciplina muito nova e cada vez mais valorizada.  

e.    Porque a profissão coolhunter se tornou tão popular?

Sem dúvida o advento da internet e o surgimento das redes sociais deram um "boost" no coolhunting. Tudo se tornou muito imagético, muito rápido, muito fugaz. As pessoas ficaram mais curiosas e interessadas em coisas novas e disruptivas a que não tinham acesso antes. Apesar de não ser exatamente fã do termo coolhunting, é inegável que ele popularizou a disciplina da pesquisa de tendências.

f.     Como nasce uma tendência?

Quando grupos de consumidores com perfis de inovadores e early adopters (curiosos, novidadeiros, inovadores, bem informados, com certo poder aquisitivo, influentes, etc.) adotam determinado produto ou ideia. Como são altamente observados, logo serão imitados pelas massas/mainstream. É basicamente assim que nasce (e morre) uma tendência, um processo social que se dissemina através da imitação.

g.    Ao seu ver, porque existem marcas que se orgulham de dizer que não seguem tendências? Você acredita que isso é realmente possível?

Porque a ilusão da originalidade absoluta é um grande capital social e comercial. De todo modo, ainda que improvável neste caso, tudo é possível! 

h.    Qual é a importância da análise de tendências para o lançamento de uma coleção ou um novo produto de moda? E para o posicionamento de uma marca de moda?

É fundamental. A análise de tendências combate a imprevisibilidade e cria argumentos comerciais, além de inspirar a criação informando signos e símbolos vigentes, relevantes e contemporâneos.

 

i.      Muito se fala em tendências hoje em dia, na sua opinião, o público em geral, hoje, entende como funcionam realmente as tendências? Ou ainda acham que é a cor do verão? 

A maioria confunde FAD (modismo) com tendência. Ou seja, de fato acham que é a cor do verão. Mas não tem problema, pois, como comentei acima, ainda é uma disciplina nova e as pessoas estão aprendendo sobre o processo de tendência. 

j.      Você acredita que o uso de estudos das tendências faz com que as marcas desenvolvam produtos similares entre si? Especialmente quando utilizam a mesma fonte de pesquisa, como por exemplo os serviços de empresas como a WGSN?

Vemos isso direto, não é? Mas a questão é mais profunda: só é tendência o que as pessoas estão dispostas a adotar. O WGSN apenas colhe, analisa e entrega os dados. As marcas validam com o público-alvo e lançam produtos e campanhas alinhados a essa informação. A tendência está na rua e não no WGSN ou no Trendwatching. Eles são canais de comunicação.

k.    O que é a pesquisa estilo de vida e como ela se diferencia da pesquisa de tendências?

Para ser sincera não conhecia esse termo ("pesquisa de estilo de vida") até ler o texto que você me enviou. Infelizmente não tenho experiência prática com esse tipo de pesquisa, portanto falta-me conhecimento para diferenciá-las - embora, de acordo com descrição, parece lembrar a pesquisa de campo que realizamos com público-alvo. Acredito que o texto dá boas explicações, em especial na página 8, capítulo 4.4. 

l.      Para você, as pesquisas de estilo de vida e de tendências se complementam?

Aparentemente, sim. Ao cruzar dados de campo oriundos de imersão in loco e informações de macrotendências, é possível obter padrões mais robustos de comportamento de consumo em comparação à utilização de apenas uma abordagem (campo ou macrotendências).

REFERÊNCIAS

LEVINBOOK, Miriam; NAVALON, Eloize. O “meu” público alvo. In: CASTILHO, Kathia; DEMETRESCO, Sylvia (org.). Consumo: práticas e narrativas. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2011.

 

RECH, Sandra Regina; GOMES, Nelson Pinheiro. Anatomia das tendências e o desenvolvimento de produtos de moda. In: COLÓQUIO DE MODA, 12., 2016, João Pessoa. Anais [...]. João Pessoa: ABEPEM, 2016. p. 1 - 13. Disponível em: http://www.coloquiomoda.com.br/anais/Coloquio%20de%20Moda%20-%202016/GT/GT04-DESIGN-E-PROCESSOS-DE-PRODUCAO-EM-MODA/GT-04_ANATOMIA-DAS-TENDENCIAS.pdf. Acesso em: 27 jun. 2019.

 

SILVA, Aldo Clécius Neris da. A pesquisa de estilo de vida como metodologia e recurso para direção criativa de moda. In: COLÓQUIO DE MODA, 8., 2012, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: ABEPEM, 2012. p. 1 - 11. Disponível em: http://www.coloquiomoda.com.br/anais/Coloquio%20de%20Moda%20-%202012/GT07/ARTIGO-DE-GT/103617_A_pesquisa_de_estilo_de_vida_como_metodologia_e_recurso_para_direcao_criativa_de_moda.pdf. Acesso em: 27 jun. 2019.