A ARTE E SEU ENSINO: SÃO CAMINHOS PARA TODES?
Debater Masculinidades é Pisar em Ovos
(instalação, 2020, Marcos Haas) foto: Felipe Correia
Quem, em uma sociedade patriarcal, pisa em ovos? E quem é respeitado no mundo da arte? Vivemos em uma sociedade patriarcal, por consequência excludente, na qual mulheres cis, trans, negras e/ou brancas, das variadas classes sociais e econômicas são invisibilizadas. Sem desconsiderar os graus de apagamentos, mas ressaltando que as narrativas hegemônicas ditam as normas, é evidente que elas são produzidas por e propagadas em torno do homem branco, cis e quase sempre ocidental. “O homem de onde foi tirada a costela para fazer a mulher”, dependente, uma parte dele, ele o dono. É um mito fundador que “autoriza” o homem a acreditar na superioridade dele sobre a mulher, e ele se torna “dono” dela. É um mito de origem que se repete, em uma sociedade judaico-cristã, nos livros infantis, nas narrativas orais, nos comportamentos familiares entre pais/mães e filhes, nas escolas, dentre tantas outras situações; a norma estabelecida é a de que “o homem manda e a mulher obedece”, sempre estando ela em segundo plano em todos os espaços sociais. Isso não quer dizer que não existam os privilégios, e por causa deles, as lutas às vezes se acirram. Mas, para quem deseja um mundo mais igualitário e que aceita as contradições, inerentes ao ser humano, é preciso construir uma sociedade onde todas as escolas tenham ensino de arte, que tenhamos arte na base da formação humana. Sejamos todes feministas, concordando com Chimamanda Ngozi Adichie, e aprendendo a cultivar um pensamento feminista antirracista, decolonial e horizontalizado. Com efeito, estaremos trilhando os caminhos para edificar uma outra proposta de mundo menos excludente, um mundo no qual quem produz conhecimento e arte não seja valorado mais pela cor da pele ou pelo gênero. Que o capitalismo seja questionado e o ser tenha mais valor do que o ter: esta outra maneira de existir ainda é possível. Esperamos que nesta edição da Revista Apotheke tenhamos artigos que rompam as barreiras das dicotomias, dos racismos; que sejam centrados na autorreflexão, na colaboração interpessoal e entre conhecimentos, incorporando em suas abordagens as críticas contra o racismo, o heterossexismo e o androcentrismo; que tentem ressaltar o empoderamento da mulher e que tenham consciência do preconceito em relação ao gênero, raça, idade, capacidade, sexualidade, classe, etnia e outras diversidades e dissidências humanas; propondo-se para uma mudança social e de visão de mundo.
Organização: Profa Dra Ana Mae Barbosa (USP/UAM)
Profa Dra Vitória Negreiros do Amaral (PPGAV-UFPE/UFPB
Editores: Profa Dra Jociele Lampert e Prof Dr Fábio Wosniak